O Mistério de St. Reeve's escrita por sora aye, Charlie Mills


Capítulo 20
Adeus


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, fiz esse capitulo bem longo para compensar.
A música da primeira parte é Geronimo do Sheppard
https://www.youtube.com/watch?v=E-SeaCZE2TM
A música da segunda parte é In My Veins do Andrew Belle
https://www.youtube.com/watch?v=dGESwIFmOTA



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Imagine how trapped you would feel

if you were living the life you should

A Softer World - Then What Do You Aim For?

–Charlie - sinto uma mão no meu ombro, chacoalhando ele - CHARLIE.

Me mexo, assustada com a súbita mudança de volume, olho ao redor, não sabia onde estava. Esfrego o rosto, na vã tentativa de recordar de alguma coisa.

Lentamente, os detalhes voltam à minha mente, sexta feira, dia 24 de outubro de 2014. Aula de inglês no internato St. Reeve's. Olho para cima, uma menina japonesa, com feições delicadas, olhos e cabelos pretos me olhava preocupada. O nome dela, faço força para lembrar....Ren. Minha colega de quarto, poderes, quebrou a parede.

–Santo Odin, Charlie, o que está acontecendo com você? - ela se senta à minha frente e segura minha mão entre as delas - você se lembra de mim, certo?

Ela devia ter percebido que eu estava confusa, pois a pergunta tinha um tom de duvida maior do que o normal.

–Sim, Ren, eu me lembro de você - ela sorri, parece um pouco mais aliviada - onde está todo mundo?

–Ah - ela olha para a sala, agora vazia, parecia não ter percebido - o sinal tocou há um tempo, estamos nós e o Thomas.

Ela aponta por cima do ombro, o professor de inglês cuidadosamente apagava o quadro negro.

–E.. você sabe, eu não queria te deixar sozinha - ela baixa o tom de voz - não com ele.

–Entendi, obrigada Ren, você é uma boa amiga - ela sorri e se levanta - eu te vejo por ai.

Ren me olha, duvidando da minha capacidade de subir alguns degraus até o refeitório. Dou o meu sorriso mais confiante e ela parece desistir. Acena e vai embora.

Olho para o meu material. O caderno, aberto na página sobre poemas da era georgiana, estava totalmente cheio de rabiscos. Os lápis do estojo estavam com as pontas quebradas e alguns estavam partidos ao meio.

Arranco as folhas riscadas, colocando em cima do meu caderno, formando uma pilha. Me levanto, me preparando para ir embora. Thomas agora estava organizando alguns livros que estavam na mesa dele. Passo por ele, determinada a sair daquele lugar o mais rápido possível.

–Charlie - ele me chama - você tem algum compromisso?

Me viro, os olhos azuis de Thomas estavam sorridentes e ele não parecia preocupado. Percebo que meus ombros estavam tensos e tento relaxa-los. Sem esperar por uma resposta, ele me passa a cadeira do professor e faz um gesto para que eu me sente. Ele se encosta na mesa de madeira e cruza os braços.

–Eu notei que você anda um pouco distraída, está acontecendo alguma coisa? - o sorriso acolhedor ilumina o rosto de Thomas - precisa de alguém para conversar?

Até aquele momento, eu não tinha parado para pensar em quão bonito era Thomas. Os cabelos negros e longos, os olhos azuis, que apresentavam uma grande sabedoria. Mas o que o tornava tão bonito não era isso. Thomas tinha um porte real, ele era extremamente gracioso, mesmo sendo tão alto e tinha um corpo esbelto, porém ágil. A maçã do rosto, característica dos britânicos, era alta e harmonizava com o resto da face, principalmente quando ele sorria.

–Charlie? - percebi que estava encarando havia muito tempo - você está fazendo de novo.

–Desculpe, mas não se preocupe, só estou um pouco estressada, provavelmente por causa das provas - eu sorri e me levantei, educadamente pondo um fim a nossa conversa.

Ele me acompanhou até a porta, segurando-a aberta para que eu pudesse passar. Agradeci com um gesto de cabeça.

–Imagino que esteja estressada com as provas, Charlie - ele levantou o dedo, com a melhor imitação do Mestre dos Magos - as vezes, as respostas estão bem na nossa frente.

Eu olhei para a pilha de rabiscos no topo dos meus livros, Thomas parecia por demais interessado neles.

–Precisa de ajuda com os livros? - ele esticou os braços - eu posso leva-los até o seu armário.

Eu dei uma risada, Thomas era um típico cavalheiro britânico.

–Não precisa, obrigada - ele inclinou o corpo levemente e seguiu em direção à escada que levava ao refeitório.

Passei pelos corredores vazios, até chegar ao meu armário. Estava guardando os livros, quando duas mãos cobriram meus olhos. Me preparei para uma eventual luta, até que ouvi uma voz conhecida.

–Não fale nada, apenas deixe eu te guiar - as mãos de Danny passaram para os meus ombros e eu mantive os olhos fechados - é uma surpresa.

–Para quem?

–Vocês dois - ele provavelmente se referia à mim e Adam - mas principalmente para ele.

–O que está acontecendo? - as mãos de Danny apertaram meus ombros com um pouco mais de força.

–Adam está indo embora, pensei em fazermos uma pequena surpresa para ele, mas preciso da sua ajuda.

Ele tirou as mãos de mim, o que provavelmente significava que eu podia abrir meus olhos. Olhei ao redor, estávamos no jardim do fundo, no caminho que levava à praia.

–Certo, o que você quer fazer? - fiz um gesto para um banco que estava próximo de nós e nos sentamos.

–Eu não sei - Danny deu de ombros - semana que vem é a semana de jogos, ou seja, esse final de semana os alunos devem ajudar a montar as coisas. E ele conseguiu a proeza de se livrar dessa tarefa.

Dan parecia com um pouco de raiva, mas eu ainda não entendia o que ele queria dizer com isso. De repente, eu entendi.

–E eles meio que perdem o controle dos alunos, não? - ele me olhou e sorriu, como se eu finalmente tivesse falado o óbvio - o que você está propondo?

