O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 101
Decisão


Notas iniciais do capítulo

Jingle bell jingle bell, acabou o papel... (o fato de eu estar cantando isso aqui só mostra o quanto eu sou uma pessoa realmente desnecessária xD)

Enton, boa noite! Como vão? Bem? Espero que sim. :3

Este é, com certeza, o último capítulo de O Herói do Mundo Ninja de 2018. Voltaremos só depois das festas, se Deus assim nos permitir, com muito mais.

Sem mais delongas, vamos ao capítulo. Boa leitura para todos e nos vemos nas notas finais o/



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Os dias seguintes foram de verdadeiro caos.

A Vila Oculta da Folha havia sido reduzida às cinzas. Grande parte de seu território era agora nada mais que terreno seco, outras mais eram monturos de pedra, barro e madeira. Construções inteiras haviam desaparecido com o ataque Yuurei, ruas e áreas residenciais foram varridas, distritos estavam irreconhecíveis, regiões campestres e bosques transfiguraram-se em zona morta. Os poucos lugares que haviam conseguido escapar da devastação serviam como abrigo para os refugiados; a superlotação e a escassez de suprimentos eram a única realidade entre os que haviam conseguido sobreviver.

Fazia doze dias desde que os Yuurei haviam deixado a Folha, e o estado deplorável em que a vila se encontrava os fazia tão presentes, mesmo a quilômetros de distância.

Os Fantasmas ainda assombravam, independentemente de estarem ali ou não.

O Hospital da Folha, um dos lugares remanescentes, enfrentava sérios problemas com alojamento de pacientes e de demanda. Não havia ninjas médicos nem instalações para todos. Muitos estavam abarrotados no chão ou em camas improvisadas. Sem distribuição normalizada de energia elétrica, os aparelhos contavam com um número limitado de geradores.

Muitos civis, em sua maioria, idosos, mulheres e crianças, conseguiram alojamento em alguns distritos de clãs, nos quais a ação Yuurei não havia sido tão intensa. Dentre os clãs que disponibilizaram seus territórios estavam os Inuzuka, os Nara, os Yamanaka e os Hyuuga. Em geral, grandes abrigos comunitários com tendas haviam sido montados nas imediações das casas.

E a Folha sobrevivia como era possível.

— Estamos aguentando. — Alojada na casa de Shikamaru Nara, Tsunade usava o computador para falar aos outros Kages na videoconferência feita de última hora. — Mas o clima é de incerteza; estamos vulneráveis e o inimigo pode voltar a qualquer momento.

Fez uma pausa. Aquilo era, psicologicamente, cansativo.

— Estamos recebendo suprimentos da capital, mas o próprio Daimyo do Fogo já está saturado. Ele disse: “foi incompetência dos Hokage, tanto do Kakashi quanto sua, que a vila está do jeito que está.” Ele quer uma solução pronta e que o problema seja resolvido internamente.

Que ridículo! — exclamou a Mizukage. — Aqueles Daimyo são velhos estúpidos que só sabem beber saquê, comer dango e dormir. Não estão nem aí para as próprias vilas.

Eu confesso que um sistema político sem senhores feudais seria muito melhor para todos — comentou o Raikage.

Não é hora para isso. — Sem devaneios, Gaara chamou a atenção de todos para si. — A Vila da Areia tem um profundo laço de amizade com a Vila da Folha. E por estarmos geograficamente próximos, isso facilita as coisas. Vou providenciar suprimentos que deverão ser suficientes para as próximas duas semanas.

A atitude do Kazekage é admirável — observou Oonoki. — A Vila da Pedra fará o possível para enviar um grupo de construtores e especialistas em engenharia civil nos —próximos dias. Fica por nossa conta.

— Gaara, Tsuchikage-sama... obrigada.

No País das Ondas há uma companhia famosa chamada Tazuna Construções — comentou a Mizukage. — Seu fundador criou a famosa Grande Ponte Naruto, que liga a ilha ao continente. Levarei ao Conselho da Névoa a proposta de criarmos um consórcio com a Tazuna e financiarmos a reconstrução da Folha.

Tsunade agradeceu.

Tazuna é um conhecido pessoal do próprio Naruto. Ele nos ajudou muito quando a vila foi atacada pela Akatsuki, três anos atrás.

O Raikage fez uma careta. Seus pensamentos estavam distantes.

A Nuvem abrirá uma linha de crédito para vocês, e depois acertaremos os vencimentos. Infelizmente, Tsunade, eu não posso fazer mais do que isso.

A Hokage agradeceu de qualquer forma. E prosseguiu:

— Vocês sabem o que isso significa, não é? Para todos vocês.

Silêncio.

Gaara ajeitou-se na cadeira, inclinando o corpo para frente e apoiando o queixo sobre as costas das mãos. Estava pensativo, muito embora isso não o faria mudar de ideia.

Ao ajudar a Vila da Folha, todos nós estamos declarando guerra aberta contra os Yuurei.

E outra vez houve silêncio. Era uma situação realmente delicada para os cinco.

Ora, para o inferno todos aqueles malditos! — Ay praguejou outros insultos contra a organização criminosa. Respirou e, depois de longos segundos, continuou a falar: — Quem eles pensam que são?! Somos os Cinco Kages! Nós vencemos uma guerra juntos faz pouco tempo! E, além disso, esses malditos já fizeram mal a todos nós. Eu jamais iria ficar com o rabo preso sem fazer nada.

Gaara ficou em silêncio. Dentre todos os Cinco Kages, era o único cuja vila não tinha sofrido qualquer ataque, direto ou indireto, do inimigo. Nenhum de seus ninjas tinham morrido pelas mãos dos Yuurei. Entre as Cinco Nações, até aquele momento, a Areia era a única que havia saído ilesa.

Oonoki e Mei também nada disseram, muito embora suas expressões tornaram-se sombrias e distantes. O Tsuchikage havia enviado seu próprio filho e futuro sucessor ao título de Tsuchikage, Kitsuchi, como representante da Vila da Pedra na missão na ilha Misuto e o perdera. A Mizukage, por sua vez, perdera seu aluno — o qual criara como a um filho — naquela missão, além de, muito antes, ter sido afrontada ao enviar ninjas para o País dos Demônios em apoio à Folha e receber nos portões de sua vila todos os protetores de testas dos ninjas mortos com as palavras “sem deixar corpos assim agem os Yuurei” riscadas neles.

E Tsunade já sabia de tudo isso.

Como se lesse os pensamentos da Hokage, Oonoki ergueu os pequenos olhos. A voz falou cansada, como de quem já viveu muito, porém com o mesmo tom decisivo:

Dê-me três dias, Tsunade-hime. E irei enviar meus homens para ajudar a Folha a se reconstruir.

De sua tela, Mei deu um sorrisinho vago. Seu olhar continuava distante, porém o tom de voz do velho Oonoki a inspirou a seguir em frente. Aprumou-se sobre sua cadeira e tomou a palavra.

Como líder da Força Tarefa, preciso prestar meu relatório final a vocês, mas antes disso, Tsunade-sama, eu quero saber: como vai Sasuke Uchiha?

Aquela pergunta era um pouco inesperada da parte da Mizukage, mas Tsunade a achou bem propícia, depois do que havia acontecido.

— Está se recuperando — disse. — Conseguimos um alojamento improvisado no distrito Hyuuga para ele, e Sakura o está observando. Estou estudando meios de criar alguma espécie de prótese, mas o que me preocupa mesmo é seu organismo. Achamos evidências de uso de uma droga poderosa dentro dele — alguma espécie de Pílula de soldado. O que quer que ele tenha feito uso, inflamou todos os Tenketsu dele e seu chakra não está fluindo como deveria.

Os Kages reagiram às suas diferentes maneiras, embora fosse evidente a preocupação de todos.

Ele vai ficar bem? — perguntou Gaara.

Tsunade fez que sim.

— Ele não corre risco de vida, mas não poderá lutar por um tempo.

Mei pareceu aliviada.

