Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 18
Olhos de Ametista




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Naquela noite não conseguiu pegar no sono. Aninhou-se ao corpo quente de Elle e mesmo que fosse ela dentro dos braços dele usou aquilo como o consolo que precisava. Arrastava o rosto contra os espessos cabelos da garota e lhe acariciava os braços.

Conseguia perceber a maneira como ela ficava fraca a cada jornada. Sentia o corpo dela ficando mais pesado, os movimentos entravam em uma espécie de câmera lenta, mesmo a maneira como absorvia o ar era intensa. Parecia que todo o corpo dela estava se esforçando em manter as ações básicas e por isso qualquer outra coisa se tornava lenta.

Bastava que ela continuasse respirando então, se pegava pensando. Não era o medo de perde-la que realmente o tirava o sono e sim o que a presença tão repentina de uma mulher daquelas significava. Por mais que olhasse para a noite lá fora através da janela não encontrava qualquer resposta, quanto mais a manhã se aproximava, mas a madrugada se tornava escura.

Ele não conseguia se decidir sobre o dia seguinte. Não estava certo sobre dividir a nova informação com os outros. Não estava certo nem sobre contar para Elle. Sabia que o melhor a fazer era ser franco. Mas o mesmo nível de importância que tornava aquela uma informação tão estimada fazia dela perigosa. Qualquer passo incerto e os céus poderiam cair na terra em guerra.

Não queria admitir para ele mesmo suas suspeitas sobre a parceira.

Por sorte ou azar foi retirado de seus pensamentos com os gritos que vinham da recepção do motel. O tiro que sucedeu os gritos foi o que acordou Elle. Tonta ela se esforçou para ficar alerta em poucos segundos.

– O que foi isso? – perguntou já ficando de pé.

Dean pegou a arma repousada sobre o criado mudo e voltou a atenção para Elle, conferindo o estado antes de abrir a porta. Percebeu pela primeira vez que nunca tinha visto a garota com armas. Automaticamente tirou a adaga que carregava no bolso do casaco e estendeu para a dama.

Elle fez que não com a cabeça. Deu um passo até a mochila jogada no canto do quarto e com pressa tirou de lá uma espécie de varinha. Uma pequena haste de metal bronze com runas pela sua extensão. Ainda assim parecia ter fugido de Hogwarts.

– Tá brincando... – disse Dean desacreditado.

E como era comum a ela não falou, fez. Girou a haste entre os dedos da mão direita e posicionou a esquerda em uma distância paralela. Quando terminou o giro o objeto cresceu. Como em um crossover de Thor e Iroman uma espécie de bruma dourada envolveu aquilo, fazendo com que se desencaixasse e assim crescesse. Aparamente Elle lutava com um bastão.

O outro se permitiu um segundo para manear a cabeça com um rosto impressionado positivamente. No segundo seguinte abriu a porta encontrando Sam e Kevin em igual posição de atenção.

– Não ouse tocar nele! – o grito de Portia encheu o hall de entrada.

No chão o que parecia ser dois hospedes jaziam em uma possa de sangue que brotava incessante de seus pescoços. Parado na porta o recepcionista do motel olhava incrédulo para o que aparentava ser James.

O corpo do bruxo flutuava a poucos centímetros do chão. Tremia inteiro com os braços abertos e os dentes travados como um animal raivoso. Os olhos piscavam do completo preto para um roxo intenso.

– Portia! – berrou ao ficar mais uma vez roxo.

A familiar saltou no ar. Mas ao invés de ir na direção do mestre mirou no outro demônio. A transformação que aconteceu enquanto ainda estava fora do chão foi rápida o suficiente para pegar o adversário de surpresa.

Seus poderosos caninos acertaram a jugular do que um dia tinha sido o gordo que os atendeu na tarde anterior. Ao mesmo tempo que um raio explodia lá fora o corpo da cadela foi jogado para o lado.

Irritado o copo pesado se colocou de pé. Estalando o pescoço dilacerado. O olhar desatento que deu para o James flutuando mostrou sua verdadeira atenção, agora seus olhos focavam no quarteto mais a frente.

Sam não esperou, assim que o corpo de Portia estava fora da mira disparou contra o demônio. O tronco dele tremeu com a pressão, mas suas pernas continuaram seguindo o caminho indicado. Um sorriso distorcido surgiu em seus lábios quando ele disparou contra Elle.

Os dentes a mostra, as mãos esticadas. Teria estrangulado a garota se o bastão dela não tivesse acertado o lado de sua cabeça. Com um crack a cabeça caiu ao ponto de ultrapassar a linha do pescoço.

A cabeça já estava voltando para o lugar, os olhos negros ainda mirando Elle. O olhar desapareceu quando pelas costas foi apunhalado. O corpo caiu desfalecido no chão revelando Dean ainda segurando a lamina.

Não tiveram tempo para parar. Portia em forma de cachorro latia para James voando no centro da recepção. Sam estava perto, a mão estendida entoando o exorcismo. Não estava funcionando, o que quer que fosse que James estivesse fazendo para expulsar o demônio, por mais que não estivesse dando certo, também estava bloqueando o ritual de Sam.

– Elle deu um passo a frente.

– Não pare. – disse para Sam enquanto estendia a mão para tocar a testa de James, fechou os olhos e pareceu fazer um certo esforço. De repente os corpos dos dois tremeram como em uma rajada chocante e o roxo que dominava os olhos de James sumiu e o corpo caiu no chão.

Dean foi capaz de perceber que por alguns segundos os olhos azuis marinho da garota tinha se tornado ametista. Como se toda aquela energia roxa estivesse agora dentro dela. A ideia era clara, mas não foi capaz de provar, porque quando ela se voltou para segurar o corpo imóvel já era de novo apenas Elle se esforçando em dominá-lo.

James levantou o rosto ao mesmo tempo que com os joelhos se colocava de pé, o demônio ainda estava ali. Sam acelerou o cântico, mas era tarde mais. A boca do bruxo se abriu e de lá escapou no momento certo a massa de nuvem negra.

– Você ta bem? – o corpo canino ao lado de James se transformou em uma mulher, o nariz próximo ao rosto do dono, o farejando carinhosamente. Mas olhando feio para Elle que já se afastava.

– Temos que ir embora. – explicou James aflito tentando ficar de pé – Vão vir mais. Minha mente se misturou a daquela coisa. Ele vai chamar mais.

– O que eles queriam? – perguntou Sam para James, a arma apontada para o chão, mas o dedo ainda no gatilho.

– Eles vieram atrás de algum anjo. Disseram que estávamos escondendo o anjo. – explicou James apoiando o corpo em Portia – Mas quando aquele demônio viu vocês penso logo em fugir e chamar por ajuda. Eu que não estava deixando.

Elle engoliu em seco quando olharam para ela.

– O que você fez garota? – perguntou Portia.

Apressado o grupo jogava as malas no carro.

– Eu não fiz porra nenhuma, eu estava dormindo – se defendeu Elle inflando o peito um pouco agressiva. Portia mostrou os dentes em resposta.

– Você anulou meu feitiço – disse James a olhando de maneira paciente, mas nada feliz.

– Eu... eu... – ela engasgou antes de continuar – Eu só o puxei para mim eu acho – explicou – Achei que o demônio viria. Essas coisas sempre querem entrar em mim. Deu errado... Desculpa.

– Não devia ter feito isso garota – disse James entrando no próprio carro – Agora é por você que eles estão voltando.


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