–Fico feliz que você tenha perguntado - ele esfregou as mãos e me deu o olhar "vilão-preparando-o-maior-e-melhor-plano-maligno" - todo ano, no mês de outubro, nós temos um grande evento escolar, esse ano é a semana de jogos. Eles precisam da ajuda dos alunos para montar as coisas, o que significa que nós temos passe livre para praticamente todas as áreas do castelo. Os inspetores normalmente estão ocupados demais arrumando e limpando, portanto, não tem muita vigilância e eu estava pensando em fazermos uma.....

Ele parou no meio da frase, provavelmente para dar um efeito dramático.

–Uma o que? - dei um leve empurrão nele, como se isso fosse faze-lo falar mais rápido.

–Festa do pijama - ele finalmente revelou o grande plano.

–Sério?

–Sim - Danny respondeu, como se fosse óbvio - eu fiz algumas coisas.

–Tipo....

–Bom - ele olhou por cima do ombro, se certificando que não havia ninguém ouvindo - eu fiz algumas coisas e consegui entrar no wi-fi dos professores, baixei alguns filmes, comprei pipoca e uma coberta felpuda.

–Você invadiu o sistema de internet do colégio? O segredo mais bem guardado da história de St. Reeve's?

–O que? - ele me olhou surpreso - claro que não, lembra quando fomos à Sessão Restrita?

Eu assenti, esperando por uma continuação.

–Eu falei que estava pagando um favor. Eu simplesmente pedi que Seth colocasse a senha no meu computador, ele colocou, eu baixei os filmes e deletei a rede - ele abriu os braços - mas eu gostaria de ter invadido, seria muito mais emocionante.

Danny coçou o queixo redondo, provavelmente pensando nele sendo levantado pelos alunos e chamado de rei, após ter tornado publico a senha do wi-fi.

–E o que você pretende fazer? Não podemos fazer uma festa do pijama de dia.

–Ai que entra a segunda parte do plano, ou a primeira, já que ela vem antes que a festa do pijama, mas eu te contei a segunda parte primeiro, isso torna a primeira parte a segunda? - ele me olhou, esperando por uma resposta

–Humanos são sempre muito lineares, podemos chamar essa a terceira parte do plano - passei a mão no cabelo dele, como se ele fosse uma criança pequena - se é que isso te deixa feliz.

–Certo, nesse momento, Adam está ajeitando os últimos detalhes da saída dele, porém ele só vai embora amanhã depois do almoço, o que significa que podemos passar a noite inteira assistindo filmes - ele me olhou e sorriu.

–Calma, você tem colegas de quarto, como exatamente pretende que nós passemos a noite juntos? - ele me olhou maliciosamente - não é nesse sentido, meu deus, não sei por que ainda convivo com você.

–Eu falei com Jake e Mike, eles aceitaram numa boa.

–Sério? Eles simplesmente concordaram em não ir para o quarto deles?

–Pequeno gafanhoto, eu não sou o único que sabe das coisas, é de conhecimento geral que os inspetores baixam a guarda durante essa semana, Jake e Mike tem namoradas, o que você acha que eles vão fazer?

–Com certeza o que nós não vamos - eu sorri para ele - mas o que vamos fazer de tarde?

–Um piquenique nas pedras - Danny se levantou e me puxou para fora do banco - vá colocar uma roupa de banho, eu vou levar Adam até o nosso lugar e nós nos encontramos lá.

Eu concordei com a cabeça, gostaria que Dan tivesse me dito antes que Adam estava indo embora, assim eu teria tempo para comprar alguma coisa para ele. Andei lentamente em direção ao castelo, como havia previsto, os inspetores passavam correndo, carregando materiais e objetos não identificados

Subi as escadas que levavam aos dormitórios, também não tinha ninguém ali, provavelmente todos estavam ajudando na montagem e nos preparativos para a festa. Apesar de ser proibido, abri calmamente a porta do quarto.

Gwen já havia passado e limpado o lugar, de modo que não tinha que me preocupar em ser interrompida por alguém. Abri a gaveta de roupa de banho, escolhendo um biquíni azul e branco. Então comecei a mexer em minhas coisas, procurando um presente para Adam.

Não poderia ser uma roupa, tínhamos uma diferença significativa de altura e Adam tinha os ombros e braços largos, provavelmente devido ao lacrosse. Eu tinha uma prateleira no armário, em que guardava os objetos com um significado especial.

Uma foto minha e do meu pai, meu chaveiro de Firefly, uma carta da minha mãe e o futuro presente de Adam.

Peguei o objeto, já com uma certa saudade, aquilo havia sido muito especial para mim, mas Adam iria gostar e isso era o mais importante.

Coloquei o presente na bolsa, junto com uma toalha de banho e uma colcha, para que pudéssemos deitar nas pedras. Fui para o banheiro e troquei rapidamente o uniforme por um shorts jeans, uma camiseta branca e o biquíni.

Sai do banheiro e fechei atrás de mim a porta do quarto. Andei a passos leves até o final do corredor, com a madeira estalando e rangendo a cada passo que eu dava, felizmente, não havia ninguém para escuta-los.

Relaxei quando cheguei ao segundo andar, parando em uma máquina de comida para comprar algumas bolachas recheadas e o doce favorito de Adam. Passei também no refeitório, as pesadas portas de madeira estavam trancadas, porém tinha uma pequena janela que dava para a cozinha.

Eu bati nela, Trevor, um homem com mais gel do cabelo do que fios, abriu a pequena portinha.

–Pois não? - eu nunca tinha falado com Trevor, portanto foi uma surpresa quando descobri que ele tinha uma voz musical.

–Boa tarde, vocês ainda tem torta de maçã? - ele me olhou meio desconfiado, porém pareceu aceitar.

–Vou dar uma olhada - ele se afastou - quantos pedaços você quer?

Sozinha, eu poderia comer três ou quatro, mas com Danny e com Adam...

–Você tem uma torta inteira?

–Sério? - ele se aproximou, parecia surpreso

–É... eu vou.... levar para as pessoas que estão montando as coisas - isso pareceu convence-lo, pois ele se afastou e voltou pouco tempo depois, carregando um embrulho redondo.

–Espero que eles gostem, a torta foi feita com muito carinho - ele parecia orgulhoso da própria criação.

–Obrigada, Trevor - rapidamente, peguei o embrulho e sai em direção ao jardim.