Dos males o menor — disse a Mizukage. — E quanto ao Naruto?

O rosto de Tsunade escureceu. Sua expressão caiu e isso não passou despercebido pelos outros Kages, principalmente Gaara. A Hokage procurou as melhores palavras, mas, no seu íntimo, ainda as achava insuficientes.

— Fisicamente, ele está bem. No entanto, ele...

 

 

 

 

— Está quebrado. — Iori discursava a seus comandados. Na caverna escura, com apenas poucas tochas nos cantos das paredes clareando de forma pífia, o líder dos Yuurei falava ao lado de Mira aos demais fantasmas. — Naruto Uzumaki está quebrado.

A mensagem fez os comandados se entreolharem. Aquelas palavras eram recebidas com vários sentimentos: de imensa satisfação a uma ligeira monotonia.

— No entanto — prosseguiu. — O chakra de alguém se intermediou no Parasita, liberando-o do Genjutsu de Sasuke Uchiha, mas também fazendo-o voltar a mim.

— Mas como isso foi possível? — Kan perguntou.

Hana Sakegari olhou-o sem muita paciência.

— Genjutsus podem ser quebrados assim, em alguns casos — disse. — Se alguém é pego, basta que outra pessoa infunda seu próprio chakra na vítima, de forma que o chakra dela volte a circular normalmente, libertando-a da ilusão.

— Então foi isso que aconteceu... — falou Suki, curiosa. — A garota Yamanaka, ao entrar na mente do Líder-sama, infundiu o chakra dela por acidente nele, e assim o Parasita ficou livre do Genjutsu. E como o Parasita está ligado ao Líder-sama, ele se manifestou outra vez na mente do Líder-sama. Quem diria que algo assim fosse funcionar, não?

E Mira sentiu o tom de deboche contra ela. Ignorou.

— Com o retorno do Parasita a mim, nossos planos se atrasam. Muito embora, o Alvo Primário é agora um receptáculo perfeito.

Mira suspirou.

— Não é.

Todos os Yuurei se viraram para a vice-líder, incluindo Iori. Ela não olhava para ninguém; seus pensamentos estavam distantes, estavam naquele que acidentalmente a chamou de Mãe. Mira Uzumaki permitiu-se um sorriso discreto, quase imperceptível, e depois ergueu a cabeça, falando com voz serena, porém firme.

— Ainda não, Líder-sama. — Pressentiu o incômodo no parceiro e falou respeitosamente antes de se explicar. — Ele não desiste. O Alvo Primário tem em sua determinação sua maior força. Uma tolice, mas também um combustível. Nossa invasão foi um golpe duro, mas ele ainda não se rendeu.

Iori olhou-a por dentro do capuz, estudando seu rosto. Mira parecia firme em suas palavras, sem qualquer sombra de dúvida. E sabia ele que sua vice-líder havia estudado minuciosamente Naruto Uzumaki.

— Me deixe terminar de quebrá-lo — pediu ela. — Enfrentá-lo é meu objetivo pessoal. Depois, faça o que bem entender com ele.

O líder dos Yuurei assentiu, e virou-se para os demais.

— O Alvo Primário é responsabilidade de Mira. Por minha ordem, nenhum de vocês está autorizado a combatê-lo. Já sabem as consequências.

A expressão de Suki se azedou e, uma vez mais, permitiu-se nutrir ódio por Mira. Por que ela se intromete em tudo?, pensou. Mas guardou-se em silêncio.

Kioto ergueu os olhos para o líder, sem, no entanto, encará-lo. Falou calmo:

— Há ainda outro problema, Líder-sama: Sasuke Uchiha.

Foi o parceiro ter citado aquele nome que Hana, involuntariamente, olhou ao redor no salão da caverna. Todos os Yuurei estavam ali e, infelizmente, o lugar nunca pareceu tão vazio.

Suki sorriu, pensativa.

— Juha, Ryuumaru e até mesmo Dairama... ele, sozinho, matou três de nós.

A escuridão tremeluziu e as sombras chicotearam como vultos na parede; uma sensação macabra passou aos olhos de quem via.

A voz de Iori saiu grave e demorada.

— Sasuke Uchiha se tornou um estorvo. Cuidarei dele pessoalmente.

E era isto. Pelo modo como falara, Iori jamais aceitaria objeções. Naruto Uzumaki e Sasuke Uchiha seriam responsabilidade da dupla líder Yuurei, e ninguém deveria se intrometer.

Para Suki, a Assassina de Kages, aquilo era decepcionante. Há muito queria enfrentar Uchiha e tal desejo só aumentou depois que soube da derrota do velho Dairama na ilha Misuto. Quanto a Naruto, o Jinchuuriki postulante ao título de Hokage e tido como o melhor ninja do mundo era um desafio apetitoso. E se não bastasse, Naruto era o objetivo de Mira. Suki adoraria pegá-lo primeiro.

Mas com Iori ordenando, a coisa era diferente.

— E quanto a nós, Líder-sama? — perguntou ela.

Iori Kuroshini olhou para os outros cinco subordinados, de um a um. Se Mira estivesse certa, Naruto ainda não estava pronto para receber o Parasita outra vez e cair, em definitivo, na escuridão. Ele precisaria ser quebrado de novo.

— Vou lhes dizer o que fazer agora.

 

 

 

Depois da reunião, Kioto voltou com Hana para o País dos Demônios, onde residiam e governavam como representantes de Mira e dos Yuurei. A própria Mira Uzumaki já não aparecia tanto quanto na época em que havia tomado o controle do país (antes, protegido por Beni Makagawa, a antiga Oukami). Kioto Hyuuga havia sido deixado como regente local e conseguia administrar o pequeno país, fechando-o dos vizinhos e controlando-o como uma vila ninja.

Estava sentado à mesa, com o braço estendido para a garota de cabelos loiro-prateados ao seu lado. Hana Sakegari não falava muito e estava concentrada em sua tarefa.

— Novo em folha, Kioto-sama! — ela sorriu alegremente, enquanto fazia a avaliação diária do braço do parceiro. — Nem parece que quebrou.

O Yuurei não respondeu. Frio, ele a observava. Não precisava do Byakugan para perceber que ali, a sós com Hana, algo a incomodava. Os olhos dela piscavam muito e evitavam encontrar-se com os dele. Kioto podia sentir o nervosismo vindo dela.

— O que foi? — ele perguntou. Hana sobressaltou-se e, percebendo que o outro a estudava com os olhos, confessou:

— Estou preocupada, Kioto-sama.

Para ele, Hana era de longe a mais forte entre os membros Juniores dos Yuurei. Ela por si só transbordava confiança. Aquilo soou inesperado.

— Não imagino que seja pelo seu teste e com a oportunidade de se tornar um membro Sênior.

Ela se lembrou das últimas ordens de seu Líder e fez que não.

— Não tem nada a ver com o que o Líder-sama disse. Na verdade... — ela desfez o Ninjutsu médico e cuidadosamente cobriu o braço do parceiro outra vez — tem a ver com a Mira-sama.

— O que tem ela?

Hana puxou uma mecha do cabelo para trás.

— Ela está diferente. Quero dizer, durante a invasão à Folha, eu a vi poupar a Kurenai Yuuhi. E fez o mesmo com as irmãs Hyuuga. Tudo bem, aquelas duas eram responsabilidade sua e depois ela as deixou para o senhor, mas permitir curá-las? Deixar que Kurenai Yuuhi saísse viva? E nossa regra de não deixar corpos?

Kioto ouvia tudo em silêncio.

— Mira-sama deu ordens ao Taka para que ele ficasse nos portões, sendo que o Líder-sama o queira no céu. Quando Naruto Uzumaki chegou, Taka foi derrotado com um golpe! Você viu como ele ficou? Está mais feio do que antes, aquele idiota. E por último teve o selo da Mira-sama falhando. Eu nunca vi a Mira-sama errar, nem por uma vez. Ela é um monstro em Fuuinjutsu e a pessoa mais habilidosa que eu já conheci. Eu... eu a admiro, Kioto-sama. Mas ultimamente...

