Coração Indomável escrita por Drylaine


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Aqui sai mais um capitulo q eu gostei muito de escrever. Foi um pouco difícil escrever no POV da Bella, mas foi necessário. Recomendo que ousam a musica do capitulo q é muito bonita. Eu peço q vcs comentei, Por favor!



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“Hoje eu vejo que não consigo entender

O que houve entre nós

Eu ainda consigo ouvir sua voz

Me dizendo o que eu já sei

 

Tudo tem um começo e um fim

Eu vejo a dor em seu olhar

E mesmo sem querer eu te deixo partir

Pra que possa tentar ser feliz outra vez

Recomeçar

 

E quando eu me perco em suas memórias

Deixo o espelho contando histórias

Sei que é difícil de esquecer essa dor

E quando penso no que vivemos

Fecho os olhos, me perco no tempo

Pra mim não acabou”

 

BELLA

Eu sempre fui solitária, nunca de multidões. Sempre preferi meu próprio mundo e poucas pessoas eu deixava fazer parte dele. Minha mãe sempre esteve lá pra mim, mas mesmo assim, o buraco negro de solidão sempre existiu dentro de mim. Simplesmente, nunca consegui me encaixar em lugar nenhum. Então, meu retorno a Forks mudou as minhas perspectivas. Além de morar com meu pai e me adaptar a uma nova rotina, eu ainda conheci Edward Cullen.

A primeira vez que o vi foi impactante. Como eu não ficaria fascinada por ele e seus olhos de topázio enigmáticos e sua beleza hipnotizante. Ele parecia um deus perfeito, magnífico e inalcançável. Nosso primeiro contato foi horrível, frio, indiferente e me fez sentir inferior ou insignificante diante dele. Eu nunca havia me sentido assim. Naquele momento me senti ferida e humilhada, porque os outros garotos pareciam me notar, querendo minha atenção como se eu fosse interessante e especial... Não que EU me importasse com eles. Quanto à Edward, ele me olhava com olhos sombrios, furiosos e com um certo medo. Medo de mim e isso me frustrava muito.

Eu queria desvendar os mistérios sobre os Cullen e, sobretudo, ELE. O homem que perturbava os meus sonhos, que fazia meu coração acelerar e que estava constantemente em minha mente. O homem que salvara minha a vida de repente, num piscar de olhos. Então, Jacob Black foi a chave para o mistério. O garoto quileute inocente e simpático havia me dado as respostas que eu tanto procurava. Edward Cullen era um vampiro de 100 anos, vivendo com sua família imortal e perfeita.

 Quem não teria inveja ou não desejaria fazer parte deles? Viver pela eternidade, ter uma beleza incomparável, ser sempre jovem e ainda possuir uma força sobre-humana?

Eu vi pessoas morrerem de formas muito dolorosas e, ás vezes, precocemente. Eu assisti minha avó Marie se deteriorar, dia após dia, vítima de um câncer. E foi aí que percebi o quanto o ser humano é fraco. Imperfeito. Limitado a aceitar que a velhice é natural e que a morte é a sua única certeza. E, portanto, eu não queria nada disso. Era quase como uma obsessão. Eu queria a imortalidade e tudo que ela possui. E ainda tinha a beleza de amar alguém que será sempre ligado a você pela eternidade.

Edward era como um príncipe dos contos de fadas, não que eu fosse uma garota boba e ingênua a espera de sua alma gêmea. Eu nunca planejei conhecer alguém como ele e acabar me apaixonando irrevogavelmente, mas aconteceu. Era uma relação perigosa entre um humano e vampiro e eu não me importava. Nada iria mudar as minhas decisões. Eu já tinha um plano.

Então, vieram os riscos, as consequências dessa relação. James quase me matou, mas Edward me salvou novamente. Depois Jasper me atacou pronto pra me transformar em sua presa. Aqueles olhos selvagens me assustaram, e nem isso foi capaz de me distanciar do que eu queria. Eu estava ficando cada vez mais velha a cada dia e eu queria a minha juventude ao lado de Edward e, acima de tudo, estava cansada de continuar sendo esse ser frágil e imperfeito.