Quando cheguei na praia, Danny e Adam estavam sentados nas cadeiras, próximos à arrebentação. Eles conversavam sobre alguma coisa que eu não sabia e a mochila de Danny descansava aos pés dele.

–Olá garotos - puxei uma cadeira para perto deles e coloquei a bolsa na areia, pousando a torta suavemente - bom ver vocês.

–Eu estou morrendo de fome - Adam murmurou, levando a mão à barriga - eu não almocei.

–Isso provavelmente foi minha culpa - Danny se abaixou e abriu a mochila - por isso, eu trouxe algumas coisas.

Ele colocou a mão na bolsa e tirou algumas coisas embrulhadas em papel alumínio.

–Não vamos ficar aqui - reclamei, me levantando e tirando a eventual areia - muita gente, falta de privacidade.

–Nós dois sabemos o que fazer em um lugar privado - Adam olhou para Danny e piscou, Danny assentiu e Adam também.

–Você descobriu então? - Ad me perguntou

–Descobri o que?

–Sobre mim - Danny abriu passagem nas folhas e nós subimos nas pedras, escondendo novamente o caminho - o que eu te contei no telhado.

–Ah, sim, faz tempo que você sabe? - olhei para Adam, esperando uma resposta.

–O suficiente - ele sorriu para mim e deu uma piscada.

Danny tirou uma colcha dourada de dentro da mochila e eu tirei a que usávamos normalmente. Ele estendeu as duas em um canto próximo ao mar, onde poderíamos pular na água para um eventual mergulho.

A altura das pedras até o mar não era muito grande, no máximo um metro. Para o lado que costumávamos ficar voltados, o mar era calmo, o que significava que não tinha ondas e muito menos o risco de nos afogarmos. A pedra que usávamos de chão, era plana e grande o suficiente para caber nós três, junto com nossas coisas e ainda sobrar um espaço considerável. Segundo Danny, a pedra maior tinha mais ou menos oito metros por oito metros.

–Charlie, chega pra lá - Adam estava segurando um travesseiro inflável e olhava para mim com olhos de cachorro - eu quero deitar.

–Você é uma criança mimada - reclamei, porém abri espaço.

Adam colocou o travesseiro nas minhas pernas e deitou antes que eu pudesse ter alguma reação. Resisti ao impulso de ajeitar os óculos dele, que haviam entortado devido ao movimento repentino.

–Faça um cafuné - ele olhou para mim - mas não muito forte.

Passei meus dedos pelo cabelo de Adam e ele logo fechou os olhos. Eu olhava para ele enquanto o fazia, Ad era um garoto bonito. O cabelo castanho, e macio, os olhos azuis, o queixo levemente quadrado e constituição física, faziam com que ele fosse muito desejável.

–Você vai sentir falta dele, não? - olhei para Danny, ele estava com o rosto virado para o outro lado.

–Sim - ele voltou a olhar em minha direção, Dan não estava chorando, mas podia ver tristeza nos olhos dele - sabe, Adam foi a primeira pessoa que me aceitou do jeito que eu sou.

–Quando eu contei para ele, ele não foi embora, me chamou de aberração ou me bateu. Sabe o que ele me perguntou? "Isso significa que tem mais meninas para mim?" - não pude deixar de rir, isso era típico de Adam - ele até tentou me arranjar para alguns meninos.

Eu sorri, por mais que ele quisesse que todos tivesse a impressão de que ele era um mal exemplo, Adam tinha um coração de ouro e merecia o mundo.

–Ele é meu melhor amigo e agora ele está indo embora - Danny se aproximou de nós e deitou a cabeça na barriga de Adam - mas nós não podemos deixar ele ir assim.

Ele me olhou e deu um sorriso muito malvado, se levantou e passou a mão pelo rosto de Adam.

–Adam está adormecido, você acha que consegue levantar sem acordar ele? - comecei a me mexer e a cabeça de Adam caiu no chão, ele não pareceu se incomodar, então eu pulei para longe e fiquei de pé - ótimo, pegue aquela ponta da colcha, vamos jogar ele no mar.

–Sério?

–Claro que sim, não podemos deixar isso passar em branco - Danny se aproximou e cuidadosamente tirou os óculos de Adam, depois tateou os bolsos dele, retirando o celular e a chave do quarto - não queremos perder isso. Pronta? 1,2 e 3.

Dan levantou a parte dele como se não pesasse nada. Firmei os meus pés no chão e me preparei para o peso. Adam era um garoto grande, cheio de músculos e ele era bem alto, o que só contribuía para tornar ele ainda mais pesado. Foi sem surpresa que encontrei muita dificuldade em levantar ele.

Com uma pequena ajuda dos meus recém dominados poderes, Adam parecia pesar menos que uma pena. Danny nos conduziu até a beira da pedra e começou a mexer a colcha de um lado para o outro. Depois de três idas, ele assentiu para mim e nós soltamos juntos a colcha.

Observei, enquanto Adam batia na água e afundava, sem dar sinal de ter acordado. Passaram quinze segundos, sem nenhuma agitação na superfície. Olhei para Danny, ele parecia levemente preocupado. Me sentei na beira da pedra e estava a ponto de pular na água, quando alguma coisa agarrou o meu pé e me arremessou uns bons dois metros mar adentro.

Emergi confusa, olhando para Danny, que estava no chão de tanto rir e Adam que sentava nas pedras e segurava a barriga, provavelmente por causa da risada.

–Eu odeio vocês - me aproximei da beirada e subi, jogando em cima da colcha restante a minha camiseta e o shorts, agora encharcados pela água salgada - um dia, eu terei minha vingança.

Me aproximei de Danny, que já havia levantado porém ainda estava rindo. Coloquei as mãos nas costas dele e me preparei para usar os poderes, entretanto, antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, senti meus pés sendo tirados do chão e minha barriga ser jogada de encontro à um ombro.

You can't trick a trickster– Adam apontou, enquanto girava como se eu não fosse nada.

–Adam me põe no chão, agora - comecei a bater inutilmente contra as costas de Adam, ele não parecia incomodado - não se atreva a citar...

Um movimento repentino fez com que eu me calasse e quando percebi, estava no ombro de Danny, que também me carregava como se eu fosse um saco de batatas.

Adam ria da minha raiva e se afastava cada vez mais de nós. Ele estava próximo ao fim da pedra, quando um muro invisível o atingiu e ele voou sete metros, antes de cair na água.

