Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 7
Profecia


Notas iniciais do capítulo

Jake
Dylan
ou Louise?



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Nessa noite, pela primeira vez em uma semana, eu sonhei com outra coisa.

Sonhei que um cavalo, uma pessoa sem rosto com um arco na mão, um javali gigante, e uma coruja do tamanho de um carro estavam brigando com um ciclope do tamanho de um poste. Aqueles traços e cicatrizes no rosto dele me eram familiares, quase como se eu o conhecesse. Acordei subitamente, suando frio, como nas outras noites. Lembro de ter mais alguém no sonho. Alguém… amarrado.

Percebi o que tinha me acordado: uma batida na porta. Eram Louise e Jake.

— Ei, Dylan, vamos, já vai começar a… — Jake começou, mas logo entrou em uma crise de riso. As bochechas de Louise ficaram ligeiramente rosadas, e ela virou para o outro lado. Quando percebi, as minhas também ficaram. Eu estava só de cueca.

— Hm… desculpem — fechei a porta e fui colocar uma roupa. — Pronto — abri a porta novamente. — Quando vai começar?

— Daqui a meia hora — disse Louise.

— Eu vou comer alguma coisa, então — falei, coçando a cabeça.

— Bem, eu vou ver como estão as coisas por lá — disse Jake.

— E eu vou com você — disse Louise.

Então os dois tomaram caminho para a arena enquanto eu tomava o meu para o refeitório.

Acabei por encontrar Julieta e Mirina lá. Já que não havia ninguém para vigiar — era proibido comer na mesa de outro deus, já que cada um tinha a sua —, resolvi quebrar um pouco as regras e sentar junto à elas.

— E a pão, dilã? — falou Julieta, com a boca cheia de comida.

— Como é?

Ela engoliu o que tinha na boca, depois falou:

— E a mão, Dylan?

— Aaaaaah, sim. Está ótima. Ambrosia realmente resolve tudo.

— Coma demais e você vira cinzas — disse Mirina, com uma garfada a caminho da boca.

— Que gentil. Todo mundo vai para a arena ver a final — eu disse.

— É mesmo. Estão todos ansiosos. A propósito, foi legal o que você fez com a lava.

— Obrigado, eu acho.

Peguei um prato e me pus a comer. O café-da-manhã do Acampamento era sempre uma delícia. Afinal, todas as refeições eram uma delícia.

— Cinco minutos. É melhor eu correr.

— Boa sorte! Daqui a pouco nós vamos — Julieta falou, terminando o prato.

Corri até a arena, e cheguei exatamente às dez da manhã. Quando cheguei, tropecei em uma das várias mangueiras que estavam largadas pelo chão.

— Pensei que tinha amarelado — disse Louise.

— Estava marcado para as dez. São dez horas, estou aqui.

Ela deu de ombros.

A arquibancada estava completamente cheia de campistas.

— Vamos fazer com que isso seja rápido — disse Quíron. — Já perdemos muito tempo das nossas atividades de domingo.

— Adivinha de quem é a culpa — disse Louise, debochada.

— Shhh — pedi.

— Como na anterior, ganha quem chegar ao topo primeiro. Nada de trapaças, ou desclassificação imediata. O resto é com vocês — ele piscou para nós. — Se preparem! — ele soou o berrante — Vão!

Foi tudo muito rápido. Ouvi o som do berrante, e imediatamente meus pés começaram a se mover. Essa parede não tinha suportes de gelo, mas, em compensação, não tinha lona e era muito larga e alta. Quem caísse, caso estivesse no alto, se machucaria feio, e não voltaria a subir. Aquele café-da-manhã me deixou mais ágil. Eu desviava das pedras e dos socos facilmente, mas devia tomar cuidado, já que dessa vez não tinha água para me ajudar com a lava, que estava em proporção muito maior. Às vezes um pouco dela roçava na minha pele, no que eu bufava de dor. Aquilo era sério. Até Louise parecia ter alguns problemas.

Depois de cinco minutos de escalada, ninguém tinha caído, e ninguém também tinha chegado na metade. Quando um avançava, o outro passava na frente, e assim sucessivamente. O barulho feito pela torcida era ensurdecedor. Ninguém parecia estar torcendo pra ninguém, apenas gritando por gritar.

Mais cinco minutos e estávamos quase lá. Eu estava muito perto. Eu iria ganhar. Então aconteceu, e eu não tive tempo nem de pensar, apenas olhei para a esquerda e vi Jake encostando o braço na lava. Ele gritou e soltou o braço que tinha sido queimado. Logo depois, levou um soco de uma luva de boxe na cabeça. Ele desmaiara em plena escalada. Não tinha mais pra onde correr. Ele estava caindo — seguido dos gritos da plateia, agora de terror. Era muito alto, ele ia morrer se caísse de cabeça. Atirei-me na direção dele imediatamente. Eu o envolvi em meus braços. Ótimo, agora eu também iria morrer. Fechei os olhos, e gritei com todas as forças que eu podia. Senti o impacto. Eu estava morto. Abri os olhos, e vi que não estava. Eu estava… flutuando. De algum jeito, eu fiz com que as mangueiras soltas no chão soltassem água na minha direção em um jato ultra forte. Era como uma cama de água, só que sem a lona. Cheguei no chão completamente seco, e soltei Jake, completamente encharcado. Várias pessoas formaram um círculo ao redor de nós. Alguém me abraçou com tanta vontade que caímos no chão. Era uma menina, provavelmente a namorada do Jake.

— Dylan, como…? — Julieta estava estupefata.

— Eu não sei. Mas, bem, se alguém merece atenção aqui, é ela — apontei para a parede. Louise tinha chegado ao topo. Ela havia ganhado.

O chalé de Ares e outras pessoas foram saudar Louise. Mas a festa durou pouco. Muito pouco.

O céu da arena começou a se fechar em nuvens verdes, que estavam assustadoramente próximas. Aquilo era uma tempestade ou…?

Vi que as nuvens saíam da boca de uma campista. Ou melhor, do oráculo do Acampamento. Sempre achei Rachel meio esquisita, mas aquilo era o cúmulo.

Ela falou. Não, não falou, recitou. Era uma profecia. Mas não era a voz dela, era a voz de uma pessoa que tinha ficado trinta anos em um túmulo:

O ciclope mais forte enfim se mostrou

O filho do deus do mar como prova sequestrou

Quatro semideuses devem aceitar essa missão

O Sol, a Guerra, o Mar e a Morte irão

O anjo no fim deverá se apresentar

Uma escolha na mão daquele que veio do mar

E, depois, tudo voltou como era, mas só se ouvia uma coisa.

Silêncio.


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