O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 102
A princesa do Byakugan


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! É bom estar de volta. Depois de, o quê?, dois anos.

Espero que estejam todos bem.

Serei breve nas notas iniciais; ainda estou me acostumando a postar no Nyah! Fanfiction. Parece que é a primeira vez, sabem?

Boa leitura a todos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/504689/chapter/102

— Naruto! Há quanto tempo! — Gamakichi foi o primeiro a avistar o jovem loiro que subia a trilha esverdeada do Monte Myoboku. A voz tonitruante do Chefe-herdeiro dos Sapos ecoou pelo ar, atraindo a atenção de todos para o visitante.

Tudo parecia estar exatamente da mesma forma que Naruto se lembrava: a trilha verde-musgo era ladeada por pontos multicoloridos subida afora. Mais adiante, no alto da colina, o terreno começava a planar, revelando campos enormes, algumas quedas d’água e fontes de óleo dos anfíbios. À esquerda, as enormes estátuas de sapo; à direita, a área residencial. Um pouco mais ao norte, outra subida — em direção ao templo sagrado do Monte Myoboku.

Embora não tivesse o hábito de visitar com frequência o Monte dos Sapos, Naruto se pegou satisfeito por as coisas estarem como ele se recordara.

Bem diferente do que havia acontecido com a Vila da Folha.

Sereno, subiu a estrada até encontrar Gamakichi, que o aguardava ansioso.

— Você ficou sumido por um tempão, Naruto — disse o sapo. — O que houve?

Mas o ar de Naruto, embora estivesse feliz por ver o amigo, não era dos mais receptivos.

— Gamakichi, preciso falar com o Gamamaru-sama. É importante.

O sapo estranhou o tom de voz sério e tão diferente do habitual de Naruto, mas não comentou nada a respeito.

— Certo. Venha comigo.

* * *

Tanto Fukasaku quando Shima estavam juntos do Grande Sapo Sábio, que os havia mandado chamar minutos antes. Ainda se perguntavam o que era tão urgente ao ponto de serem necessárias as presenças dos dois Sapos Anciões, visto que Gamamaru ainda não havia dito nada que fizesse sentido.

Foi quando a porta do templo se abriu com um ruído.

— Naruto-chan! — Fukasaku exclamou.

Diferentemente do que os outros esperavam, Naruto caminhou em silêncio e só disse algo quando já estava frente a frente com o Grande Sapo Sábio.

— Vovô Sábio, Vovó Sábia — disse carinhosa e serenamente. Depois, virando-se para a maior autoridade do Monte Myoboku, prestou uma breve reverência.

— Gamamaru-sama, preciso da sua ajuda.

Shima e Fukasaku se entreolharam. Algo havia acontecido.

Porém, o sapo maior se reclinou na cadeira. Os olhos, já brancos e envelhecidos pareciam distantes, mas Naruto sabia que Gamamaru, de algum modo, o observava. A bocarra murcha do sapo ensaiou um sorriso gentil.

— Seja bem-vindo, Criança da Profecia.

Naruto olhou-o com expressão firme.

— Por favor, me diga tudo a respeito dos Yuurei e sobre uma mulher chamada Mira Uzumaki.

                                                    * * *

— Tem certeza disso? — Iori mantinha em pé, de costas para a parceira. O capuz cobria-lhe a cabeça, de modo que Mira não poderia afirmar o que ele estava pensando, nem pelo tom de voz. Mas imaginava o que seria.

— Sim — disse a vice-líder dos Yuurei. — Naruto Uzumaki simplesmente desapareceu.

A escuridão pareceu tremeluzir com mais violência nas paredes ao redor. Mira também sentiu o ar ficar mais frio naquele ponto da caverna. A sensação de medo crescia dentro dela — consequências do Meiton, ela sabia. Nunca tivera pavor do Líder, pois conhecia Iori Kuroshini melhor do que qualquer Yuurei e qualquer outra pessoa. Além do mais, era uma oficial mais do que eficiente. Não havia razões para temer.

