Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 36
Hécate




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— Dylan! DYLAN! — gritou Colin, de algum lugar em meio à euforia de centenas de campistas que dizimavam o número interminável de monstros.

— Tô aqui! — gritei pra ele de volta, girando, sem saber onde ele estava.

Finalmente ele apareceu por trás de dois campistas lutando contra um ciclope particularmente mais alto e forte que os outros, aproveitou e enfiou sua adaga no pé dele, deixando fácil matá-lo.

— Não é real, Dylan! — ele gritou para abafar o barulho que as armas faziam quando se chocavam umas nas outras.

Senti as garras de uma Empousa perfurarem minhas costas. Caí de joelhos, mas virei rápido o bastante e cortei suas pernas.

— É, essa dor é bem real! — gritei de volta.

— Só é real porque você pensa que é. Olhe só! — ele pegou um punhado de areia, e fechou a mão. Apesar de sua mão estar bem fechada, a areia caiu como se estivesse no vácuo.

— E o que diabos isso significa? — ele olhou pra mim, e eu entendi. — Pera aí. Quer dizer que isso é a névoa? Alguém está querendo que a gente veja isso? — ele assentiu. — Mas quem é que… Talassa. Aquela…

— Sim, Dylan. É um truque! Pra ficarmos cansados. Mas creio que ela não estava esperando por essa invasão. Venha, vamos pegar ela.

Ele puxou meu braço, abrindo caminho em meio à multidão de gente, eu matando alguns “monstros” no caminho. Fazia e não fazia sentido ao mesmo tempo. A dor parecia tão real… Mas era um bom plano. Se estivéssemos cansados, não poderíamos sequer correr. E, aliás, ela não ousaria me matar, ela disse que precisa de mim. É tudo por causa dela… minha mãe. Não, ela não era mais minha mãe, eu tinha que parar de pensar nisso.

Avistamos ela. Estava tentando paralisar um campista, que tentava espetá-la com uma espada. Levantava o cajado, tentando tirar algum pingo de mágica dele, mas não servia de nada. Era madeira normal.

— Ora seus…! — ela ficou furiosa, deixou o garoto em paz, e, com um movimento da mão, o jogou três metros à frente. Pelo visto ela conseguia fazer suas magias quando estava com raiva. — Como ousam roubar o meu cajado?! Vocês juraram pelo Rio Estige, deveriam estar mortos, como que…? Ah, claro, quando você me perguntou se era meu! Seu projeto de lixo, devolva agora ou…

— Ou o quê? Vai nos transformar em lixeiro? — indaguei, levantando a espada.

Ela bufou, enfurecida com meu deboche. Depois, urrou, e alguma coisa muito louca aconteceu. Eu senti minhas pernas afundarem no chão, como se fosse areia movediça ou algo desse tipo. Meus ossos se juntaram à carne, fazendo um ruído metálico. Meus braços colaram ao meu peito, endurecendo, se firmando, e minha cabeça afundou, como se fosse se juntar ao abdômen, cobrindo minha boca, meus nariz, meus olhos, e, por fim, a cabeça toda afundou para o que parecia o interior de uma cesta de lixo. Eu era, agora, um lixeiro. Não podia falar nada, então não pude soltar meu grito de insatisfação, que ficara preso na garganta, nem ver nada, estava tudo escuro, mas podia ouvir o que acontecia lá fora. Essa era a mais embaraçosa das situações.

— O que você fez com ele? — gritou Colin.

— Ele me desafiou a transformá-lo em uma lixeira!

— Você não precisava fazer isso, sua… Transforme ele de volta!

— Me obrigue.

— Sabemos o seu segredo. Esses monstros não são reais.

Pude perceber, pelo silêncio que Talassa fez, que ela não esperava por isso.

— Você controla a névoa! — Colin continuou. — Você fez algo à Sra. O’Leary. Mostrou algo à ela, então ela ficou com medo, e falhou na sua viagem nas sombras, mas não deu certo. Igual como fez quando encontramos você. Usou a névoa para nós pensarmos que estávamos em um deserto, e que Louise estava quase morrendo. Você quem fazia o Dylan ter sonhos com a mãe dele. E uma floresta? No meio de Los Angeles, uma cidade quase completamente desmatada? Acha que ninguém ia perceber?

— Muito bem, filho de Atena, muito bem… Acho que subestimei você.

