Melhor do que nunca. - Oneshot escrita por Blue Cupcake


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Se chegou até aqui, boa leitura ^-^



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Percy Jackson nunca se sentira tão estranho.

Depois de receber aquela notícia e depois de tudo o que aconteceu, o garoto não conseguia deixar de sorrir, não sabia o porquê. Apenas se lembrava do que tinha sentido naquele beco e sentia um misto de saudade e alegria, simplesmente assim.

Sentado na cama, relembrava o que tinha acontecido...

–Percy. - Annabeth o encontrara em um restaurante, no centro de Nova York. Ele estava animado para aquele encontro, fazia tempo que não a via. Sentia falta de seus olhos cinzas faíscantes e seus cabelos louros ondulados como as ondas do mar.

–Sabidinha. - Sorriu e a abraçou, dando-lhe um pequeno beijo na testa. Ela o afastou gentilmente. Não gostava de ser beijada em público, achava um tanto indecente. - Oi.

–Podemos nos sentar? - A loira passou as mãos pelos cabelos, sentindo-se claramente desconfortável. - Há algo que eu preciso lhe contar.

–Claro, Claro. - Ele procurou uma mesa vazia pelo restaurante, encontrando uma, logo abaixo da janela.

Sentaram-se ali, e Percy notou que Annabeth esfregava nervosamente as mãos. Ele estava começando a ficar preocupado.

–Lembra-se de Nico? - Ela perguntou, repentinamente. Percy foi pego de surpresa.

–Hã, sim, claro. Porquê? - Respondeu. Como ele não se lembraria dele? Era um dos seus melhores amigos. Se bem que Annabeth parecia ter uma certa antipatia com ele, então, Percy não se surpreendeu.

–Percy, eu... Eu não sei como lhe dizer isso.... - Ela olhou em volta, nervosa. -Chegou uma notícia ao acampamento...

–O que aconteceu? Ele está bem? - Percy indagou, preocupado. Tinha visto o garoto há menos de um mês, quando comeram cupcakes azuis em uma doceria de nova york.

–Ele tinha ido para o Texas, certo? - Annabeth começou, hesitante. Percy já estava impaciente, então acenou positivamente com a cabeça e esperou ela continuar. - Percy, ele ... Ele estava andando por lá, e quando foi atravessar uma das avenidas, ele.. Ele foi atingido por um carro.

Percy se levantou bruscamente da mesa, atraindo olhares dos outros clientes.

–Ele está bem?! - Agarrou o celular do bolso. Annabeth o olhava meio que sem saber o que fazer. - Eu vou... Vou visitá-lo, em que hospital ele está?

–Percy, ele morreu. - Annabeth respondeu, curta e grossa. Mal demonstrava tristeza em seu olhar, talvez só uma pitada de preocupação pelo namorado. - Por favor, sente-se.

Ele se sentou, não por causa da ordem dela, mas porque não tinha certeza se suas pernas ainda o manteriam em pé.

Nico.

–Você está bem? Quer que eu peça um copo dágua? - A loira perguntou, encostando de leve uma das mãos no seu ombro. Percy encarava a mesa, ainda em estado de choque.

–Morto? - Perguntou, e percebeu que sua voz tinha saído rouca. Annabeth confirmou com a cabeça, e disse que ia lhe buscar um copo dágua, deixando-o sozinho na mesa.

Percy passou a mão no rosto, completamente chocado. Nico. O garotinho que anos atrás ele salvara, junto com sua irmã, Bianca. O menino que ficou enchendo o saco com perguntas indiscretas, e que pulou de alegria ao ver que seu jogo, mitomagia, era real.

Percy olhou pela janela do restaurante para a rodovia movimentada. Atropelado?

Percy não se permitiu imaginar a cena. A única coisa que conseguia pensar agora era no rosto de Nico, e em todas as vezes que ele o decepcionou.

Quando havia voltado para o acampamento, e Nico descobrira sobre sua irmã, Percy sabia que guardaria a expressão que ele fez para sempre. Era puro sofrimento.
Quando o garoto fugiu, Percy sabia que o tinha perdido para sempre. Nico nunca o perdoaria.

Mas mesmo assim, ele o procurou por meses, em todos os lugares possíveis. Queria ter a oportunidade de explicar tudo, queria apenas poder dizer algo que aliviasse o ódio que o menino sentia sobre ele. Percy gostava dele, não queria que Nico o odiasse.

E então, aquela vez que Nico o traiu no mundo inferior. Percy sentiu tanta raiva, ele tinha depositado toda a sua confiança no garoto e ele o entregara de primeira. E mesmo assim, Percy não conseguiu machucá-lo. Não era capaz disso, pois se lembraria que mesmo com essa traição, eles nunca ficariam quites. Percy quebrara sua promessa de trazer de volta a única pessoa que Nico tinha no mundo. O garoto tinha todo direito de traí-lo.

E mesmo assim, ele voltou. Ele salvou Percy, e o ajudou a fugir do mundo inferior. Percy nunca se sentiu grato o suficiente por isso.