Ainda assim, naquele momento, pela primeira vez, não desejou estar ali.

— Você não costuma falhar. — A voz de Iori a trouxe de volta dos devaneios.

Mira fez que sim.

— Tenho duas hipóteses — narrava ela. — Ou ele percebeu que eu o estou espionando e está alternando a frequência de chakra para não ser rastreado, ou ele está em algum lugar que bloqueia minhas habilidades sensoriais. Estou inclinada para a segunda opção.

Iori inclinou a cabeça levemente em direção à Mira.

— Por quê?

— Porque é altamente improvável ele ter descoberto que eu o estou observando, ao menos tão rápido. Além disso, é difícil para um Jinchuuriki esconder suas reservas de chakra. Muito difícil.

— Mas ele sumiu de qualquer forma — lembrou Iori.

Mira confirmou com um leve aceno de cabeça.

— Como eu disse — e falava cautelosamente —, o Alvo Primário deve estar algum lugar que bloqueia técnicas sensoriais. E não há muitos lugares assim no mundo.

Ela observava enquanto as sombras, gradativamente, apaziguavam-se. O ar também pareceu mais leve; ficou mais fácil de respirar.

Estava segura, concluiu.

— Eu confiei Naruto Uzumaki aos seus cuidados, Mira, porque você é a mais competente dos Yuurei. — Iori se virou para a parceira. A sombra do capuz, todavia, mantinha o rosto do líder totalmente encoberto. — Além disso, você tem um interesse pessoal nele.

Mira permaneceu em silêncio.

— Mas eu tenho pressa, minha cara — continuou Iori. — Então realize o seu desejo para eu poder realizar o meu. Caso contrário, não irei esperar por você. Entende bem o que quero dizer, não é?

O rosto de Mira continuou inflexível. Apenas assentiu com a cabeça.

— E quanto aos outros? — ela perguntou, finalmente. — Quando vai enviá-los?

Iori se virou novamente. Um portal de trevas abriu-se diante dele.

— Tudo a seu tempo — respondeu. — Como você disse, Naruto Uzumaki ainda não está totalmente quebrado.

E Mira se encontrou sozinha no esconderijo dos Yuurei.

* * *

Os dias seguiam arrastados na Vila Oculta da Folha. E embora o tempo parecia demorar mais do que de costume, trabalho não era o que faltava. Andavam todos exaustos desde aquele dia.

A reconstrução da vila estava atrasada, mas, comparado ao cenário deixado pela invasão dos Yuurei, há um pouco mais de duas semanas, até que já se era possível notar algum progresso. A ajuda humanitária da Vila da Areia chegara no dia anterior, com comida, água e remédios suficientes para duas semanas inteiras. O Kazekage não havia medido esforços em sua contribuição.

A Vila Oculta da Névoa havia assinado um consórcio com a empresa Tazuna Construções Ltda. para auxiliar na reconstrução, sem nada a ser cobrado da Folha. Sendo o velho Tazuna e seu neto, Inari, amigos de Naruto, a parceria foi feita sem qualquer burocracia.

Já os trabalhadores da Vila Oculta da Pedra haviam chegado cerca de três dias atrás, exatamente como fora acertado pelo Tsuchikage. Com suas técnicas de Doton, a remoção de escombros, a busca por sobreviventes e a reconstrução se tornaram bem menos fatigantes e mais organizada. Sempre que encontravam alguém, havia júbilo entre todos, ao passo que a esperança, pouco a pouco, ressurgia.

Por fim, com o crédito disponibilizado pela Nuvem, foi possível comprar nas imediações do País do Fogo mais suprimentos e materiais necessários, principalmente para os feridos.

Era uma chaga aberta, que, dia após dia, estava cicatrizando. Já haviam passado por algo parecido durante a invasão de Pain. Apesar de tudo, a Folha iria sobreviver.

A perda em vidas, no entanto, era irreparável.

Hinata demorou cerca de quinze dias antes de finalmente estar ali, no escritório de seu falecido pai. Definitivamente, não era assim que imaginara sua primeira semana como nova líder do clã Hyuuga. Não houve cerimônia, apenas o indiscutível sentimento de cumprir com seu dever.

