Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 17
Innominabile




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Naquela noite todos estavam cansados. Em cada um dos três quartos do hotel os olhares eram de confusão e impotência.

Sam e Kevin não se falavam, mas faziam as mesmas pesquisas incessantes em seus computadores. Nada chegada perto do que Elle tinha. Mas era tão difícil se convencer de que a internet não teria alguma resposta que eles continuavam tentando. Pelo menos mantinham as cabeças ocupadas.

Portia e James conversavam. Abraçados filosofavam sobre a série de acontecimentos que teriam levado os seis até aquele momento. Sobre o Elle representava e como Dean estava empenhado em ajuda-la e assim levava consigo todo o resto do grupo em uma jornada sem esperanças concretas. De alguma maneira eles estavam certos. Elle tinha surgido e então era uma missão pessoal para cada um.

Dean e Elle permaneciam na mesma posição em que estavam quando os outros deixaram o quarto. Sentados no chão Elle tremia no colo de Dean. Ela não chorava, não tinha lágrimas, mas a forma como respirava era algo muito próximo do desespero. Ele podia sentir que a frustação dela se materializava dentro do corpo dele, pois as sensações de arrepio e fraqueza eram físicas.

Desolado e sem saber o que fazer Dean fez a única coisa que podia. Fechou os olhos e rezou em silêncio, embalando Elle num balanço leve como se ela fosse uma criança.

Ele sabia que não funcionaria. Que os anjos tinham deixado os humanos há meses. Que sem Deus no céu e sem motivos para acreditar na humanidade eles tinham simplesmente escolhido viver entre si. Que de alguma maneira eles tinham desligado a ligação com os humanos e que nada que ele fizesse seria capaz de trazer um deles.

Mas era preciso ter esperanças. Elle era uma peça do céu, um pedaço do divino e isso podia significar alguma coisa. Aquela garota podia ser ponto de virada do silêncio dos anjos e se algo estivesse dentro dela, só um anjo seria capaz de ver além das travas físicas e magicas do receptáculo.

Dean orou em silêncio, se deixando levar pelas próprias palavras pensadas ao ponto de que sentia seu corpo tremer contra o de Elle que em resposta o abraçava mais forte. Ele estava fazendo a única coisa em que sua fé podia se apoiar sem se abalar. E para que desse certo ele precisava de um crédulo que não se abalasse. Não era fácil para ele em especifico, mas sabia que se pedisse direito podia contar com Castiel. O anjo já tinha ficado calado por tempo de mais, era hora de fazer algo.

A chuva contra a janela aumentou. Os trovões agora pareciam tomar todo o país, pois não importava a cidade em que estavam, estava sempre chovendo.

Cada clarão fazia Dean abrir os olhos esperando que fosse Castiel. Mas não era tão simples. Elle já tinha adormecido em seu colo e ele ainda estava ali rezando. Irritado e se sentindo um idiota parou de pensar em palavras bonitas e começou a sussurrar ameaças.

– Isso é ridículo, Cass. Se pode me ouvir ao menos tenha a decência de descer aqui e me avisar que está pouco se fodendo para mim ou para quem eu me importo. Essa garota está sofrendo por alguma merda que vocês aí do céu fizeram. Vocês não podem simplesmente sumir e deixar que as merdas que plantaram explodam sozinhas. Arque com as consequências de suas escolhas divinas. O que ela fez? Por que tudo de merda está perseguindo essa garota? Ela está pagando? Agora o seu Deus tem o mesmo pensamento pequeno dos deuses menores? Como foi que uma criatura tão egoísta que nem ao menos se importa com os erros que comete?

– O erro não é dele. – a voz de Castiel veio logo da frente de Dean, sentado no chão como ele e a garota deitada. – E também não é dela. – explicou o anjo quando Dean olhou assustado da garota para ele.

– Cass... Obrigado... – Dean tinha passado tanto tempo o chamando, já tinha tentado tantas outras vezes, que ao invés de culpa-lo, como desejava mesmo fazer, se obrigou a agradecê-lo.

– Está tudo bem, Dean. Eu precisava vir. – Dean olhou para Elle mais uma vez e Castiel continuou – E não tenho muito tempo. Quando descobrirem que eu desci para te atender estarei em apuros. As coisas lá em cima estão muito complicadas. Uma família confinada não é a melhor ideia do mundo, mas... – ele então se pegou olhando para a garota deitada e então arregalou os olhos.

