Foi frustrante para os irmãos se darem conta que estavam dando voltas em círculos naquela mata, a pouco minutos atrás tiveram uma empolgação momentânea em avistar um galpão, e a cena repetiu-se algumas vezes.

Dean franziu a testa, estariam envolvidos por um feitiço do tempo?

— Dean? — Sam chamou o irmão quando o viu quieto demais.

— Estava pensando, será que estamos envolvidos por algum tipo de feitiço...

— Do tempo? — Sam completou a frase — Também pensei nisso. Talvez...

Sam foi interrompido bruscamente pelo som da voz inesperada de uma mulher.

— Talvez vocês não estejam sendo bons farejadores — a loira aproximou-se revelando os olhos totalmente negros.

— Mas a cachorra aí fareja bem, não é? — Dean avançou ameaçadoramente. Sendo impedido pelo braço do caçula a continuar sua trajetória.

— Calma aí, mano. O que você quer Ruby? — Sam voltou seu olhar para a mulher.

— Qual é Sammy, essa vagaba vai nos meter em enrascada e além disso... nossa! Mas você é feia mesmo, Ruby — o loiro olhou mais uma vez com repulsa o rosto de Ruby.

— Quê? O que há com ele Sam? Enlouqueceu? — a mulher falou rispidamente.

—Dean está conseguindo... hã... ver a verdadeira face dos demônios — Sam sentiu o olhar de repreensão do mais velho sobre si.

— É, parece que seu irmão está com um pé aqui e outro no inferno — a mulher sorriu deixando suas covinhas aparecerem em sua face.

— Como? — Sam perguntou, tanto ele quanto Dean queriam saber a resposta. Mesmo que pudessem imaginar, não queriam ter a confirmação da suspeita que os atormentava.

— O inferno Sam. Seu irmão está vendo o outro lado, está quase na hora de cumprir o acordo. Faltam o que... horas? Dias?

Sam encarou o irmão antes de voltar sua atenção a Ruby.

—Quatro dias. Faltam quatro dias — o moreno repetia cabisbaixo.

— Bom, esta explicado o repentino “dom” de seu irmão. Agora, segure-o antes que ele me morda. Posso ajudar vocês.

— Não queremos sua ajuda, cretina! Você pode ter enganado o Sam com seu doce veneno de boa samaritana. Mas a mim, não me engana — o loiro estava cada vez mais irritado, tudo em seu corpo lhe alertava a presença do inimigo. E Ruby, era um desses presságios.

— Seu irmão nunca vai acreditar em mim, Sam. Será que você não lembra de quando ajudei vocês a encontrarem seu pai? Ou quando ajudei Sam a fazer as balas do colt? Mesmo correndo o risco de levar um tiro com elas? E essa faca você acha que é de quem? Já dei provas suficientes de que estou ao lado de vocês. Que quero ajudar e...

— Ah, claro. Esqueci, você já foi humana e quer voltar a caminhar na praia. Você se apresentou a nós como caçadora e não um demônio. E se tudo até agora tenha sido uma estratégia sua?

Ruby estava ficando sem argumentos, pensava ter conquistado o loiro com suas atitudes de boa demônio, ajudando-os em alguns casos. Mas o caçador era esperto. Esperto demais para conseguir ludibriá-lo. No entanto ela ainda mantinha fé em Sam. Com as palavras certas, teria a atenção do caçula. E o manipularia após a morte do intrometido irmão mais velho. Seus planos dariam certo, todos até agora foram de certa forma um sucesso. Os irmãos ainda não desconfiavam que fora ela a fazer o pacto com John Winchester, em troca da vida do filho mais velho. Eles não poderiam descobrir seu real intuito em ajudá-los. Resolveu colocar seu plano pérfido em ação.

— Embora você não acredite em mim, Dean. Descobri quem detém o seu contrato — Ruby sorriu ao ver a expressão de satisfação do moreno e do modo desconcertante de Dean.

— Quem é ele, Ruby? — Sam aproximou-se decididamente.

— Não é quem é ele Sam. E sim ELA. Seu nome é Lilith e ela quer a alma de seu irmão. E quer sua cabeça em uma bandeja, Sam.

Os dois irmãos se entreolharam, cada um com o pensamento no outro. Se Dean estava com um pé no inferno... Sam enfrentaria uma terrível batalha.

“Tenho que resolver isso antes de “descer”, não posso deixar Sammy enfrentar esse perigo sozinho...”

— Você sabe como encontrá-la? — A pergunta surpreendeu Sam e Ruby.

— Bom, confesso que não esperava essa mudança Dean. Vejo que entendeu muito bem o perigo que seu irmão irá enfrentar, como quero muito ajuda-los, esquecerei sua birra comigo — a loira sorriu, estava conseguindo envolver o loiro esquentado em sua teia maligna.