Eu quero ser forte como Emmett, tão destemido como Jasper, linda como Rosalie e tão invencível e hipnotizante quanto Alice e Edward. Entretanto, meus planos foram destruídos, exatamente por ainda continuar sendo um mero humano, que não era bom o suficiente para Edward e sua perfeição. Ele me deixou sem olhar pra trás no escuro e vazio da floresta. Ali eu reencontrei minha solidão, a única aliada para minhas dores. Eu voltei a apreciar a solidão, pois para mim era o bastante, nada mais importava sem o meu Edward. Nem a escola, nem meus colegas de classe, nem Charlie.

Não é que viver com Charlie fosse ruim, ele é um cara legal, um bom xerife, um homem honesto e simples, tentando fazer o possível e até o impossível por sua filha estranha e complica, porém nossa relação já vinha se desgastando ao longo dos anos. Charlie nem sempre esteve lá pra mim, mas eu nunca cobrei isso dele, mesmo que no fundo houvesse uma certa mágoa. Mas, isso é a consequência de um casamento precipitado e uma separação precoce. Eu me senti forçada a ter que aceitar meus pais separados, tendo que ser dividida entre os dois e, no fim, não tendo uma família completa. Era por isso que eu preferia a solidão, pois era mais fácil estar só, do que viver com alguém que um dia irá te abandonar, ou te rejeitar.

Foi só quando Edward entrou em minha vida que eu senti que não queria ter a solidão por perto, e daí pra frente criei uma dependência por Edward Cullen. Era como se ele fosse meu ar, sem ele eu não poderia respirar. Sua ausência me deixou doente, depressiva. Eu acreditei que não havia cura para o meu mal sem ele.

Entretanto, ainda havia Jacob com seu sorriso radiante e sua determinação inabalável. O único capaz de chegar até mim...

Quando voltei para Forks eu nunca imaginei que minha vida fosse mudar tão drasticamente em apenas um ano. Eu reencontrei meu antigo amigo de infância Jacob Black, o garoto de sorriso fácil e abraços calorosos. Sempre foi fácil estar na presença dele e, mesmo com tantos anos sem se ver, parecia que nada havia mudado nele. Eu por outro lado, não me sentia mais a mesma. Quer dizer, em partes eu ainda era a mesma Bella solitária, a garota que se sentia fora de órbita, apenas tentando se manter nessa vida medíocre. Ainda assim, precisei de Jacob por perto pra iluminar a minha vida. Ser o meu sol no meu momento mais obscuro. Ele era o único capaz de me fazer sorrir pela simples bobagem que fosse. O único capaz de me fazer feliz e amada tão genuinamente, sem eu nem fazer esforço pra conquistá-lo.

As melhores lembranças da minha infância foram ao lado de Jake. Ele é aquele tipo de pessoa que trás luz por onde passa e isso não mudou. Eu me lembro que ele sempre me defendia dos outros, sempre cuidava de mim. Eu adorava ir a La Push só para vê-lo. Eu também o invejava, porque ele tinha uma família grande, pais presentes, irmãs mais velhas e muitos amigos. Aliás, Jacob era meu melhor amigo que eu confiava incondicionalmente. O irmão mais novo que eu não tive e, às vezes, ele também podia se passar pelo meu irmão mais velho. Outras vezes, Jake era apenas um menino rebelde que também poderia ser a pessoa mais sincera, leal e principalmente, muito apaixonante. Mas, o que nós temos mais em comum é a imprudência. É aí que as coisas se complicaram entre a gente.

