Road escrita por Fenix
Ana entra nervosa no banheiro e empurra a porta com uma mão, que a faz bater com força.
– Bando de esquisitos! - Ana diz irada.
Ela se encara no espelho.
– E aquele moleque no quarto, bizarro... Câmera estúpida, Jesus Cristo.
Ela afasta-se e entra no lavabo, fecha a porta e senta no vaso sanitário, seu olhar analisa a porta e as frases escritas, até notar uma parte da tinta solta. Estranhando, Ana descasca mais um pouco da tinta com a unha e a puxa, outra frase vai se revelando.
– "Ele me seguiu e eu não sei o porquê - Setembro de 1992"– Ana lê em voz alta, ela olha para cima e puxa mais a tinta, revelando outras frases.
"DBO 606, ele me persegue - 1986"
Ana não podia acreditar, ela olha um pouco pro canto da porta e avista mais uma falha da tinta, removendo-a com a unha.
"Ele está tentando me matar - 1972"
– 1972? - Ana fica abismada, ela sai rapidamente do lavabo.
– Ei! - Murmuram.
Ana para de andar e vira-se devagar para trás, não havia ninguém atrás de si.
– Olá?
Sua atenção segue o som até a porta da dispensa, ela se aproxima com cautela.
– Tem alguém ai?
Ana corre até a porta e acha até a grade de ar no pé da porta.
– Você está bem? - Pergunta Ana.
Ela levanta-se e tenta desesperadamente abrir a porta, puxar a maçaneta e pela brecha que tinha, no entanto o cadeado não a deixava abrir. Ana agacha em frente a brecha da porta, uma mulher loira com franja, cabelo até os seios e olhos castanhos, se aproxima para a luz, revelando alguns cortes no rosto e sangue respingado na roupa.
– Ai meu Deus... - Murmura Ana ao vê-la.
A mulher está com os olhos inchados como se tivesse chorado por muito tempo, seus lábios já perderam a cor natural, a sua pele está muito pálida.
– Qual o seu nome? - Pergunta Ana.
– Jennifer... - Ela responde depois de um tempo respirando fundo - Jennifer McCurdy...
– Eu sou Ana... Não se preocupe, vou tirá-la daqui, ta bem?
Jennifer ergue a cabeça respirando fundo, olha para Ana, ela engole a saliva, o pouco que ainda produzia.
– Há quanto tempo estou aqui? - Pergunta Jennifer.
– Eu não sei... - Ana responde - Deve ter acontecido quando eu sai com aqueles idiotas...
– Quem?
Ana volta sua atenção à Jennifer, que continua sentada no chão com os braços cruzados sob os joelhos.
– Tem um cara me perseguindo - Diz Ana - Ele dirige uma caminhonete branca com amarelo.
– OH NÃO, NÃO, POR FAVOR, TIRE-O DAQUI, MEU DEUS - Grita Jennifer desesperadamente - MEU DEUS, MEU DEUS...
Ana fica horrorizada com o desespero de Jennifer.
– Tu-tudo bem, ele não está aqui agora! - Diz Ana - Ele... Ele está com meu namorado em algum lugar!
Jennifer olha para ela séria.
– No ônibus... Ele o colocou no ônibus... - Diz Jennifer.
– Do que está falando?
– O cara... Ele tem um lugar... Onde ele me levou, onde eu acordei... Ele me manteve lá... Nã-não por, não sei, horas, dias...?... Anos?
– O que ele fez?
– Meu Deus... Meu Deus... - Jennifer baixa a cabeça com a mão na boca e chorando.
Ana encosta a cabeça na porta e fica um momento em silêncio.
– O que ele quer? - Ela pergunta.
– Eu não sei... - Responde Jennifer - Eu não sei... Ele disse que eu tive o que merecia...
– E o que isso significa? - Ana fica com os olhos arregalados, muita tensa e já suando frio.
– Eu não sei... Só sei que minha mãe falava a mesma coisa quando fazia coisa errada... E-eu não devia ter feito coisa errada... Desculpe mãe! - Jennifer volta a chorar.
– Jennifer, o que você fez?
– Eu roubei dinheiro da bolsa da minha mãe... Não muito, só uns cinquenta reais... Eu só queria ver os Stones... Os Rolling Stones...
Ana rapidamente estranha, ela recua a cabeça alguns centímetros.
– Eles iam tocar em Tucson... E eu não consegui chegar... - Jennifer abaixa a cabeça novamente.
– Ele...
Jennifer leva sua mão para Ana e lhe mostra os dedos dos meios cortados, com a mão coberta de sangue. Ana fica surpresa ao ver.
– OH NÃO, ELE VOLTOU, ELE VOLTOOOOU... - Jennifer começa a surtar ao ouvir o barulho do motor.
Ana olha para a janela no alto da parede e volta sua atenção para Jennifer.
– Jennifer, quieta... - Ana corre até a janela, sobe na lata de lixo no chão e avista a caminhonete estacionando em frente às árvores.
– NÃO DEIXE-O ENTRAR, POR FAVOR... - Jennifer chora angustiada.
Ana desce e olha para os lados, tentando pensar em alguma coisa enquanto Jennifer grita desesperada. Ana avista a porta caída do lavabo, corre até ela e a puxa, a parte de cima ainda está presa, Ana continua a puxar com força. A porta da caminhonete é batida com força, Jennifer levanta o olhar arregalado.
– AI MEU DEUS... NÃO DEIXE ELE ENTRAR, NÃO DEIXE ELE ENTRAR...
Ana puxa a porta novamente e a quebra, então vai arrastando-a até a porta do banheiro, a porta é realmente pesada, ela quase a deixa cair. Ana se ergue e continua a puxar a porta, logo a põe entre a porta e a pilastra, posicionando-a embaixo da fechadura.
