Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 10
A Cura da Alma




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– Ótima essa situação que nos metemos. – começou Sam berrando irritado – Não temos onde ficar porque a garota aí resolveu te beijar loucamente. E é claro, também não fazemos ideia de como acabar com um pecado.

– Ah isso também é culpa minha? – gritou Elle de volta sentada no banco de trás. Os três só tinham conseguido dirigir por três ruas para frente, apenas para ficar longe da velha gorda. Mas em uma cidade do tamanho daquela não tinham mesmo onde ficar até que tudo fosse resolvido.

– Calem a boca vocês dois! – gritou Dean mais alto que os dois. O soco que deu na buzina do Impala fez as pessoas da rua os olharem com falta de bom humor. – Nós precisamos fazer o que dá para fazer e depois pensamos no próximo plano. Okay assim? – e quando os dois abriram a boca para falarem Dean continuou por cima deles – ótimo que todos concordam comigo. Primeiro vamos para a delegacia. Pegamos a mochila da Elle e todos os arquivos dos casos. E aí nós procuramos um lugar para parar e pensar. Okay? Okay. Muito bom.

A maldita cidade não tinha outro bar ou restaurante. Muito menos outra pensão. Mesmo a padaria não tinha onde sentar para que pudessem comer. Eles precisavam ficar quietos e não chamar a atenção. Mas também precisavam almoçar e encontrar um lugar para pesquisarem sem incômodos. A terceira discussão sem sentido foi a prova para todos

– Frutas? Sério? Atum enlatado... – Dean começou a reclamar do saco de compras que Sam jogava para eles dentro do carro.

– O açougue está fechado porque o dono morreu. A padaria está com falta de produtos porque os funcionários estão presos e não fizeram o carregamento. Eu ficaria muito feliz em ter frutas e atum para comer. – o tom de Sam conseguia estar cada vez mais cortante, começando a soar ligeiramente ameaçador mesmo em frases normais.

Dean e Elle trocaram olhares.

Conforme a noite caia e o vento frio da chuva de mais cedo rodava o acampamento improvisado. Dean e Elle se empenhavam assim em acender uma fogueira, com certa dificuldade graças ao chão encharcado do bosque de Saint Andrea.

Mas para Sam o fato de não terem respostas era mais incomodo do que não ter onde ficar. De dentro do carro observava o farol do carro iluminava a pequena clareira onde estavam sentados Dean e Elle, sem interesse algum voltava a olhara para o notebook no colo.

– Eu tenho um plano. – ele disse de repente abrindo a porta do motorista – Entrem no carro. Vamos a igreja.

A dupla mais a frente se entre olhou ponderando a realidade de um tom tão imediatista.

– Pelo amor de Deus. Que se fodam vocês. Entrem logo no carro. Se alguém sabe como acabar com pecados é um padre. Ledger vai ter que nos ajudar a criar um plano por aqui.

– Ah sim. – interferiu Elle que mesmo assim estava juntando as coisas para partirem – Então seu plano é chegar no Padre contar que todas as merdas do mundo sobrenatural existem e dizer para a ele que a cidade ele está sofrendo de uma epidemia de ira e ver se ele, um pobre coitado de um padre que está na igreja a menos de um mês tem a solução?

– Você tem um plano melhor que deixar que a cidade inteira se mate? – perguntou Sam fuzilando a garota com o olhar. Elle o olhou de volta e suspirou profundamente, parada no meio do seu movimento, como um cachorro que se contrai para parecer mais ameaçador.

De pé Dean fechou o porta-malas com um baque alto e seco. Em seguida deu a volta para sentar no banco do motorista, parando na porta para falar aos outros dois.

–Que saco vocês dois, hein? Nós vamos parar essa coisa e foda-se o que ela é, vamos para-la antes que chegue na próxima cidade. Eu também não sei o que está acontecendo. Mas se não vamos descobrir do jeito fácil vamos descobrir do jeito difícil.

O Impala acelerou sobre o emaranhado de galhos podres da floresta e logo encontrou a estradinha de lama. Tinham levantado acampamento no tempo certo, porque mais uma vez estava chovendo, só que dessa vez o mundo parecia estar caindo. Trovões poderosos pareciam fazer a janela do carro tremer e os raios despencando não só iluminavam de repente a estrada como acertavam árvores talvez próximas de mais.

Dean apertou o pé no acelerador. E alguns minutos depois Sam bateu na porta da igreja estalando a madeira com força. Pelo adiantado da hora o padre demorou algum tempo até ir ver quem o chamava.

– Meus filhos. Agentes. Stra. Boa noite. Como posso ajudá-los? – perguntou o homem que ainda vestia sua batina e galochas, mas que carregava nos olhos marcas escuras o cansaço.

– Padre. Acredito que a conversa vá ser complicada. – começou Sam o cumprimentando apenas com um manear de cabeça. - Podemos entrar?

– Trouxemos pão e atum. – simpática e bem humorada Elle estendeu a sacola com um sorriso doce. O padre que antes tinha arregalado os olhos para o jeito de Sam conseguiu sorrir pela atitude da menina.