–Ouch, isso deve ter doído.

–É o que eu vou fazer com você, Daniel, se você não me colocar no chão - ele não se mexeu, então resolvi mudar de tática - eu já mencionei que a sua bunda fica ótima desse ângulo?

–Talvez seja hora de te por no chão - Dan me soltou, porém eu sabia que havia segundas intenções - olha Charlie, eu queria te falar algumas coisas.

A todo momento, Danny olhava por cima do meu ombro, porém quando eu fui tentar virar para ver o que era, ele segurou meu pescoço.

–Você é muito importante para mim e eu queria que você soubesse que... - nesse momento, dois braços passaram pela minha cintura e me levantaram.

–Diga, gerônimo - a voz de Adam saia de algum lugar próximo à minha orelha esquerda, porém antes que eu pudesse falar qualquer coisa, nós pulamos na água e eu senti minha boca ser invadida pelo sal marinho.

Debaixo d'água, meus braços lutaram para chegar à superfície, porém me arrependi no momento que fiz isso.

–Procurando por isso? - o dedo indicador de Adam estava na alça da parte de cima do meu biquíni - achado não é roubado.

–Eu sei que você tem desejos, mas por favor, me devolve - eu fui em direção à ele, porém, Adam se virou e ameaçou jogar para ainda mais longe.

De repente, Adam foi puxado para baixo e soltou o meu biquíni. Peguei e rapidamente coloquei, aproveitando a chance única. Danny emergiu no lugar antes ocupado pelo moreno.

–Achei que vocês fossem um complô contra mim.

–Não há aliados aqui - eu percebi a indireta, portanto me afastei e sai do mar.

Meu cabelo estava muito molhado, mas felizmente, eu não era Katherina. Coloquei o shorts e puxei a colcha para a sombra, de modo que não me queimasse no sol.

Adam e Danny ficaram brincando na água por mais alguns minutos, até que finalmente se cansaram e vieram deitar na coberta.

–Não se atreva - Danny estava a ponto de sentar no cobertor, com o calção molhado e praticamente pingando água.

Estendi para eles a coberta que já estava molhada e Adam pegou, com uma cara brava.

–Aquelas comidas enroladas no papel alumínio? O que são? Eu to morrendo de fome - Adam começou a fuçar na mochila de Danny, procurando por algo para comer.

Ele levantou algo redondo, embrulhado em papel prata.

–Charlie, isso é torta?

–Sim, e é para mais tarde - Danny praticamente arrancou a torta da mão de Adam - eu quase me matei para conseguir esses hambúrgueres.

–Você trouxe hambúrguer? Eles tem bacon? E maionese? Sem tomate?

–Eu trouxe, não podia deixar você ir embora sem comer sua comida favorita - Danny tirou os hambúrgueres da minha bolsa e eu não tinha ideia de como eles haviam ido parar lá.

–Como você...

–Não pergunte, apenas coma - Dan nos estendeu a comida - talvez algum dia eu te conte todos os meus segredos, pequeno gafanhoto

Comemos em silêncio, nenhum de nós era de falar durante as refeições, então apenas sentamos e apreciamos a companhia um do outro. Quando olhei no relógio do celular, me espantei, eram quase quatro da tarde. Mostrei as horas para Danny, ele me olhou e deu de ombros. Aparentemente, Adam não sabia da festa do pijama.

–Sabe - Ad começou, depois de terminar de comer o terceiro hambúrguer - eu achava que ficaria aqui até o Ano Novo, gostaria de passar mais uma das festas aqui. A semana de esportes costuma ser a mais chata.

–Mas é claro que é, o outro é a encenação de uma batalha medieval, não tem como ser mais legal que isso.

Olhei para os dois, não sabia de que eles estavam falando. A única coisa que sabia, era que todo Outubro, o colégio fazia um evento escolar, normalmente o momento mais aguardado do ano.

–Olhe a cara da Charlie, a pobre alma não tem nem ideia de que nós estamos falando - Adam se levantou e apertou minhas bochechas, voltando a posição original logo depois de ter feito isso - é a semana de jogos.

–Eu achei que fosse a mesma coisa todo ano, tipo, todo Outubro tem a semana de jogos.

Os dois riram, possivelmente devido a minha ingenuidade.

–A semana de jogos é um saco, as pessoas não dão muita bola e a única coisa legal é que você pode fazer praticamente qualquer coisa durante sete dias.

–E o que vai ser ano que vem? - eu perguntei, agora estava curiosa, se a semana de jogos era a pior coisa, estava curiosa para saber as melhores

–Espere e verá, pequeno gafanhoto - Danny me deu tapinhas consoladores nas costas - agora, passa a torta.

Constatei que não tínhamos pratos, nem garfos e nem facas para cortar a torta

–Podemos fazer isso a moda antiga e cortar com uma pedra afiada - Adam falou, ele estava desesperado por um pedaço de torta - ou pegar com a mão

–Totalmente higiênico - Danny respondeu, mas tirou um pequeno objeto branco do bolso - sorte de vocês, eu tenho isso.

Ele me passou uma pequena faca descartável, provavelmente pega do refeitório.

–Calma, Adam - ele nem esperou eu terminar de cortar - você acabou de comer três hambúrgueres, tente não implodir.

–Desculpe mamãe, eu estou com fome.

A cara de satisfação de Adam, quando ele deu a primeira mordida na torta, foi impagável. Até aquele momento, eu não tinha percebido como sentiria falta dele. Foram apenas dois meses, mas sentia como se nós três tivéssemos uma conexão incrível.

No fim das contas, meu calculo estava certo e nós realmente comemos toda a torta. Ficamos conversando por mais alguns minutos, até que Danny avisou que era hora de ir embora.

–Normalmente, eles passam a contagem mais cedo, tipo lá por umas oito horas - Danny olhou para mim e piscou, eu entendi a indireta - então a gente se encontra para a janta lá por umas sete e meia?

–Claro, sete e meia - daria tempo de tomar banho, trocar de roupa, arrumar minhas coisas e, na hora que alguém passasse para fazer a contagem, eu estaria no refeitório jantando.

Chegamos na porta do castelo e como não podia deixar de ser, a maior panelinha do colégio estava parada no caminho.

