Mistérios do coração escrita por Anjo Doce


Capítulo 1
Primeiro


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic é uma continuação de “Em Busca de Seu Amor”. Porém tem foco em outros personagens. Eu sugiro que você leia primeiro a anterior.



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Na mansão Kido, estavam almoçando Saori, Hyoga, Eiri, Shun, June, Shiryu, Rubi, Seiya e Shina. Saori resolveu fazer um almoço especial por dois motivos: dar boas vindas a June, que agora estava morando em sua casa, e comemorar o começo do namoro dela e Shun. Ikki não se encontrava presente, pois estava em algum lugar do mundo. A felicidade do novo casal era aparente e contagiante, porém essa felicidade estava incomodando, de certa forma, à Shina, que não estava muito bem naquele dia. Rubi, que era muito expansiva elogiava o casal o tempo todo.

Depois do almoço, todos se reuniram na sala de estar e, enquanto uma copeira servia café, Shina trouxe Seiya para um lugar mais reservado e comunicou:

– Eu vou indo para casa.

– Já?! Por quê? É sempre tão bom me reunir com meus amigos. Mas se você quer ir, vamos.

– Eu disse que “eu vou” e não “nós vamos”. Você pode ficar – suspirou. – Eu quero ficar um pouco sozinha. Estou precisando pensar.

– Pensar em quê, Shina?

– Deixa de ser chato! – retrucou um pouco irritada. – Eu quero ficar sozinha e ponto. Fica ai curtindo com seus amigos e me deixa em paz.

– Tá bom, mas por que tá falando assim?

– Porque você fica me questionando e isso me irrita, ora.

Shina se despediu de todos e foi embora. Rubi perguntou discretamente para Seiya o que tinha acontecido, ela já havia percebido que Shina não estava muito bem há alguns dias.

– Ela quer ficar sozinha – falou jogando as mãos para o alto. – Eu me ofereci para ir junto, mas ela não quis. Vai entender sua amiga.

Rubi e Shina se conheceram há algum tempo, quando a brasileira foi conhecer o Santuário com Shiryu. Rubi gostou da amazona na primeira vista, apesar da rispidez sempre contínua de Shina. Mas Rubi tem jeito especial de conquistar as pessoas e assim conquistou a amizade da amazona.

Shina saiu da mansão e se dirigiu à frente da praia, olhou o mar, fechou os olhos e respirou fundo, sentindo a maresia entrar por suas narinas. Resolveu caminhar na areia. Tirou os sapatos scarpin preto e foi a até beira do mar, deixando as ondas molharem seus pés e também as pernas de sua calça jeans. O sol não estava muito forte naquela tarde e isso a agradou. Conforme ela andava, veio em sua mente lembranças de sua vida, do tempo que era uma menina e ainda morava na Itália. Gostava de ir à praia com sua mãe e brincar de fazer castelinhos na areia.

– Eu era uma menina doce e muito amada por minha mãe, que fazia o papel de pai também, já que meu pai havia morrido quando eu ainda era um bebê. Ela era tão bonita! Sua morte foi uma dor muito grande.

Como Shina não tinham outros parentes, depois da morte se sua mãe, ela foi encaminhada a um orfanato. Então a menina percebeu que o sofrimento poderia ser pior e as pessoas podiam ser mais cruéis do que imaginava, pois aproveitando o jeito doce e inocente dela, as crianças daquele lugar passaram a humilhar e maltratar Shina. Porém, no meio dessas crianças más, Shina conheceu uma garota bem espevitada e experiente naquele ambiente e, assim, não deixava nenhuma criança subjugá-la mais. Essa garota resolveu ajudar Shina.

######

Num canto do jardim do orfanato, Shina estava sentada, escorando as costas numa árvore e escondendo seu rosto nos joelhos. Ela se sentia acuada e chorava, depois de mais momentos constrangedores. Ela se questionava por que aqueles garotos faziam tanta maldade com ela. Então apareceu uma garota de pele branca, como a dela, de cabelos e olhos negros.

– Ei, menina – Shina olhou-a. – Não chora, não. Você precisa aprender a ser forte e não deixar que ninguém te humilhe. Vou te ensinar a dar uma lição nesses miseráveis e eles não vão mais mexer com você.

– Tá... – falou soluçando. – Mas qual é seu nome e por que quer me ajudar?

– Jisty. E vou te ajudar, pois fui com sua cara.