Ainda se manteve por uns bons três minutos parada, diante da porta, com os dedos premindo-a de leve. A cabeça estava inclinada para baixo e ela, pensativa. Um turbilhão de coisas havia acontecido em tão pouco tempo. E Hinata não estava totalmente recuperada dos ferimentos da luta contra Kioto Hyuuga — Sakura havia deixado isso bem claro.

Mas a vida continuava. Seu clã precisava dela, agora mais do que nunca. Além disso, com outros feridos e desabrigados se hospedando no Distrito Hyuuga, as coisas precisavam ser postas em ordem. Todos contavam com ela, principalmente sua irmã caçula, Hanabi.

“Hanabi...”

Engoliu ar como que para reordenar os próprios pensamentos e abriu a porta de correr.

Aquela sala a lembrava tanto de Hiashi.

Embora estivesse fechada por mais de duas semanas, com poeira acumulada em alguns móveis, ainda era possível para ela perceber o cheiro gostoso de café, a bebida preferida do pai, misturado ao odor azedo de uma sala fechada. Quatro estantes abarrotada com livros e pergaminhos ocupavam as paredes à direita e à esquerda. Outras duas estantes com livros flanqueavam a janela no centro da parede ao fundo, coberta pelas cortinas.

Mas o que realmente chamou a atenção de Hinata foi a caixa em cima da mesa do escritório. Era escura, feita de madeira com detalhes em couro, e grande o bastante para conter um rolo grosso de pergaminho. Estava fechada e intocada. Hinata não se lembrava de qualquer objeto similar.

Sentou-se na cadeira do pai, desatou as travas e ergueu a tampa do objeto. Dentro dele, um enorme rolo de pergaminho com detalhes dourados nas extremidades. O símbolo dos Hyuuga estava pintado na aba superior do rolo.

A moça respirou fundo. Sabia o que era aquele pergaminho.

“O Pergaminho Hyuuga, onde estão as técnicas passadas de geração a geração entre os líderes do clã”, pensou.

Junto com o rolo gigantesco, havia um envelope branco e lacrado com o selo do clã Hyuuga. Hinata rompeu o lacre e, imediatamente, reconheceu a caligrafia de Hiashi Hyuuga na carta.

A carta tinha sido escrita exatamente para ela.

“Hinata,

Sei que não esperava que as coisas fossem acontecer desta forma. Eu também não. Mais uma vez, a vida vem com suas surpresas e nos pega desprevenidos; nunca aprendemos totalmente a lidar com elas.

Há muita coisa que você precisa saber e outras tantas que gostaria de contar pessoalmente, mas estou limitado ao papel. Só que, desta vez, espero te falar não como o líder do clã Hyuuga, mas como seu pai. E eu sei, sei muito bem, que não tenho o direito de fazer isso depois de tudo que fiz você passar — e mesmo agora, depois da minha morte, ainda sou o maior responsável pelo seu sofrimento.”

Hinata parou a leitura. “Uma carta póstuma? Meu pai já esperava morrer?” Estava confusa. Lembrava-se muito bem do quanto o pai havia mudado desde que ouvira a notícia: um homem chamado Kioto Hyuuga estava vivo e era um dos Yuurei. Desde então, a vida de Hinata fora mudada de ponta-cabeça. Havia sido obrigada a deixar o Corpo Jounin da Vila da Folha, bem como afastar Naruto de sua vida, ao passo que Hiashi se tornava, outra vez, o pai severo que ela tivera durante a infância. Tudo isso em prol do clã Hyuuga.

“Era isso? Ele sabia que Kioto-san viria por ele?”, pensava consigo mesma.

Prosseguiu.

“Lembro-me muito bem daquele dia: quando entreguei você aos cuidados de Kurenai Yuuhi porque simplesmente não poderia tolerar seus fracassos. Eu pus a responsabilidade de treinar a herdeira do clã à frente da minha responsabilidade como pai e, com isso, eu a afastei de mim. Interpretei sua gentileza como uma falta de talento, sua bondade como fraqueza e sua mansidão como covardia — e eu a desprezei por isso.

