No entardecer púrpuro de uma batalha escrita por Teffyhart


Capítulo 1
Único




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Aquela cantiga havia perdido sua letra há muito tempo, era agora apenas uma melodia calma, reconfortante e silenciosa de palavras. O cantar fatigava-se a cada passar de notas e ele, aos pouquinhos, sumia junto ao tom doce.

Era a mesma melodia que cantava sobre vitórias e derrotas, era suave, mas sua intenção gloriosa. Mas, apesar de triste, era marcava a derrota de outro herói. Ela cantarolava a vida e entregava-se a morte outra vez. Sutil como um soar de harpa, trazendo as lembranças dos momentos felizes, e retumbante como um trovão, marcando suas derrotas e suas covardias.

Cantava-lhe sobre o quanto fora corajoso e também quantas outras vezes havia fugido. Sem palavras a cantiga contava-lhe sua vida. Sem pressa ela passava por cada momento, virada e desentendimento. Viu cada uma de suas conquistas refletidas nas notas e, de repente, como começara – desapercebida no furor da batalha – ela lhe sussurrou suas únicas palavras, sutil e tranquila. Ela lhe sussurrava a verdade que procurara desde o início.

Ela guardou sua voz e lhe ofereceu sua mão, tentadora, sedutora, porém vazia. Ele queria tocá-la, queria aceitar a música que fazia tão parte de si.

Mas acorrentado estava.

Sua feição tranquila transtornou-se, ela estendeu a mão ainda mais adiante, visando que ele finalmente aceitasse... Mas agora já não havia mais interesse. Ao lembrar-se das correntes, era como se toda a ilusão houvesse se desfeito em farelos. Finalmente olhou para os olhos da cantora, vendo nada além da completa escuridão. Do vazio em que estava emerso.

Ele moveu a mão, então, de modo a tocar sua face fria, vendo-a se afastar com o toque. Seu toque queimava, sempre queimou. Não será dessa vez, ainda murmurou para ela, que afugentada pelo fogo e pelas correntes, afastou-se ainda mais, cobrindo-se com sua capa negra.

E todo aquele fogo brilhou com as palavras de poder. Ele estava cheio de magia e marcas, as correntes que antes lhe prendiam agora haviam sumido. Ele era a fonte de todo aquele poder. Era ele quem tinha o controle sobre tudo aquilo. Mas ainda olhou para a mulher de olhos vazios e tristes, que se afastara, levando com ela sua canção.

Ele estava sendo atirado de volta para o lugar silencioso, onde nada emitia nenhum tipo de som senão por suas próprias palavras, sua própria magia. O tom veio do escuro, trazendo para ele o branco novamente.

A promessa tão antiga o preencheu coma fúria de um tufão, jogando para longe todos os outros pensamentos, deixando brilhar todas aquelas palavras que ele mesmo repetira mil vezes, e havia de repetir mais mil.

Você verá todos aqueles que você ama, ou amará, nascerem, viverem e morrerem. Nunca entenderá o que é um amor para a vida inteira e nunca haverá um colo, que te conheça bem o suficiente, para que você possa descansar sua cabeça sem preocupações. Ainda assim, mesmo depois de tudo isso, você viverá pelo amor de sua eterna amante: A batalha. Você aceita?

Seu corpo ergueu-se, agora não mais impedido por nada, nem mesmo pelas correntes que moldavam sua alma ou pela cantiga doce que sua mente continuava tentando lembrar-lhe. A voz, agora, era a sua própria: Rouca, profunda e penetrante.

Sim.

-

Suas mãos cavaram a saída. Ele ergueu o corpo, tomando o ar daquela terra tão conhecida. Esfregou os olhos, retirando a poeira e a terra que jazia neles e sentiu a boca seca de tanto tempomorto.

Saiu de sua cova, arrastando-se para conseguir ficar em pé de encontro à uma estrutura quebrada, e olhou ao redor, vendo a fumaça de um acampamento nos arredores.

Ele deu um sorriso pequeno.Demorou, mas eu voltei. Então começou a caminhar de uma maneira lenta e dolorosa, notando o entardecer que batia forte contra seus olhos, os resquícios de batalha que restaram, a trilha que aGrand Chase havia tomado.

Não pensava como, apenas continuou caminhando. Não tinha ideia dequando, mas eventualmente chegaria até eles.

E quando chegou foi recebido por olhares surpresos e alguns até mesmo emocionados. Mas foi a ruiva quem veio buscar seu abraço, sentida.

Ele não desmereceu sua ação, de maneira alguma, mas sabia que ela tinha uma imagem a apresentar de líder. Ele passou a mão machucada pelo topo de sua cabeça, afastando-se de leve enquanto ela secava as lágrimas.

-É preciso muito mais do que isso para me derrubarem, ruivinha. - E um sorriso tranquilo.

Ele estava fadado, amaldiçoado, a vagar eternamente por aquelas terras. Não havia nenhum tipo de amenizador para tudo aquilo.

Mas ele não podia se impedir de cantar, para si mesmo, a cantiga velha e sem palavras, aquele que ele almejava, um dia, capturar para si.


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Notas finais do capítulo

Eu achei que a outra fic merecia um final, agora que o Siegh "reviveu" ou qualquer coisa assim.
Mas como o Nyah não me permite adicionar capítulos depois que uma fic foi finalizada, decidi que abriria uma ficlet apenas para postar isso.
Ah, e agradeço muito mesmo a todos vocês que comentaram na outra fic, vocês são incríveis! Ainda mais a MaruShi que fez questão de recomendá-la (desculpe por fazê-la chorar tantas vezes)!
Obrigada mesmo gente, vocês são incríveis! E espero que essa também esteja no agrado de vocês, viu?
Beijinhos!



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