–Olhem que vem lá - uma menina com cabelos castanhos falou - como foi o ménage a trois?

Eu segurei minha risada, me divertia o fato das pessoas pensarem que nós três estávamos envolvidos em uma espécie de triângulo amoroso sobrenatural.

–Danny - olhei para o loiro - você é da parte francesa do Canadá, qual é o francês para oito?

–Oito? - Adam falou - aposto que eles não conseguem lidar um com o outro.

–Escute aqui - um garoto com um triângulo de barba no queixo se aproximou e segurou a gola da camisa xadrez de Adam - não fale assim de mim e das minhas garotas.

A cena era engraçada, por que Adam era alguns centímetros mais alto que o menino, de modo que o rapaz tinha que olhar para cima e parecer intimidador. Adam colocou a mão na camiseta do garoto e passou a perna por trás da perna que o menino usava de apoio. Meu amigo empurrou o rapaz, que tropeçou na perna e caiu, estatelado, na grama.

–Nós realmente não precisamos disso - Danny levantou as mãos, pedindo paz.

Os sete se olharam e depois olharam para o menino que estava no chão, eles lentamente se afastaram e permitiram que seguíssemos nosso caminho.

–Ele merecia - falamos os três ao mesmo tempo.

–É claro que sim, mas quando eu não estiver aqui, quem vai defender vocês?

–Acho que podemos nos defender sozinhos - Danny respondeu por nós dois.

Nesse momento, o sinal tocou, avisando os alunos que eles poderiam voltar para seus dormitórios. Danny me puxou e ficamos um pouco atrás enquanto subíamos as escadas.

–A ronda vai ser as oito, tente sair um pouco antes disso, para que te vejam no refeitório esse horário. Assim que fizer o que tem que fazer antes da janta, pegue uma bolsa e leve até o terceiro andar, por dentro da biblioteca, eu vou pegar às 18:40, se certifique de que a mochila esteja lá...

–O que vocês estão fazendo ai embaixo? - Adam nos olhava por cima do guarda-corpo do segundo andar, naquele momento, percebi que estávamos parados no meio da escada.

Danny ficou levemente vermelho e puxou o meu braço, para que continuássemos a subir.

–A biblioteca provavelmente vai estar aberta hora que você sair do refeitório, suba pela escada interna, o nosso quarto é bem perto da porta da biblio.

–E não vai ter nenhum inspetor? - eu perguntei, estava meio duvidosa em relação ao plano - nos corredores.

–Eles já terão feito a contagem, então provavelmente eles vão estar cuidando das coisas para a semana de jogos - Danny envolveu meus ombros com o braço dele - e qualquer coisa, nós dizemos que você esqueceu alguma coisa e eu estou com ela.

–Certo - o plano parecia melhor, mas ainda tinha minhas duvidas.

Chegamos no terceiro andar e observei enquanto Danny e Adam andavam até o final do corredor e viravam em um quarto a apenas três portas da biblioteca. Ótimo, o quarto deles era realmente perto, esperava não ter problemas.

Andei rapidamente até as escadas que levavam até o quarto andar e abri a porta do quarto. Felizmente, não tinha ninguém que pudesse me perguntar para onde eu estava indo. Deixei minhas coisas em cima da cama e tirei a colcha molhada, colocando-a em um cesto para roupa suja.

Fui até o armário e peguei um pijama novo, colocando na minha bolsa reserva. Andei calmamente até o banheiro e liguei a água quente, enquanto esperava, juntei minha escova e pasta de dente.

Finalmente a água estava quente o suficiente para tomar banho. Entrei debaixo do jato e deixei que a água lavasse o sal e a areia da praia, não me apressei, ainda tinha um tempo considerável antes que Danny fosse buscar minhas coisas. Juntei a pequena bolsinha com produtos de higiene, meu pijama e o presente de Adam, que acabou sendo inútil até aquele momento.

Fui novamente até o armário, peguei uma calça jeans, uma camiseta branca simples e um sobretudo azul marinho, eu não sabia se eles não iriam querer uma incursão maluca para algum lugar inesperado. Peguei a mochila e sai do quarto, caminhando até a biblioteca.

Esperava que ela estivesse aberta, pois seria um total desperdício de tempo. Testei a maçaneta da porta no final do corredor do quarto andar, felizmente, a antiga porta de madeira se mexeu um pouco e eu entrei.

No quarto andar da biblioteca, tinha uma sala com computadores que os alunos podiam usar, a grande e sinistra porta que eu descobri ser a Sessão Restrita. Desci pelas imponentes escadas de mogno, observando as belas pinturas no teto da biblioteca, em sua maioria, religiosas.

Cheguei no terceiro andar da biblioteca e olhei ao redor, Danny estava parado em uma mesa, apoiado e conversando com um garoto de cabelos negros, me aproximei dos dois, incerta sobre o que falar.

–Hey Charlie - o garoto se virou

–Ah, oi Peter - ele estendeu a mão aberta e eu dei um soquinho - que bom te ver.

–Igualmente - ele olhou para nós dois e para a bolsa em minha mão - eu já estava de saída, amanhã ao meio dia.

Peter se levantou e deu um tapinha nas costas de Danny, depois me abraçou e foi embora.

–Achei que eu estivesse condenado a ficar conversando com o Peter para sempre - Danny se levantou e estendeu a mão - obrigada por me salvar

–Você não parecia se importar - passei a mochila para ele - muito menos precisar de ajuda.

–Nos vemos por ai - ele levou dois dedos a testa e se virou para ir embora - jantar as sete e meia, não se atrase, ouvi dizer que hoje tem lasanhas.

Eu dei risada e me afastei, Danny tinha uma paixão por lasanhas e por hambúrgueres, ele provavelmente podia passar uma vida comendo apenas isso. Voltei por onde tinha vindo, aproveitando a distração dos inspetores para passar tranquilamente pelos corredores.

Abri a porta do quarto e entrei sem realmente ver o que estava na dentro. Parei quando percebi mais de uma presença naquele ambiente. Olhei ao redor, procurando qualquer coisa que pudesse usar como arma, agarrei um caderno que estava perto de mim e me aproximei do meu beliche. Estava pronta para usar meus poderes e arremessa-lo em qualquer pessoa que estivesse ali.