— ... você está com receio de que ela esteja pensando mais no Naruto Uzumaki que em obedecer ao Líder-sama ou seguir o plano — completou Kioto.

Hana assentiu.

— Mira-sama é também a pessoa que mais admiro entre nós, Yuurei — falou Kioto para sua parceira. — Eu tenho medo dos poderes do Líder-sama, mas tenho um enorme respeito pela Mira-sama. Ela é uma mulher sábia e equilibrada, que sabe avaliar as coisas com frieza e perspicácia. E mesmo quando o Líder-sama quer agir de forma impulsiva, lá está ela para fazê-lo usar a razão. Foi ela quem me recrutou e, apesar de não ter estado presente no tempo que a Suki era a vice-líder, posso afirmar que Mira-sama é muito melhor do que Suki jamais seria. Eu não questiono os métodos da Mira-sama porque sei que ela sabe o que faz.

E Hana abaixou a cabeça, envergonhada. Lembrou-se da vez que estivera com a vice-líder nas ruínas do País do Redemoinho. Aquela tinha sido uma experiência única para Hana, em que, pela primeira vez, não vira uma mulher inflexível e sim uma Mira humana. Ter estado naquele lugar, ouvindo-a tocar enquanto observavam juntas o crepúsculo cair sobre o local de tragédia dos Uzumaki foi quase como viver um sonho, e Hana sentiu paz, sentiu-se partilhando da tristeza que Mira carregava consigo. Duvidar da mulher que adorava parecia, agora, algo ridículo de se pensar.

— Perdoe-me.

Kioto observou-a com cuidado, os olhos perolados dele encontrando os verde-esmeralda dela. Sabia dos sentimentos dela por ele. Hana era uma garota sádica e que muitas vezes se mostrava cruel ao usar suas ilusões, mas que mudava completamente quando se relacionava com o parceiro. Por ele, Hana morreria sem qualquer hesitação.

Depois de muito se observarem em silêncio, Kioto Hyuuga se levantou, já deixando o salão de jantar. À porta e ainda de costas para ela, disse:

— Venha, Hana.

A garota corou e o seguiu até os aposentos.

 

 

                                                  ***

  

 

Depois de quase duas semanas, Tenten abriu os olhos.

O quarto estava quente e apertado. Olhou para cima e viu uma lâmpada desligada em um teto azul-petróleo. Tentou se levantar e quando o formigamento veio em seus músculos acabou desistindo da ideia. Devo ter apagado por um bom tempo, pensou. Girou o pescoço para o lado no travesseiro da cama e o viu ali, sentado em uma cadeira ao lado do leito dela, com uma tigela de curry no colo.

— Você finalmente acordou! — Os olhos de Lee brilhavam enquanto ele sorria de um jeito bobo e emocionado.

— Oi... — respondeu com uma voz baixa e gentil.

Tentou tocá-lo no rosto, mas mal conseguia erguer o braço e uma dor intensa a tomou no abdômen, e ela involuntariamente acabou levando a mão até lá. Estava completamente enfaixado.

Então lembrou-se que tinha sido ali que fora perfurada pela Yuurei. Como um filme que passava rápido diante de seus olhos, Tenten se lembrou de Chouji caído, de lutar junto com Karin e Suigetsu, lembrou-se da voz cínica e confiante de Suki, de ser atacada pelas costas e cair, do calor tomar-lhe o corpo e do cheiro de sangue, de Bashousen ser roubado de suas mãos enquanto ela desvanecia.

Não percebeu que estava tremendo. E de raiva.

— Por favor, não se esforce! — E Lee pôs as mãos sobre os ombros dela, buscando relaxá-la e deitá-la outra vez com as costas sobre a cama. Tenten segurava com força os lençóis e só depois de muito tempo cedeu.

Lee ainda a olhava com aqueles grandes olhos preocupados.

— Está sentindo alguma coisa?

Tenten olhou-o por um instante, depois fez que não.

— Só tô com fome.

— Eu trouxe curry para você — falou alegremente, virando-se para a tigela. — Aqui. Ainda está quente. Venho trazendo todos os dias na esperança de você acordar e comer algo bem melhor do que comida de hospital. Eu sei por experiência própria que...

— Há quanto tempo eu estou assim? — Lee se calou. Ralhou mentalmente consigo por ter falado demais e, deixando a tigela de lado, respondeu:

— Doze dias.

Doze dias...

— E a vila?

— Está um caos, mas sobrevivemos. Naruto-kun voltou e o inimigo fugiu.

— Ah.

Estava indisposta. Não queria saber de detalhes naquele momento. Tudo o que queria era se levantar dali e fazer as coisas sozinha, muito embora ainda não pudesse. Era frustrante se sentir tão impotente e tão sem utilidade. Olhou para o lado. A expressão de Lee estava diferente, agora mais reservada.

Tenten deu um longo suspiro. Homens... tão sensíveis.

— Me dá meu curry — pediu ela, e Lee voltou a sorrir.

Ele a ajudou a se sentar na cama, tomando bastante cuidado para não a machucar. Tenten observou o jeito zeloso de Lee e deu um sorriso ligeiro segundos antes de a dor incomodá-la por trocar de posição no leito. Seu corpo estava bem fraco e, provavelmente, Lee seria repreendido caso fosse pego movimentando Tenten. Ela, no entanto, não se importava em ser flagrada ali; precisava comer e, mais importante, sentir-se viva de novo.

E ter a pessoa mais importante para ela como um cúmplice lhe trazia um certo alívio.

— Obrigada.

Lee achegou-se com a cadeira, sentando-se o mais perto possível da cama. Estendeu a tigela para Tenten, mas esta fez que não. Lee então abriu o pacote com a colher, segurou firme a tigela na mão esquerda, enquanto, com a direita, dava de comer na boca da namorada.

Tenten saboreou cada colherada com gosto, sentindo-se mais faminta ao invés de saciada. Mas comia devagar, aproveitando a refeição clandestina.

— Fiquei realmente preocupado com você. — Lee confessou. — Fui dar apoio a Sakura-san e... — Percebeu que Tenten o olhava firme; ela o entendia. Lee desceu o olhar pelo corpo dela envolto em ataduras sob as roupas de hospital. Tenten se encolheu — cheguei atrasado. Daí quando soube de você, que podia perder você também...

Tenten o calou, esticando o indicador esquerdo sobre os lábios de Lee;

— Não foi culpa sua, não foi culpa de ninguém. Somos ninjas e isso faz parte do que somos. —  Ela desceu os dedos até o queixo dele, erguendo-o com suavidade e o fazendo observá-la. — Você é meu namorado, não meu guarda-costas.

O jeito protetor de Lee para com as pessoas importantes para ele era uma das coisas que Tenten mais adorava no rapaz, e sabia que uma caraterística vinda desde quando formaram um time, muitos anos antes, não iria desaparecer; Tenten mesmo não queria mudá-lo. Fato é: desde os tempos de Academia, ela sempre acreditou que uma Kunoichi poderia ser tão forte quanto um Shinobi. Idolatrar Tsunade, o único membro feminino dos Sannins Lendários, só impulsionou essa crença. Tenten cresceu no meio de um time com dois especialistas em Taijutsu, Rock Lee e Neji Hyuuga, e não queria ficar para trás. Agora, estando com Lee, queria fazê-lo entender que ela era capaz de se defender sozinha. Eram uma dupla, afinal, ele e ela.

Rock Lee pegou na mão de Tenten, segurando-a de forma delicada. Não olhava nos olhos dela naquele instante. O chão parecia bem mais seguro.

— O Gai-sensei... — começou — foi morto pelo inimigo.

Os pensamentos de Tenten pareceram girar dentro de sua cabeça.

— O quê...? — Lee apertou-lhe um pouco mais a mão, sem machucá-la.

— Junto com o Hokage-sama e o capitão Yamato — contou Lee. — Mortos pelo líder dos Yuurei.

