Altharian: The Resistance escrita por C Blue


Capítulo 10
Capítulo 9 - Pensamentos lógicos




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Olhei os traços no papel. O rabisco demonstrava as curvas do soldado gigante e a fumaça que havia me erguido como uma folha. Eu não iria vê-lo novamente e a jovem que havia tornado isso possível estava no meu banheiro. Deixei o rabisco na mesa e deslizei para cama. Então ela colocou a cabeça para fora do banheiro.

– Ei, garoto – disse. Seu cabelo molhado estava perversamente negro. Ainda pude ver seu ombro nu. – você tem uma camisa que possa me emprestar?

– Pode me chamar de Cal, é como a maioria me chama. E sim.

Andei até o closet e peguei uma camisa de mangas longas. Todos eles usavam camisas assim, andar com as marcas expostas na terra, seria embaraçoso, pois não são tatuagens, são mais como cicatrizes. Até eu havia passado a cobrir mais os braços quando saia (eu tinha percebido há pouco tempo, mas as cicatrizes abriam e mostrava a cor preta, como algo queimado, quando me estressava).

– Obrigada – disse ela, quando entreguei a camisa, e fechou a porta.

Então arrumei um colchonete no chão do quarto, e me sentei. Quando a garota, Ruby, saiu do banheiro, puxava a bainha da camisa para baixo. Eu não era tão alto, mas ela era um pouco menor que eu. Notei que provavelmente não usava muita cobertura embaixo, e por isso puxava a camisa daquela forma. Desviei o olhar.

– Não se importa que eu durma aqui? – sei que parecia uma pergunta estúpida, mas ela era uma garota... E eu um garoto. Não nos conhecíamos. Dormir no mesmo quarto, para mim, requer certa intimidade. Eu já havia dormido no quarto de Sammy e ela no meu, claro, mas somos amigos desde sempre.

– Não, claro que não.

Ela me olhou um momento, e eu senti algo. Então me deitei. Ouvindo ela se mover até minha cama, e deitar-se, aquele corpo pequeno, porém forte – ela me mostrara isso matando o soldado. Andrew não tinha voltado, mas estava com Sammy, ela havia me ligado para avisar.

Não consegui dormir de imediato, então fiz uma linha de pensamentos. Tudo estava acontecendo tão depressa para mim. E agora o Império já sabia onde eu estava. Robert me falou que onde eles usaram o portal não funcionaria para levamos a Altharian. Somente algumas regiões tinham forças para algo sobrenatural desse porte – como a clareira na floresta em que me acharam – então o máximo que conseguiriam era mover-se para outro local. Talvez ainda em nossa cidade. Porem, provavelmente eles entraram em contato com seus líderes. Então meus pensamentos mudaram de toda essa coisa, voltando-se para outras. Josh, que era meu amigo, mas me deixou a descobrir a verdade. Sammy. Não era de hoje que Sammy estava tão diferente. Estava passando muito tempo com Andrew, não posso negar que sentia um pouco de ciúme, mas não era só isso. Ela estava mais pensativa e calada. Ela era uma base para mim. Não queria que ela me deixasse como Josh fizera. Não conseguiria sem ela. Não. Não. Não.

Um último pensamento me veio à mente. A mulher, Kyia, tinha chamado Ruby de filha... “Boa hora, filha”. Talvez esse fosse o motivo de Arielle desconfiar de Ruby ser a espiã, e talvez Andrew não gostasse dessas insinuações por ter algo com ela. Isso me deu um pingo de inveja. Companheiros.

***

Andrew estava deitado com um cobertor no sofá de minha casa. Eu descia as escadas depois de tomar um banho.

– Vai ficar bem ai?

– Sim, sim. – ele respondeu.