Uma cabeleira ruiva se destacou e logo depois, cabelos castanhos. Soltei o caderno, um pouco mais aliviada, Katherina e Victoria estavam sentadas conversando.

–Olá - elas pularam de susto e olharam para baixo, perceberam que estavam de mãos dadas e soltaram rapidamente.

–Charlie - Katherina ficou levemente vermelha, provavelmente ao perceber que eu tinha as tinha pego - como vai?

–Ótimo - um silencio constrangedor se fez - é...essa é a minha cama.

–Ah, sim, desculpe - a menina ruiva se levantou e puxou Katherina pela mão, elas sentaram na cama oposta.

Me sentei na cama e peguei o computador, que estava em uma das gavetas. Mexi no computador por um tempo, depois puxei o caderno de inglês e resolvi fazer a tarefa de casa.

As horas se passaram e quando dei por mim, já eram 19:25. Me despedi com um aceno de Katherina e Victoria, que estavam distraídas vendo algo no computador.

Desci meio pulando as escadas e cheguei no refeitório, empurrando as portas e entrando naquele recinto, apesar de tudo o que acontecia na escola, St. Reeve's era um ótimo colégio. Um braço se destacou na multidão e eu andei em direção à ele. Danny e Adam estavam sentados em uma mesa e já estavam comendo. Os pratos de ambos tinham mais lasanha que eu poderia comer em uma semana.

–Vocês realmente vão comer tudo isso?

Adam abriu a boca para responder, mas ele não conseguia falar, então se contentou em assentir e gesticular para o buffet.

–Eu sei, estou indo me servir - andei em direção a mesa com comida, Trevor estava passando por lá.

–Como estava a torta?

–Deliciosa - sorri para ele, enquanto pegava um pouco de lasanha - vou começar a pegar mais torta de sobremesa.

–Sou eu que faço todas elas, que bom que você gostou - ele fez uma pequena reverencia e se afastou.

Voltei para a mesa, com um prato com uma quantidade razoável de lasanha e um prato de sobremesa, com mais torta de maçã.

–E depois você nos critica por causa da lasanha, acho que esse é seu quinto pedaço de torta - Adam esticou o braço e pegou meu prato - e por isso, eu vou de fazer um favor.

Ele começou a comer meu pedaço de torta.

–Adam, eu trabalhei duro pra conseguir esse pedaço de torta, me devolva, Adam, eu tenho filhos para alimentar - os dois pararam e me olharam, ambos com a boca cheia de comida.

–E você acha que eu tenho o que? Essa torta é a única coisa que meus docinhos verão de comida pelo resto da semana - Danny, que estava tomando um copo de água, cuspiu e começou a tossir - o pai delas, aquele vagabundo, só quer saber de festejar.

Um silencio baixou pela mesa e então nós três começamos a rir ao mesmo tempo. Passamos o resto da janta rindo sobre o assunto e inventando novas histórias. Terminamos de jantar e nos levantamos.

–Certo - caminhamos lado a lado em direção a escada - nos encontramos daqui a pouco.

Chegamos no terceiro andar e eu estava um pouco nervosa, olhava para todos os lados, procurando um inspetor que me pudesse me obrigar a voltar para o quarto.

–Charlie - a voz de Gwen saiu de algum ponto atrás de mim, estava me procurando uma desculpa quando ela disse - eu preciso da sua ajuda com uma coisa.

–É claro - me aproximei - diga.

–Eu tenho que pegar um produto no armário, mas sou muito baixinha - ela pegou minha mão e me guiou para uma portinha no final do corredor - se você pudesse pegar, eu ficaria muito agradecida.

Estiquei o braço e peguei a caixa indicada por Gwen, passando a para ela logo em seguida.

–Muito obrigada, fico te devendo uma - ela sorriu para mim e se afastou.

–Charlie - meu deus, de novo não - vem cá.

–Ren, diga - ela fez um sinal para que fossemos para o nosso andar - tem a ver com o Thomas?

–Na verdade não - Ren abriu a porta do quarto e fez um gesto para que eu entrasse - você copiou o texto de geografia? Eu não queria mexer nas suas coisas.

–É claro - peguei o caderno e passei para ela, as folhas rabiscadas estavam lá dentro - na verdade, me devolva

Era tarde demais, Ren estava passando os olhos pelas folhas e olhava com certa curiosidade.

–Ren, é serio, me devolva - estiquei o braço e ela afastou o caderno.

As folhas caíram pelo chão e formaram pilhar organizadas, como que por mágica.

–Você nunca tinha me dito que disse que desenhava - ela tentou parecer segura, mas a voz dela tremeu - é bem bonito.

Ren levantou uma pilha de folhas e me mostrou. Uma floresta muito detalhada e por entre duas arvores, era possível ver o mar. Aquela imagem significava alguma coisa, eu tinha certeza.

–Você conhece esse lugar?

–Não - eu podia ver que ela estava mentindo.

–Certo, ele te faz sentir alguma coisa? - ela me olhou, com confusão nos olhos

–Ele devia?

–Acho que não - me abaixei e juntei os outros dois desenhos, um lugar cheio de neve, com riscos no céu.

–São relâmpagos?

–Não, é uma aurora boreal - Ren se entregou

–Então você conhece?

–Infelizmente - ela pegou o outro e pude ver que ela tremeu - esse me faz sentir algo.

–Esse deve ser o seu - sorri para ela, tentei parecer confiante, mas por dentro estava assustada - veremos com Katherina amanhã.

Sai do quarto antes que Ren começasse com mais perguntas que eu não tinha resposta. Desci novamente as escadas e andei furtivamente até o quarto dos meninos. Bati na porta e Adam abriu, ele me olhou surpreso, mas abriu espaço quando eu pedi.

O quarto deles era surpreendentemente mais arrumado do que eu esperava, especialmente considerando o fato de que era quatro meninos. Adam fechou o computador que estava em cima da cama e me convidou para sentar.

–Danny está tomando banho, ele não deve demorar - Adam andou até o frigobar e tirou duas latinhas de refrigerante, e me jogou uma.

Ficamos uns dois ou três minutos conversando sobre besteiras, quando o chuveiro desligou.

–ADAM - Danny gritou de dentro do banheiro - estamos esperando visitas e...

Dan saiu do banheiro, com uma toalha na cintura e segurando uma cueca de corações.

