Road escrita por Fenix


Capítulo 3
Insanos




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A porta da cabine da policia florestal está intacta, a luz dos postes clareia um pouco pelo vidro da porta, o chão do local. Ana aparece na porta e bate no vidro com uma pedra, o vidro racha.

– Vamos, não seja infantil... - Ela bate novamente e o quebra.

Em seguida passa o braço pelo espaço do vidro e consegue destrancar a porta, voltando com o braço, um caco de vidro lhe faz um corte fundo no braço.

– Droga... - Ana põe a mão no corte que já começa a sair sangue.

Ela abre a porta e adentra na cabine fechando a porta. Ana corre até uma gaveta e pega alguns papeis oficio e contrai o local do ferimento. Ela ergue a cabeça chorando de dor.

– Droga... Droga... - Repete fechando os olhos com força.

Ana olha para frente e avista um rádio frequência.

– Um rádio! - Ela caminha rapidamente até ele.

Senta na cadeira em frente e solta o papel que estava no braço do ferimento.

– Tudo bem - Ela passa a apertar e girar os botões - Vamos... Vamos... - Ela continua sem parar, até que consegue ligá-lo - Isso...

Sua mão tremula, gira o grande botão para conseguir uma estação, depois de alguns segundos, acha uma boa frequência, Ana pega o microfone do rádio, esperando alguns segundos e mantendo a esperança, ela segue apertando o botão.

Mayday... Mayday... Alguém pode me ajudar? - Ana tentava conter o choro - Alguém?... Olá...?

Ana abaixa a cabeça, respira fundo.

– Por favor... Eu preciso de ajuda... Estou presa em uma beira de estrada, tem um cara maluco em uma caminhonete... Ele pegou o meu namorado... - Ana levanta a cabeça chorando - E acho que ele está tentando me pegar!

Ela aguarda algum sinal, alguém para socorrê-la. Ana bate na mesa irritada, ela chora sem parar, sua mão continua tremula.

– Para de chorar... Para de chorar - Ela diz para se manter calma.

Vasculhando as gavetas da mesa, encontra um saco de biscoito fechado e uma garrafa de uísque pela metade.

– Porque não?

Portanto pega a garrafa e toma um gole, ela engasga, mas consegue engolir em seguida. Ana levanta-se e vai em direção a gaveta de arquivos, ela a puxa e olha algumas pastas, logo a fecha e liga o rádio que estava em cima. Apoiando-se de costas na gaveta e ficando um pouco mais calma com a música, avista uma televisão antiga em cima de uma cadeira. Ana vai à ela, senta na cadeira e a liga, para funcionar precisou de algumas batidas no topo da televisão, uma imagem em preto e branco e com chuvisco, começa a aparecer, o som de uma mulher gemendo soa pela TV.

Ana da um sorriso de canto, ela olha para o lado e depois para a televisão, Ana da de ombros e continua a assistir.

Ah, Ana...

Ana arregala os olhos no mesmo instante, seu rosto aparece na imagem, Ana fica sem reação.

– Não...

Confusa, o desespero retorna, Ana levanta-se da cadeira abrupta, e da alguns passos para trás.

Mayday, responda... Mayday, responda... – Soa uma voz masculina pelo rádio.

Ana olha para trás, mas sua atenção não conseguia ser desviada da televisão.

Mayday, responda... Copio?... Alguém me ouvindo?

Ana então consegue retomar a consciência e corre até o rádio.

– Olá, olá... Por favor, me ajude!

– A acalme-se querida, qual a sua localização, por favor?

– Estou em uma parada de estrada na Califórnia! - Responde Ana, agitada - Algum lugar chamado estrada velha... Copia?

Você está com problemas?

– Sim, um psicopata cretino está tentando me ferrar... - Ana olha para janela, porém de onde estava não tinha um bom ângulo de visão do chão.

Senhora, evite palavras de baixo calão no comunicador...

– Desculpe...

Estou na interestadual agora, devo estar há uns trezentos kilometros de você... Mas posso ligar pra polícia e dizer onde está!

– Por favor, faça isso!

Tudo bem, mas se chegarem ai e isso for um trote...

– Não, isso não é um trote - Ana o interrompe.