Eu me sentei a seus pés. Ele se moveu ficando sentado, mas com as pernas ainda no sofá. Ele era realmente muito legal comigo, sei que era normal dele, mas sentia a obrigação de devolver o gesto e deixá-lo passar a noite aqui era o que podia fazer mesmo minha mãe não gostando muito. A curiosidade bateu quando raciocinei uma coisa. Ele não era o espião. Minhas especulações haviam sido tomadas por ele ter aquelas ligações estranhas, mas ele falava com a garota... Ela sim parecia ser a espiã da Resistência – não sei como achava isso –, e por algum motivo Andrew não acreditava nisso e não gostava de ver acusações sobre ela. Talvez tivessem algo, porém, ele não estaria aqui agora se tivesse, estaria? Eu estava prestes a tirar minhas dúvidas quando Andrew falou:

– Você se sente mal com alguma coisa, eu sei. Você quer falar sobre isso?

Não era brincadeira, como a maioria das coisas que saiam de sua boca durante o treino. Ele estava disposto a ser meu “psicólogo Althariano”? Só que tinha essa função era de Cal, mas isso era antes de... Estar confusa.

– Eu... Eu só queria ter feito algo hoje. Sabe, ter lutado e não corrido. – Era verdade. Senti-me muito fraca vendo todos lutarem e observando tudo da janela. Mas não era só isso.

– Você é somente uma humana ligada. Seu treinamento é basicamente sobre sentir a ligação e calibrar as emoções de Cal.

– Mas Alicia, ela lutou quase de igual contra aquele soldado.

Ele me fitou.

– Se é o que você quer, eu posso te ajudar nisso. Vamos treinar mais do que só a ligação. Porém eu sei que não é só isso que você tem ai.

Ele era uma espécie de telepata? Eu sorri, balancei a cabeça e murmurei um “não tenho nada aqui”. Era mentira. Talvez estivesse estampado em minha cara que estava mentindo, mas ele se deitou e me deu boa noite. Eu voltei a meu quarto. Talvez Cal já soubesse. Talvez só eu não tenha percebido.

***

Estava preparando a bike quando ouvi a voz.

– Pode ir andando comigo, Cal?

Era Ruby.

– Claro.

Eu estava indo para a escola, e ela estava indo comigo. Isso significava que eu havia ganhado mais uma babá. Eu não falei muito, pois quando tentava encontrar um assunto, ela me cortava com uma resposta final. Okay. Não era fácil falar com ela. Achei que seria mais fácil tentar conhecê-la no treinamento. Depois de um tempo fiquei observando-a com sutis olhadas de lado. Ela era bonita. Seu tamanho não passaria de um metro e sessenta e cinco. Tinha curvas... Perfeitas, e os cabelos lisos demais caiam até a cintura. Seus...

– O que foi? – ela me olhava de lado.

– Nada. – Desviei o olhar.

Eu não devia olhá-la muito. A palavra “companheiros” soava, para mim, como se ela tivesse algo com Andrew.

Quando chegamos à escola, vimos Sammy e Andrew bem na frente, suas caras não mostravam que tínhamos boas notícias.

– O que houve? – Perguntou Ruby.

– Eles estão aqui. Não os mesmos, mas não se importaram em esconder as marcas. Três. Uma garota e dois garotos.

– Não vão fazer nada em publico.

– Eles voltaram... E eu ainda não posso nem lutar contra um. – sussurrei mais para mim.

– Não esquenta, já já cuidará deles brincando. – falou Andrew.

– Temos que voltar. Avisar a Robert... – eu disse.

– E o levar a Altharian. – Acrescentou Ruby.

– O quê? – Não fui eu quem falou. Sammy tinha uma descrença na face. – Não, não podem levá-lo assim...

– Não temos mais como protegê-lo aqui. A base da resistência irá fazer melhor.

Silêncio.

Sabia que isto aconteceria, mas não sabia como agiria na situação. Na verdade, essa era uma coisa que não parava direito em minha mente. Fitei Sammy. Ela estava segurando um choro.


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Notas finais do capítulo

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"O gosto de suas lágrimas misturava-se com o beijo."



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