Aquela informação caiu como chumbo em seu colo. Tenten nada disse, apenas suspirou. A voz vaga de Lee ecoava em sua mente e, por um breve momento, Tenten se permitiu imaginar todas as cenas que sempre quisera viver com sua equipe completa: Neji, Gai, Lee e ela. A Quarta Guerra Ninja levara um de seus companheiros, a invasão Yuurei tratara de levar outro.

Olhou para fora da cama. Rock Lee estava com a cabeça baixa, segurando a mão dela como se estivesse com um passarinho nas mãos — apertando não muito forte para não machucar, mas firme o bastante para não o deixar fugir. Tenten sabia que o namorado estava tentando ser forte naquele momento. Lembrou-se vagamente de o quanto ele havia chorado na guerra enquanto tinha o corpo morto de Neji Hyuuga nos braços. Talvez, pensou ela, o próprio Lee tivesse isso ainda na cabeça e, por isso, procurava uma reação diferente. Ou talvez ele já tivesse se derramado em lágrimas e, ali, diante dela, não quisesse fazer tudo de novo.

Naquele momento melancólico, um pensamento lhe ocorreu, e Tenten soube que, mais que qualquer coisa e mais que qualquer um, ela o amava. E, de repente, lembrar que ele esteve ao lado dela todos os dias, trazendo comida e esperando que ela acordasse, teve um significado todo especial. Tenten sentia-se triste por tudo, mas também se sentia grata — porque ele estava ali. Por ela.

Com dificuldade, pôs os pés para fora da cama. Lee olhou, protestou. Tenten, contudo, não deu ouvidos. Mordia os lábios para afugentar a sensação de dor nos músculos e, contra toda indicação médica, levantou da cama e caiu de joelhos em seguida.

— Tenten! — Lee agachou-se diante dela, segurando-a nos braços finos.

Ela, porém, adiantou-se e se lançou no pescoço dele, abraçando-o com toda a força que seu corpo debilitado poderia lhe oferecer naquela hora. Lee parou, perdido, e retribuiu o abraço. Tenten estava com os cabelos soltos e por mais que já estivesse com ela há tanto tempo, era sempre uma sensação diferente quando sentia o cabelo volumoso dela descer pelas costas, até a altura do peito, ao invés de estar preso.

Suas testas se tocaram, e Tenten abriu-lhe um sorriso torto.

— Obrigada por estar aqui.

 

 

 

                                                   ***

 

 

Shikamaru moveu uma peça no tabuleiro de Shougi e deu uma golada no chá gelado.

Tsunade olhava-o jogar sozinho no chão. Estavam todos na casa principal do clã Nara, e aquele era o escritório de Shikamaru. Tsunade estava sentada à mesa, com a cabeça apoiada sobre as mãos, quieta, ouvindo e observando. Shikamaru estava sentado sobre o chão, próximo a sacada de seu escritório. O tabuleiro estava ao seu lado, junto com a xícara de chá. Sai, Ino Yamanaka, Shizune, com o braço e a perna esquerdos engessados, e Yuugao. A capitã da Primeira Divisão ANBU tinha sido a única sobrevivente dentre seus colegas. Seus dois braços estavam engessados e ela, mesmo assim, fez questão de estar presente.

— Tenho duas teorias. — Shikamaru, como se fosse o outro jogador, respondeu ao lance anterior. — A primeira, e mais palpável, é a que os poderes do líder inimigo são baseados a partir de uma espécie diferente de Senjutsu. Isso explicaria por que o Onmyouton (elemento da luz e da sombra, ou elemento Yin-yang) do Modo Sábio dos Seis Caminhos do Naruto não é capaz de desfazer nada feito a partir de Meiton. Isso também explica por que quem é atingido por Meiton sofre de tremenda agonia. Assim como quem não domina o chakra para o Senjutsu dos sapos pode acabar virando uma estátua, quem não domina Meiton, sente o corpo inteiro queimar de dor.

Tsunade coçou o queixo, inquieta.

— E aquela Bijuu Dama? O líder deles parecia mais um Jinchuuriki depois daquilo, e você mesmo acabou dizendo isso.

Shikamaru assentiu.

— De acordo com a primeira teoria, o chakra que o líder dos Yuurei usou para criar a Bijuu Dama vem da parte Yin da Fera de Oito Caudas que o inimigo roubou do Bee-sama. E com a parte Yin...

— ... os Yuurei colocaram o Demônio Roxo dentro do Naruto, que tem a parte Yang da Oito Caudas — Sai concluiu. — Mas o que seria o Demônio Roxo, Shikamaru-kun?

O líder do clã Nara tomou uma peça de Shougi e dedilhou-a cuidadosamente. Ficou em silêncio por dois segundos, colocou a peça de volta ao seu lugar, e disse:

— Eu diria que é uma entidade criada pelo líder dos Yuurei. Alguma espécie de parasita criado depois que os Yuurei conseguiram o chakra Bijuu do Hachibi. Apesar de que isso não comprove nada, o Naruto só começou a ter problemas com aquele Demônio Roxo depois de ter voltado da missão de resgate do Bee-sama.

— Quando enfrentamos os Yuurei pela primeira vez — concordou Sai, lembrando-se do episódio. — Isso faz sentido.

Tsunade, no entanto estava inquieta. Algo dentro dela ainda fervilhava. Se os poderes de Iori Kuroshini se baseavam em Senjutsu, era muito diferente das formas que seus antigos colegas de time, Jiraiya e Orochimaru, ou mesmo do próprio Naruto, quando estava no Modo Sennin dos sapos usavam. Lembrou-se de quando confrontou o líder Yuurei e de como seu soco foi parado com a mão nua dele. Seu chakra havia sido sugado completamente e ainda havia a manipulação do elemento Escuridão.

Não. Para Tsunade era outra coisa.

Ela se aprumou sobre a mesa, estalando as costas e relaxando. Como aqueles últimos dias tinham sido exaustivos para ela.

— Você disse que tinha uma outra teoria — falou Tsunade. — Conte-nos.

Shikamaru deu uma golada na xicara, consumindo o restante do líquido. Ele limpou a garganta e expirou.

— Esta segunda levanta uma hipótese bem difícil de acreditar — avisou ele. — Mas, por outro lado, é a que mais une elementos e pontas soltas que eu encontrei até aqui. A primeira teoria é mais sólida e mais segura. Mas meus instintos me levam a realmente considerar essa segunda.

Todos estavam em silêncio, atentos. Shikamaru prosseguiu:

— Antes de tudo — começou — devemos considerar aquela frase: todo chakra vem da árvore Shinjuu. Isso sempre foi uma premissa muito segura e, até então, inquestionável, em todo o mundo. Agora, e se nem todo o chakra vier de Shinjuu?

Ino endireitou o corpo, confusa.

— Então seria como um Senjutsu, não? E a primeira teoria estaria válida. Afinal, o chakra para Senjutsu vem da natureza e tem origem diferente do chakra comum.

Shikamaru balançou a cabeça afirmativamente.

— Sim — disse —, mas só se considerarmos que o chakra do líder dos Yuurei seja Senjutsu. Mas se não for, logo não provém da natureza. E se não provém da natureza, é um chakra originário da árvore Shinjuu. A questão é: e se ele também não vier de lá?

Houve diversos olhares e expressões confusas. Exceto de Tsunade, que estreitou os olhos, pensativa.

— Continue.

— Estou imaginando... — Shikamaru fez um lance no tabuleiro de Shougi. — Depois da missão contra os Oukami, quando encontramos o primeiro usuário de Meiton, Naruto disse que aquela espada dele, Kokujin, não tinha nada de Senjutsu; era algo mais maligno. Depois vieram os Yuurei, também usando Meiton, e sabemos que a capacidade deles para manipular Escuridão está diretamente ligada ao próprio líder. Eu não faço a menor ideia do que venha a ser a fonte do poder do líder deles, caso essa teoria seja verdade. Mas se for, devemos considerar que há uma terceira fonte de chakra, ou pelo menos houve, e se perdeu ao longo da história. E se isso é mesmo verdade, então eu sou obrigado a pensar também na origem do próprio líder dos Yuurei.

