O tempo se passou, não sei dizer ao exato quanto tempo já que devo ter cochilado umas mil vezes desde que me separei de Ame no meio da multidão.

– "Me pergunto se ele está me procurando..." - Esse pensamento me espanta e com uma sacudida da cabeça de um lado pro outro eu jogo esse pensamento junto com os outros que são desnecessários.

Eu...me sinto um tanto inquieta, considerando a última vez em que ficamos um certo tempo longe um do outro, não consigo parar de me preocupar com a chance de ser deixada pra trás e...talvez...

– "Talvez...não haja volta dessa vez..." - Estou começando a pensar seriamente em voltar pra casa.

No momento estou em uma praça próxima de onde perdi Ame de vista e estou olhando para o céu, o lugar esteve bem movimentado até uma ou duas horas atrás. Agora já está bem escuro e umas e outras estrelas podem ser vistas no céu.

O lugar é muito bonito, mas não parece ter mudado muito desde que me mudei...

– “Agora que parei pra pensar...Será que vou reencontrar com o Meriu...” – Quando pensei nesse assunto eu me lembro daquele menino e de como éramos felizes quando estávamos, apesar de que ele sorria muito pouco. – “Será que...!”

Me levantei do banco onde fiquei esse tempo todo e comecei a olhar ao redor, ao que me parece não é muito longe de onde eu morava...

– “Talvez...se eu me lembrar...eu consigo chegar lá...” – Comecei a correr, não sei se estou indo na direção certa, nem se ele vai estar lá ou não, mas...eu quero vê-lo... – “Eu...quero saber quem ele é!”

Passei por diversos lugares, alguns mudaram e outros não, mas as mudanças complicam as minhas memórias quando eu chego em um beco sem saída.

– T-Tinha uma estrada aqui... – Coloco a mão no muro que tampou aquele caminho. Olhei ao meu redor, nenhuma escada, mas tinha uma banqueta velha. – Acho que vai servir. – Pego a banqueta e começo a subir nela, está um pouco bamba, mas desde que eu consiga olhar eu tenho certeza que vou achar o caminho que procuro.

– Eh... – Arfando por causa da corrida que tive até aqui, eu olho por cima do muro. – N-Não...não mudou nada... – Digo para mim mesma, ainda tinham pessoas nas ruas do mercado de tendas e o lugar estava muito bem iluminado.

Por um instante...eu me senti novamente uma criança...Mas não durou muito já que logo em seguida senti como se meu peso ficasse cada vez maior até cair no chão.

– Aiiii! – Meu corpo todo começou a doer com o choque no chão, uma das pernas da banqueta quebrou e foi o que me desequilibrou. – M-Melhor eu sair logo daqui. – Olhando bem, desse lado do muro não tem quase ninguém e pode ser meio perigoso. Eu procurei pelos outros becos que eram caminhos para o mesmo mercado, mas todos estavam fechados, exceto por um caminho novo que fora aberto mais a frente.

– “Se eu conseguir me localizar, eu acho que posso encontrar os fundos do castelo e talvez...” – Pra falar a verdade eu não entendo o porque de tanto querer ir até lá, mas eu tenho vontade de ir, eu quero ver ele de novo.

Comecei a correr pelos corredores do mercado, meio perdida realmente, mas de alguma forma eu consegui me encontrar...

– “Esse lugar...eu sei que estou perto...!” – Antes mesmo de terminar meus pensamentos eu achei o que precisava, o final do mercado levava a um grande campo aberto, logo depois deveria ser a entrada de trás do palácio.

O campo verde ainda é o mesmo, com algumas árvores ao redor, um verdadeiro refúgio da realidade que vivemos todos os dias...mas...onde está o palácio?

– “Meriu....você...tem que estar aí...” – Pensando na possibilidade dele nem se lembrar do que aconteceu, ou de simplesmente não estar ali naquele portão já me deixou um enorme nó na garganta.

No mesmo instante em que avistei o portão do palácio, comecei a correr mais e ao mesmo tempo, o rosto de Ame veio na minha memória. Parei de correr gradualmente.

– “O-O que...o que eu faço? Ame...ele...deve estar me procurando...não é?” – Penso enquanto minha consciência se apaga e eu passo a me sentir dividida em duas partes.

Não consigo seguir em frente, mas também não consigo voltar, minhas forças começam a desaparecer junto do vazio que ficou no lugar onde deveriam estar meus pensamentos. Meus olhos estão vidrados nas minhas pernas bambas e no chão, não consigo olhar para um ponto fixo.

– Ei! Você ai!

– ...!

Uma voz...me alerto com uma voz masculina, não é a de Ame e nem a de Ushio, nem de ninguém que eu tenha conhecido na minha vida...provavelmente.

Conforme minhas forças retornam eu consigo avistar uma silhueta, mais alto que eu, um rapaz, na verdade...um homem de cabelos que parecem azuis não muito escuros, um perfil perfeito para a atualidade. Mas o que mais me chamou a atenção foram os olhos, uma cor de mel tão clara que mais parece que foram feitos de ouro...

– “E-Esses olhos...eu...”

– M-Meriu? – Arrisquei chamá-lo, não sei se é realmente ele, mas eu tenho que descobrir.

– Meriu? – Ele parece confuso, minhas esperanças quase são jogadas num buraco quando ele volta a falar. – Ah...então você é a garota que vinha aqui direto... – Um sorriso de lado surgiu em seu rosto enquanto agora eu começava a ficar confusa. – Só tenho uma coisa pra te dizer...Aquele garoto inocente e inofensivo...não existe mais... – Então virou as costas e começou a andar para dentro do palácio.

– E-Espere... – Sussurrei. Ele obviamente não me ouviu e obviamente me deixou claro que aquele não é o Meriu

– Não me interessa se já está escuro ou não! Eu não vou deixar ela sozinha lá fora! – Uma voz familiar me aparece, mas não dou importância a isso.

– ESPERE! – Grito correndo atrás daquele homem, não o conheço, não sei se pode fazer algo contra mim, mas...eu tenho que saber a verdade!

– Yuk---

Acidentalmente e sem perceber eu passei direto por Ame, deixando-o para trás.

– ESPERA! Que história é essa? O que....O QUE ACONTECEU COM O MERIU??? – Minha cabeça estava completamente perdida.

Eu estou...realmente desesperada...

....................

Ame

Acho que pela primeira vez em todo o tempo em que achei que não teria problemas pra dizer o que sinto depois de tanto tempo fazendo o que os outros querem e falando o que querem ouvir...eu senti minha alma se quebrar em pedaços...

– ESPERA! Que história é essa? O que....O QUE ACONTECEU COM O MERIU???

– Y-Yu—ki... – Ela estava desesperada e ao mesmo tempo...me arrastou junto.

Eu...estou bem aqui...

Continua...