Era um dia ensolarado em Ponyville. A princesa Twilight Sparkle estava na biblioteca do antigo castelo das princesas Celestia e Luna, analisando cuidadosamente as prateleiras. Ela parou por um momento e lançou um olhar por sobre o ombro para Spike, sentado em uma mesa lendo um gibi. Ela simplesmente sorri, balançando a cabeça e volta sua atenção para as prateleiras. Pouco depois algo pareceu chamar sua atenção e ela levitou um livro para fora de seu lugar. A capa era azul, simples, sem título, apenas uma marca como se garras tivessem tentado rasgar a capa da frente.

Twilight, curiosa, abriu o livro. O livro não parecia tão antigo quanto o restante dos que haviam sido abandonados naquela biblioteca, parecia ter sido colocado lá recentemente, mas ainda assim o livro não era muito novo.

No verso da capa havia o que a jovem alicórnio imaginou ser um nome, mas estava ilegível, e logo à baixo uma data de mais ou menos uns cinquenta anos. Era impossível afirmar com certeza, já que o último número estava borrado, e aquela não era a única mancha que cobria aquele lado da capa.

Mais curiosamente o livro era escrito à casco, em uma caligrafia fina mas firme, com desenhos aqui e ali, anotações pelas bordas das páginas, cantos queimados e um ou outro ocasional rasgo feito antes ou durante a escrita, pois estes eram normalmente contornados pelas palavras.

Ela voltou para a mesa onde Spike estava e sentou-se em uma cadeira na outra ponta, enquanto começava a ler. Passou por algumas páginas que descreviam algum tipo de ruptura nas montanhas de fogo, mas ela não entendeu muito sobre aquilo, teria que estudar tudo com mais cuidado depois.

Então ela encontrou algumas linhas escritas em uma tinta vermelha, brilhante. "O tempo passa, a tempestade chama, duas almas, mundos diferentes, compartilhando um destino pela luz ou pela escuridão. Um pesadelo final os amigos encaram, um destino ideal juntos eles buscam. Garras e cascos, chifres e presas, asas e escamas, chama e magia, doce energia, a batalha se inicia." Ela deixou as palavras escaparem em voz alta. Olhou para a página confusa. "Isso não faz o menor sentido!" Protestou finalmente.

Então ela sentiu algo estranho no ar, uma energia forte. As velas se apagaram quando uma uma misteriosa rajada de vento invadiu o castelo. Do mesmo jeito que começara, tudo voltou ao normal, mas não por muito tempo.

Um trovão pareceu balançar o mundo inteiro por um momento. Spike se escondeu em baixo da mesa. Por um momento Twilight pensou que não havia nenhuma tempestade programada, então lembrou-se de que estava no meio da Floresta da Liberdade e que o tempo ali era imprevisível.

"Acho melhor irmos para casa antes que comece a chover." Ela disse para seu companheiro.

"Isso não me pareceu o som de uma chuva normal, Twilight." Spike protestou, arriscando uma espiada por cima da borda da mesa para a alicórnio sentada do outro lado. "Aquele vento também não foi normal. De onde ele veio?"

"Eu não sei, Spike. Ainda acho melhor voltarmos. Talvez esse livro tenha as respostas."

Com isso os dois iam deixando o castelo. Do lado de fora o tempo estava assustadoramente escuro, como anúncio de uma tempestade. Um relâmpago cortou o céu, cegando-os por alguns segundos, quando olharam novamente, havia uma pônei caída lá, a chuva veio em seguida.

Ela tinha por volta da idade das Cutie Mark Cruzaders. Uma pégaso verde-água, de crina negra coberta de vários tipos de doces, seu corpo parecia todo coberto de açúcar e ela tinha uma cutie mark na forma de três raios, um de alcaçuz, um de chocolate e um listrado de branco e vermelho, como um bastão de doce e ela usava um colar prateado, com um rubi em forma de coração.

A pequena pônei então se moveu, levou uma pata à cabeça, aparentemente atordoada, tentou ficar em pé nas patas traseiras, então caiu sentada. Spike riu, atraindo a atenção da pequena pônei. Ela olhou para eles confusa.

"Olá!" Ela disse, incerta.

"Você está bem?" Twilight perguntou, se aproximando.

"Acho que sim. Onde estou? O que aconteceu? Quem são vocês?"

"Meu nome é Twilight Sparkle..."

"PrincesaTwilight." Spike corrigiu, ela assentiu.

"E esse é o Spike. E você é..."