— Sem charadinhas Ruby, sabe ou não onde encontrar Lilith? — os olhos verdes cintilavam de ódio e o demônio Ruby conhecia aquele olhar de controle, a qualquer momento poderia ser morta por ele, era melhor baixar a guarda e cumprir seu papel nessa trama diabólica.

— Desculpa, você consegue me deixar irritada. Lilith está adormecida em algum esconderijo muito bem camuflado. Ocorreram mortes e sinais de sua vinda nessa região, alguém ou alguma coisa está trabalhando para trazê-la de volta, por isso estou aqui e acabo dando de cara com vocês, o que não foi nenhuma surpresa é claro — a loira baixou o olhar, não gostaria de ver seu plano ser revelado em sua face.

Sam aproximou-se, parecia ainda maior e determinado. Era disso que Ruby precisava, um incentivo para que o moreno tomasse a atitude desesperada de salvar o irmão.

— Como podemos localizar ela? — o moreno percebeu os ombros do loiro ficarem caídos, desviou o olhar se os manteve em Ruby.

— Com seus dons Sam.

A resposta curta e direta, os manteve calados por breves instantes, até Dean processar o que estava para acontecer.

— Nem pensar. Sam não vai usar, utilizar ou sei lá o que desse lance paranormal. Somos caçadores e sempre nos viramos sem essas paradas sinistras. Além disso, são visões e...e ou premonições que o acometem. Não há controle sobre elas. Não é Sammy? — os olhos suplicantes e amedrontados de Dean revelavam toda sua angústia.

— Ele tem razão Ruby. Tive apenas sonhos que aconteceram logo depois ou até no mesmo momento. Não sei controlá-los, não sei como ajudar — Sam sentia-se um lixo.

— Você não sabe, porque não treinou. Eu te ensinaria. Mas teria que começar já. Não podemos perder tempo. Mortes, besouros, clima se alterando a todo instante. Isso é um péssimo sinal.

— Qual é Ruby, você veio aqui para ficar tripudiando? É claro que não vamos concordar com isso — Dean olha para o irmão pedindo ajuda. Sam retorna o olhar levando em consideração a proposta da mulher.

— Ah, tá de brincadeira comigo Sammy? Você não vai, ouviu, NÃO VAI mexer com esse seu lado psíquico, não mesmo! E ponto final.

— Dean, não temos outras opções. Se isso for salvar sua vida e acabar com o pacto e detonar com a maldita. Eu tô dentro! — disse Sam veementemente.

— Não, não está dentro! E isso não está em discussão — Dean empurrou o irmão para longe do olhar do demônio.

— Cara, do que você tem medo? Eu sei com que estou lidando, não sou criança — a discussão entre os irmãos era acirrada.

— Sam, não questão de medo. É de bom senso... — o loiro estava com medo sim, medo das palavras de John Winchester, medo do que seu irmão poderia se tornar.

— Bom senso? Você o teve quando vendeu sua alma por mim? Não pensou em como estou me sentindo agora? — Sam estava furioso, passou os dedos entre os cabelos, tentando aliviar a tensão.

— Vocês dois estão perdendo tempo com essa discussão...

— CALA A BOCA RUBY!! — ambos falaram juntos, deixando a mulher com um sorriso sádico entre os lábios rubros.

— Sam preciso falar com você, em particular — a seriedade na voz de Dean assustou ainda mais o irmão caçula.

— Você sabe de alguma coisa que não sei? É isso? Dean me responda a pergunta! — Ruby havia se interessado pela novidade que estaria por vir.

— Não com esse demônio em nossos calcanhares — Dean acenou com a cabeça em direção a loira.

— Ruby... — Sam começou e logo foi interrompido.

— Ok, estou indo. Sabe como me encontrar. E sabe que sou a única que pode ajudar vocês.

— Não ouviu? Cai fora! Mais uma palavra sua e juro que... — pela primeira vez o brilho

em seus olhos vacilou um instante e a mulher demônio desaparecera de imediato.

— E agora nós dois Dean. Me conta a verdade, o que está te atormentando tanto? — Sam virou-se para o irmão sustentando um olhar firme.

Dean hesitou um instante, mordeu o lábio inferior antes de responder ao caçula.

— Está certo, Sammy. Mas antes vamos encontrar o Bobby, e responderei todos seus questionamentos —o loiro suspirou desanimado, tudo estava fugindo de seu controle. E havia chegado a hora de falar abertamente com seu irmão caçula. Não havia como protelar essa decisão, não tinha tempo para isso. Não mais.