 Pra mim, ele era apenas meu melhor amigo, para ele eu era a garota dos seus sonhos e a dona do seu coração. Infelizmente, meu coração já tinha um dono, pois mesmo a dor agoniante que vivia dentro de mim, era o vestígio que Edward era muito mais que uma ilusão. A dor o tornava real e já fazia parte do meu ser. Contudo, eu era egoísta, não poderia retribuir o amor que Jake sentia por mim, mas ao mesmo tempo, também não poderia afastá-lo.

Eu necessitava dele, desesperadamente, pra que eu continuasse sobrevivendo.

O dia em que pulei do penhasco,  achei que daria um fim a minha vida inútil. A sensação foi de pura adrenalina, quanto assustadora. Deixei as águas tempestuosas me engolirem. No fim a morte seria indolor. E no meio da escuridão ouvi a voz aveludada de Edward me chamando, porém foi a voz rouca e forte de Jake que me trouxa de volta.

Quando abri meus olhos encontrei olhos cintilantes negros como a noite. Ele me segurou firme em seus braços, me aqueceu com o seu calor e me fez enxergar o quanto a minha vida valia para ele. O quanto eu era importante e, naquele momento, me senti protegida e até especial.

Jake tinha um dom, ele era como o sol que nasce pra aquecer e irradiar luz.

Por um momento, não havia mais solidão, nem dor e nem melancolia. Mas, foi só por um momento. E, então, tudo mudou...

Eu vi a dor que causei nele, mas eu tinha que salvar meu Edward. E nada podia me parar. E nada era mais importante que ver meu amor seguro, perfeito e intocável. Ninguém iria machucá-lo. Eu até fui capaz de enfrentar a realeza Volturi por ele.

Logo, Edward voltou pra mim e fez promessas. Ele jurou que nunca mais iria me deixar, que sem mim sua existência não tinha nem um valor. Sendo assim, planos voltaram a ser feitos. Ele iria me transformar em um vampiro e em trocam eu me casaria com ele.

Eu iria me tornar a senhora Cullen.

Já estava tudo perfeito, tudo em seu devido lugar. Eu já tinha feito a minha escolha. Só que minha felicidade ainda era incompleta, porque ainda faltava o meu sol. Ainda faltava o meu amigo leal e teimoso perto de mim. Eu sentia tanta falta dele. Entretanto, eu me tornaria logo o seu inimigo natural e Jake iria me odiar. Isso se já não me odiasse.

Ele era um metamorfo, criado pra caçar vampiros e proteger o seu povo. Mas, o destino tem um jeito estranho de controlar nossas vidas e, ironicamente, vampiros e lobos tiveram que se unir pra me proteger contra Victoria e seu exército de recém-nascidos. Eu temi por cada um deles, mas Jake era o que mais atormentava minha mente.

Jacob continuou com sua persistência inabalável de me conquistar, ele era tão teimoso e decidido a me fazer escolher ele. E o meu teimoso garoto lutou com todas as armas possíveis e até impossíveis. E ele plantou a semente da dúvida em mim, quando me beijou na primeira vez e eu o odiei tanto por fazer isso.

Eu o odiei por perturbar o meu sono. Por ME fazer LHE querer quando eu já tinha feito a minha escolha. Eu  até tentei lutar com toda a minha força contra esse sentimento, porém as coisas fugiram do meu controle. Já não conseguia controlar meus sentimentos gritando dentro de mim. E cada vez que lutava contra isso, eu não apenas feria Jacob, mas a mim mesma.

Eu não poderia suportar mais vê-lo sofrer por mim. Entretanto, Jake estava disposto a morrer por este amor.  E eu não poderia imaginar meu sol não mais brilhar. Eu não poderia me imaginar sem ele na minha vida.

Eu supliquei por ele, pedi que ficasse por mim. Me declarei... Quis sentir seus lábios nos meus mais uma vez. Nem que fosse pela última vez. Seria pra mim como uma bela despedida.

E, assim, no topo da montanha Jacob me beijou insanamente, sem medo. Em seus braços fortes, me deixei ser levada para um lugar somente meu e dele. Que não havia dor, medo, incertezas e nem solidão. E, naquele momento, eu sabia que ele era a escolha certa e nos beijamos uma, duas e mais outras vezes... Todos os sentimentos foram colocados ali diante de nós.