Mas fui eu o covarde (e você estava certa sobre isso). Não amei você, não protegi você, terceirizei sua educação. Sou o culpado pela sua insegurança, pelo seu medo de ofender e desapontar as pessoas. Eu pus a minha mão em você e a infectei com o pior de mim. Himori jamais teria me perdoado se tivesse visto tudo o que fiz. E vocês duas são tão parecidas, você e sua mãe.

Não fui o pai que você precisava e, com isso, perdi o melhor de seu crescimento. Não vi que você se tornava mais forte, mais confiante — tudo isso enquanto continuava sendo quem você é: uma menina gentil, inteligente e bonita.”

As mãos de Hinata apertaram com mais força o papel, tão quanto ela premia os lábios para segurar um suspiro. Ela também se lembrava muito bem de tudo. De sua infância, dos árduos treinamentos aos quais fora submetida logo que sua mãe, Himori Hyuuga, havia morrido. Cada uma das repetições, de ser obrigada a passar dias inteiros golpeando bonecos de madeira, das derrotas vexatórias diante de todo o clã, das lágrimas e de todo o esforço para cativar o afeto e a atenção do pai que a desprezara e negligenciara aos cuidados de sua professora, Kurenai.

E quando ela, finalmente, havia progredido, superado as próprias fraquezas, Hiashi não estava lá.

“Foi tudo graças a ele, não foi? Naruto Uzumaki. O jovem que sempre esteve sozinho, que se via obrigado a tirar forças de onde não tinha e insistia em seguir em frente e continuar tentando, não importando quantas vezes falhasse ou o que dissessem a seu respeito. Naruto foi sua fonte de inspiração, de força. Uma admiração tão forte que virou amor, e um amor tão forte que permanece até hoje. Isso é mais uma das coisas que demorei para perceber em você. Quando criança, nunca a ensinei sobre ter cuidado com os garotos e a guardar seu coração. Mas você, mesmo assim, aprendeu. Além disso, encontrou um homem de verdade, alguém disposto a amá-la, a protege-la, a lutar por você e a envelhecer ao seu lado. Como seu pai, eu devo muito a Naruto Uzumaki.

Mas existe algo que você também precisa saber e, confesso, não sei exatamente como receberá tudo isso. Você se lembra das histórias que sua mãe te contava antes de dormir? Lembra-se da sua favorita, ‘A canção da Byakugan no Hime’?”

Como poderia esquecer? “A canção da Byakugan no Hime” era a sua história preferida, e ficava melhor quando cantada por sua mãe na hora de dormir. Himori punha a pequena Hinata na cama todas as noites, sentava-se ao seu lado e contava a história por meio de uma música. Dentre todas, a história da Princesa do Byakugan era a que mais enchia a mente infantil de Hinata de sonhos.

A canção retratava a donzela de um povo que morava nas estrelas e que tinha sido enviada ao povo da Terra para expurgar a Noite-sem-fim. Com seus olhos, tão brancos e brilhantes quanto à lua cheia, ela trouxe luz e o primeiro brilho do sol. Mas a princesa sabia que não poderia conter para sempre a noite que viria. Então, em um sacrifício final, ela se pendurou no céu e se tornou a Lua como é conhecida — para sempre guardar o povo da Terra do escuro eterno. “A canção da Byakugan no Hime” era uma das coisas mais belas de sua infância porque Hinata sempre se lembrava de sua falecida mãe.

Mas o que seu pai queria dizer com isso?