— Sim, subestimou, sim. Foi você, não foi? Que fez Louise e Julieta terem visões, também.

— Não, nisso ela não tem nada a ver.

O feitiço de Talassa quebrou. Não sei se foi pela surpresa que ela teve ou se foi meu ódio e repulsa por aquela voz enganosamente delicada. Caí no chão, mas levantei imediatamente para encarar o rosto encapuzado de Luna. Avancei em sua direção, para dar-lhe um soco na cara, mas Colin me segurou.

— Não, Dylan. Essa aí tem um cajado que funciona.

— Inteligente, filho de Atena — ela parecia séria, não estava se divertindo com o sofrimento de ninguém, como fez na prisão. Eu queria esganá-la, partí-la ao meio.

— A CULPA DO QUE ACONTECEU COM MIRINA É SUA! — berrei.

— Não é, não. Eu não fazia ideia que a filha de Tânatos tinha tal poder — sua voz permanecia calma, o que me irritava ainda mais.

— MAS SE VOCÊ NÃO SE METESSE NO CAMINHO…

Escutando minha gritaria, Louise se aproximou, e, antes de qualquer coisa, avistou Luna, e avançou em sua direção. Foi a minha vez de segurá-la.

— SUA FILHA DA… HMMMMM.. HMMMMM!

Luna levantara a mão, tapando a boca de Louise com uma mordaça invisível. Senti mais ódio dela ainda. Uma força começou a me dominar, eu sabia que podia derrotá-la, eu…

— Ora, ora, vejam quem está aqui, a negra inútil… — Talassa, assim como eu, saiu dos seus devaneios. — Você traiu a mestra.

— Você só apanha dela.

Talassa corou.

— Ora, sua…

— Vão ajudar seus amigos, semideuses. Eu cuido dessa pra vocês.

Ela jogou um cajado para Talassa, que eu reconheci como aquele que Colin tinha deixado na caverna. Ela estava nos observando todo esse tempo. Eu odiava ela, mas tinha que admitir, ela era inteligente.

Nos afastamos imediatamente, sabendo que se ficássemos provavelmente um de nós seria atingido por um raio congelante ou algo assim. Ouvi Talassa gritar antes de invocar raios, que Luna bloqueou com um feitiço. Depois de mais ou menos cinco minutos de luta, Talassa caiu. Tentou paralisar Luna, que rebateu com perfeição. Ela estava indefesa. Todos sabíamos o que ia acontecer agora.

— Você nunca foi das mais espertas, Talassa. Sempre invejou minhas habilidades. Se uniu com as pessoas erradas, na esperança de ficar mais forte.

Luna agachou, pra ficar cara a cara com uma Talassa paralisada, a qual estava morrendo de medo.

— Nossa mãe deve ter nojo de você. Ainda não consegui imaginar como você conseguiu ter esse cajado — ela pegou o cajado, e fez o que Talassa relutava tanto: quebrou-o ao meio. Mas isso não importava. Não mais. — Você é uma vergonha para os filhos de Hécate. E, como tal, deve ser extinta.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido. Luna sacou uma faquinha de um dos bolsos da capa preta, levantou Talassa com um movimento de mão, deixando-a suspensa no ar. Depois, com apenas um movimento rápido e preciso, cravou-a no lado esquerdo do peito de Talassa, bem no centro do coração. Ela soltou um gritinho de dor e agonia, que logo foi sufocado. Antes de morrer, uma coisa extraordinária aconteceu: sua capa caiu, revelando seus cabelos, que caíram lisos e perfeitos sobre os ombros. Era como eles foram, antes de Talassa aceitar o cajado e receber aquele choque mágico. Seu olhar psicopata foi embora, deixando apenas doces olhos verdes, suplicantes. Ela deu um pequeno sorriso antes de ir embora para sempre.

Os monstros sumiram, fazendo todos os campistas darem golpes à toa para o ar, confusos. A floresta sumiu, revelando uma área sem árvores, apenas com uma vegetação rasteira e um pedregulho indicando aonde Percy estava. Um arco de luz passou, iluminando tudo, e parando finalmente no corpo de Talassa, que, segundos depois, explodiu em uma chuva de pó brilhante, que caiu no chão e sumiu.

Era a prece de Hécate por uma de suas filhas.


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Notas finais do capítulo

R.I.P eterno, minhas condolências, Hécate. Minhas condolências quem gostava de Talassa, minhas condolências, Taynara.



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