"Vá e depois volte pra mim. Eu vou te esperar." Então, eu voltei para Edward, houve uma compreensão silenciosa entre a gente. Ele me recebeu de braços abertos.

Uma parte da minha cabeça estava gritando: "Você já fez a sua escolha, é tarde demais pra voltar atrás. Essa é sua chance de ser imortal, indestrutível e perfeita. Esqueça Jacob! Edward é a sua salvação!"

Todavia, a batalha aconteceu... Victoria e seu exército foram derrotados. Mas, ainda havia um problema. Um muito mais complicado e perigoso − Os Volturis.

Minha cabeça trabalhava a mil, eu queria ver Jake, ele havia sido ferido durante a batalha e meu coração parecia doer só de pensar nele e sua dor. No entanto, eu tinha que ficar aqui ao lado de Edward, eu tinha que escutar a minha sentença.

Os Volturis eram cruéis, eles queriam mostrar seu poder e superioridade. Eles me deram um ultimato. Não havia saída, nem um plano de escape. No fundo eu sabia que era tarde pra voltar atrás. Bella Swan daria adeus a sua vida humana para se tornar um imortal.

Bella Swan teria que dar adeus ao seu sol particular!

E aqui eu estava diante dele deitado em sua cama, abatido, ferido, só que a dor que eu causaria a ele seria muito mais dilacerante e, talvez, sem cura... eu sabia disso. Me ajoelhei ao seu lado e entrelacei nossas mãos. Percebi que o contraste de nossas peles pareciam perfeitas juntas. Jake sempre dizia que nós éramos como leite e chocolate, que juntos fazem uma perfeita combinação. É ele  tinha razão.

"Você sabe que eu nunca te esqueci. Eu me lembro do nosso primeiro beijo. Você se lembra dele?"

"Foi há tanto tempo, Jake. Nós éramos só crianças bobas."

"Eu sinto falta daquele tempo, onde tudo era mais simples e divertido."

"Eu também! Você se lembra o que eu te disse naquele dia?"

"Sim. Você disse que nunca iria esquecer de mim."

"Eu nunca poderei te esquecer. Você sempre será... especial pra mim."

"O que é isso? Uma despedida?" Ele ficou mais agitado. Seu olhar era de dor. Dor não apenas física. Eu respirei fundo. Era agora ou nunca.

"Eu já tinha feito a minha escolha. E você sabia desde o começo que sempre foi ele." As palavras saíram tão afiadas e eu sabia que não tinha volta.

"Você nunca deveria ter me beijado de volta se no fim você ia voltar pra ele. Isso foi tão injusto e covarde." Ele estava preste a quebrar emocionalmente em minha frente.

"Eu sinto muito."

"Sentir muito... não melhora as coisas. Eu preferiria ter morrido lá. Seria tão mais fácil." Ele se remexeu na cama e apertou seus olhos dolorosamente.

"Não, Jake! Não diga isso!"

"Sabe Bells... Eu era exatamente certo pra você. Teria sido fácil pra nós, confortável. Simples como respirar. Eu teria sido o caminho natural. Eu teria sido mais saudável pra você... E não uma droga viciante como ele. Eu teria sido o ar... o seu sol." Eu não podia mais lutar contra as lágrimas que se formaram em meus olhos.

"Você sempre será o meu sol particular. Sempre equilibrando bem as nuvens pra mim."

"Das nuvens eu posso cuidar. Mas, eu não posso lutar contra um eclipse." Ele segurou a minha mão com ternura. "Eu vou continuar te esperando."

"Até que meu coração pare de bater."

"Talvez, até depois. Eu ainda vou continuar te amando." Meu coração se aqueceu com suas palavras.

Seria um sonho realizado, ter a minha imortalidade, Edward e o meu sol comigo. Era apenas uma ilusão, mas que ainda assim me iluminou...