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– Nós duas nos tornamos grandes amigas. Ela me ajudou a ser mais firme e nunca mais aqueles garotos me maltrataram, pois passei a impor respeito. Depois de um ano, apareceu no orfanato um homem que procurava órfãos para levar para a Grécia. Ele observou cada criança e por fim escolheu a mim e a Jisty. Ao chegarmos ao Santuário de Atena, ficamos abismadas com a beleza aquele lugar. As construções eram feitas de pedras, parecia algo muito antigo, e eram mesmo. Logo nos juntamos com outras crianças numa área aberta e ao alto apareceu um homem alto, de longos cabelos verdes, máscara e túnica clara. Ele se apresentou como Mestre Supremo do Santuário e começou a explicar o que era ser um cavaleiro, as principais regras daquele lugar e a importância de lutar pela justiça. Depois dessas informações longas, cada futuro guerreiro foi apresentado ao seu mestre. Eu e Jisty ficamos felizes, pois acabamos juntas e seriamos treinadas por uma amazona, Barbela de Serpente Real. Ela era morena de cabelos negros ondulados. Não podíamos ver sua face, porque ela usava uma máscara. Logo ela nos explicou como seria nosso treinamento e o motivo de uma guerreira de Atena usar máscara. Nós também passamos a usar.

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À noite, antes de dormir, Shina e Jisty observavam as estrelas na janela do quarto enquanto conversavam.

– Não parece fácil se tornar uma amazona – comentou Jisty.

– E não será, mas vou fazer de tudo para me tornar uma.

– Eu também. Eu juro que serei muito forte.

– Eu também juro. Seremos as amazonas mais fortes desse Santuário – afirmou Shina apartando a mão de sua amiga.

– Sim, seremos.

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Shina parou sua caminhada e ficou olhando o mar, respirando fundo para sentir o cheirinho das ondas salgadas. A onda molhava cada vez mais suas pernas e a vontade da amazona era entrar no mar de roupa mesmo, mas ela permaneceu parada ainda lembrando-se de sua vida, como um filme repassando em sua mente.

– A vida no Santuário não era tão diferente do orfanato, com hora e regras para tudo, apesar da rigidez ser maior. O mais difícil, no inicio, foi à adaptação com a máscara. Foi horrível ter que usa-la, incomodava e dificultava a respiração. O quarto era um alojamento amplo e arejado, com várias camas beliche e um grande armário, cada garota tinha uma porta para por seus pertences. As refeições eram feitas num enorme refeitório, onde juntavam aprendizes e alguns cavaleiros de patente menor. Nós, aprendizes, tínhamos o dia cheio de atividades, treinos e aulas teóricas. Treinávamos, inclusive, nos finais de semana. Ao final do dia estávamos tão exaltas que só queríamos dormir. Dentre as garotas que dividiam o quarto comigo, poucas permaneceram no Santuário. Muitas desistiram ou perderam a vida nos treinos. Consigo lembrar de Marin pequena, com os cabelos ruivos e aquele jeitinho meigo. Eu não gostava dela exatamente por ser muito meiga e sempre querendo agradar a todos. Eu acreditava que uma guerreira não podia ser tão maleável como ela, e acreditava que ela nunca seria uma amazona. Mero engano.

Shina voltou a caminhar chutando a água em seus pés, mas suas lembranças não paravam de invadir sua mente.

– No inicio eu fique perdida com o grego, havia palavras que eu não compreendia, mas logo aprendi a falar, tanto o grego, como outros idiomas também. Os moradores do Santuário são quase poliglotas, até porque lá há pessoas de todos os cantos do mundo. É até surpreendente reunir tanta gente com idiomas, culturas e costumes tão diferentes em prol de um único objetivo e ainda ser bem sucedido.

Shina se dedicou muito e qualquer resquício de fragilidade desapareceu de vez dela, pois a garota acreditava que num lugar como o Santuário, dominado por homens, ela conseguiria o respeito de todos sendo firme e dura, e ela conseguiu. Dentro de poucos anos ela, Jisty e Marin já eram amazona.

Jisty nunca gostou muito das regras excessivas do Santuário, e a sua insatisfação foi piorando com o tempo, principalmente quando conheceu três cavaleiros e passou a andar com eles. Os quatro tinham atitudes rebeldes que desagradavam Shion e por muitas vezes foram ameaçados de expulsão. Contudo, a gota d’água foi quando eles afundaram um navio petroleiro que poluía o mar da Grécia e mataram a maioria da tripulação. Jisty acreditava que era preciso acabar com o mal usando da mesma moeda. Essa atitude irou Shion, que sempre foi correto. E para puni-los severamente, os exilou na Ilha do Inferno. (1)