Nenhum som se ouvia no escritório, além da voz de Shikamaru Nara.

— Se isso tudo for verdade, existe a chance de o líder dos Yuurei ser alguém que antecede toda a era ninja.

Espanto, tremores e olhos arregalados. Shikamaru já esperava que aquela hipótese causaria esse tipo de efeito.

— Mas Shikamaru-kun — Shizune falou receosa —, o Sasuke-kun disse que, quando ele estava na Akatsuki, Tobi falou que a dupla líder dos Yuurei foi treinada pela dupla líder da Akatsuki. Como pode alguém que viveu antes de todo o sistema ninja precisar aprender com alguém?

Shikamaru sorriu discreto.

— Shizune-san... você acabou de responder a sua pergunta.

Shizune abriu a boca, surpresa, e Shikamaru complementou:

— Não sei quanto a vice-líder, mas o líder deles precisava de conhecimento do mundo ninja. Se ele vem de uma era em que não havia esse conhecimento, ele precisaria de alguém que o ensinasse. E já vimos algo parecido: o Zetsu Negro. Achávamos que ele era mais um membro da Akatsuki quando, na verdade, ele tinha sido criado pela própria Kaguya, para aprender de nosso mundo e manipular quem precisasse até que chegasse a hora certa de Kaguya ressurgir.

Yuugao Uzuki falou seca e diretamente:

— Por que os líderes da Akatsuki?

Shikamaru deu de ombros.

— Esse é um dos furos na teoria — admitiu. — Não sabemos como se deu a interação entre os Yuurei e a Akatsuki, muito menos de seus líderes. Mas se tudo o que foi dito for verdadeiro, então, tudo o que me leva a crer é que o líder dos Yuurei estava apenas aprendendo, e a liderança da Akatsuki foi uma ferramenta para isso.

Tsunade pigarreou.

— O que o leva a crer que o líder dos Yuurei é tão velho assim?

— Naruto — Shikamaru dizia —, quando voltou a vila e encontrou os Yuurei, enviou clones para encará-los. Um dos clones acabou encontrando o líder dos Yuurei. Quando o clone foi destruído e a informação que ele havia armazenado voltou para o Naruto original, ele disse que a pele de um dos braços do inimigo, quando foi descoberta da roupa, era branca como giz... e eu só conheço um clã com essa pigmentação de pele.

Tsunade fechou os olhos devagar, xingando em pensamentos e amaldiçoando sua falta de sorte.

— Os Ootsutsuki — disse a Hokage. — O clã da deusa-coelho.

Shikamaru assentiu, e seus olhos estavam sérios.

— Se o líder dos Yuurei for mesmo um Ootsutsuki ou alguém relacionado com esse clã, então é correto admitir que ele consumiu a fonte de seu poder eras atrás. O Meiton ficou perdido na história, por alguma razão. Ninguém no mundo ninja conhecia o elemento Escuridão até que os Yuurei apareceram. Sendo assim, o chakra para Meiton nunca veio da árvore Shinjuu e, por isso, Naruto não pode cancelá-lo com seu Modo Sábio dos Seis Caminhos.

Ino assentiu, entendendo o que o velho companheiro de time queria dizer. Mas ainda havia coisas que, para ela, não faziam sentido.

— Segundo essa teoria, o que seria então o Demônio Roxo? — perguntou.

Shikamaru, outra vez, dedilhou uma peça de Shougi.

— Ele ainda pode ser algo criado a partir do chakra do Hachibi — falou. — Pode ser que o líder dos esteja usando o chakra do Oito Caudas não só para manipular os poderes Bijuu, e por isso foi capaz de usar uma Bijuu Dama, mas também criou um parasita e o transplantou no Naruto usando a parte Yin do Hachibi como um emissor. Nesse ponto, as duas teorias convergem. O problema é que a segunda teoria levanta uma outra possibilidade.

— Fale — Tsunade pediu imediatamente.

Os olhos de Shikamaru se fecharam por um instante, e Ino sabia: seu companheiro tinha um péssimo pressentimento quanto aquilo tudo.

— O Demônio Roxo é um Bijuu diferente de todos que já vimos. Ele não é parte do Juubi, já que vem de outro lugar: da fonte do poder do líder dos Yuurei.

Shikamaru olhou diretamente para Ino.

— Foi o que você viu quando esteve na mente dele, não? Uma criatura gigantesca com uma quantidade maciça de chakra. E ele a expulsou da mente do líder, causando-lhe terror.

Ino assentiu, nervosa.

— Quando Naruto enfrentou a Kurenai-sensei, no Exame Jounin, ele a venceu fazendo-a ter um vislumbre da Kyuubi. A sensação foi a mesma. Kurama rugiu e Kurenai-sensei foi tomada por pânico; e a luta foi encerrada com a vitória do Naruto. O que aconteceu lá dentro com você e o Demônio Roxo foi parecido, não foi?

Outra vez, Ino assentiu.

— E como foi que o Demônio escapou? — perguntou Shizune. — Sasuke-kun o havia prendido em um Genjutsu, não?

— Havia — confirmou Shikamaru. — Mas receio que quando Ino entrou na mente do líder dos Yuurei, o chakra dela incidiu no do Demônio Roxo, e isso foi o suficiente para despertá-lo do Genjutsu. Ino viu o Demônio porque, originariamente, o Demônio Roxo está com o líder dos Yuurei, e não com o Naruto. Isso só fortalece a possibilidade de aquilo ser mesmo um Bijuu.

Tsunade endireitou-se na poltrona. Ainda havia uma última pergunta a ser respondida e todos ali sabiam de qual se tratava.

— Você disse que o Kakashi falou algo sobre “luz” e que isso seria a fraqueza do jutsu do inimigo — disse a Hokage. — Você tem algo a respeito disso?

— Especulações — admitiu Shikamaru. — Embora eu tenha certeza de que tenha a ver com natureza de chakra. Pelo menos agora eu tenho.

— Como assim? — Sai perguntou. — Você diz que seria algo como um Elemento Luz?

Shikamaru negou.

— Não existe a menor possibilidade de o Rokudaime-sama ter feito uma descoberta tão profunda no meio de uma luta contra o inimigo, sem qualquer fundamento. Não, a fraqueza do inimigo não é nenhum outro elemento desconhecido, mas algo que já conhecemos.

— Explique. — A voz de Tsunade era grave e urgente.

Shikamaru respirou fundo.

— O Sexto Hokage levou o capitão Yamato como um de seus suportes para a luta — lembrou Shikamaru. — Capitão Yamato era um usuário de Mokuton, uma das Kekkei Genkai mais poderosas que já existiu. Enquanto isso, Kakashi-sensei era um ninja com aptidões para o Raiton.

— E o que isso quer dizer? — perguntou Yuugao.

— Quero dizer — começou Shikamaru — que o inimigo usa Meiton, a escuridão, e luta como uma espécie de buraco negro vivo. Pelo que eu sei, buracos negros são corpos supermassivos com campos de aceleração tão poderosos que são capazes de devorar tudo, inclusive a luz. E eles fazem isso porque a velocidade deles é superior à das partículas que se movem à velocidade da luz.

Yuugao riu desgraçadamente.

— O que está dizendo? Que aquilo não tem fraqueza e que pode engolir qualquer jutsu?

Shikamaru olhou-a nos olhos.

— Sim, Yuugao-san. É exatamente isso.

— Então por que o Kakashi-sensei chamaria “luz” de fraqueza, Shikamaru? — Ino perguntou.

Shikamaru voltou-se para ela.

