A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 28
Um pedido inesperado




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— Ele... Ele me mandou isso — disse Hermione entregando a carta

Harry apanhou-a; me aproximei com Rony para ler. O pergaminho parecia estar úmido, e enormes gotas de lágrimas tinham borrado tão completamente a tinta em alguns pontos que era difícil ler a carta.

 

Cara Mione,

Perdemos. Tive permissão de trazer Bicuço de volta a Hogwarts.

A data de execução vai ser marcada.

Bicucinho gostou de Londres.

Não vou esquecer toda a ajuda que você nos deu.

Hagrid.

— Eles não podem fazer isso — disse abismada com o que acabei de ler. — Não podem. Bicuço não é perigoso!

Já fazia alguns dias que soube pelo Harry e Rony do julgamento do Bicuço. Minha torcida era para que tudo desse certo, mas pelo jeito não aconteceu nada disso. Mais um motivo para odiar a Madame.

— O pai de Malfoy deve ter intimidado a Comissão, para ela fazer isso — disse Hermione, enxugando as lágrimas. — Vocês sabem como ele é. Os outros são um bando de velhos caducos e bobos e ficaram com medo. Mas vai haver recurso, sempre há. Só que não consigo ver nenhuma esperança... Nada vai mudar até lá.

— Vai, sim — disse Rony com ferocidade. — Você não vai ter que fazer o trabalho todo sozinha desta vez, Mione. Eu vou ajudar.

— Ah, Rony!

Hermione do nada atirou os braços ao pescoço de Rony e desabou completamente. Rony, com cara de terror, acariciou muito sem jeito o topo da cabeça dela. Finalmente, ela se afastou.

— Rony, eu realmente sinto muito, muito mesmo, pelo Perebas... — soluçou ela.

— Ah... Bem... Ele estava velho — disse Rony, parecendo muitíssimo aliviado por Hermione o ter soltado. — E estava ficando meio inútil. Nunca se sabe, talvez mamãe e papai me comprem uma coruja agora.

Sorri ao ver que enfim os dois se reconciliaram. Hermione se virou para me olhar e eu disse:

— Parece que colocou as minhas palavras em prática.

— Coloquei — respondeu ela. — Só estava esperando o momento certo.

Ela então acabou me abraçando, o que me fez ficar sem jeito e rir. Retribui o abraço, também sem jeito. Não era costume meu receber abraços repentinos.

— Obrigada — agradeceu a Hermione ao me soltar, dando um sorrisinho e retribui.

— De nada, sabe-tudo — falei terminando a palavra em um tom animado.

(...)

 

Infelizmente não foi possível falar com Hagrid ainda hoje sobre o caso do Bicuço, por causa da segurança imposta depois da segunda invasão de Sirius Black. Ficamos na comunal esperando o jantar, estávamos preocupados com toda situação. Até mesmo eu que não tenho tanta proximidade com o meio gigante, eu queria falar com ele, me deixava doida da vida quando via alguma injustiça rolando. Odeio injustiça!

No entanto quando deu a hora do jantar com tanta coisa que aconteceu justo hoje, me esqueci de um outro detalhe assim que olhei pra mesa da Sonserina.

            — Puta que pariu — murmurei irritada quando me lembrei que esqueci de Theodore Nott em Hogsmeade.

            — Tudo bem? — Hermione me perguntou.

            — Não é nada — respondi rápido, sem tirar os olhos do bife no meu prato. — Só esqueci de algo, apenas.

            — Ok…

            Eu não fiz nada por maldade, minha consciência latejava e só para me deixar mais tranquila precisaria falar com ele. Decidida, ia falar com ele depois da janta. Quando o diretor liberou a todos disse aos garotos e Hermione para irem na frente, ia esperar na entrada do salão algum sinal de Nott.

            Logo o vi saindo do salão com um amigo que não me era desconhecido já o vi outras vezes, mas não me recordava do nome. Pegando coragem, caminhei até os dois que não demoraram para reparar na minha aproximação. Ao menos um deles reparou.

