Maré Alta escrita por Dobrevic


Capítulo 6
Você está?


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a fofa da Memet que comentou em quase todos os capítulos e pedir pra quem tá lendo fazer apenas um comentariozinho pra eu me animar :( rs Enfim, vamos lá!!



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Nesse mundo de ilusões onde passamos nossos dias, não posso ser quem eu sou.

É estranho eu estar dentro desse carro agora prestes a fazer o que eu mais temia. Relaxar foi pouco. Minhas mãos estão suando e tudo que eu quero é abrir um buraco, me enfiar lá dentro e só sair quando tudo isso acabar. Nada nunca é fácil na vida. Quando se trata de escolhas, é claro. A gente idealiza um futuro perfeito e de repente o vê escapar entre nossas palavras, gestos, atitudes. E é pra ser fácil?

Respirei fundo na tentativa de me acalmar. Foi quando escutei a porta do carro se abrir. Tudo que eu consegui ver foi uma visão rápida do meu pai que estava deslumbrante e flashes por todos os lados. É claro que o Jorge não perderia a oportunidade de se divulgar. Revirei os olhos e segurei a mão do meu pai que me ajudou a sair do carro.

Segui até a entrada da casa que tinha a cobertura com enormes arranjos florais e pétalas brancas ao chão. Avistei um outdoor de longe, com a foto mais bonita do meu ensaio fotográfico com o João. Estávamos distraídos. Eu ajeitava seu cabelo enquanto ria de mais uma das suas piadas idiotas e ele ria porque achava minha risada engraçada. Foi o único contato que tivemos desde então.

Arranquei esses pensamentos da cabeça, procurando ignorar o nó em minha garganta e o desconforto no estômago, determinada a soar feliz, mesmo que isso signifique fingir no começo.

Caminhei por um jardim dentro da casa e estava surpresa com a quantidade de pétalas de rosas espalhadas pelo gramado e pelo caminho que eu estava fazendo até a piscina. Foi aí que o avistei. Ele estava distraído conversando com dois amigos. Ele estava tão bonito. (Enfatiza o “tão” porque realmente está lindo). Eu parei de andar na entrada principal onde se reuniam os convidados e todos se levantaram para aplaudir minha chegada. Eu sorri confusa e olhei para o meu pai que virou minha cabeça para frente e sussurrou no meu ouvido.

– Eles ainda tinham esperança de que você desistisse. – Sorriu e acenou para os amigos de longa data.

Eu sorri com aquele breve comentário.

Rodei meus olhos pelo lugar parando em uma única pessoa. Nossos olhos se encontraram, e ele insistiu em manter o olhar fixo por alguns segundos a mais do que o normal. Eu me recuso a apertar ou desviar os olhos primeiros. Estou determinada a permanecer no jogo pelo tempo que for necessário. Ele bebericou o drink que estava em sua mão e voltou a conversar.

E cá estou eu. Cumprimentei algumas pessoas que vieram me parabenizar, e sempre com um sorriso no rosto. Estou sendo alvo de olhares curiosos que devem estar se perguntando o que eu tenho na cabeça.

Eu também tenho me perguntado muito isso.

Fui até o bar e pedi um coquetel de frutas, com álcool. Era o que eu precisava. Hoje eu tive a prova de que não existe nada mais falso e hipócrita que um sorriso. Eu estou acabada por dentro e sei que vai ser mais complicado que nunca. Complicado porque é com aquele único olhar que eu vou ter que conviver. Cujo olhar que está me encarando agora com um puta sorriso. Talvez, fingido.

Por um segundo é como se só houvesse nós dois aqui. Alguns olham com curiosidade. Outros com surpresas. E outros só olham. Mas ele me olha como quem diz: “Ei, me tira logo daqui”. Um olhar doce.

Pena que sofro de diabetes.

– Vocês dois, hein. – Tia Margareth parou ao meu lado de repente com um sorriso no rosto, mal tive tempo de responder. – Quem diria. – Balançou a cabeça positivamente, e eu sorri, afirmando com gentileza.

Eu basicamente não respondi a ninguém nessa noite. São todas perguntas como:

Porque nunca me contou sobre você e o João Miguel?

Sempre soube que vocês ficariam juntos. O que estão achando?

Por quê? Por quê? Por quê?

Eu nunca fiz planos sobre um casamento. E é realmente estranho hoje estar dentro de um vestido como esse ouvindo as mesmas frases de todas as bocas. Isso tudo acontece enquanto eu travo uma luta interna comigo mesma e a hora insiste em demorar a passar. Andei até a piscina e parei pra observar o céu. Estava limpo. A lua nova iluminando a noite, enquanto estrelas serviam como decoração. Dali eu podia ver todos sorrindo, conversando e se divertindo. Senti um leve toque no meu ombro que fez meu coração palpitar. Fechei os olhos mantendo meu autocontrole e pude jurar que ele sorriu.

– Não está gostando da festa? – João continuou a sorrir e eu o encarei profundamente.

– Você está? – Perguntei e ele deu uma breve risada. Seca. Amargurada. – João... Hã... Está tudo bem com você? – Perguntei receosa.

– Com você está? – João reformulou minha pergunta anterior e eu senti um peso caindo sobre mim. Não pela situação em que estamos, mas por saber que ele se sente da mesma forma que eu me sinto.

Por impulso, levei minha mão direita até a maçã de seu rosto e acariciei levemente.

Ele me olhou.

Olhou como quem pudesse ler meu olhar.

E me abraçou.

E pela primeira vez desde que essa história teve início, eu me senti protegida.

Contra o mundo. Contra a minha família. Contra a família dele. Contra mim mesma.

Fui interrompida por baixos gritos agudos de certas pessoas inconvenientes. Suspirei baixo e dei uma risada. O João me acompanhou e de repente o clima ficou mais leve. Era a Angelina e a Melanie. Elas estavam maravilhosas. A Melanie usava um vestido curto, sem alças e apertado na cintura, o que valorizava a cintura fina que possui. É rosa e totalmente brilhoso. Acho que lá da lua dá pra enxergá-la aqui. Ri com esse pensamento. Não é novidade ela exagerar. Sempre. Angelina sempre sexy e discreta optou por um longo, cor vinho, com um pequeno corte até os pés em sua perna esquerda valorizando bem suas coxas.

– Encantada. – Melanie diz olhando para mim e para o João. Angelina e ela trocaram olhares curiosos e eu senti que estava perdendo a melhor conversa da noite.

– Posso perguntar com o que? – Ergui uma sobrancelha e o João riu baixo.

– Com nós dois, Malu. Eu e você. Você e eu. Nós. – Nós, pensei – Tenho que concordar que hoje estamos perfeitos um para o outro. – Maldito sorriso.

– Que pena que aparência não é tudo. – Sorri falso.

– Oh! Não? – Esperei ele terminar porque obviamente ele não queria uma resposta – Se não fosse não estaríamos aqui, bancando o típico casal feliz para todos pensarem que nos amamos. E quem é que imaginaria que são apenas negócios? – Ele parou de sorrir e colocou as mãos no bolso da calça do terno. – E cá entre nós, você está maravilhosa. E desde que eu cheguei aqui, essa foi à única verdade que saiu da minha boca. – Ele disse sério, me encarou profundamente e eu pude sentir as verdades em suas palavras. E como se nada tivesse dito, se retirou dali.

Olhei para as meninas que prestaram atenção em tudo.

Decidida a mudar o assunto, continuei.

– E aí, estão gostando da festa? – Perguntei sem humor. E vi a Mel sorrir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!! Beijos e até amanhã



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