“A verdade é que ‘A canção da Byakugan no Hime’ surgiu de uma lenda muito antiga, que remonta às origens do nosso clã. Trata-se de um segredo protegido por gerações e guardado somente entre os líderes do clã Hyuuga. Segundo a lenda, nosso ancestral, o honorável Hamura Ootsutsuki, irmão do Rikudou Sennin, tem uma filha perdida no curso da história — uma herdeira de seu chakra e de seu poder: o mais puro Byakugan; tão poderoso que, dizem, podia até mesmo ver o futuro, enxergar através do tempo. De acordo com o conto, a linhagem de Hamura corre através da Família Principal dos Hyuuga, de onde a Princesa do Byakugan haveria de nascer. Hinata... eu creio que você é a Byakugan no Hime.”

Ela soltou um riso sem querer. Não sabia exatamente como reagir naquele momento. A morte do pai, todas as lembranças, o peso de liderar os Hyuuga no momento mais delicado da Vila da Folha desde a época da Akatsuki e, agora, uma revelação estranha vinda de seu pai, em que ela seria, hipoteticamente, a personificação de uma figura mitológica de seu clã. Aquilo tudo não fazia sentido. Por que o pai nunca lhe dissera nada parecido antes? Por que escrever uma carta em segredo?

“Desde o começo, logo que comecei a treiná-la, eu vi algo dentro de você. Algo curioso, que eu não sabia dizer o que era. Seu fluxo de chakra era fora dos padrões e seu Byakugan tinha um alcance muito elevado para uma criança da sua idade. Isso me encheu de expectativas. Imaginar que poderia ser você, minha filha, a minha primogênita... Cego, não entendi que, para alguém ainda tão pequena e tão jovem quanto você, era um poder grande e difícil demais para controlar. E o fato de você não estar atendendo às minhas expectativas me fez desacreditar em você. Imaginei que, talvez, fosse sua irmã, ou então eu estivesse enganado e fosse alguém de outra geração; ou ainda que se tratava só de um mito.

Mas, todos os dias, aquilo em seu chakra estava ali, diante dos meus olhos, e eu não conseguia explicar o que era.”

Hinata estreitou os olhos, ainda sem saber como processar tudo aquilo. Era verdade: seus olhos Byakugan, desde muito nova, tinham um alcance bem maior que o da maioria dos membros de seu clã, inclusive os mais velhos e experientes. Quando criança, Hinata era capaz de enxergar 700 metros em um ângulo de quase 360º, ao passo que seu primo, Neji, considerado um prodígio e um dos melhores Gennin de seu tempo, enxergava somente 50 metros. Quando se graduaram Jounin e Chunnin, respectivamente, o Byakugan de Neji ampliou seu alcance para 800 metros, enquanto o de Hinata enxergava até 10 quilômetros.

Mas isso nunca foi de grande relevância. A habilidade de ver além não era o fator determinante para alguém ser considerado um talento, mas sim a perícia com o Juuken (Punho Gentil), o estilo de Taijutsu adotado pelos Hyuuga — e Hinata sempre teve dificuldades para lutar, enquanto Neji era um exímio combatente desde muito jovem. Até sua irmã mais nova, Hanabi, demonstrava maior talento em combate.

E, agora, seu pai estava lhe dizendo que ela possuía uma espécie de poder latente? Algo que a impedia de performar em combate como era esperado? Hinata não conseguia acreditar.

“Nesta caixa em minha mesa há algo para você. Vê os pergaminhos? Este maior é aquele que é conhecido como o ‘Pergaminho Hyuuga’, aquele que contém as técnicas secretas passadas de geração a geração entre os líderes do nosso clã.”

Pegou-o. O pergaminho parecia ainda maior quando fora da caixa e lhe transmitia um ar de imponência. Por toda a sua vida, desde que era uma garotinha, imaginara quando, finalmente, seu pai reconheceria sua força ao ponto de lhe confiar o documento mais prestigiado do clã Hyuuga. Estava hesitante. Preferiu voltar à leitura.

“Apesar de, realmente, contar jutsus ensinados apenas àqueles que chefiaram o clã Hyuuga, este não é o verdadeiro Pergaminho Hyuuga. Este é só um escudo, uma isca para evitar que o verdadeiro segredo seja roubado.