– Quando ela foi exilada eu fiquei profundamente triste e revoltada com o Mestre Shion. “Caramba! Por que ele fez aquilo?” pensava. Sei que ela teve uma atitude meio sádica, afinal um cavaleiro precisa defender a vida e não matar pessoas mais vulneráveis. Todavia, ela queria acabar com a poluição que aquela embarcação estava causando. Foi por essa razão que eu gostei tanto da substituição de Shion por Ares, pois nunca perdoei Shion – uma pausa. – Mas essa raiva toda é coisa do passado. O meu sentimento por Seiya me fez perceber o quanto estava agindo erradamente em acatar as ordens de um mestre mau. Porém, naquela época eu fique tão triste que quase entrei em depressão. A Jisty era como uma irmã, alguém que eu amava e queria estar junto para sempre. E aquele homem a exilou, nos afastou por completo. Nem podíamos nos comunicar, pois Shion proibiu. Lembro-me de Marin tentando me animar e eu a tratando com desprezo. Quem conseguiu melhorar meu animo foi Barbela. Recordo-me de suas palavras: “Você sonhou e se esforçou tanto para se tornar uma amazona. Você é uma das melhores, força Shina! A Jisty errou, admita isso e siga em frente com sua missão”. O que me animou mesmo a seguir foi quando recebi a incumbência de formar um novo cavaleiro. - Shina sorriu ao lembrar-se de Cássius. - Ele era tão enrolado, mas bastante esforçado e forte. Saudades dele!

Shina realmente se dedicou a ensinar Cássius tudo que ela podia. Ele era muito forte e vencia os outros discípulos do santuário, porém ele tinha um problema que dificultaria a realização do seu sonho de torna-se cavaleiro: ele não conseguia queimar seu cosmo. Ele e seu irmão Docrates (que já era um cavaleiro nessa época) desejavam tanto isso que ela não teve coragem de estragar tudo.

– Sei que agi erradamente – suspirou. – Quando Seiya o venceu, eu me senti derrotada como mestre e triste por Cássius, que ficou arrasado. Como eu tinha autoridade com alguns soldados, me juntei a eles e tentei recuperar a Armadura de Pégaso. Realmente foi uma loucura da minha parte! Por mais que doesse admitir, Seiya era o vencedor honesto. Aquela justificativa dele não poder ser cavaleiro porque não era grego era uma tolice. Eu também não era grega e tantos outros cavaleiros e amazonas não eram gregos, e conquistaram suas armaduras. Também me senti muito incomodada de Seiya ser discípulo de Marin e das lembranças de quando éramos menores e ele viu o meu rosto. A raiva aumentava cada vez tentava derrota-lo e não conseguia. Raiva e amor. São sentimentos opostos, mas em meu caso, tão parecidos. Eu queria eliminá-lo, mas cada vez eu o amava mais. Por esse amor fiz tantas loucuras. Céus, quanto amor!

Shina chegou a frente ao apartamento que morava com Seiya e caminhou até a porta. Antes de entrar olhou pela sacada o mar pela ultima vez. Foi direto ao banheiro, pequeno como tudo naquela casa.

De baixo do chuveiro, ela deixou a água cair pelo seu corpo e, de olhos fechados, recordou de quando reencontrou Seiya depois da Batalha das Doze Casas. Ele e seus companheiros ficaram muitos dias em tratamento num hospital da Fundação Graad situado na Grécia.

######

Shina estava perto de sua casa, sentada na beira de um riacho no qual servia de escoamento para as águas de uma cachoeira a alguns metros dali. Já era final de tarde e a amazona estava feliz por saber que Seiya havia recebido alta do hospital. A amazona desejava vê-lo. A última vez que se falaram foi no oriente, quando ela saiu escondida do Santuário atrás dele e se colocou a frente do ataque de Aioria e quase morreu. Revelando àquela hora seus sentimentos.(2)De repente, ela sente alguém se aproximar e se surpreendeu.

– Seiya! – exclamou se levantando.

– Oi, Shina.

– É ótimo saber que você saiu do hospital recuperado – tinha um sorriso nos lábios, oculto pela máscara.

– Recuperado, totalmente, ainda não, mas já tô pronto para outra – sorrindo com sua costumeira alegria. – Quer tentar me derrubar?

– Você não tem jeito – com um tom de reprovação, mas aliviado.

– Tá fugindo da luta, amazona? Essa não é você – ainda sorrindo. – Vivia querendo me matar e agora, tento a oportunidade, tá fugindo?

– Eu nunca fujo de uma luta – falou séria. – Só não é mais necessário eu te enfrentar.

– Está bem. Mas brincadeiras a parte, eu vim aqui por dois motivos. Primeiro: quero lhe pedir desculpas pelo Cássius. Sei que a escolha de morrer não foi minha culpa, contudo, me sinto culpado.