 

LEAH

Eu corri desesperada, sem olhar pra trás. Meu coração batia alucinado. Em minha mente se passava imagens dele caído e gritando de dor. Aliás, seus gritos ainda retumbavam dentro da minha cabeça, me fazendo se sentir mais culpada.

Era pra ter sido eu lá e não Jake.

"Garoto estúpido!" Nada disso era pra ter acontecido. E se ele morrer. E se ele estiver envenenado e se...

"Para, Leah! Ele não vai morrer. Jacob está bem e seguro. O Doutor Carlisle está cuidando dele." Sam havia entrado em minha mente.

"Sai da minha mente, AGORA!" Eu desacelerei, mas não parei.

"Leah, pare e volte!"

Droga! As minhas patas travaram, eu continuei tentando lutar contra o comando, mas era mais forte do que eu. Meu corpo todo tremia.

Eu queria poder voltar à forma humana e não ouvir a sua voz em minha mente. Só que eu não conseguia e isso me deixava mais nervosa e frustrada.

Mais que porcaria! O que estava acontecendo comigo, afinal? Era como se eu não pudesse controlar o meu próprio corpo ou o animal dentro de mim.

"Isso é normal. Eu já senti isso." Sam diz com sua voz calma, que só servia pra me irritar mais.

Me lembrei de uma memória dele. Realmente, Sam já sentira isso na pele, quando ele atacara Emily e pensava que ela havia morrido. A pressão e o desespero foi tão grande que Sam ficou vagando por três dias na floresta em forma de lobo. Dizem que foi difícil acalmar o lobo. Deve ser essa mesma sensação que ele deve ter sentido.

"Então, você vai voltar agora e nós vamos conversar."

Quem ele pensa que é? Eu não sou uma criança ou uma pessoa retardada.

Eu tentei me concentrar mais uma vez. Eu queria e precisava voltar a forma humana, só assim eu teria um pouco de paz. Eu estava quase perto do meu lugar secreto. Perto do riacho. O problema é que  continuei empacada. Eu rosnava furiosa e me contorcia no chão, assustando os pássaros que vagavam pelas árvores. Cada vez que eu tentava bloquear a minha mente e me concentrar, mais eu sentia meu corpo ficar tenso e travado. Isso me causava uma dor por todos os meus músculos e fazia minha cabeça latejar. Meus pêlos devem estar ouriçados.

"Caramba, Leah. Para de ser teimosa." Sam continuou gritando, ele estava correndo pra me encontrar. Eu senti vontade de chorar de ódio.

Eu não queria voltar, me sentia tão melancólica, vulnerável e frustrada comigo mesma, por não ser capaz de ter força pra lutar contra esse poder que me oprimi e me prende a este lugar. Que me prende nesse corpo de animal. Era como se eu não fosse mais dona do meu próprio corpo.

"Leah fique calma! Deixa a natureza fazer o seu caminho normal. Não tente confrontar o animal dentro de si ou só lhe causará mais dor. A loba é uma parte essencial do seu ser." A voz estava ficando mais próxima de mim.

Eu continuei me contorcendo no chão e rugi de dor. Estava com tanta raiva queimando dentro de mim. Eu não queria continuar dividindo meu corpo com a loba cinza. Então, o lobo negro apareceu em minha frente.

"Saía daqui!" Eu rugi enfurecido e tentei me levantar e forçar as minhas patas a andarem. "Não me toque!" Eu parecia uma fera voraz.

"Leah, você tem que se acalmar. Tem que parar de ser uma cabeça dura. Não é o lobo que está lhe causando dor ou lhe prendendo aqui, é você mesma. E só você pode parar de se machucar." Sam tocou o seu focinho gentilmente no meu. "Vamos lá, Leah. Você consegue."

"Eu não quero." Mais a verdade é que eu me sentia exausta.