Tudo bem, aguente firme!

– Muito obrigada! - Ana da um sorriso aliviada - Qual o seu nome?

A respiração é ouvida pelo rádio, Ana fica esperando a resposta.

Felipe...

Ana fica séria, ela encara o rádio.

– É-é o nome do meu namorado...

– Bom, se for tão bonita quanto sua voz, ele é um cara de sorte.

Ana da um sorriso bufando e abaixando a cabeça.

Agora é melhor eu chamar a polícia, cuide-se. Desligo.

Ana da um sorriso, ela fica um pouco pensativa, pega a garrafa de uísque e toma outro gole. Aumenta o rádio de música e passa o tempo tomando uísque. Ela fica lendo alguns papeis na mesa, pega o saco de biscoito e põe um na boca, rapidamente o cospe para o lado, e cospe novamente, para tirar o gosto do biscoito ela toma um gole de uísque.

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Ana caminha pelo largo da parada com uma mão no bolso da jaqueta que está fechada e a outra segurando a garrafa de uísque. Ela olha para o caminho na esperança de avista a viatura da polícia, e estava tudo escuro, Ana olha para o banheiro distante.

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Entrando no banheiro, retira a mão da jaqueta, segurando uma caneta piloto preta. Entra no lavabo e fecha a porta, ali mesmo e embaixo de uma frase, Ana escreve, "Acho que encontrei meu demônio interior".

Ela fica encarando o que escreveu e trinca os dentes.

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Um pouco mais de meia noite, Ana está cochilando na cadeira de madeira, quando ouve alguns passos do lado de fora. Ela abre os olhos devagar e inclina-se para frente, ainda sonolenta. Ana então levanta-se rapidamente e sai da cabine, deixando a garrafa de uísque em cima da mesa.

Ela abre a porta e olha para o lado, o carro azul está parado no largo da parada, Ana abre brevemente a boca.

– Felipe?

Ela caminha devagar até o carro. Próxima, analisa o interior do carro, ninguém no banco da frente e nem no de trás. Ana olha para o caminho da parada, estava deserto e não se enxergava o final com a escuridão. Logo adentra no carro e toca na chave na ignição.

– Graças a Deus - Ana desce a mão para a marcha e encosta no banco, sujando sua mão com algo molhado e gosmento. Levantando-a para luz, sua mão está suja de sangue - Deus... - O banco está com a ponta suja de sangue - Felipe...

Ana fecha os olhos chorando, ela gira a chave rapidamente e tenta dar a partida, o carro não ligava, Ana continua a tentar, todavia não tinha sucesso.

– Seu filho da mãe, o que fez com o carro? - Ana diz com raiva e chorando.

De repente uma luz forte a ilumina, Ana olha para o lado, o motor começa a ranger. Ana arregala os olhos ao ver a caminhonete parada ao lado do carro. A caminhonete acelera, Ana puxa a maçaneta para sair do carro, mas não consegue, ela força sem parar, a caminhonete está próxima. Ana vai para o banco do carona, quando senta a caminhonete bate na lateral do carro.

Ana grita horrorizada com as mãos no rosto, o impacto quebra o vidro da porta, Ana tenta abrir a porta do carona desesperadamente, a caminhonete da a ré e acelera de novo. Ela continua tentar abrir a porta, Ana olha para trás vendo o carro se aproximar, a porta abrir e ela cai no chão. Naquele mesmo instante, engatinha correndo para longe do carro, a caminhonete bate contra o carro de Felipe e o retira do lugar, por muito pouco não acerta a perna de Ana.

Ela se afasta correndo e vira-se para ele, a caminhonete da a ré girando e ficando em frente à Ana.

– VAI SE FERRAR SEU DESGRAÇADO!

Ela observa a silhueta de uma pessoa contra a luz, Ana fica encarando-o.

– Você terá uma grande surpresa, seu merda...

O autofalante da caminhonete é aumentado.

– Estou em uma parada de estrada na Califórnia!

– Não... Não... - Ana começa a chorar desesperadamente, ela nega a cabeça enquanto ouvia.

– Algum lugar chamado estrada velha... Qual o seu nome?