Foi quando ela percebeu que a caixa escondia um último objeto: um segundo pergaminho, bem menor e mais simples que o primeiro. As costas do rolo eram de cor roxa, com as extremidades feitas de nogueira bem trabalhada. Comparado ao primeiro, este outro poderia ser segurado apenas por uma mão.

“Este outro pergaminho é aquilo que os líderes do clã Hyuuga ao longo da história juraram proteger: a chave para o despertar da Byakugan no Hime. Este é o verdadeiro Pergaminho Hyuuga.

Mas esteja avisada: é uma ferramenta perigosa. Caso a pessoa errada tente usá-la, perderá não só o Byakugan, mas a própria visão. Muitas filhas da Família Principal tentaram no passado e ficaram cegas até o dia de suas mortes. Escondia-se o segredo, dizendo-se que se tratava de uma questão genética, mas a verdade é que somente a legítima herdeira de Hamura pode liberar o selo. Somente a Princesa do Byakugan. E quando a hora chegar, saberá como abri-lo.”

Com a mão esquerda, ainda estava segurando o pequeno pergaminho, e apertou-o com mais força. O coração em seu peito batia mais rápido; a respiração era mais pesada em seus pulmões. Foi como se a gigantesca onda de expectativas que seu pai havia posto sobre seus ombros na infância a estivesse esmagando outra vez. O medo de falhar era um fantasma que a assombrava. E desde cedo, depois que conheceu Naruto, ela usava suas próprias forças para lutar contra seus temores. Não era nada fácil.

“Hinata, eu sei que está com medo. Mais do que perder seus olhos, está com medo de falhar outra vez, de não corresponder às expectativas e, assim, ofender a minha memória. Hinata, minha filha, está tudo bem.

Sentir medo não a torna fraca, faz de você humana. E eu sei que nunca ouviu isso de mim, mas eu acredito em você e sei que consegue. Você é a Byakugan no Hime, estou certo disso. Mas, acima de tudo, você é Hinata Hyuuga, minha primogênita, minha filha preciosa, minha garotinha que hoje se tornou uma mulher maravilhosa — forte como o pai e gentil como a mãe.

 Hinata, eu te amo, filha. A minha dor é que nunca disse isso a você; o meu consolo é que você é mais forte do que tudo isso.

Você liderará os Hyuuga ao futuro ensolarado que você e seu primo Neji queriam construir juntos, e será reconhecida por todos como a maior líder da história de nosso clã. Não sendo uma cópia de mim nem de ninguém, mas sendo você mesma.

Cuide da sua irmã. Ela precisa de você.

Com amor,

Papai.”

Demorou para perceber que lágrimas silenciosas caíam de seus olhos e pingavam sobre a carta do pai. Tudo aquilo que ela sempre quis ouvir: o reconhecimento, o encorajamento, palavras de afeto, um simples “eu te amo” — estava tudo ali, no escrito que Hiashi Hyuuga deixara para ela.

Hinata tremia e seus olhos pesavam em seu rosto. A moça mordia os lábios com força, tentando inutilmente conter os próprios impulsos. No mesmo momento em que estava feliz, também estava triste. Ali, naquelas folhas de papel, seu pai lhe dissera tudo o que ela sempre desejou, como filha, escutar. Ao mesmo tempo, jamais teria a oportunidade de se reconciliar com o pai, enterrar o rosto no peito dele em um abraço apertado e ouvi-lo dizer tudo aquilo que ele lhe escrevera; de chorarem juntos, ou ainda de errar na frente de Hiashi Hyuuga e, pela primeira vez, não sentir medo algum de decepcioná-lo, afinal, era sua filha preciosa.

Escondeu o rosto sobre os braços em cima da mesa e chorou. Chorou tudo o que seu corpo lhe permitia fazer.

— Pai... — ela chamava entre soluços. — Papai... sinto sua falta. Sinto tanto a sua falta!

Os minutos viraram horas e quando Hinata se deu conta, já estava escuro. Os olhos estavam secos e a boca doía. Quanto tempo estivera ali? Não sabia dizer.