"Pense em sua mãe, em Seth e seu pai. Jacob com certeza vai querer te ver. Você deve ir vê-lo. Ele precisa de nós."

"Eu só estrago as coisas. Eu não posso. Por que você não me deixa ir?! Seria melhor pra todo mundo. Se você me ama... me deixa eu ir. Deixe-me ser livre!" Eu suplicava desesperada.

"E aonde você iria? Há um animal vivendo dentro de você que  nem consegue controlar. E se você perdesse a cabeça e machucasse alguém inocente?” Aquilo me causou medo. “Pare de ser covarde! Harry não te criou pra ser uma covarde." Essas palavras me fizeram pensar em Jacob.

Desmoronei no chão e chorei por dentro. Um choro sem lágrimas, formando um nó na minha garganta e deixando meu coração pesado, causando uma grande angústia. Eu não queria que Sam me visse tão quebrada e vulnerável.

"Deixe seu corpo descansar. Ouça a floresta, se concentre nos detalhes, nos cheiros, sons e cores. Se deixe reconectar com os Espíritos. Eles estão aqui." Eu fechei meus olhos e segui os conselhos de Sam. Me deixei se levar pelas sensações da floresta e seus detalhes. Aos poucos meu corpo foi voltando ao seu fluxo natural e encontrando seu ponto de equilíbrio.

Logo, a pequena loba cinza deu lugar aos contornos femininos de meu corpo nu. Vi o Alfa correr pra dentro da floresta e, segundos depois, retornar já em sua forma humana, devidamente vestido num shorts jeans. Eu me levantei ainda desafiando o olhar desconcertado de Sam.

"Aqui, encontrei suas roupas." Ele me entregou uma blusa e um shorts curto e desviou sem olhar do meu.

Droga! Seu perfume estava impregnado no ar e isso mexeu comigo mais do que deveria. Me vesti rapidamente ignorando seus olhares.

"Eu estou pronta pra voltar." Nos olhamos mais uma vez, antes de seguirmos em forma humana de volta a reserva. O caminho foi longo e silencioso. Foi melhor assim.

 

***/ /***

Toda a matilha estava na frente da casa dos Black. Vi uma caminhonete alaranjada estacionada ali, que eu sabia exatamente de quem era.

Eu não acredito que ela teve a coragem de vir aqui. Pra quê? Pra fincar mais um pouca a faca no coração dele. No fim das contas, eu sabia que ela podia amar Jacob, mas ainda assim, ela ficaria com o sanguessuga rico, belo e imortal. Isso era um fato!

Os garotos me fuzilaram com os olhos, pareciam muito bravos comigo, mas permaneceram em silêncio. Seth foi o único a se manifestar e correr ao meu encontro.

"E aí Lee... Sua maluca, você voltou." Ele me pegou em seus braços me dando um abraço de urso.

"Uhhh Seth, me deixa respirar um pouco... eu tô bem." Trocamos um olhar de compreensão e um sorriso de alívio. Um alívio por estarmos seguros e juntos depois de tudo. Mas, ainda tinha a parte mais difícil... Confrontar Billy que tinha um olhar preocupado e uma expressão abatida. Respirei fundo e segui até ele.

"Me perdoe, Billy!" Eu me ajoelhei na sua frente, em sinal de respeito e súplica. "A culpa é minha! Eu..." Minha voz quebrou, eu senti uma imensa vontade de chorar.

"Shhhh... está tudo bem. É isso que importa. Jacob vai ficar bem, só temos que estar aqui pra ele. Porque ele vai precisar." Billy disse com tanta calma e paciência, senti suas mãos calejadas em meu cabelo me reconfortando e isso me fez tão bem. Por um instante, fechei meus olhos e imaginei meu pai aqui. Billy era como um segundo pai, sempre sendo sábio, forte e atencioso com todos.

Eu percebi que o bando foi se dispersando, provavelmente, voltando pra suas casas e famílias. Só ficaram eu, Seth, Billy e, claro, as vozes de Bella e Jacob em seu quarto.