Ela girou três vezes sobre a ponta dos pés quando entrou na igreja, olhando as pinturas simples do teto de um jeito encantado. Dean se sentiu surpreso com a nova aura que Elle adotava. Sempre tão sarcástica e maliciosa agora ela sorria a qualquer frase, parecendo bem mais paciente que Sam, não que isso, a essa altura, fosse difícil.

– Padre. Estávamos estudando todos os casos e, bem... O que vamos te dizer é difícil de acreditar. – começou Dean tentando fazer o terreno para as notícias difíceis.

– Mas o Sr. é um homem de fé não é? - com um sorriso calmo Elle segurou as duas mãos do Padre Ledger. Falava com um tom doce e presente. O tipo de voz que mesmo baixa e sussurrada enchia cada cantinho da igreja.

– Padre. Ter fé a coisa mais forte que um homem pode fazer em vida. É o que torna a humanidade tão poderosa, não é? – o Padre curioso e um pouco preocupado maneou a cabeça afirmativamente. Sam e Dean por sua vez estavam cada vez mais se perdendo nas ideias daquela garota estranha.

– Fé é acreditar em algo que não se pode provar a existência para os meios externos, apenas para si mesmo. É acreditar em algo que não se pode ver, mas se sabe que existe. A questão é que existem muito entre Deus e os homens. Sabe, são detalhes tão complexos de toda essa existência divina que você seria capaz de explicar um anjo em sua magnitude, Padre? A igreja não nega a existência do sobrenatural e é por isso que te pedimos para que tenha fé no que vamos te dizer.

Após uma respiração profunda de todos os presentes Sam continuou direto e reto para o verdadeiro ponto. Já sem preocupação em fingir que não estava impaciente.

– Acreditamos que a cidade esteja sofrendo de ira. – Padre Ledger levava a conversa até ali com certa precaução, sabia que todo o discurso antecederia notícias ruins. Mas o que Sam disse foi surpresa de mais, seu maxilar se soltou na mais perfeita cara e bobo – Sim, acreditamos que o pecado aqui tenha praticamente se materializado em uma doença e que ela está correndo entre os moradores como um vírus maligno sedento por corpos veneráveis.

– Essa gente daqui sempre foi muito boazinha – começou Dean torcendo o rosto em uma careta até os olhares que recebeu denunciassem que seu tom parecia uma ofensa e por isso tentou arrumar.

– Gente boa. De bom coração. – tentou sorrir para o Padre, não deu muito certo - Não sabemos como começou, mas acreditamos mesmo que a calmaria de cidadezinha do interior fez com que essas pessoas não soubessem lidar com a raiva e quando ela chegou se proliferou.

– Como os médicos que dizem que crianças precisam se sujar para criar anticorpos – tentou explicar Sam se esforçando para deixar o tom de urgência de lado.

– Eu já vi acontecer antes. E não foi bonito – agora Elle não parecia tão interessada em explicar cada detalhe do caso de sodomia presenciado – Vi a luxuria tomar de maneira monstruosa um lugar de jovens castos.

– Meu pai eterno – sussurrou o Padre. Ele não estava surpreso pela notícia de ser um pecado. Ele não negava o acontecimento e muito menos sua causa. Sua exclamação demonstrava em si o medo da confirmação. – E o que precisa ser feito?

– Também não sabemos Padre. – admitiu Sam com um suspiro profundo, baixando os olhos para os sapatos ainda sujos de lama.

– Por isso que a gente veio – explicou Dean com um sorriso torto. – Supostamente você devia saber a resposta.

– Eu!? – Padre Ledger engasgou assustado com a sua nova função no caso.

– É o que os padres fazem não é? – Dean tentou explicar de maneira simples o ponto que os levou até ali.

– Olha – Sam pediu a atenção para si levantando o rosto decidido, parecia quente pelo tom de vermelho que começava a ganhar – Imagine a cidade é apenas um de seus fieis. Que ela diz estar sentido o pecado em si. Que está irada e sabe que isso não é normal.

– Que é capaz de sentir o sangue ferver e queimar a pele. E que o calor é tão grande que permite saber cada caminho que suas veias percorrem por dentro da carne. – o tom do rosto de Sam fez Dean se lembrar da própria sensação de raiva de horas atrás.

– Que cerrar os dentes só te faz ter vontade de morder ainda mais forte. – continuou Sam engolindo seco, apertando os dedos contra a palma da mão - Que qualquer palavra soa contrária a sua e por isso é considerada como uma afronta. Ainda que seu cérebro tente te lembrar de como era quando tudo era normal.

– A alma de seus fieis foi envenenada Padre. – continuou Elle que ainda segurava as mãos tremulas do homem que possuía as palavras de Deus – E agora ela está se confessando através desses irmãos.

– O que devemos fazer para salvar essa alma? – perguntou Sam apertando os olhos em uma expressão de quase dor.

– O que devemos fazer para salvar todas essas almas? – continuou Dean olhando preocupado para o irmão.


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