Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 35
Resgate




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— Mãe? — exclamei, completamente atordoado e atônito, simplesmente não conseguia acreditar no que via. Ela apenas sorriu.

Mãe?! — repetiram Louise, Julieta, Anastasius, Edward, Gabriel, e até Mason, surpresos, ao mesmo tempo, fazendo coro a mim. O único que não falou nada foi Colin.

— Agora! — ele gritou. Mas, por um momento, eu esqueci o que significava aquele sinal. Esqueci do que nós tínhamos planejado tudo antes de Talassa acordar, indo para longe para ter certeza de que ela não estivesse ouvindo.

Colin já tinha tudo em mente, era surpreendente o poder que os filhos de Atena tinham. Ele pediu para Gabriel pegar um toco de árvore e, com uma faca, fazer uma réplica o mais exata possível que ele pudesse do cajado de Talassa, e ficou realmente bom, bendito seja Hermes. Quando Talassa acordou, ele perguntou à ela: “Esse é seu cajado?”, ela afirmou, tornando o cajado falso oficialmente dela. Então, quando saímos, ele deixou o verdadeiro na caverna e trouxe o falso. Ele conseguiu, achou uma brecha no juramento que fez à Talassa: ela disse pra devolver o cajado dela, mas não disse qual dos dois. Ela não precisa do cajado pra fazer algumas mágicas, mas, pelo que vimos com Luna, ela certamente precisa dele para nos paralisar, ou seja, estávamos soltos, apenas fazendo um tremendo esforço para ficar parados na mesma posição por esse tempo todo. O jeito como ele previu exatamente o que cada um iria fazer foi simplesmente incrível. E agora ele dera o sinal, que devíamos parar de fingir e correr até termos uma ideia do que fazer.

Louise, vendo que eu não moveria um músculo, puxou meu braço antes de correr. Depois de ela me dar umas tapas na cara, eu acordei dos meus devaneios. Aquilo estava mesmo acontecendo? Era possível uma coisa daquelas?

— Ela é sua mãe? — ela perguntou, incrédula. — Eu pensei que ela tava...

— Morta. Sim, eu também pensei o mesmo, mas agora vemos que não.

— Agora eu sei de onde você puxou tanta idiotice.

Mas eu não ri.

Todos haviam corrido em direções diferentes. Tive um vislumbre do rosto de Talassa antes de Colin ter gritado. Ela havia descoberto tudo um segundo antes de Colin gritar, mas ele percebeu imediatamente que, visto que todos tinham falado, e Talassa só me “permitiu” falar, todos tinham se entregado.

— Talassa, sua inútil! Achei que você tinha eles sob controle! — ouvi minha mãe, se é que eu podia chamar aquilo de mãe, gritar.

Ouvi passos à minha esquerda, e Colin apareceu subitamente de trás de uma árvore, correndo com todas as forças para acompanhar eu e Louise.

— D-dylan… — ele ofegou. — Ela não é sua mãe!

— Parece muito bem com minha mãe, obrigado — respondi com frieza.

— Calma, depois eu lhe explico! Só continue correndo, estão vindo atrás da gente.

— Quem está vindo atrás da gente? — Louise perguntou, parecia que correr era natural pra ela, não dava nem sinais de cansaço.

— V-vocês vão descobrir cedo o bastante. Ou não, se não continuarem a... correr — e desapareceu pela floresta novamente.

— Odeio quando ele faz isso — exclamei.

— É, eu também.

Nós ouvimos um grito. Era uma voz fina e estridente, quase infantil. Julieta. Parei imediatamente, e Louise também. Era loucura, mas nós corremos no sentido contrário, indo direto para Talassa e minha mãe. Eu morreria, mas não deixaria uma amiga para trás.

Cheguei na clareira de novo, esperando ver Julieta espetada por uma lança, sangrando até morrer, mas não vi nada. Alguns segundos depois Anastasius, Edward e Colin chegaram de direções diferentes, provavelmente eles teriam escutado os gritos também.

— O que aconteceu? — perguntou Colin, quase gritando.

— Não sei, eu ouvi…

— Saiam daí! — gritou Julieta, de algum lugar atrás da gente. — Não fui eu quem gritou, foi o…

— Ciclope — completou Colin.

É claro. Ciclopes podem imitar a voz humana com perfeição. Ninguém contava com isso. De repente, antes que qualquer um de nós pudesse sequer correr, alguma coisa do tamanho de um poste de rua apareceu na nossa frente, sem mais nem menos, como se fosse ninja. Era vermelho como sangue, igual àquele que me atacou em Albuquerque. Na verdade, tinha as mesmas feições femininas que aquela ciclope tinha. Também usava a mesma tanga. Era aquela ciclope. Sua imagem tremeluziu como se fosse um holograma, e, um segundo depois, não era mais um ciclope, mas sim minha mãe novamente.