"Eu vou te deixar ir por agora, na esperança que você um dia volte pra mim." Eu ouvi as palavras sussurradas pela voz de Jacob soltas no ar, segundos depois de Bella ter descido as escadas. Sua palavras não foram ditas pra ser ouvidas por ela, mas eu as ouvi sem querer.

Ela se despediu de Billy e Seth e trocou um olhar sombrio e duro comigo. Era nítido que nós nunca iríamos ser amigas.

"Lee, onde você vai?"

"Só me dê uns minutos e eu já volto, Seth." Eu decidi resolver um acerto de contas. Eu precisava descontar minha raiva em alguém. E ela era perfeita.

Quando Bella saiu de lá eu ouvi os soluços dele e isso me fez mais irada. Jacob merecia mais que alguém como Bella Swan. Ela não valia nenhuma lágrima derramada.

Corri para a estrada e parei bem na frente de sua picape a fazendo frear bruscamente. Seu coração batia acelerado, ela me olhou assustada.

"Saia! Precisamos conversar."

"O que você quer?" Ela saiu sem hesitar, batendo a porta. "Já não basta o que você fez. Você quase o matou." Cerrei meus punhos com força.

"Não seja hipócrita. Você veio aqui pra torturar mais o Jacob e acha que tem o direito de me acusar? Aliás, não fiz nada disso pra machucar ele de propósito. Enquanto a você... parece ter um desejo sádico de vê-lo sofrer."

"Cala a boca! Acha que eu gosto de vê-lo sofrer por mim. Eu o amo, mas..."

"Mas o quê? Desde o inicio você o usou, você o fez acreditar nesse amor insensato." Ela desviou seu olhar do meu.

"O que você quer, afinal?" Ela disse tentando manter a calma.

"Queria ver o quanto covarde e fraca é você." Eu queria lhe causar dor tanto ou mais do que ela fez a Jake.

"Pare!" Ela mordeu o lábio nervosamente antes de continuar. "Me deixe em paz. Eu já estou exausta disso tudo."

"Eu ainda nem comecei." Eu me aproximei mais dela, desafiando seu olhar. "Sabe, eu nunca confiei em você. Por trás dessa sua postura frágil e solitária, existe uma garota egoísta e  manipuladora." Ela ficou emburrada.

"Você não sabe nada sobre mim. Você é tão fria e seca por dentro e me odeia, só porque eu tenho pessoas que se importam comigo de verdade. E não alguém como você que eles são obrigados a suportar por perto." Meu sangue ferveu.

"Cala a sua maldita boca!" Ela deu um passo pra trás, então, a encurralei contra o capô da picape. "Mas, eu diferente de você, seria incapaz de fingir e jogar com os sentimentos das pessoas que eu amo. Eu não finjo pra fazer os outros gostarem de mim. Eu sou de verdade, sem máscaras." Ela fechou o cenho e desviou o olhar.

"Eu não estou fingindo pra ninguém. Eu só tô tentando ser feliz, talvez, eu tenha cometido os meus erros, mas tudo o que eu fiz não foi por nada. Eu só..." Parecia que ela estava tentando se convencer de suas próprias palavras. "Eu só quero ter a minha felicidade por completo."

"E sua felicidade é ser imortal e nada mais importa. Nem mesmo Jake, o garoto que te ama tanto e nem o seu pai." Seus olhos se tornaram sombrio.

"É por eles também que estou fazendo isso." Ela se encolheu toda e fechou os olhos lacrimejados. "Os Volturis... eles me deram um ultimato. Não há uma rota de fuga. É tarde demais pra voltar atrás." Suas palavras saíram num murmúrio.

"O que isso quer dizer?" Eu me senti um pouco tonta. "Espera, você não pode fazer isso. É loucura!" Agora eu estava perplexa.

 Seria possível que ela estava sendo forçada a se tornar uma vampira?

"Esquece isso. Por que se importa tanto?" Ela deu de ombros.