E o que ele fez com Bob... Se Nico não tivesse falado com o titã, Percy provavelmente estaria morto agora. Ele nunca se sentira tão em dívida alguém.

A notícia ainda não tinha chegado totalmente à Percy. Ela apenas ressoava no fundo de sua mente, como uma torneira pingando, repetindo-se ao fundo. Morto. Morto. Morto.

Percy deu um soco na mesa, atraindo os olhares das pessoas por perto. Com um rosnado esganiçado, saiu do restaurante em passos pesados, tendo apenas a leve conciência de Annabeth gritando seu nome enquanto ele a deixava para trás. Só precisava respirar um ar puro. Tinha a sensação de que ia sufocar.

Quando chegou na rua, inspirou o ar frio da noite sentindo-o preencher seu corpo, resfriando-o por dentro. Não sentia mais suas mãos, estava muito frio lá fora. Pôs-se a caminhar sem nenhuma direção específica, o olhar vagueando por entre os carros que passavam na quinta avenida.

Eu quero ir pra casa, pensou. Amanhã vou acordar e isso terá sido apenas um sonho. Nico não pode ter morrido.

Percy sempre tivera essa sensação de que o rapaz sombrio era alguém que tinha um certo controle sobre esse tipo de coisa, morte. Nunca imaginou que ele próprio, seu amigo, pudesse algum dia deixar de existir. Isso simplesmente não era plausível. Ele era Nico, pelo amor dos deuses, um filho de Hades!

O caminho longo até o apartamento no upper eats side parecia passar em segundos. Os pensamentos de Percy corriam, enevoados, sem que nenhum dele conseguisse realmente se fixar. Percy tinha apenas flashes de todas as vezes que vira o garoto, e de todas as vezes que o decepcionara.

–Nico... Porquê? - sussurrou para si mesmo na rua. Podia aprecer um louco para os outros pedrestes que passavam, mas ele simplesmente teve que dizer isso em voz alta, com uma esperança inconsciente de que o amigo fosse responder.

Um vento transpassou seus ombros quando Percy se viu em frente à um beco. Algo o fez encarar a escuridão e caminhar em direção à ela. Quando estava prestes a voltar, ele ouviu um sussurro que fez os cabelos de sua nuca se arrepiarem.

–Percy.

O garoto deu um salto, já se arrependendo de ter entrado naquela escuridão em pleno centro de nova york. Era algo totalmente irresponsável, e teria saído correndo dali se não tivesse visto a claridade azul fantasmagórica que espreitava suas costas.

–Quem.. o quê? - O rapaz tentou ajustar seus olhos à claridade repentina. Com um arrepio percorrendo sua espinha gradualmente, ele se deu conta de quem estava à sua frente. - N-nico?

Lá estava ele. Usava suas roupas pretas clássicas e tinha um sorriso no rosto, algo que Percy vira apenas uma ou duas vezes. Não fosse o brilho azul que emanava, Percy quase podia sentí-lo ali, sua presença, viva, conversando com ele.

Mas é claro, não era assim.

–Nico, o que.... o que aconteceu?

–Você já sabe o que aconteceu. - O garoto lhe lançou um olhar sombrio. - Eu preciso ser rápido, não tenho muito tempo. Tenho algo pra lhe contar.

Percy o encarou, sem saber realmente o que dizer.

–É que... - O garoto passou a mão na nuca, claramente envergonhado. - se eu não lhe disser isso, eu sinto que não vou poder ir em paz, Percy. Você pode fazer o favor de escutar tudo que eu tenho a dizer? Só vai levar cinco minutos.

Cinco minutos. Esse seria o último encontro que Percy teria com ele, e levaria apenas cinco minutos. Triste, Percy acenou com a cabeça positivamente.

–Certo. Por onde eu começo... - Nico pigarreou, encabulado. - Cara, você se lembra de quando nos conhecemos? Eu era um pirralho irritante e você mesmo assim teve a decência de salvar a mim e à minha irmã. Eu nunca te agradeci o suficiente por isso. E Bianca, agora que eu finalmente a encontrei, disse a mesma coisa.

Percy ia responder, mas Nico o interrompeu.

–Por favor, espere eu terminar. - Sorriu. - É... Eu sei que, grande parte do tempo, eu agia como se odiasse você com todas as minhas forças. Mas, na verdade, era muito pelo contrário. Percy, eu via você como meu herói.

–Muito pelo contrário...? - Percy franziu o cenho, tentando entender. E então, finalmente, compreendeu o que Nico realmente quis dizer. - Ah.... Eu... Hã...

–Ei, cara. Relaxe. Eu já estou morto mesmo, isso não é algo que você precise se preocupar. - Nico lhe deu um sorriso amargurado. - Eu só senti que eu precisava te dizer. Pode esquecer logo depois que eu for embora, não é minha intenção fazer você se sentir culpado ou nada assim.