–Charlie...- ele olhou para as mãos e escondeu a peça - você não é o Adam.

–Não

–Certo, eu vou... - ele apontou para o banheiro e saiu pouco tempo depois, com uma calça de pijama preta e uma camiseta do colégio, cinza com o brasão no peito.

–Minha vez e depois vocês dois vão me explicar o que está acontecendo.

Adam pegou um pijama dobrado embaixo do travesseiro e entrou no banheiro.

–Então você não contou pra ele?

–Eu queria que fosse uma surpresa, me ajude aqui - Danny queria juntar os dois beliches, formando duas camas de casal.

–Ótimo, agora, alguém pode me explicar?

–Adam, sente-se - o menino se aproximou e sentou na cama - você está indo embora, mas não podemos deixa-lo ir sem que você saiba como você é amado.

–Nossa, isso foi profundo.

–Sim, e também é uma citação de Doctor Who.

–Eu sabia que conhecia aquilo de algum lugar - Adam puxou um travesseiro e deitou nele - então nós vamos fazer uma festa do pijama?

–Essa era a ideia - Danny se levantou e pegou o computador - eu tenho alguns filmes aqui, podemos assistir se vocês quiserem.

–Na verdade, eu tenho outra ideia- Adam levantou e pegou o travesseiro, jogando-o na direção de Danny.

–Isso vai ter volta - Dan pegou o travesseiro e levantou, batendo em Adam até que eu interferi, arremessando uma almofada na direção de ambos - Charlie, não imaginava isso de você.

Danny ajudou Adam a levantar e os dois vieram em minha direção, com os travesseiros em riste.

–Um, dois, três - me abaixei e passei entre os dois, que se viraram surpresos.

–Aposto que vocês não esperavam por essa - levantei o travesseiro e bati nos dois.

Adam ajeitou o óculos e olhou para mim com raiva.

–Isso não será perdoado - ele veio em minha direção e pegou minhas pernas e meus braços, me arremessando na cama.

Senti meus braços sendo esticados e outras duas mãos os prenderem perto do colchão, minhas pernas ainda estavam imobilizadas por Adam, que agora aproximava as mãos da minha costela.

–Adam, não, não faça isso - meus olhos se fecharam e eu tentei me contorcer para longe, porém eles eram fortes demais para mim.

Os dedos de Adam pararam a apenas alguns centímetros da minha barriga.

–Você se arrepende de sua traição?

–Não

–Essa foi a sua última chance - Adam desceu a mão e fez cócegas até que eu ficasse totalmente sem ar - considere isso a vingança por terem me jogado no mar e isso a vingança pela sua traição. Você quer que eu pare?

Eu não conseguia falar, apenas assenti, totalmente sem fôlego.

–Bom, então não deveria ter me traído - ele continuou com as cócegas até que eu estivesse praticamente implorando para ele parar - e que isso sirva de lição.

Ele saiu de cima de mim e meus braços foram soltos, Adam deitou no meio da cama e deu tapinhas no colchão do lado dele.

–Sem cócegas?

Ele deu risada.

–Eu juro.

Me aproximei cautelosamente, Adam provavelmente ficou impaciente com a minha demora, pois puxou o meu braço e me fez deitar ao lado dele.

–Danny, quais são os filmes disponíveis?

–Bem - Dan pegou o computador e começou a mexer - temos....

–Algum de terror?

–Me deixa falar?

–Certo, desculpe - Adam deu um sorriso e fez um gesto para que Danny continuasse.

–Indiana Jones e...

–Não - eu e Adam falamos ao mesmo tempo

–V de Vingança?

–Talvez mais tarde, queremos um de terror - Ad falou por nós dois, mesmo que internamente eu estivesse morrendo de medo - certo Charlie?

Os dedos de Adam chegaram perigosamente perto da minha barriga e eu tive que concordar.

–A Mulher de Preto? É o único que eu tenho.

–Claro, se aproxime.

–Esse ambiente ainda não está bom - Danny se levantou e abriu a janela, para que "a cortina esvoaçasse e criasse um efeito assustador", depois ele apagou as luzes e pulou na cama - agora sim.

Posicionamos o computador em cima dos travesseiros restantes, para que ele ficasse em uma altura confortável.

Eu sabia que a cena ia dar um susto, a cadeira de balanço balançando sozinha e a câmera acompanhando.

–Minha nossa - um rosto apareceu por um segundo e eu achei que meu coração fosse sair do meu peito.

Procurei por alguma coisa para segurar e acabei achando a mão de Adam, que também estava procurando alguma coisa para agarrar. Passamos o resto do filme assim, eu apertava a mão dele toda vez que alguma coisa aparecia e Danny ria de todos os sustos que nós levávamos.

–Eu amei esse filme - Dan anunciou, quando os créditos começaram a rolar - mas não entendi o final.

–Ele morreu - Adam anunciou, se espreguiçando - o que achou Charlie?

–As vezes eu esqueço porque não gosto de filmes de terror, eu lembrei - os dois riram

–O que vamos ver agora? - Adam pegou o computador e começou a passar pelos títulos.

–Espera, volta um.

–Star Trek?

–Sim - Danny gritou, ele estava procurando comida no frigobar - o dois.

–Ceeeeerto, vamos ver então - Dan voltou com uma barra de chocolate e um pacote de salgadinhos.

–Se sirvam.

–Sério? Tudo aquilo que vocês dois comeram de lasanha e ainda vão comer chocolate?

–Sim, agora fiquem quietos.

Não se passaram dez minutos antes que alguém interrompesse.

–O Kirk é muito bonito.

–Danny, você que falou pra nós ficarmos quietos.

–Desculpe.

Mais dez minutos se passaram.

–Eu não entendo, o Spock não tem olhos azuis, porém ele e o Kirk....

–DANIEL - Adam e eu falamos ao mesmo tempo - continue assim e nós vamos te trancar no armário.

–Perdão.

Felizmente conseguimos assistir o resto do filme, embora ocasionalmente Danny mencionasse alguma coisa totalmente fora de contexto.

–Podemos dormir? Eu to morrendo de sono.

–Pare de reclamar, Daniel, são apenas - Adam minimizou o filme, de modo a ver as horas - santo deus, quase duas da manhã, vamos dormir.