Acionou a luminária sobre a mesa do escritório. A luz forte imediatamente a fez coçar os olhos. Estava cansada, o corpo doendo.

Foi quando notou que a caixa e seus objetos ainda sobre a mesa que se recordou de tudo.

— Ah, o pergaminho.

Tomou o pequeno rolo roxo na mão e o abriu. Dentro dele, Hinata observou inscrições de um idioma antigo, ou talvez fossem notações de uma espécie de Fuuinjutsu — ela não sabia ao certo —, além de símbolos mais familiares, tais como a lua e a insígnia do clã Hyuuga.

Ao abrir todo o rolo, Hinata encontrou bem no centro um desenho que a intrigava. Era um símbolo ovalado, com bordas floridas nas margens. No meio da figura, algo como um rosto feminino com dois olhos fechados.

— Um espelho? — deduziu.

Acima da representação dos olhos da figura, Hinata encontrou marcações de uma técnica que conhecia muito bem: o Selo Amaldiçoado dos Hyuuga, usado pela Família Principal para controlar o Byakugan da Família Secundária.

“Mas o selo está... desenhado ao contrário?”, percebera.

Pensativa, Hinata debruçou-se sobre o desenho, imaginando o que aquilo significava.

“E quando a hora chegar, saberá como abri-lo.” Lembrou-se das palavras do pai escritas na carta, mas, ainda assim, não tinha a menor ideia do que fazer a seguir. Ela conhecia as posições de mãos para conjurar o Selo Amaldiçoado, pois tinha sido a última lição que Hiashi lhe dera em seu treinamento. Mas o fato de o símbolo estar representado ao contrário fez Hinata hesitar; ela sentia que ainda restava algo — algum detalhe que estava deixando passar desapercebido.

— Meu pai sabia que eu jamais usaria o Selo Amaldiçoado em alguém, mesmo em uma luta — arrazoava consigo mesma. — Quando lutei contra o Neji-niisan naquele Exame Chunnin, tive a chance de usá-lo e vencer, mas preferi lutar contra ele.

Hinata fixava o olhar sobre o desenho. A peça faltante daquele quebra-cabeça parecia estar ali, tão próxima.

— Contra o Kioto-san, que veio da Família Secundária, papai teve a chance de também ativar o Selo e sair vivo, mas também não o fez — continuou. — Será que ele preferia que fosse desse jeito: morrer pelas mãos do amigo? Ou, por alguma razão, papai soubesse que usar o Selo Amaldiçoado não funcionaria contra Kioto Hyuuga? Ou talvez...

Seus olhos se voltaram novamente para a figura do Selo desenhado invertido.

— Ou talvez o Selo tenha outra finalidade, e meu pai queria que eu entendesse isso — concluiu.

A resposta estava ali, ela podia sentir. E, então, uma ideia lhe ocorreu.

“Não. Não pode ser isso. Pode?”

Olhando para o desenho, depois para as próprias mãos e de volta, Hinata inspirou fundo. Estava com medo. E se estivesse errada?

Impulsionada pelas palavras do pai e, também, do jeito ninja que aprendera com Naruto, de nunca voltar atrás, Hinata Hyuuga reuniu toda a coragem que tinha e começou a sequência de selos de mão: primeiro, o selo específico de ativação do jutsu, depois Rato, Serpente e Bode.

“E se a chave for usar os selos de mão na ordem contrária, tal como o selo no desenho?”

Por fim, tocou com a palma da mão direita na representação do selo.

— Juinjutsu (Técnica do Selo Amaldiçoado): liberar — sussurrou.

Tudo aconteceu em poucos instantes. As gravuras do pergaminho brilharam uma luz roxa que, a cada vez mais, crescia e iluminava toda a sala. Logo em seguida, o rosto feminino do pergaminho abriu os olhos e encontrou os de Hinata.

E tudo, de repente, pareceu escuro para ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? E o que esperam a partir de agora? Comentem à vontade, leio tudo o que vocês me escrevem.

Próximo capítulo: Despertar.

Até o próximo capítulo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Herói do Mundo Ninja" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.