– Não diga isso. Aioria também me pediu perdão. Mas vocês não foram culpados, Cássius que foi um inconsequente. Se eu pudesse o faria reviver só para dar um cascudo naquela cabeça dura.

– Nossa! Que jeito interessante de demonstrar afeto – falou com um tom irônico e brincalhão.

Shina não pode segura uma risada, enquanto Seiya gargalhava. Porém a amazona engoliu o seu riso lembrando-se de Cássius. Ela sempre se sentiria grata e culpada por ele. Grata, pois ele foi um pupilo dedicado e obediente e, na hora que ela mais precisou, o rapaz estava presente. Culpada por saber que Cássius morreu para proteger Seiya, por amor à ela, um amor platônico, mas verdadeiro.

“Sempre sentirei sua falta...”

– Bem, qual o outro motivo que lhe trouxe aqui?

– Te agradecer. Você se arriscou por mim no oriente. Se não fosse por você, provavelmente eu não teria sobrevivido.

– Eu não deixaria ninguém te machucar a não ser eu – virou de costas para ele e sussurrou. – Eu te amo.

– Eu continuo afirmando que você tem um jeito um tanto estranho de amar – suspirou. – Tenho que confessar que fiquei muito surpreso com sua declaração. Nunca imaginei seu sentimento por mim. Mas agora sei por que você queria tanto acabar comigo. Por causa da regra das amazonas.

– Eu tive que aprender, desde cedo, a ser durona e você conseguiu quebrar essa barreira. Pior que ver meu rosto é ver minha alma. Por esse motivo queria te matar, entretanto, hoje eu vejo que nunca poderia fazê-lo.

– Posso te pedir uma coisa?

– O quê?

– Deixe-me ver seu rosto mais uma vez? Dessa vez com mais calma.

Shina respirou fundo. Aquele pedido era inusitado, porém ela não tinha mais nada a esconder dele. Então pôs a sua mão na frente da máscara e a retirou. Virou de frente para o rapaz de cabeça baixa, pois se sentia tímida. Seiya levantou o rosto da amazona apoiando o dedo indicador em seu queixo. Os olhares se cruzaram.

– Você é muito bonita... Não sei por que essa regra estúpida de esconder o rosto.

– Regras são para serem cumpridas, não questionadas.

– Nem sempre.

Seiya continuou fixado no rosto de Shina, deixando-a muito sem graça. Então ela reagiu:

– Satisfeito, não? Agora você pode ir embora – fez menção de pôr a máscara, no entanto o cavaleiro não deixou, segurando seu braço.

– Não. Deixe-me te admirar mais um pouco.

– Pra quê? Vai logo embora – ordenou empurrando o rapaz pelo ombro.

– Deixa de ser tão durona. Eu só quero te admirar.

Shina ficou sem ação e falou baixinho:

– Preciso ser durona, mas bem escondido, trago certa ternura que pouquíssimas pessoas conhecem. Você é uma delas.

– Sou privilegiado, então?

– Sim.

– Portanto, pare de se proteger de mim – pediu tocando a ponta dos dedos na face dela.

– Eu preciso...

Seiya não deixou Shina acabar a frase, se aproximou dos lábios dela e os tocou com os seus. Aquele ato a assustou, porém ela não se moveu. Percebendo a atitude positiva dela, Seiya aprofundou o beijo. A amazona sentiu um arrepio subir por sua nuca e o seu corpo queimou por dentro. “Como é bom sentir isso!” pensou.

A cada momento os corpos se aproximavam mais e os beijos se tornavam mais intensos. As mãos de Seiya apertavam Shina num abraço sufocante. Ela já não tinha consciência de seus atos, estava grudada ao pescoço dele e uma das pernas enlaçada ao corpo do cavaleiro. Quando pararam para respirar, Seiya exclamou:

– Uau!

Shina se sentia fora de si. Olhou por atrás do ombro de Seiya e viu sua casa. Numa grande velocidade, puxou o rapaz pela camiseta e invadiu sua casa, jogando o cavaleiro no simples sofá da sala. Ele olhou para ela com certo assombro, mas não teve tempo de falar nenhuma palavra, pois Shina já estava em cima dele o beijando com rapidez. Enquanto os beijos e apertos aconteciam, Shina pensava: “O que estou fazendo? Realmente estou louca!” Eles acabaram passando a noite juntos se amando loucamente, como se o mundo fosse acabar.


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Notas finais do capítulo

(1) Essa explicação foi baseada no episódio 18 do anime.
(2) Episódio 37.
Esse capítulo é só o inicio, mas o que acharam? Comentem.
Link da fanfic Em busca de seu amor: http://fanfiction.com.br/historia/474315/Em_Busca_do_Seu_Amor/



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