Ana olha para baixo com as mãos nos ouvidos.

– Felipe...

– NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOO - Ela grita encarando-o.

– É-é o nome do meu namorado...

– NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO - Ana agacha-se um pouco, chorando alucinada.

– Bom, se for tão bonita quanto sua voz, ele é um cara de sorte.

– O QUE VOCÊ QUER DE MIM? - Ela grita.

Uma música country começa a tocar no som.

– O QUE VOCÊ QUER SEU FILHO DA MÃE?

Ele acelera para frente e Ana da uns passos para trás, ele freia em seguida. Ela fica encarando-o sem parar de chorar, a caminhonete da à ré e sai dali. Ana põe as mãos na barriga e cai de joelhos no chão chorando. Seu braço com o corte, já está com a mão toda coberta de sangue.

Um som de motor soa de repente, Ana levanta-se abrupta virando-se, o trailer acende os faróis e acelera para frente.

– Espere... Espere... Espere... - Ana balança os braços em frente ao trailer, forçando-os a freia quase que em cima dela.

Então corre para o lado do trailer e abre a porta, adentra e a fecha. O trailer percorre o caminho saindo da parada. Ana está sentada na cadeira ao lado da porta, o interior do trailer era normal, móveis em branco e verde, cortinas um pouco antigas, a porta no final do corredor está fechada.

– Muito obrigada pela carona - Ana agradece olhando para frente.

Sentada no sofá em frente à Ana, está uma mulher de idade, com cabelo vermelho encaracolado e maquiagem pesada, na mesa ao lado do sofá, dois gêmeos com cerca de dezoito anos, sem qualquer tipo de expressão no rosto, tomando algum tipo de picolé avermelhado.

– Como está quente hoje... Realmente horrível - Diz Rita, com um sorriso forçado no rosto.

– Vocês realmente me salvaram... Aquele cara...

– A noite está quente também - Rita a interrompe - Normalmente isso não acontece aqui...

Ana fica recuada e um pouco assustada com a senhora.

– Geralmente as noites são frias como uma cova.

Ana olha para os gêmeos que ficam encarando-a, Ana fica intimidada com os olhos frios e secos dos meninos.

– Eu posso usar seu telefone? - Ela pergunta para senhora - Preciso ligar para polícia.

Rita sorrir confirma com a cabeça, ela continua com seu olhar vidrado em Ana.

– Sabe o que faço nas noites quentes?...

Ana fica séria.

– Provavelmente, eu não deva falar isso na frente dos meninos - Diz Rita, ela inclina-se para frente.

Ana recua encostando-se mais na parede.

– Ás vezes... Vou ao banheiro e retiro a minha roupa debaixo...

O homem velho, de óculos de grau e um pouco careca, está dirigindo o trailer, ele da um sorriso com o que Rita diz.

Ana fica agoniada com a situação, Rita começa a rir em sua frente.

– Olha, o cara pegou o meu namorado, eu preciso mesmo ligar para polícia! - Insiste Ana.

Rita volta a encostar no sofá.

– Num dia quente a minha geladeira quebrou, oh... Tudo ficou derretendo, você não tem noção... Tinha sorvete de framboesa por todo o lado...

– Por favor, me escuta, eu...

– Parecia sangue... - Rita fica séria.

– Vocês viram o que aconteceu! - Diz Ana, exaltando-se.

– Nós não vimos nada - Responde o homem.

Ana olha para ele indignada.

– Como não? O cara com a caminhonete branca e amarela, ele tentou me matar!

– Não sabemos de nenhum cara com caminhonete branca e amarela! - Responde o homem.

Rita da uma risada baixa, Ana a encara estranhando-a.

– Do que você ta falando? - Ela volta sua atenção para o motorista - Estava bem na sua frente, ele acabou com o nosso carro...

O homem permanece quieto, Ana olha para Rita que continua sorrindo. Ela respira fundo, passa a mão no cabelo e engole a saliva.

– Então... De onde vocês são? - Pergunta Ana.

– De onde você acha? - Pergunta o homem.

Rita da uma gargalhada, chamando atenção de Ana, que sentia-se estranha e assustada por estar ali. De repente um flash é disparado do quarto, Ana olha para a porta fechada e depois para Rita.