– Meu Deus... Meu Deus... - Diz Jennifer, em um tom mais baixo.
Ana fica parada encarando a porta, Jennifer está quieta, olhando para frente. De repente aquele homem começa a chutar a porta com força, Jennifer grita desesperadamente. Ana corre até a porta do lavabo e fica segurando-a para não vir a cair, ela fecha os olhos só querendo que ele pare. Depois de alguns chutes, tudo fica calmo novamente, Ana levanta o rosto, ela olha para os cantos assustada, seus olhos estão arregalados e não ficam quietos.
– Ele foi embora... - Diz Jennifer.
– Vou me certificar, está bem?
Ana se aproxima do pequeno espaço da porta e a parede, então o olho do assassino aparece de surpresa, Ana afasta-se abruptamente com um grito.
– EI... - Grita Ana - QUE DIABOS É VOCÊ?... O QUE FEZ COM O FELIPE?
O silêncio prevalece por alguns instantes, Ana encara a porta, ela ouve algumas fungadas, estranhando, se aproxima novamente da porta e consegue vê-lo cheirar a porta.
– Seu pervertido! SUMA DAQUI!
Ele retorna a chuta a porta com a mais força.
– NÃO DEIXE ELE ENTRAR - Grita Jennifer.
Ana segura a porta, ela fecha os olhos e abaixa a cabeça chorando. Ela afasta-se devagar, encosta na pilastra e agacha até o chão, ela chora sem parar. Ana ergue a cabeça chorando muito, a lágrima escorre por seu rosto, ela desce o olhar e começa a soluçar de tanto chorar.
A caminhonete sai dali e segue pelo caminho da parada.
–------------------------
– Ele voltará - Diz Jennifer.
Ana está sentada encostada na pilastra, com seu olhar vazio, fixo no ar, ela abre um pouco a boca para suspirar.
– O cara da caminhonete sempre vai voltar - Diz Jennifer.
– Estaremos longe antes disso! - Responde Ana, com seu tom seco e abalado.
– Ele irá nos encontrar... Vai nos levar para o ônibus.
– Jennifer... Como saiu de lá? - Ana olha para o lado, observando uma parte do rosto de Jennifer pela brecha da porta.
– Eu não sei... - Ela da uma tossida.
Ana revira os olhos, seu olhar volta para frente.
– Deve ter escapado de algum jeito, ele não é o Superman - Diz Ana.
– Ele... Ele não é humano...
Ana fica séria, ela olha para o lado.
– Eu pensei muito sobre isso... Quando ele tava comigo... O único modo de continuar vivendo era imaginar como uma pessoa... Como uma pessoa real poderia fazer isso? - Jennifer já contem o choro, no entanto sua voz ainda está fraquejando de vez em quando, ela da outra tossida - Então, eu percebi...
Ana fica séria, ela engole e saliva enquanto ouvia, sua tensão retorna.
– Ele não era real... Ele não é como você ou eu... Ele tinha de ser algum tipo de monstro.
Ana demonstra irritação fechando os olhos e dando de ombros, ela suspira e levanta em seguida.
– Ta bem, Jennifer, eu vou tirá-la dai... - Ana fica em frente à porta - Tenho roupas no carro que vai poder usar, e então vamos começar a andar!
Jennifer nega a cabeça lentamente.
– Ele vai nos encontrar!
– Não, não vai! - Ana se aproxima da porta e a observa pela brecha.
Jennifer está com o olhar vidrado nela.
– Ele irá nos levar para o ônibus...
– Eu vou tirá-la daqui... - Ana se agacha - Eu prometo!
– Meu Deus... - Jennifer volta a chorar com a mão na boca.
– Eu vou tirá-la daqui - Diz Ana.
Jennifer cospe sangue na porta, ela apoia-se com uma mão na porta e baixa a cabeça, logo começa a vomitar muito sangue, que rapidamente vai se espalhando e saindo por debaixo da porta, Ana levanta-se naquele momento.
– Jesus... - Ana observa o quanto de sangue saia dali.
Jennifer levanta a cabeça com muito sangue saindo de sua boca.
– Eu vou tirá-la daqui, está bem?... Eu vou levá-la para um hospital - Diz Ana.
Jennifer não conseguia conter o sangue, ela chorava loucamente. Ana vira-se para ir pra porta e escorrega no sangue no chão. Ela levanta-se e corre para porta.
–---------------------
Ana abre a porta do porta-malas, vasculha por entre as malas e pega algo, rapidamente fecha o porta-malas e vira-se correndo.
–---------------------
– Jennifer! - Ana entra correndo no banheiro - Jennifer, estou indo... - Ana para de repente, ela fica abismada, seu olhar fica tenso e fixo para frente.
Não havia sangue no chão, nem se quer uma gota.
– Jennifer? - Ana se aproxima e agacha-se depressa - Jennifer?
Ela a procura pela brecha, logo se levanta e fecha a porta por completo, põe a chave de roda no cadeado e o quebra com duas tentativas, Ana puxa a porta e para sua surpresa, não havia ninguém ali dentro.
– Jennifer... Não, não, não - Ana fica pasma, deixa a chave de roda cair e vira-se devagar.
–--------------------
Ana corre se aproximando do mural de madeira com os papeis de desaparecidos. Ela folheia os papeis com muita rapidez, até encontrar um com a folha amarelada, ela segue com o dedo uma linha que leva ao nome da jovem desaparecida. "Jennifer McCurdy - Desaparecida - 1972".
Jennifer está sorrindo na foto do anuncio. Ana afasta-se com a mão na boca e com os olhos cheios de lágrimas, ela nega com a cabeça.
– Não...
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O próximo capítulo deve ser postado nesta Quinta-Feira.
Obrigado por todos estarem comentando o/