– Inominnabile. – sussurrou o anjo em um tom de desespero tão grande que não permitia que o som saísse.

– O que? – perguntou Dean em um tom de urgência, tentando não falar alto para não acordá-la.

– Ela é Inominnabile. – explicou Castiel que como era comum a sua personalidade passou a explicar o óbvio – Significa inominável.

– Eu falo latim Cass – rugiu Dean por entre os dentes – O que eu quero dizer é o que isso significa. É o que está dentro dela?

– Tem algo dentro dela? – perguntou Castiel parecendo surpreso com a nova informação, levantando os olhos do corpo adormecido para os Dean.

– Você não é capaz de ver? Foi por isso que te chamei aqui – explicou Dean posicionando estrategicamente a mão sobre o ouvido de Elle, já que o outro estava sobre sua cocha.

– Não. Eu apenas vejo a natureza dela. Innominabile.

– Pelos céus! O que significa essa natureza inominável. – o sussurro de urgência de Dean fez barulho o suficiente para Elle se mover deitada no chão. Ela parecia estar tendo um pesadelo.

– Anos atrás. Quando o céu e o inferno ainda disputavam almas,um anjo e um demônio se corromperam. – Castiel explicou ao mesmo tempo que praticamente encostava o rosto no chão para olhar o de Elle.

– O que isso quer dizer? – indagou Dean puxando o anjo pela gola do sobretudo para que levantasse e o olhasse nos olhos.

– Eles se deixaram levar pela própria natureza o ponto de transpassa-las de forma subversiva. O anjo se apaixonou pelo demônio, uma paixão tão pura que não percebia o quanto era errado. O demônio sentia desejo pelo anjo, um desejo tão grande de tê-lo para si que ignorou todo o resto de sua natureza. Como se não fosse possível eles...

– Tiveram uma filha – adivinhou Dean com um riso fraco e sarcástico.

– Sim. Bastiel. É o nome dela. Inominável é a sua raça. Quando os anjos descobriram sobre a criança levaram a informação até Deus. Bastiel estava vivendo escondida no inferno, mas é claro que Deus interferiu. Ele tomou Bastiel para si e proibiu qualquer ser de dizer o nome dela ou seriam finalizados, como ela foi. É por isso que a chamamos de Inominável.

– Espera...

– Inominável. Uma raça sem nome para alguém que não merece ter um nome – explicou Cass com uma cara de quem não estava entendendo o que Dean não estava entendendo.

– Não isso. Ser finalizado. – Dean parecia com pressa. A todo momento olhava para baixo para garantir que Elle ainda estava dormindo.

– Ah sim. Deus é Deus. Ele pode finalizar qualquer coisa. Acabar com a sua existência. – Castiel falava como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Mas a maneira como olhava para Elle era completamente o contrário.

– Então o que ela está fazendo deitada em cima de mim? – perguntou Dean sorrindo de canto.

– Não faço ideia. – respondeu Cass esticando a mão para tocar o pulso da garota. Com a ponta dos dedos levemente seguiu uma das formas que as cicatrizes dela tinham. – O que é isso nela?

– Ela não tinha isso? – perguntou Dean com a nova informação. A conversa estava sendo reveladora. O rosto de Elle se moveu em sua perna e ela estendeu o braço mais para o chão procurando uma nova posição.

– Não... Definitivamente não. – respondeu Castiel tocando agora o antebraço que ela deixava avista. Primeiro ele tinha a testa franzida e depois ele deixou escapar um riso – Eu não acredito nisso...

– Não acredita no que? – perguntou Dean já ficando sem paciência com aquela historinha. Mas quando ele levantou os olhos de Elle para onde Castiel estava foi surpreendido pela falta do anjo. – Son of a bitch!

Com o berro Elle acordou assustada, ficou sentada em um pulo olhando para os lados procurando pelo que estava fora do controle. Dean apenas a puxou pelo braço tentando acalmá-la.

– Calma... Calma... Acho que eu tive um pesadelo. Só isso. – ele se colocou de pé e estendeu a mão para ajuda-la a se levantar – Vem, vamos dormir na cama.


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