– Tem alguém ali atrás? - Pergunta Ana, ficando agitada e pondo as mãos a poltrona.

Um gemido de um rapaz soa do quarto, Ana fica nervosa, ela olha para Rita que mantinha o sorriso no rosto.

– Felipe?... Hein? É ele?... É o meu namorado? - Pergunta Ana, exaltando-se rapidamente.

Outro flash, e um grito abafado é ouvido dali.

– Ai meu Deus... - Ana olha para porta.

– Fique sentada ai - Diz o homem - Não se atreva a olhar!

– Felipe? FELIPE É VOCÊ?

– NÃO SE ATREVA!

Ana corre em direção a porta.

– NÃO DEIXEM ELA ENTRAR! - Grita Rita.

Ana passa por um gêmeo e empurra o outro para o lado.

– FELIPE, FELIPE...

– NÃO SE ATREVA - O homem grita.

O gêmeo levanta do banco e quase segura o braço de Ana, ela abre a porta e depara-se com um anão na cadeira de rodas, completamente deformado, sobrancelhas inchadas, dentes para fora, quase sem lábios.

– Ai meu Deus...

Ele tira foto dela, Ana fica paralisada, sem reação.

– TIREM ELA DAQUI! - Grita Rita.

Um gêmeo a puxa pela garganta, o outro fecha a porta.

– TIRE ELA DAQUI, TIRE ELA...

Ana grita debatendo-se, com o braço ela derruba todas as panelas em cima do fogão, o rapaz a joga no chão, Ana cai de peito gritando.

– SUA VAGABUNDA, QUEM PENSA QUE É? - Grita Rita, próxima a seu rosto.

Ana fica de joelho e assustada.

– QUEM VOCÊ PENSA ÉÉÉÉÉ?

Ana recua para o pé da cadeira onde estava antes, ela retira os fios de cabelo que ficaram em seu rosto.

– VOCÊ VAI TER TUDO QUE MERECE, TUDO QUE MERECE SUA VADIA...

– Me-meu namorado, Felipe, achei que ele estivesse ferido...

– Acho que tinha à vontade de ir lá? À vontade para pecar?... - Diz o homem.

Ana fica horrorizada.

– Deixe eu te dizer uma coisa menina...

– VAGABUNDAAA - Grita Rita.

– O senhor está vendo! - Ele completa.

– SUA VADIAAA - Grita Rita sem parar.

– Vendo o seu pecaminoso, ele envia seus anjos da punição para exigir sua vingança - Ele diz.

– PARE, PARE, PAREE - Grita Ana, chorando.

Ela fica inquieta, Rita afasta-se um pouco de seu rosto.

– Leia a bíblia, mocinha... E Moisés. ao alcançar o céu... Conheceu o anjo da punição do Senhor...

Rita da um sorriso, com a cabeça para trás e a mão erguida.

– Af, o anjo do ódio - O homem continua - Kezef, o anjo do castigo, Hemah, o anjo do castigo...

Ana olha para Rita, que começa a chorar, ela se mantém acanhada na parede.

– Mashhit, o anjo da destruição...

– Deus... Deus... Deus... Deus... - Rita fica repetindo, olhando para cima e com as mãos erguidas.

– Eles eram serafins... - O homem da um sorriso - Anjos do fogo enviados pelo Senhor para punir os pecadores, e queimar suas almas.

Ana olha amedrontada para os gêmeos que ficam encarando-a, então volta a olhar para o motorista.

– Vocês são loucos... - Diz Ana, em tom normal.

– CALA A BOCA SUA VADIAAAAA - Grita Rita, e lhe da um tapa no rosto.

Ana gira a cabeça para o lado e inclina-se para o chão.

– SUA VADIIIIIIIIIIIIA...

Ana levanta-se e retribui o tapa em Rita, que a faz senta-se abruptamente no sofá. Naquele instante o trailer freia, a porta é aberta e Ana empurrada para fora, ela cai em pé e observa o trailer acelerar e sair dali.

– VÃO SE FERRAR! - Grita Ana.

Ela olha ao redor, se encontrando novamente no largo da parada de estrada.

– Mas o que...?


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