A pequena pensou por um momento.

"É um prazer, princesa." Ela fez uma reverência. "Meu nome é Vanilla... eu acho. Não me lembro direito." Murmurou, confusa.

"Tudo bem." Twilight sorriu gentilmente. "Tenho certeza que você só precisa de um tempo e vai se lembrar. Mas talvez eu possa ajudar um pouco."

"Mesmo?" Vani perguntou, esperançosa.

"Claro."

Twilight tinha certeza que um feitiço de memória poderia resolver. Era simples. Seu chifre começou a brilhar, Vanilla fechou os olhos. A magia começou a fazer efeito, então Twilight viu o que parecia ser uma sala escura, então surgiram duas portas. Twilight não sabia como fora parar ali, mas tentou abri-las... amba trancadas. Então, de trás das portas saíram duas pôneis, ambas idênticas a Vanilla, exceto que uma usava o colar dela e uma coroa de chocolate-branco, enquanto a outra não usava medalhão e tinha uma coroa de alcaçuz. Então a que estava sem o medalhão começou a faiscar, a imagem desapareceu e Twilight sentiu uma forte dor de cabeça. Spike olhou para ambas as pôneis, preocupado. Vanilla estava encolhida no chão, a cabeça entre as patas, não parecia bem e faiscava descontroladamente. Twilight também não parecia bem e sua magia faiscava da mesma maneira. A princesa não conseguia parar o feitiço, sua cabeça doía cada vez mais... então a conexão se cortou e ela caiu.

Foram minutos tensos que Spike esperou uma reação das duas, sem saber se corria por ajuda, mas sem querer deixá-las sozinhas na floresta. Então Twilight se levantou, cambaleante.

"O que foi isso?"

"Eu não sei." Vanilla resmungou, sem se mover. "Mas doí. Não faça mais isso, por favor!"

"Não vou. Me parece que você realmente precisa de ajuda. Consegue se levantar? Talvez esse livro tenha algo que possa te ajudar, mas precisamos sair dessa chuva."

"Estou bem. Onde estamos indo?" Vanilla conseguiu se levantar.

"Para o meu castelo. Fica um pouco longe, mas acho que você vai precisar de um banho quente e comida depois disso."

"Você tem razão. Obrigada, princesa." Vanilla se curvou novamente e seguiu Twilight e Spike.

A chuva já tinha parado quando eles alcançaram o limite da floresta, o que pareceu animar a pequena pônei. Ela esticou as asas sentindo o sol, agora descoberto pelas nuvens e sorriu.

"Esse lugar é maravilhoso!"

"Bem, Vanilla, eu e minhas amigas faremos o que pudermos fazer para ajudar. Enquanto isso, bem vinda à Ponyville!"

A pequena sorriu agradecida e fez uma leve reverência para a princesa ao murmurar um "obrigada".

"Consegue voar?" Twilight perguntou. Vanilla bateu as asas com força mas nem saiu do chão, em seguida negou com a cabeça. "Não faz mal. Podemos ir conhecendo a cidade enquanto caminhamos."

Caminhar com uma princesa, que grande honra!Pensou Vanilla, com um sorriso alegre. Mas, lá do fundo de sua mente veio um novo pensamento. Quem se importa? Um título e uma coroa não fazem de um pônei alguém especial. É o coração que importa.Claro que aquilo não mudava nada, Twilight estivera disposta a ajuda-la desde o começo. Era uma boa pônei. Uma boa Princesa.

"Isso na sua crina são doces de verdade?" Spike perguntou.

"Acho que sim." Vanilla respondeu sem muita certeza.

Então Spike tentou pegar um doce, mas tudo o que conseguiu foi um tapa de Vanilla.

"Ei!" O pequeno dragão protestou.

Mas, por um momento, Vanilla congelara. Então ela balançou a cabeça, voltando à si, uma faísca correndo por seus olhos.

"Você está bem?" Spike perguntou, atraindo a atenção de Twilight, que nem percebera que os dois haviam parado.

"O que aconteceu?" Twilight perguntou.

"Estou me lembrando de algo... Um amigo, na verdade. Tentou a mesma manobra que Spike. Engraçado... Me lembro do que aconteceu em palavras, mas não consigo visualizar a cena, e tudo o que vejo dele são um par de olhos azuis e o brilho de uma joia vermelha."

Twilight sorriu.

"Isso é bom. É sinal de que sua memória está voltando. Talvez até reúnirmos minhas amigas você se lembre de onde você veio, ou de algo que nos ajude a levá-la para casa."

