Se eu não tivesse você. escrita por Natália Levesque


Capítulo 2
Eu o encontrei, de novo.




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Acordei com a campainha tocando.
Era a Júlia, ela usava um jeans rasgado e uma blusa azul larga e segurava dois livros nas mãos.
– Te acordei? disse ela rindo
– Ah, não. Tudo bem eu sorri abrindo a porta para ela entrar
– Trouxe esses livros para você ela me entregou os livros Espero que assim como eu, você goste também.
– Obrigado Eu a abracei.
Ela notou algo diferente em mim. Talvez eu tivesse deixado ela perceber que algo havia acontecido.
– O que aconteceu? disse ela com uma voz de preocupação.
Pedi para ela se sentar para conversarmos. Contei a ela sobre o que havia acontecido ontem, sobre o menino encapuzado. Aquilo realmente me deixou com medo, ele estar me perseguindo a meses, vir de madrugada na minha casa.
– Talvez ele queira te conhecer, mas não tem coragem de chegar perto Disse ela
– Me espionar é a melhor forma? Eu disse indignada Eu acho que não.
– Alice, você tem que parar de pensar que tudo o que acontece só tem um lado ruim disse ela calmamente Você pelo menos conseguiu ver o rosto dele?
– Sim eu disse Mesmo que as duas vezes que o olhei tenha sido rápido, eu sei que o conheço de algum lugar.
– É só ficar atenta da próxima vez que você perceber que ele está te seguindo, se esconde enquanto ele não estiver te olhando e quando ele procurar por você, você está atrás dele pronta para dar o bote disse ela imaginando a cena vai ser demais
– Isso não é um filme eu disse rindo Mas de qualquer forma, eu vou procurar saber dele o motivo.

Ela riu.
Ouvi meu pai tossindo e olhei para baixo.
– Mas pelo o que eu vejo, esse não é o único problema, não é? disse ela preocupada.
– Não respondi
– Quer conversar sobre isso?
Eu disse que sim com a cabeça. Contei a ela sobre o meu pai, sobre a falta de ar que ele tem tido, sobre estar preocupada com a saúde dele, e ele não ligar para isso e nem para mim.
Eu amo o meu pai, amo mesmo. Mas a forma com que ele me trata me deixa triste, mas mesmo assim eu não consigo parar de tentar ajudá-lo.
– Você já tentou falar com ele? - Disse ela Talvez levá-lo a um médico?
– Ele não dá espaço para eu poder conversar Muito menos para tentar cuidar dele.
Ela ficou em silêncio e e deu um sorriso de canto e então olhou assustada para algo atrás de mim.
Eu virei rapidamente para ver o que era.
Era o meu pai encostado na parede com a mão no peito, parecia estar sendo sufocado. Levantei e andei apressada em direção a ele. A Júlia me ajudou a coloca-lo no sofá perto da parede aonde ele estava.
– Pai eu disse aflita O que você está sentindo?
Eu olhei para a Júlia, e não precisei dizer nada. Ela sabia o que devia fazer. Ela pegou o telefone e ligou para o hospital.
– Não! disse meu pai tentando procurar o ar.
– Sim! Não adianta dizer que não. eu gritei
Pela primeira vez na vida eu respondi o meu pai. E eu me senti bem, apesar de não ser o melhor momento para pensar nisso, mas eu sabia que tinha feito a coisa certa.
A ambulância chegou a minha casa, mas
só eu pude acompanhar meu pai, então a Júlia disse que passaria em casa e pediria sua mãe para levá-la até lá.
Os médicos levaram meu pai para a emergência. Eu fui atrás, mas um médico me impediu e disse que eu não poderia entrar.
Então o enfermeiro me levou até a sala de espera e me disse para aguardar, pois o médico já iria falar comigo.

A Júlia e a mãe dela, Lúcia, chegaram e foram logo me procurando. Até que a Júlia olhou para a minha direção e eu acenei.
Júlia e eu ficamos um tempo abraçadas, até que nos olhamos.
– Como você está? Disse ela em tom baixo.
– Mal eu disse- Apesar de tudo, ele é meu pai e eu o amo.
Júlia olhou para baixo. E ficamos em silêncio.
A espera estava me deixando doida, não conseguia ficar parada ali, sem fazer simplesmente nada. Meu pai estava lá há horas e nenhum médico se disponibilizou a vir até a mim para dizer o que havia acontecido.
O médico veio em minha direção.
– Bem disse ele apreensivo Não é fácil dizer isso.
Meus olhos se enxeram de lágrimas, eu imaginei coisas horríveis, mas tinha que me concentrar no que o médico estava falando.
– Seu pai não está bem disse ele pronto para explicar o que seria. O pulmão dele está gasto. - Júlia me abraçou.
– Mas ele vai ficar bem? eu disse chorando
– Tudo depende dele, ele deve parar de fumar imediatamente.
– Então disse soluçando se ele parar de fumar, o pulmão volta ao normal?
– Infelizmente não. Não é reversível. Quando se para de fumar, o que acontece é que lesão não piora, continua como está.
– Então se ele ficar em repouso por esses dias e sem fumar, ele pode viver bem? eu disse secando as lágrimas no meu rosto.
– Sim, ele não deve consumir cigarros, não mesmo.
– Tudo bem doutor eu disse mais tranquila. Posso vê-lo?
– Claro. disse o doutor.
Pedi para a Júlia me esperar e fui até o quarto Eu não gostava de hospitais e nem do cheiro deles.
E lá estava o meu pai deitado havia uns fios ligados nele, e uma espécie de nebulizador para levar oxigênio até ele- Ele não conseguia falar, e se mexia muito pouco, então eu apenas cheguei perto, e ele me olhou. Em toda minha vida, eu só vi meu pai me olhar daquela forma quando eu tinha 8 anos, logo depois do acidente da minha mãe, quando eu caira da escada e tive que ir ao hospital.
Ele me olhara diferente de todos esses anos, o olhar transmitiu algo que eu só vira do meu pai na infância.