— Porque a natureza de chakra do Kakashi é um relâmpago, e um relâmpago é um corpo luminoso milhares de vezes mais rápido que o som. Eu acredito que o Sexto Hokage, durante sua luta com o inimigo, acabou comparando a absorção que o Meiton fazia com o Mokuton e com o Raiton. Mesmo sendo uma Kekkei Genkai, o Mokuton, diante da escuridão, é apenas madeira. Já o relâmpago, é energia luminosa com uma velocidade altíssima. E mesmo que o Meiton tenha sido capaz de devorar ambos, quando maior a velocidade que uma técnica produza...

— ... maior o tempo que ela levará para ser consumida pelo Meiton — concluiu Tsunade.

E Shikamaru fez que sim, com clara satisfação.

— Creio que tenha sido isso que o Sexto Hokage queria dizer. Portanto, não só o Raiton, mas toda técnica que emita bastante luz, de Katon ou de outras naturezas, causará uma resistência maior ao jutsu do inimigo.

Yuugao ainda estava inquieta.

— Mas, no fim, não faz tanta diferença. A escuridão vai devorar tudo do mesmo jeito.

Era verdade, Shikamaru não discordava.

— Ainda não sabemos, e não há quaisquer indícios de que isso seja verdadeiro, mas parto do ponto que mesmo o Meiton está limitado às capacidades físicas de seu usuário, o líder dos Yuurei. Se ele for humano, seu corpo irá acabar se desgastando e não irá suportar absorver uma determinada quantidade de “luz” de uma vez só. Deve haver um limite de o quanto de energia luminosa ele consegue engolir antes de liberá-la novamente. E talvez, só talvez, seja por isso que enfrentar o Naruto seja um problema. — Shikamaru fez um movimento no tabuleiro de Shougi, finalizando a partida. — O Naruto, com todo o poder dele, é uma fonte quase inesgotável de chakra que consegue usar diversas naturezas de chakra. Por isso, talvez, seja importante que os Yuurei não o deixem acessar o poder Bijuu. Acredito eu que haja outra razão por trás disso também, mas, confesso, isso faz bastante sentido.

Shikamaru havia parado de falar. O ruído que se ouvia era a respiração profunda de Tsunade. Ela cerrou os punhos sobre a mesa e sussurrou alto o bastante para ser ouvida por todos.

— Desgraçados...

Shikamaru se levantou.

— É tudo especulação, Tsunade-sama. Eu ainda não posso comprovar nada. Agora, se me derem licença...

Ele calçou as sandálias e tirou o colete ninja, que estava preso ao cabideiro atrás da porta.

— Aonde você vai? — perguntou Ino.

Shikamaru já estava do outro lado da porta, com esta ainda aberta, e respondeu sem se virar:

— Ao hospital — disse. — Eu soube que a Kurenai-sensei teve alta hoje. Irei vê-la... e fazer algumas perguntas. Ela disse que tinha algo muito importante para falar.

Assim que Shikamaru fechou a porta detrás de si, Tsunade se virou, olhando para fora.

E algo falava dentro dela que Shikamaru Nara iria comprovar suas teorias quando encontrasse Kurenai naquela mesma tarde.

 

 

                                                   ***

 

 

 

A brisa fria esvoaçava seus cabelos, soprando em sua pele e eriçando os pelos de seus braços. A luz alaranjada do sol poente iluminava-o ali. Do alto do Monte Hokage, as pessoas pareciam tão pequenas e frágeis. Talvez tivesse sido daquela mesma maneira que os Yuurei viram quando atacaram seu lar. Ele observava em silêncio a Vila Oculta da Folha e toda a desgraça causada pelo ataque inimigo. Sobre o rosto esculpido em pedra do Sexto Hokage, seus olhos corriam de leste a oeste. Via monturos e deformações por todos os lados, verdadeiros desertos de pedra e escombros bem no meio de áreas urbanas. A terra estava ferida, cheia de cicatrizes de um ataque inesperado e covarde. E muitos de seus companheiros, de pessoas que ele amava com todo o coração, estavam mortos. Cada vida sacrificada, cada civil ou Shinobi assassinado, a quase aniquilação total da Folha... tudo recaía sobre seus ombros.

Naruto sabia que, como Herói do Mundo Ninja, era a esperança de muitos. E havia falhado com todos.

Seu rosto decaiu enquanto ele contemplava seu lar destroçado. Sua mente viajou para horas depois de a invasão Yuurei ter chegado ao fim. Em seus pensamentos, ele via de novo o desespero e os gritos de agonia, o calor dos incêndios aquecendo sua pele e poluindo o ar com fumaça preta, os grupamentos que saiam de norte a sul contando os mortos.

“O corpo do Hokage-sama não foi encontrado.”, ele conseguia escutar aquelas frases outra vez, elas ressoavam em sua cabeça de novo e de novo. “Ele foi... totalmente aniquilado.”

Naruto apertou os joelhos e mordeu o lábio com força. Lágrimas silenciosas desciam como cascata enquanto ele relembrava tudo.

“Minha mãe... eu não encontro a minha mãe...”, chorava uma menininha.

“P-por favor, alguém faz isso parar”, outra voz agonizava.

“Papai! Por favor, não... por favor, volta... PAI!”, era Hanabi.

“Ele se foi, Hanabi”, a voz de Hinata era vazia, quase um sussurro. “Nosso pai está morto.”

“Por isso está acontecendo?”, “Eu não sinto as minhas pernas”, “Cadê a minha mãe? Naruto-san, você viu a minha mãe?”, “Eu não aguento mais”, “Você precisa ser forte agora; vamos ter que amputar”, “Elas não passavam de crianças... aqueles monstros!”, “Minha filha está bem... eu sei que está. Ela é uma ninja muito forte e não é à toa que entrou para a ANBU. Eu sei que ela está bem...é, eu sei”, “Mãe... mana... a culpa foi minha... me perdoem”, “Naruto... O Kakashi morreu em combate contra o líder dos Yuurei. Eu sinto muito”, “Por que você demorou, Naruto-san?”, “Naruto, se você estivesse aqui, isso não teria acontecido...”, “Naruto...”, “Naruto...”

Quando deu por si, estava gritando. As mãos estavam pressionadas contra a cabeça, enquanto ele lutava para silenciar as centenas de vozes em sua mente. Seu corpo tremia e os olhos ardiam. Estava desesperado e sentia-se completamente sozinho.

A angústia o esmagava. Todos os rostos e vozes de amigos, companheiros e conhecidos — gente que ele jamais veria novamente — eram como fantasmas o assombrando.

E ainda havia ela.

Nos veremos de novo, Naruto.” A voz da Yuurei falou outra vez à sua mente. Naruto estremeceu ao recordar. Aquela mulher tinha o rosto de sua mãe, os mesmos olhos, o mesmo cabelo... tudo. Como era possível?

Limpou as lágrimas com a manga da camisa, colocando-se de pé sobre o rosto petrificado de Kakashi. Olhou para o horizonte — do Monte Hokage, ele conseguia enxergar tudo, das extremidades aos portões gigantescos ao sul.

Aquele era o seu lar. Seu povo. Ele precisava protegê-los.

E então olhou para baixo. Um sapinho verde do tamanho de um dedo humano coaxava no meio de seus pés. Naruto se abaixou e o tomou na mão.

— Entendo — disse, enquanto ouvia o coaxo mais de perto. — Conte-me mais, por favor.

 

 

                                                   ***

 

 

Já haviam se passado dez horas da noite. Apenas algumas poucas luzes de lamparinas eram vistas nas tendas montadas na frente da mansão Hyuuga e um número ainda menor de luzes vindas do interior da casa.

Naruto abriu a porta do quarto devagar para não acordá-la. Karin estava hospedada na mansão da família principal dos Hyuuga, que estava aberta para receber alguns feridos da invasão. Tinha um quarto só para ela, o que, para Naruto, foi muito bom.

Ela estava deitada sob lençóis brancos, com a cama próxima à janela. Karin dormia profundamente e sua expressão era exausta. Mesmo tendo sido socorrida pelo primo e depois por uma equipe médica, e ainda contando com a alta vitalidade proveniente de seu clã, Karin Uzumaki parecia tão frágil sobre o leito. Naruto estudou o rosto da prima e concluiu que, possivelmente, suas feridas não eram só físicas.