— Então, Dylan… Como se sente sabendo que trouxe seus amigos para a morte? E vocês, como se sentem sendo liderados por tamanho idiota? Se vocês tivessem o mínimo de consciência, dariam o fora daqui agora. Vão, eu deixo vocês irem. Só quero o Dylan.

Não sabia o que falar. Ela dera o veredicto. Só eu precisava ser morto, ninguém mais precisava ser ferido.

— Vão — falei.

— O quê? — disse Louise.

— Vão — repeti.

— Isso é sério? — ela gritou. — Você é mesmo idiota a esse ponto? Seu retardado mental! Acha que a gente percorreu todo esse país pra nada? Pra deixar você só? Se nós formos agora, de que terá servido o sacrifício de Mirina? Se nós formos, ela terá morrido por nada. Percy Jackson irá morrer, o Acampamento entrará e ruínas. Se nós formos, Dylan… — ela abaixou o tom, tornando-o quase dócil, mas ainda firme — você vai morrer. E ninguém aqui quer isso!

Imediatamente Anastasius levantou a mão.

— Eu quero. Mas não vou deixar ele morrer pela própria mãe, isso é ridículo.

Todo mundo assentiu.

— Olhe só, Dylan, acho que você fez alguns amigos esses últimos anos — disse minha mãe com sarcasmo.

— Amigos não, irmãos. Somos uma família. Coisa que, agora, você não é.

— Então morra com seus irmãos.

Ela levantou os braços. Ouvi um grande alvoroço na caverna atrás dela, e entendi o que significava. Ela tinha chamado aquela horda de monstros. Como eu havia pensado, monstros começaram a sair de todas as direções que se pode imaginar. Havia muito mais do que tínhamos visto. Minotauros, Quimeras, Cérberos, Fúrias, Centauros, Ciclopes menores e tudo o que você pode imaginar. Nós formamos um círculo, todos de costas, de modo que nenhum lado ficasse desprotegido. Olhei para minha mãe. Ela deu um sorriso, mas eu percebi uma pontada de preocupação nos olhos dela. Atrás daquele demônio eu sabia que ainda restava algo da minha mãe. Eu sabia que no fundo ela não queria fazer aquilo, queria mandar aqueles monstros embora, correr até mim e me abraçar. Eu podia ver isso… Mas não aconteceu. Ela deu a ordem, e os monstros correram em nossa direção. Não perdemos tempo, começamos a transformá-los em pó imediatamente. Mas sete pessoas não eram o suficiente. Isso mesmo, sete. Mason não aparecera ainda, e ninguém sabia onde ele havia se metido.

Quanto mais matávamos, mais monstros apareciam. Vi três deles encurralarem Louise, e corri até lá, matando uns dez ciclopes no caminho. Antes que uma Fúria pudesse espetar Louise com suas garras.

— Geralmente sou eu quem faço isso.

— É, geralmente. Pode me agradecer depois. Vamos ajudar os outros.

Ela olhou pra mim com um olhar diferente, que eu não sabia o que significava. Mas tinha que significar alguma coisa.

Antes de me dar conta, eu já estava cansado, com cortes por todas as partes. Os outros não pareciam muito melhores. Até Anastasius estava ofegando. Não iríamos conseguir. Depois de mais uma rodada de monstros, Gabriel não aguentou mais. Um monstro tirou sua espada, e antes que qualquer um de nós pudesse reagir, apontou uma lança para seu pescoço. Gritei “não”, suficientemente alto para a floresta toda escutar. Então, de repente, uma adaga voou com precisão em direção à lança, quebrando-a e salvando Gabriel. Ouvimos pessoas correndo e rosnando gritos de guerra. Estavam se aproximando da gente. Não era possível.

— E aí, Dylan? — gritou Rachel. Até ela soltava magia nos monstros, paralisando-os.

De repente, dezenas de campistas apareceram, assim como os monstros, de todas as direções. Todos pareciam muito inspirados, porque massacraram os monstros que não paravam de aparecer. Gabriel suspirou de alívio.

— Você tá bem? — perguntou Edward, levantando ele e entregando de volta sua espada.

— Agora sim — ele sorriu.

Literalmente o Acampamento todo estava lá, nos ajudando. Eu não sabia como eles haviam feito isso, mas assim que vi um borrão preto mastigando monstros para todos os lados, eu entendi. A Sra O’Leary tinha voltado para o Acampamento, para avisar a todos que nós precisávamos de ajuda.

O resgate chegara.






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