Vanilla concordou animada e os três retomaram seu caminho. Mas, apesar de tudo, Twilight ainda estava intrigada com o que acontecera. Não podia ter sido apenas coincidência que a tempestade começara logo depois que ela lera aquele livro, nem que Vanilla tivesse aparecido de lugar nenhum logo após o raio ter caído, e a maneira como ela faíscava à princípio... Algo muito estranho estava acontecendo ali mas, com a ajuda de suas amigas, ela tinha certeza que podiam descobrir.

Mas a estranha tempestade não atingira apenas a Floresta da Liberdade. Seguido ao primeiro trovão, o tempo rápida e misteriosamente se fechou em toda Equestria. Pôneis de toda a parte observavam, alguns curiosos, outros assustados, a mudança inesperada. Pégasos de toda a parte tentavam limpar o tempo, mas parecia impossível controlar o clima rebelde que os atingira.

Outro lugar onde as coisas foram um tanto além do clima anormal fora no Crystal Empire. Assim como acontecera na floresta, um segundo trovão, seguido de um raio atingiu o lugar, trazendo consigo uma pônei, um ou dois anos mais velha do que Vanilla. Era uma unicórnio azul, de crina e cauda vermelhas com uma mecha azul-escura e uma marca em uma das patas no formato de garras de dragão. Ela usava um medalhão dourado com uma pedra de safira também.

Se recuperou quase imediatamente e se viu cercada de pôneis curiosos. A chuva começou a cair, a pequena correu em busca de abrigo.

Ela se encolheu, não realmente assustada, mas alerta, vigiando os curiosos que ainda insistiam em enfrentar a chuva. Ela recuou até sentir que havia alguém atrás dela. Saltou para trás, alerta, uma expressão feroz, um rosnado baixo.

Fosse o que fosse, não iam captura-la viva, estava pronta para lutar se fosse preciso.

Mas não parecia ser necessário. A pônei diante dela era diferente dos outros que ela havia visto, mas não era algo ruim, ela não parecia uma ameaça. Era uma alicórnio rosa, de crina colorida de rosa, roxo e amarelo e uma marca de um coração de cristal. Atrás dela tinha um segundo pônei, um unicórnio branco, a crina de diferentes tons de azul.

"Tudo bem." Candance disse calmamente, com um sorriso doce, então começou a aproximar-se com cuidado, a pequena não fez movimento algum, mas manteve um olhar alerta nela. "Não precisa ter medo. Não vou machucar você." Disse gentilmente.

Eles não esperava que ela respondesse.

"Isso é o que você diz. O que garante que é verdade?"

Sua voz soava sim um pouco infantil, mas também firme e desconfiada, seus olhos não demonstravam qualquer emoção.

"Pode confiar em mim." Candance respondeu, sem se deixar abalar. Apesar da frieza que a pequena demonstrava, toda a agressividade dera lugar a desconfiança, isso já era bom. "Sei que está perdida, provavelmente confusa, mas estou aqui para te ajudar. Qual é o seu nome?"

Ela pensou por alguns instantes.

"Eu não me lembro." Ela declarou.

"Por que está com tanto medo?" Sinning Armor perguntou.

Ela soltou uma risada vazia.

"Ha, medo? Não estou com medo. Que razões eu tenho para confiar em vocês?" Ela perguntou.

"Que razões você tem para não confiar?" Candance perguntou, ainda sorrindo.

Então a pequena parou. Por que ela estava tão desconfiada? Por acordar em um lugar desconhecido, cercada de pôneis desconhecidos e sem lembrar nem do próprio nome direito? Talvez. Se havia razão para ela estar tão alerta, era algo em suas memórias perdidas. Um tipo de instinto talvez. Nenhum dos pôneis ali pareciam realmente representar ameaça.

"Venha cá!" Candance chamou.

Então ela resolveu dar um voto de confiança, se permitiria se aproximar, mas ainda não confiava em ninguém. Aquela frase ressoava no fundo de sua mente:Não confie em ninguém. Ela não ia, mas se permitiria ficar de olho um pouco mais de perto, até conseguir as informações que precisava.

"Quem são vocês?" Foi sua única pergunta.

"Sou a princesa Candance e este é meu marido, Shinning Armor. É um prazer conhecê-la, pequena."

"O prazer é meu, majestades." A pequena se curvou, então se aproximou, deixando que eles a escoltassem para dentro do castelo.