"Nós somos os protetores, temos que proteger humanos. Independentemente, se são estúpidos como você." Bella me ignorou e tentou entrar no carro, mas eu a impedi.

"Deixa-me ir!" Travamos nossos olhos. "Eu já fiz a minha escolha e nada vai mudar isso." Seu tom era obscuro assim como a chegada da noite. "Eu vou me casar com Edward Cullen. Eu vou ser imortal, forte e... Perfeita." Eu só estava esperando sua máscara cair. Agora eu via o quanto Bella Swan parecia louca com seus olhos insanos e sua mente distorcida. Isso me deu pena.

Um silêncio tenebroso pairou no ar, me causando um arrepio.

"É melhor você voltar para os seus preciosos Cullen. Ah, e não se preocupe com Jake. Eu vou cuidar bem dele." Dei-lhe um olhar frio. "Eu vou fazer ele esquecer que um dia Bella Swan existiu em sua vida."

Eu segui para casa dos Black, ouvindo o motor do carro ligar e se misturar com o som de seus próprios soluços.

Um dia ela ainda vai se arrepender das escolhas que fez.

 

***/ /***

Seth e Billy conversavam animadamente na cozinha, silenciosamente, eu segui para o quarto de Jacob. Me sentia tão exausta desse longo dia, mas não era apenas uma exaustão física, era também emocional.

Cheguei ao quarto dele, a porta estava fechada, eu hesitei antes de entrar. Fazia tanto tempo que eu não vinha aqui. Tanto tempo que não dividíamos a cama conversando e contando histórias malucas, ou fazendo guerra de travesseiro ou de cócegas até cansarmos e adormecermos juntos. Bons tempos, que não voltam mais.

Eu entreabri a porta com cuidado. Quando o vi ali, deitado na cama, todo enfaixado e dormindo com uma expressão de dor, meu coração se partiu. Eu entrei cautelosamente no quarto tentando ao máximo não acordá-lo.

O quarto não havia mudado muito, talvez, só a cama que agora era maior. Mas, o resto ainda era o mesmo, ainda era um tanto bagunçado. Olhei para uma prateleira cheia de carrinhos. Tinha um em especial que eu havia lhe dado no aniversário de 13 anos, que Jake disse ser: "O MAIS MASSA!" Eu sorri com a lembrança.

Caramba, há quanto tempo a gente esqueceu desses pequenos momentos tão importantes entre nós dois?

Voltei a olhar pra ele e seu corpo abatido na cama. Por trás do semblante de dor que marcava o seu rosto bonito, eu enxerguei traços do pequeno Jake, com seu jeito infantil. Naquele momento eu não pude parar as lágrimas. Lágrimas que há muito tempo, estavam presas dentro de mim.

Me ajoelhei do lado da cama, passei carinhosamente minhas mãos por seu rosto e cabelos. Segurei sua mão com delicadeza e lhe beijei ternamente.

"Eu sinto muito, Sarah. Eu quase falhei. Eu lhe prometi que eu ia cuidar dele e, dessa vez, eu não vou falhar..." Eu me deitei ao seu lado e fiquei admirando seu rosto sereno, meus dedos deslizaram por sua pele.  “Eu sempre vou estar aqui pra você, Jake. Mesmo que me mande em mora.” Sob meu toque Jake deixou um suspiro lhe escapar da garganta. "Shhhh... Vai ficar tudo bem agora."

"Minha Bella!" Ele sussurrou ao ar, fazendo meu coração se apertar mais.

"Eu vou fazer você esquecer dela. E isso é uma promessa!"

 

 

“Sei que você vai seguir, mas eu não vou desistir

Eu espero que você se entregue nesse amor

Sei que você vai seguir, mesmo com a dor vai lembrar de mim”

 


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Notas finais do capítulo

Por enquanto é só. Os próximos veremos como Leah fará pra curar o coração partido do nosso lobinho querido. Bjus!!!



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