Uma história qualquer... Ou não. escrita por gaabiferrarini
A janela havia ficado aberta e eu acordei com o sol no meu rosto. Tentei lutar contra a claridade mas os raios de luz pareciam querer entrar dentro de mim e eu resolvi abrir os olhos. Lentamente eu me espreguicei e sorri. Comecei a lembrar de todos os sonhos bons que tinha tido durante a noite. E então me lembrei. O Ben havia dormido ali. Deveria ter dormido ali, mas não o encontrava em lugar nenhum. Um milhão de coisas vieram na minha cabeça e eu fui invadida por todas as más lembranças. Lembrei de todas as ameaças feitas pelo Antonio e do desenho que encontrei junto ao meu material escolar. O desenho que provava que ele ainda estava vivo, o que significava que ele poderia muito bem cumprir as ameaças que tinha feito contra o Ben. Levantei correndo da cama e sem pensar duas vezes corri em direção a porta. Com o pensamento longe eu não notei que ao mesmo tempo que eu saia alguém entrava. Trombei em algo e senti que o algodão da minha camiseta sugava um liquido que grudava a peça de roupa em meu corpo. Um estrondo me fez olhar para o chão e ai eu finalmente voltei a mim. Na minha frente estava o Ben, parado me olhando e rindo. No chão haviam cacos de vidro do copo de suco que se quebrou, suco esse que estava todo na minha roupa. O Ben se abaixou e pegou a única coisa que não havia se quebrado de toda a bandeja. Um pequeno vazo com algumas flores que eu podia perceber que acabaram de ser colhidas do jardim da praça. Ele me entregou o vaso e eu dei dois passos a frente para dar-lhe um beijo, mas desastrada como sou tropecei e acabamos os dois caindo no corredor.
– Ai ai ai ai ai.
– O que foi amor?
– Acho que eu cortei meu pé. Ta doendo.
– Calma. Não mexe. Deixa eu ver.
Ele olhou para meu pé e deu um suspiro que me assustou. Imediatamente eu me sentei e olhei para o corte que havia feito. O chão do corredor era uma mistura entre cacos de vidro, farelos de pão, geleia, pratos e sangue.
– Ben, acho que eu não estou passando…
– Anita! Anita acorda!
Abri os olhos assustada e vi o Ben. Meu rosto estava entre as mãos dele e ele gritava meu nome. Estava um pouco tonta até que senti uma pontada. Sabia que meu pé estava péssimo, mas não tinha forças suficientes para levantar.
– Anita fala comigo. Sofia, corre Sofia.
Eu olhava para ele mas não entendia. Porque que é que ele gritava chamando minha irmã? Será que eles ainda estavam juntos e tudo aquilo havia sido um sonho? Ben chacoalhava minha cabeça e pedia uma resposta mas nada saia da minha boca. Eu ouvi alguém subir as escadas correndo e vi quando seus cachos loiros surgiram por trás do Ben, que naquela altura estava com o rosto colado no meu, me impedindo de ver sequer onde eu estava.
– Calma Ben. Ta aqui, toma. A culpa não é minha se não achava nada congelado la na geladeira.
Imediatamente eu senti uma pressão no pé machucado. Ben havia feito um torniquete com alguns panos de prato e punha gelo no corte na esperança que parasse de sangrar. Ou que pelo menos diminuísse. Meus olhos começaram a se fechar e eu só ouvia os dois conversando. Parecia tão surreal que por mais que eu tentasse ao máximo prestar atenção, quase não conseguir entender o que aquilo tudo significava.
– Ben acho que só esse gelo ai não vai parar.
– É eu percebi Ai não precisa ser grosso comigo. Só estou tentando ajudar
– Sofia, eu não estou sendo grosso mas você não precisa falar algo que esta na minha cara.
– Se esta tao na sua cara porque que é que parece que você não está vendo?
– Sofia, é claro que eu estou vendo.
– Ah ta sim, ta vendo tanto que nem…
– Perai Ben, acho que ela ta desmaiando de novo. Te falei que a Anita sempre foi de perder muito sangue quando se machuca, desde pequena ela é assim. E esse corte ai no calcanhar pode ter pego algum veia, sei la.
– Anita! Anita fala comigo. Anita.
Eu não tinha força para abrir os olhos, mas senti o mexer do meu corpo quando Ben me tirou do chão e desceu as escadas correndo comigo no colo. Sofia tentava falar com alguém no telefone atras de nós e ele foi cada vez correndo mais e mais e ai eu apaguei totalmente.
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