Acariciou-a nos cabelos com as pontas dos dedos. O cheiro suave do perfume dela preenchia o ar do quarto e Naruto se abaixou, aproximando-se do rosto dela para senti-lo.

Dois anos atrás, desejava muito conhecê-la melhor. Queria ser reconhecido por ela e se associar a ela, visto que eram do mesmo clã. Até então, eram os únicos Uzumaki vivos. Quando finalmente Karin o aceitou, foi como se o coração de Naruto explodisse. Ele, que havia crescido sem família, agora tinha uma prima de verdade. Depois de tê-la salvo de Iruzu Ibe e dos Oukami, jurou consigo mesmo que a protegeria com a própria vida.

Com amargor, os olhos dele encontraram as marcas dos braços dela. A pele pálida marcada de cima a baixo por mordidas e cortes só o fez lembrar de tudo o que ela lhe dissera sobre seu passado, do quanto havia sofrido e do quanto desconfiava dos outros.

Naruto segurou uma das mãos dela, enquanto a admirava dormindo. Silenciosos, seus dedos iam e vinham sobre a pele da mão de Karin, acariciando-a com ternura.

— Fique bem, prima. — Ele a beijou na testa. Depois saiu, fechando a porta detrás de si.

Ainda adormecida, Karin falou em sonhos, depois que Naruto deixara o quarto:

— Fique bem, primo.

 

 

                                                  ***

 

 

A luz da lua incidia na janela, penetrando o quarto em que Sasuke estava. Sakura, terminada toda a loucura diária da vida médica, adormecia. Estava sentada em uma cadeira ao lado da cama e tinha a cabeça deitada sobre a barriga do namorado. Sasuke, por sua vez, olhava para o teto. Não conseguia dormir.

—  Decidiu falar com alguém? — Sasuke falava com a figura postada em pé próxima à janela. Não se assustou com a entrada repentina do outro nem precisou se virar para saber que se tratava de Naruto Uzumaki.

Naruto ficou em silêncio.

Sasuke, por alguns minutos, também não disse nada. Havia chegado oito dias depois do fim do ataque Yuurei, trazido por ninjas da Névoa. Hinata Hyuuga havia providenciado hospedagem para ele em um dos quartos, visto que não havia mais vaga no Hospital da Folha. Ele mesmo não sabia de muita coisa, apesar de que as notícias mais urgentes sempre acabavam chegando. Estava ciente da morte de Kakashi e dos outros, sabia que os Yuurei tinham uma Uzumaki e que Naruto havia se confrontado com ela.

E sabia que Naruto, por praticamente o tempo que havia voltado, se reclusou de todos. Sem exceção.

— Pare de se culpar pelo que aconteceu — disse Sasuke, por fim.

Não houve resposta.

Sasuke Uchiha conhecia Naruto Uzumaki bem o bastante para saber como ele estava se sentindo naquele momento. O peso do massacre da Folha caía todo sobre os ombros dele. Sabia que a sensação de impotência e de atraso eram como espadas atravessando seu coração. Toda a esperança de que poderia ajudar, de repente, arruinada e reduzida a angústia e morte.

— Eu vou atrás deles — falou Naruto, finalmente. A voz dele era amargurada, mas decidida. — Eu irei esta noite.

Uma sombra tomou o rosto de Sasuke. Ele temia algo assim.

— Naruto... pense.

Mas o semblante do Uzumaki era só raiva. Não uma raiva explosiva, mas um sentimento frio. Sasuke conhecia bem aquele olhar, pois já havia o estampado diversas vezes.

Vingança.

Deu a Naruto um olhar penetrante, analisando-o. Naruto Uzumaki sempre costumou agir por impulso e, para Sasuke, não era diferente daquela vez. Ainda assim, algo estranho estava naqueles olhos azulados. Foi como se os poucos dias em que Naruto havia se isolado de todos tivessem sido suficientes para cozinhar e preparar um ódio gélido e impulsionar nele o desejo de se vingar.

E Sasuke então percebeu que Naruto já havia premeditado a ideia de ir atrás dos Yuurei. Tudo o que havia acontecido foi só o combustível que ele precisava para tomar sua decisão.

Naruto se aproximou da cama de Sasuke, olhando-o nos olhos. Segundos antes, reparou no toco no braço esquerdo do amigo, o que fez a expressão de Naruto gelar.

— Nem pense em me dizer o contrário. — A voz de Naruto era assustadoramente baixa e fria.

Foi quando Sakura Haruno despertou. Ela ergueu a cabeça sonolenta e, notando a presença do amigo, exclamou:

— Naruto! — Levantava-se quando Uzumaki fez um gesto para que ela permanecesse sentada.

— Oi, Sakura-chan.

Havia algo na voz dele que a incomodava. Sakura era a melhor amiga de Naruto e, assim como Sasuke, conhecia-o muito bem para imaginar como ele estava naquela hora. Apesar disso, algo nele a preocupava. Não Naruto Uzumaki em si, mas Sakura temia pelo companheiro.

Ela desviou o olhar para Sasuke, que assumiu uma expressão sombria. Olhando de um para o outro, ela finalmente havia compreendido.

— Naruto, por favor — dizia ela. — Não vá. Precisamos de você... eu preciso de você.

O Uzumaki arqueou a sobrancelha, virando-se para Sasuke, que assentiu ligeiramente com a cabeça. Por um instante, Naruto imaginou o quão difícil havia sido para Sakura lidar com aquilo tudo. Como integrante do Time Sete, Kakashi Hatake também havia sido seu professor, e era uma perda que ela compartilhava com Naruto. Sakura estivera presente na vila desde o início do ataque Yuurei, protegendo o Hospital e lutando pela vila. Ela vira todo o horror começar do nada e desaparecer horas depois. E, no meio do caos, ela estava lá, prestando serviços médicos até então.

— Essa guerra com os Yuurei está nos consumindo — complementou ela, fazendo Naruto despertar dos próprios pensamentos. — Desde muito antes até agora. Eu sinto falta estarmos todos nós juntos, rindo igual crianças. Desde que os Yuurei surgiram, não tivemos tempo para pensar em mais nada.

Ela estava esgotada, e isso ficou evidente para Naruto. Para Sakura, ter a presença dos amigos ali era o que mais importava naquela hora. Queria confortá-los e ser confortada. Mas Naruto sabia que, desta vez, ele precisava agir diferente pelo bem daqueles que amava.

Virou-se para Sasuke.

— Cuide bem da Sakura-chan e proteja a vila enquanto eu estiver fora.

A expressão sombria de Sasuke não se alterou, embora ele já havia desistido. Sabia que Naruto não iria voltar atrás; ele jamais fazia isso.

— Não morra, seu idiota.

Naruto se pegou sorrindo. Era um sorriso simples e descompromissado, mas que, depois de doze dias, ele sentiu que o precisava ter dado.

Ele já ia se virando quando sentiu os braços de Sakura envolvendo-o. Ela enterrava a cabeça em seu peito, chorando devagar. Em seu íntimo, Naruto desabou.

— V-você é um imbecil... idiota... teimoso... burro... — ela falava com tristeza, apertando-o cada vez mais no abraço. Naruto se controlava, embora seu coração estava pesado demais dentro dele.

E com amor, ele retribuiu o abraço da amiga, pousando o queixo sobre a cabeça dela. Sakura chorou mais alto e soluçou. Amava Naruto Uzumaki e não queria perdê-lo. Não suportaria.

Depois de longos minutos, Naruto se afastou. Olhou para trás uma última vez, para Sakura e para Sasuke, seus dois melhores amigos. Como ele os amava! Não poderia permitir que sofressem por causa da fraqueza dele; não deixaria acontecer de novo.

— Eu vou voltar — disse. — Eu prometo a vocês, e não volto atrás com minha palavra.

Desapareceu no segundo seguinte.