–As festas que eu ia não terminavam as duas da manhã, normalmente nós virávamos a noite conversando.

–Sério? Eu sempre achei que nas festas do pijama, as meninas sacrificassem virgens.

–Por que você achava isso?

–É isso que nós fazemos nas nossas - Adam falou, esperava que só para me assustar.

–Imagino que sim - eu respondi.

–Muito bem, quem vai dormir nas camas de cima?

–Há-há-há-há, depois do filme? - Adam voltou a deitar e me puxou para cima dele - morreu.

–Seus medrosos - Danny levantou e estava caminhando pra escada, quando Adam puxou ele e o obrigou a deitar-se conosco.

–Todo mundo vai ficar aqui, nunca se sabe quando um fantasma pode aparecer.

–Adam, isso é mesmo necessário? - eu protestei, as camas do internato não eram grandes o suficiente para três pessoas, especialmente se duas delas eram jogadores de lacrosse - todo mundo vai ficar com dor nas costas.

–Sim, chega pra lá.

–Não da, eu to quase caindo.

–Bem, eu também - Danny gritou da outra ponta

Depois de alguns longos minutos nos ajeitando, parecemos achar uma posição confortável o suficiente.

–Todo mundo bem?

–Acho que sim - Dan falou

–É, tomara que sim, descobriremos amanhã de manhã.

Me arrumei melhor, na posição que estávamos, eu estava com a cabeça apoiada no braço e as pernas dobradas. Adam e Danny estavam em posições semelhantes, então conseguíamos nos ajeitar sem que alguém ficasse com muito espaço e outra pessoa com pouco espaço.

–Boa noite, galera - eu falei, fechando os olhos.

–Boa noite - Adam me deu um beijo na testa e outro em Danny

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

–Eu ainda não acredito que você realmente está indo embora - Danny reclamou, enquanto ajudava Adam a carregar a mala para fora do castelo.

–Eu falaria que é só um final de semana - Adam passou a mão no cabelo, ele estava nervoso - mas nós dois sabemos que não é.

Andamos mais um pouco, até descermos as escadas e pararmos em frente à fonte. O motorista de Adam ainda não tinha chego, de modo que nos sentamos nos degraus.

–Vamos sentir sua falta - apoiei minha cabeça no ombro de Adam e ele envolveu minha cintura com o braço.

–Vou sentir saudades de vocês também - ele passou o outro braço pelos ombros de Danny e ficamos nessa posição por um tempo, até que outro braço apareceu nas minhas costas.

–Peter - Adam exclamou - estava começando a achar que você não viria.

–E perder a chance de me despedir de você? Nunca.

Um carro preto entrou no terreno do castelo e começou a se aproximar. Olhei para Danny, ele fez que sim com a cabeça.

–Sabe - o loiro se levantou e estendeu a mão para Adam, puxando-o para cima, Peter me levantou junto com ele - não podemos deixar você ir embora de mãos vazias.

Danny abriu a mão, na palma estava um pequeno colar. Originalmente ele tinha uma pequena arte, porém Dan trocou por uma foto nossa, que ele tirou em um dia ensolarado no jardim.

"Adam, você não me pega" a menina correu pelo jardim, esperando despistar os dois perseguidores.

"Você pode correr, mas não pode se esconder" o moreno gritava, enquanto corria atrás dela.

"O que diabos está acontecendo aqui?" uma voz exclamou, muito em cima da menina, ela não conseguiu parar a tempo e os dois acabaram no chão.

"Bolinho? Hahaha, ninguém me chamou" o menino moreno pulou em cima dos dois, apoiando o queixo no espaço entre os ombros das outras duas pessoas.

"Isso pede uma foto" o menino loiro tirou o celular no bolso e tirou uma foto dos três, colocando-a como tela de fundo no celular.

"Estou quase emocionado"

–Charlie? Você está fazendo de novo - Danny me chamava de volta à Terra, a memoria do dia no jardim ainda estava fresca, tinha sido um dos melhores dias desde que eu havia chego no castelo - quer entregar para ele?

–Vocês se conhecem há mais tempo - fiz um gesto e Dan passou o cordão dourado pelo pescoço de Adam - agora abra.

Adam apertou o pequeno botão ao lado do pingente, ele se abriu no meio e um sorriso tomou conta do rosto do meu amigo.

–O que está escrito do outro lado? - Adam fez força para enxergar.

Always and forever– Danny e eu falamos ao mesmo tempo.

Adam sorriu mais uma vez e nos puxou em um abraço apertado, Peter pigarreou.

–É... eu não te trouxe nada.

–Sua amizade é tudo que eu preciso - Adam abriu espaço e Peter se juntou a nós - vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter, obrigada por todo o tempo maravilhoso que eu passei ao lado de cada um.

Nos soltamos depois de um tempo e Adam me puxou para um abraço individual.

–Eu lembro quando te vi pela primeira vez - ele sussurrou, enquanto me apertava ainda mais forte - eu pensei, quem é aquela que está roubando o meu melhor amigo? Mal sabia eu.

–Mal sabíamos nós - retribui o aperto no pescoço de Adam e ele me soltou, apenas para segurar meu rosto e me dar um beijo no canto da boca.

–Vamos ver quem eu consigo pegar desprevenido - ele me deu mais um beijo na testa e se afastou - vou sentir sua falta.

–Eu também - subi um degrau e beijei a testa dele também - se cuide e mande noticias

Ele se aproximou de Danny e o abraçou. Não pude ouvir o que ele falou para o loiro, mas Dan riu e respondeu alguma coisa. Adam se separou e também beijou a bochecha/canto da boca de Danny, que sorriu e bagunçou o cabelo de Adam.

–Peter - Adam se aproximou dele, porém Peter sabia o que estava acontecendo.

–Posso pegar o pacote sem beijos?

–Acho que você não tem escolha - Adam abraçou Peter e beijou-o na testa, Peter pareceu levemente mais aliviado.

O moreno desceu os degraus restantes, parando mais uma vez para acenar, antes de entrar no carro e desaparecer de vista. Danny pegou a minha mão.

–Parece que somos só eu e você agora - ele apertou minha mão mais forte.

–Só eu e você - repeti.


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Notas finais do capítulo

You can't trick a trickster - você não pode enganar um enganador
~Nymeria
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