–Nico... - Percy olhou o garoto nos olhos. - Porque não me disse isso antes?

O garoto foi pego de surpresa.

–Ah... Eu nunca achei que fosse adiantar alguma coisa. - Ele desviou os olhos de Percy. - Afinal, você já tinha Annabeth..Ela te merece mais do que eu.

–Merece?- Percy se irritou. - Nico, seu fedelho idiota.

Nico arregalou os olhos, recuando.

–Como é?

Percy mal conseguia aguentar de tanta raiva que sentia.

–Você acha que eu não ligo pra você? - Falou, num tom mais alto do que pretendia. - Cara, você é tão importante pra mim quanto Annabeth! Como você pode ser tão idiota?

Nico o encarou com uma sobrancelha erguida.

–Pare de me olhar com essa cara! Você sabe que é verdade. - Percy cerrou os punhos, sentindo a amargura na sua voz. - E agora você está morto, do jeito mais estúpido possível. E mesmo assim, eu não consigo.... Eu não...

Percy sentiu sua voz começar a falhar e então se virou de costas para o fantasma, sentido uma lágrima escorrer pelo seu rosto, a representação física dos sentimentos que não conseguira organizar no restaurante, quando recebeu a notícia. Limpou-a de forma grosseira.

–Porquê não foi atrás de mim? - Nico perguntou tímidamente após os gritos do amigo.

Percy demorou alguns segundos para responder.

–Como sabe que eu não fui?

Nico colocou a mão no ombro de Percy, virando-o de frente para ele. A sensação era gelada, como se tivesse sido tocado por àgua fria.

–Me desculpe. Eu só... Não sabia como lidar com isso. - Nico desviou os olhos para o chão. - Não deveria ter ido embora.

–Você sempre fugiu, Nico. - Percy retrucou, agora tentando magoá-lo tanto como Nico o magoou. - Você é o mais covarde de todos nós.

O rosto de Nico corou envergonhado em sua forma fantasmagórica.

–Você sabe que não é assim, panaca. - Ele murmurou, irritado. - Aliás, você nunca soube de nada.

–Então prove. Prove que é capaz de fazer algo corajoso pelo menos uma vez. - Percy o desafiou, cruzando os braços.

Nico o fitou, hesitante. Por um momento, Percy pensou que ele iria simplesmente desaparecer e que nunca mais iria vê-lo. Estava prestes a pedir desculpas, quando o garoto colocou as mãos frias sobre seu rosto e o puxou para si.

Foi o beijo mais gelado que Percy já recebera.

Nico se afastou e o encarou por um instante, surpreso consigo mesmo.

–Isso é suficiente?

Percy encostou o dedo nos lábios, surpreso demais para dizer qualquer coisa.

–Bom, acho que é isso.. - Nico se virou de costas pra ele, prestes a ir embora.

–.... Mais do que suficiente. - Percy respondeu, atrasado. Nico se virou para ele novamente. - Eu nunca verei você de novo não é?

Nico sacudiu a cabeça.

Percy não sabia muito bem o que pensar. Só sabia que aqueles eram os últimos segundos que passaria com o amigo, e que foi uma estupidez ser grosseiro com ele daquele jeito.

–Bem. então vou sentir sua falta, DiAngelo. - Percy sorriu. - Mande um abraço à Bianca por mim e fale pro seu pai que eu ainda não vou com a cara dele.

Nico soltou uma risada, algo que Percy nunca tinha presenciado antes. Um riso aliviado, tranquilo.

–Adeus. - Nico se despediu, ainda sorrindo. E com um vento frio, sua forma se desintegrou.

Percy estava sozinho no beco novamente.

Pode ter ficado ali por horas, pois quando Annabeth chegou, seus cabelos estavam bagunçados e ela exalava desespero.

–Percy! Eu te procurei em toda parte! - Ela o agarrou pelos ombos, ofegante, e então viu seu sorriso na claridade fraca que vinha da rua. - Percy. O que aconteceu?

–Nada. Me leve pra casa.

Ela o segurou pelo braço e foram caminhando até chegar à rua, onde um táxi parou, pronto para levá-los pelo resto do caminho ao upper east side.

Percy olhava pela janela o caminho todo, na esperança que vislumbrasse o fantasma de um garoto em alguns dos becos escuros de nova york.

–Percy, tem certeza de que está bem? - A loira perguntou, sentada ao seu lado.

Ele lembrou-se do fato de que nunca mais veria o garoto que acabara de beijá-lo num beco. Por um segundo, sentiu tristeza, mas logo lembrou-se:

Nico estava indo em paz. O coração dele finalmente estava leve.

E assim, o de Percy também.

–Estou bem. - Percy respondeu, pegando a mão de Annabeth. - Melhor do que nunca.


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Notas finais do capítulo

REVIEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEWS? GENTE, POR FAVOR, ME DEEM A OPINIÃO DE VOCES U.U enfim, espero que tenham gostado. fiz com todo o coração. beijos, Blue cupcake.