 

 

 

Já estava na saída do distrito Hyuuga, quase em frente aos portões de madeira, quando a percebeu. Sabia que estava sendo observado desde que chegara para ver Karin e depois Sasuke. Cedo ou tarde, iria encontrá-la.

Respirando profundamente, Naruto voltou-se para trás.

Hinata Hyuuga estava tão bonita quanto ele se lembrava. Ela vestia um kimono branco com bordas lilás, calçava sandálias pretas e tinha o cabelo solto. Um curativo estava preso em sua bochecha esquerda e Naruto, olhando para dentro dos decotes da roupa dela, via faixas de ataduras nos peitos e nos braços, por baixo das mangas. Ele a tinha visto quando a salvara de Kioto Hyuuga, mas ali, só ela e ele depois de tanto tempo separados, era como se a estivesse vendo pela primeira vez. Seu coração palpitou mais acelerado e ele fazia de tudo para não demonstrar nervosismo.

— Desculpe se entrei sem avisar — disse ele. — Eu só precisava ver a Karin, o Sasuke e a Sakura-chan antes de partir.

Assim que disse aquelas palavras, arrependeu-se. Hinata, porém, não pareceu se incomodar com Naruto não ter ido por ela. Ou pelo menos não demonstrava.

— Tudo bem.

O silêncio entre eles era bastante constrangedor. Naruto se sentia dividido. Parte dele queria ir até ela, abraçá-la e beijá-la; outra parte, apenas dar as costas e seguir seu caminho. Hinata sentia o conflito dentro dele, mas não queria pressioná-lo. No fundo, ela sentia que não tinha esse direito.

Mesmo assim, foi ela quem quebrou o silêncio. Tanto Naruto quanto Hinata estavam inquietos, e o silêncio não parecia combinar com aqueles dois.

— Eu ouvi a sua conversa com o Sasuke-kun. — Naruto franziu a testa. — Você vai atrás dos Yuurei, não é?

De repente, ele sentiu raiva. Imaginou que ela estivesse ali para dissuadi-lo e fazê-lo voltar. Depois de tudo que havia acontecido entre eles, de como ela o havia dispensado para cumprir obrigações com o clã, quem ela pensava que era para opinar ou dizer o que ele deveria ou não fazer? Ele estreitou os olhos e marchou na direção de Hinata quando ela continuou:

— Eu não vim aqui para isso, Naruto-kun. — Ele parou. Hinata ergueu a cabeça para olhá-lo nos olhos. Naruto sentia-se, agora, envergonhado.

Ele esperou que ela fosse dizer algo, mas Hinata estava quieta, apenas sustentando o olhar sobre o rosto dele. Também se sentia em conflito consigo mesma. Amava Naruto Uzumaki mais do que qualquer pessoa no mundo, mais do que a si mesma. No entanto, outra parte gritava dentro dela, lembrando-a do dever para com seu clã, para com sua irmã mais nova, e para com a memória de seu pai, Hinata hesitava. Precisava dele, precisava de Naruto com ela, mas também precisava se encontrar no meio daquela confusão interior.

— Hinata... — A voz de Naruto era cautelosa; ele mesmo não sabia mais o que pensar ou como deveria reagir.

Ela se achegou a ele, olhando-o de perto. Se antes Naruto estava dividido entre ficar ou partir, agora mais do que nunca desejava que o tempo não passasse. Não importava o quão distantes estivessem um do outro — o efeito que ela exercia sobre ele não mudava. Hinata Hyuuga era um sol que dissipava as nuvens escuras do rancor e da angústia dentro dele.

— Eu estou confuso... droga. — Ela deu um sorriso tímido e gentil. Depois de tudo o que haviam passado, depois de tudo o que os Yuurei fizeram para destruir o espírito do Uzumaki, ainda era ele, ainda era o Naruto pelo qual ela havia se apaixonado. O Naruto que ela tanto amava.

Devagar, ela o tocou na bochecha com as costas dos dedos. Era tão baixinha quando estava diante dele.

— Sei que vai achar o seu caminho — disse ela. — Você sempre faz isso. E eu vou me esforçar para encontrar o meu também.

Ela se esticou na ponta dos pés e o beijou no rosto. Um arrepio percorreu-o de cima a baixo. Naruto inclinou a cabeça para olhá-la nos olhos. O rosto dela era de uma beleza tímida e, para ele, toda especial.

— Hinata, como nós estamos?

Ela abaixou a cabeça por um momento.

— Eu te amo, Naruto-kun — disse, virando-se para ele outra vez. — Meus sentimentos nunca mudaram e não irão mudar.

Ela falou decidida. E Naruto acreditou nela.

Ele riu consigo mesmo.

— Eu senti sua falta. Senti tanto a sua falta.

E, sem mais qualquer palavra ou aviso, lançou-se sobre ela e a abraçou. E para ambos, aquilo foi melhor que qualquer beijo que já tivessem compartilhado.

 

 

 

Depois de se despedir de Hinata, Naruto caminhou até o lado de fora da vila. Levava consigo nada mais que a roupa do corpo: a camisa preta de mangas longas, a calça alaranjada e as sandálias fechadas. Tinha consigo um cantil de água e um estojo de ferramentas acoplado na parte posterior da calça.

Olhou para trás e apertou os lábios ao contemplar o último vislumbre da ruína da Folha. Agora não movido por vingança, mas por amor e zelo, jurou que jamais iria falhar outra vez. Pensou em Hinata, Sasuke, Sakura, Karin, Tsunade e de todos os amigos. Lembrou-se de Kakashi e de Yamato, também de Shion e Killer Bee. Temia por deixar a vila e sobrecarregar Sasuke, que já tinha feito tanto por ele. Mas precisava seguir adiante. Para protegê-los, deveria atrair toda a atenção dos Yuurei para si.

Ergueu a cabeça para o céu. Não havia estrelas e a lua brilhava solitária no véu da noite.

“Nos encontraremos de novo, Naruto”, a voz da Yuurei Uzumaki ecoou uma última vez em seus ouvidos. Determinado, Naruto puxou as amarras de seu protetor de testa, apertando-o. Depois, sequenciou selos — Bode, Macaco, Pássaro, Cão e Javali.

— Gyaku Kuchyiose no Jutsu (Técnica da invocação invertida).

Naruto levou a palma da mão direita ao solo, desaparecendo em uma nuvem de fumaça sem deixar rastros. A vários quilômetros dali, em um quarto pequeno e mal iluminado por velas, a figura do ninja da Folha sumia por completo da bola de cristal, que se escureceu sobre a mesa.

Mira estreitou os olhos, curiosa. Em seguida, fechou os olhos, com os dedos da mão direita unidos em um selo, e se concentrou. Nada. Era simplesmente impossível localizar Naruto Uzumaki. Tentou uma segunda vez e igualmente não teve sucesso. Virou-se novamente para a bola de cristal e, estendendo as mãos para o objeto, imaginou o padrão de chakra de Naruto.

A imagem dele não reapareceu, no entanto. Aquilo era intrigante.

— Onde você está, Naruto?


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Notas finais do capítulo

Parece que Shikamaru está desvendando o Meiton... o que acharam? Ou melhor, o que pensam a respeito? Agora que ele trouxe à luz suas análises, o que esperam para os próximos capítulos? Se estiverem à vontade, por favor, comentem. O feedback de vocês é muito importante.

Para onde será que o Naruto foi? E Mira o estava observando... (bela de uma stalker ela é, hein?)

Obs.: favor não me perguntar se a Mira observa o Naruto tomando banho; eu não vou responder isso. :v

E pitadas de Lee e Tenten, Naruto com a Karin, time Sete e, claro, Naruto e Hinata. Alguém sentiu falta desses dois interagindo?

E o que Iori ordenou secretamente aos demais Yuurei? Ah, várias coisas eu ainda tenho para mostrar ao senhores.

Próximo capítulo: A princesa do Byakugan

Feliz Natal a todos e um 2019 cheio de felicidade e realizações! Muito obrigado por estarmos juntos por mais um ano, galera!

Até o próximo capítulo o/