Eu fiquei lá, olhando para ele, sem dizer nada.
Deixei uma lágrima escapar, não queria que ele visse. Ele poderia me achar fraca.
Então meu pai me surpreendeu, ele encostou sua mão na minha e a segurou. Eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, ou se eu não precisava falar nada.
O médico entrou na sala.
– Desculpe interromper, mas... disse ele- Seu pai precisa descansar.
Olhei para o meu pai e sorri, ele sorriu de volta.
– Está bem eu disse Quando ele vai poder voltar para casa?
– Seu pai deverá ficar alguns dias no hospital, até estar totalmente recuperado. disse ele olhando para o meu pai E quando voltar para casa, deverá largar o cigarro, Ok?
Meu pai não conseguia falar, mas tenho certeza de que ele concordaria. Afinal, agora ele deve ter percebido que o seu vício pode tirar tudo dele, principalmente a sua vida
Dei um beijo na testa do meu pai, o que não era do meu costume.
Por mais que ele estivesse naquela situação, eu estava feliz por ele ter me olhado daquela forma e ter segurado a minha mão. Talvez ele tivesse a consciência de que poderia parar de viver a qualquer momento. Talvez ao segurar minha mão ele quisesse dizer tudo o que não me diz a anos.
– Amanhã eu volto, Ok? sorri
Meu pai piscou os olhos, invés de mexer a cabeça. Deve ser difícil fazer qualquer movimento nessa situação. Eu sempre achei que quando você está doente em casa, você consegue andar, falar e comer, mas a partir do momento em que você entra no hospital, não consegue fazer mais nada, nem se mover.
Saí do quarto onde meu pai estava, e lá estava a Júlia. Em frente a porta me esperando aflita.
– E ai? ela disse- O que o medico falou?
– Que meu pai deverá ficar um tempo no hospital eu disse em um tom baixo- até ele se recuperar.
Fui até a lanchonete que tinha no hospital, comi um sanduíche com a Júlia e a Tia Lúcia.
– Alice? a Júlia perguntou Você quer passar esses dias que seu pai vai ficar no hospital na minha casa?
Eu a olhei e disse:
– Eu tenho que ir para casa e arrumar as coisas por lá, e eu não quero incomodar.
– Sabe que não vai incomodar, eu estou te convidando e se eu convidei é porque eu quero que você esteja lá nesse momento tão difícil, quero te fazer companhia. disse ela com aquele jeito que só ela fala, rápido e desatroso Vamos?
– Ah! eu disse Ta, vamos.
Em meio a tudo o que havia acontecido, eu consegui ri, nem que fosse por um segundo, mas ri.

Tia Lúcia, não disse nenhuma palavra desde que chegou, mas tenho certeza de que era porque ela estava preocupada demais, afinal eu conheço a Júlia e ela há anos, ela é quase uma mãe para mim. Tenho certeza de que ela gosta de mim, o quanto eu gosto dela. Então acho que ela preferiu ficar em silêncio,para não chorar ou ficar me abraçando toda hora, porque ela sempre faz isso, sempre muito emotiva.
Na hora de irmos embora, tia Lúcia disse que queria visitar uma amiga que também estava no internada, então esperamos ela no estacionamento do hospital grande e ao ao livre- ficamos paradas perto do carro da tia Lúcia, conversando.
– Vamos passar na sua casa para você pegar algumas coisas, ok? disse a Júlia.
– Tudo bem eu disse ainda triste com o que aconteceu Só não vamos demorar muito, porq...
E de repente eu senti a sensação, aquela, de que havia alguém me espionando. Olhei para trás rápido e o vi. Então corri em direção a ele e a Júlia se assustou e gritou Alice? Aonde você vai?
Eu continuei correndo até ele, e o menino estava assustado, eu não quero nem imaginar como estava meu rosto, deduzi pela reação dele, de que minha expressão não estava nada boa.


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