Eu estava sentada na minha cama olhando para a janela. O vento frio entrava formando uma corrente de vento que zunia em meu ouvido. Estava com frio, com sono e com medo. Mas eu não conseguia levantar. Aquele desenho me assustou. Não era possível que essa história nunca fosse acabar. Eu já havia passado por tanta coisa. Já havia deixado parte de mim se perder nesse caminho. Partes que eu tentava reencontrar todos os dias, mas não conseguia. Eu queria minha inocência de volta. Eu sabia que o Ben tentava me deixar tranquila e me dar de volta o que eu tinha deixado pelo caminho desde a noite no acampamento. Aquela que tinha sido a melhor e a pior noite da minha vida. Eu estava totalmente perdida nos meus pensamentos quando ele entrou de novo no quarto.

- Ei. O que foi? Fecha essa janela. Olha esse frio.

Ele tinha notado que eu não estava bem. Afinal é o Ben, a pessoa que me conhece melhor que qualquer um no mundo todo. Ele sempre sabe tudo que eu estou pensando e sentindo, e naquele momento não foi diferente. Eu tinha que contar pra ele sobre o desenho. Tínhamos prometido um para o outro que não haveriam mais mentiras, que não esconderíamos mais nada um do outro. Ele me olhava daquele jeito de quem espera uma resposta ansioso e receoso.

- Principe. Senta aqui.

Ele se sentou na minha frente e olhou pra mim. Aqueles olhos esverdeados pareciam penetrar minha alma e impediam que eu deixasse qualquer parte da verdade de fora. Ao mesmo tempo que me traziam calma, me deixavam nervosa e preocupada. Eu sabia que não conseguiria viver sem aquele olhar.

- Anita, você ta me deixando nervoso. Fala logo.

Pelo tom da voz dele eu sabia que aquilo era a pura verdade. Raramente ele me chamava de Anita. Mas eu não conseguia dizer nada. Eu simplesmente me levantei, peguei o desenho na escrivaninha e entreguei a ele. Enquanto ele observava cada detalhe que um lápis havia desenhado naquela folha, eu olhava pra ele. Sabia muito bem que meu olhar dizia “me ajuda” e não tentei esconder nem por um segundo isso. Eu realmente queria e precisava da ajuda dele. E ele percebeu isso assim que levantou a cabeça e viu tudo aquilo que eu passava só com um olhar.

- Calma princesa. Ei, ei, para de chorar. Por favor. Vai ficar tudo bem.

Eu nem havia percebido. Em algum momento lágrimas começaram a cair pelo meu rosto e a hora que puis a mão no peito senti que minha blusa estava encharcada. Eu estava chorando a mais tempo do que imaginava. Num rompante desesperado eu abracei o Ben com toda a força que eu tinha. Nós ficamos os dois ali sem falarmos nada. Ele me deitou em seu colo e ficou ali comigo e eu fui parando de chorar e me acalmando. Eu comecei a sentir meus olhos pesarem e eu não conseguia deixa-los abertos. Eu fui me aconchegando no colo dele e deixando-me levar pelo sono enquanto ele ia fazendo cafuné. Me agarrei a ele de maneira que o impedia de ir embora e me deixei levar pelos sonhos, que ao lado do Ben eram sempre tranquilos e alegres. Nem me importei se alguém entraria e veria aquela cena. Eu só queria conseguir dormir bem aquela noite. E aquele lugar, os braços dele,eram o melhor lugar para se fazer isso. Aquele era o lugar que eu pertencia no mundo.