- Eu vou sentir sua falta – ela murmurou tocando o torso nu e suspirou.

            - Eu já sinto a sua falta – ele murmurou passando a mão sobre o rosto feminino.

            Fazia meses, pelo menos, que Hermione não pensava no que poderia ter sido, em como tudo poderia ter mudado se o resultado fosse positivo. Ela havia jurado a si própria que era melhor esquecer, que não havia sido o momento certo... Mas agora parecia que aquele havia sido o momento exato, só que ela não se apegara a ele. Pelo menos ela teria a alguém em quem se apegar depois que a noite acabasse...

            Mas ai ela teria também mais alguém sofrendo por culpa daquele homem.

            De olhos fechados a garota decidiu que era melhor não pensar nisso, talvez em anos a lembrança não a machucasse nem trouxesse a tona tantas perguntas, ai sim poderia voltar a questionar se fora melhor ou não assim.

            Mas definitivamente aquele não era o momento certo para isso.

            - Do que você mais vai sentir falta? – ele perguntou ainda tocando, com seus dedos longos, o rosto da garota.

            - De você – ela respondeu sem pestanejar.

            - Não – ele murmurou. – De que momento?

            - Os funcionários da Floreios e Borrões nunca mais vão ser os mesmos – Hermione murmurou rindo e Draco gargalhou trazendo a tona uma das boas lembranças que possuíam juntos.

            Era dia de fazer compras para o último ano de Hogwarts, Draco usava seu suéter típico de sonserino, verde e prata, ostentando o símbolo da casa que lhe dava orgulho e, principalmente, afastando algumas pessoas não desejadas.

            Mas isso incluía afastá-la...

            Todos olhavam para o símbolo sobre a parte esquerda da veste, alguns aprovavam, outros só de verem as cores já desviavam o caminho. Ele sorriu orgulhoso de si próprio, mas ao entrar na Floreios e Borrões e vê-la com a expressão fechada, por mais que quisesse rir, e o olhar reprovando suas vestes. Sua vontade foi de gargalhar, ele sabia bem o quanto Hermione odiava vê-lo se exibindo por ai por ser da Sonserina – pelo que ser da sonserina significa.

            - Vão todos olhar, senhor sonserino – ela disse com desdém ao vê-lo se aproximar com aquele sorriso torto na cara e o cabelo meio bagunçado.

            - Eu não me importo – ele disse pegando-a pela cintura.

            Não levou um minuto para que pessoas passassem e vissem o herdeiro Malfoy agarrado a uma garota da grifinória, não precisavam nem saber que era exatamente, só não ser da Sonserina já era motivo de desagrado.

            Ele revirou os olhos vendo como uma senhora acompanhada dos netos torcia o nariz para cena.

            - Confundus...

            - Culpa sua – ele disse compartilhando da memória.

            Compartilhando das boas partes da memória, de como seus dedos tocaram a cintura fina por debaixo do suéter, e como a pele clara e macia dela se arrepiava ante seu toque... Como seus lábios possuíam os dela e suas línguas se encontravam. Como seu corpo encaixava-se tão bem somente ao dela.

            - Aquele não foi o melhor – murmurou ela continuando a dedilhar sobre o peito nu e claro de Draco Malfoy. – Mas foi especial... Você se lembra? Foi a primeira vez que nos beijamos em um lugar tão tumultuado e não houve vergonha.

            ...mas logo em seguida ele lançou um feitiço de confusão, mas ainda assim havia sido diferente, porque de início fora totalmente espontâneo, e se não fosse pelas velhas intrometidas continuaria sendo.

            - Foi você que sempre teve mais medo de contar a todos – ele lembrou tocando a ponta do nariz arrebitado.

            Claro, seria ela a sair destruída caso alguém decidisse intervir – como de fato houve – pois Draco sempre seria um Malfoy, o que lhe garantia poder independentemente, enquanto ela... O que seria dela no momento que tudo desse errado? Filha de trouxas, não havia muito futuro, não a menos que começasse do zero, enquanto ele já tinha tudo em mãos.

            Mas aquele não era o momento para isso.

            - De qualquer jeito não deu certo – ela deu de ombros virando-se para o outro lado, sabendo exatamente o que Draco faria.

            Porque por diversas noites havia sido assim, ela abraçava seu peito enquanto ele acariciava seus cabelos, mas se por ventura ela decidisse mudar de posição, ele ia junto, normalmente abraçando-a pela cintura, mantendo seu rosto na altura da curvatura do pescoço feminino... E pela madrugada, na hora de escaparem, era com beijos naquela região tão sensível para ela que Draco começava a acordá-la. E era sempre bom, todas as noites, não tinha de necessariamente envolver sexo, mas era bom.

            Hermione suspirou dando-se conta do vestido largado no chão da Sala Precisa e teve vontade de poder usar o vira tempo que por tanto tempo a acompanhara, poderia ao menos prolongar os momentos? Levá-lo junto e fazerem tudo de novo? Não sabia exatamente, mas a vontade lhe coçava a mão para que fizesse.

            - Eles devem estar nos esperando...

            Eles. Ela bem sabia quem eram. Pansy. Rony. Aqueles que nunca concordariam com o namoro entre famílias tão diferentes, Rony que jamais aceitaria o fato de um dia ela sequer ter tido algo junto a Draco, e Pansy que jamais aceitaria perder o garoto que sempre amou – mesmo sabendo os sentimentos contrários dele.

            - Eu não quero voltar – ele murmurou o que a fez ter ainda mais vontade de voltar no tempo.

            Mas não, voltar no tempo não seria suficiente porque hora ou outra, cedo ou tarde, teriam de avançar a esse momento e tudo acabar.

            De qualquer jeito não daria certo no final.