            — Theodore — chamei-o.

            Ele deveria saber que era eu porque seu amigo cochichou quando me olhou. Contudo o outro não se virou para me olhar, ia continuar andando, mas o chamei novamente e ele parou me encarando um tanto irritado.

            — O que foi? — perguntou Theodore estupidamente.

            — Conversar — respondi. — Só quero lhe dar explicações sobre hoje. Podemos?

Theodore me olhou por um momento e se virou para o amigo.

— Te encontro depois, Blásio.

O moreno apenas balançou a cabeça em concordância e antes de sair me lançou um sorrisinho.

— Diga? — falou Theodore sem paciência.

— Pode ser em outros lugares? Aqui está ficando muita muvuca.

Ele balançou os ombros me fazendo um gesto para nos afastar.

— Quero pedir desculpas por hoje — iniciei assim que paramos atrás de uns postes. — Eu juro que surgiu um motivo importante e acabei esquecendo.

— Devo adivinhar seu “motivo importante” foi com o pobretão do Weasley e o testa rachada Harry Potter. Certo?

— Não diga isso do Rony — o repreendi seria. — E nem do Harry, ele não tem nada a ver. Ele nem estava em…

— Não precisa mentir, soube que a cabeça do Potter apareceu misteriosamente.

— Ah, então a Madame foi fofocar com você.

— Ele me contou tudo, inclusive sobre você e o Weasley perto da casa dos gritos. Os dois de mãos dadas e aparentemente sozinhos, próximos… sério mesmo que foi logo escolher o Weasley?

Respirei fundo e contei até dez para não xingar o Malfoy e nem mesmo o Theodore.

— Escuta aqui entre mim e o Rony não há absolutamente nada. Mesmo se tivesse não é problema seu, afinal não temos nada, oras.

Ele me fez uma cara que me fez ficar mais irritada. Sério mesmo que veio aqui na melhor das intenções e sou recebido dessa forma?

— Enfim, não adianta ficar irritadinho dessa forma porque você sabia muito bem que ia com Rony. Não ia cancelar meu passeio por causa de você nem por causa do beijo. Eu já lhe disse que não significou nada.

— Não precisa me repetir que não significou nada — pediu Theodore mexendo no cabelo nervoso. — Não precisa dizer o que já sei, ok? O que me deixou puto é você ter me deixado plantado por uma hora! Como acha que ia ficar?

            — É justamente por isso que vim falar com você. Vim na minha maior sinceridade lhe pedir desculpas, sei que errei e sinto muito. Não vou te explicar nada porque você já sabe a história, então assim foi tudo uma bagunça hoje e esqueci. Fui lembrar agora pouco no jantar. Não foi para te sacanear — digo.

Theodore ficou me olhando atentamente por alguns minutos.

— Tudo bem — disse ele suspirando e fazendo uma cara de derrotado. — Dessa vez eu te perdoou, mas quero algo em troca.

Arqueei as sobrancelhas.

— Algo em troca?

Ele assentiu.

— O que? Outro beijou?

Ele então riu e se aproximou, por um momento achei que seria mesmo um beijo já que ele estava próximo da minha boca.

— Não — respondeu Theodore. — Quero que passe o domingo comigo.

— O que seria amanhã?

— Sim, quero passar o dia todo com você. Compensar por hoje, não peço Hogsmeade porque não tem nenhuma visita nova marcada, então só tem o domingo.

Parei, pensei bem e mesmo não sendo a proposta que queria, era melhor do que uma outra, tentei pensar se tinha algo para amanhã e não tinha. Ainda não sei como iria acontecer em relação ao Hagrid, mas acho que não faria mal ficar um tempo com Theodore.

— Feito — respondi. — Eu passo o domingo com você.

Ele sorriu vitorioso.

— Só deixando claro que não vai rolar nada, nem mesmo beijos… Ok?

— Como a senhorita quiser — e deu uma piscadela.

Conforme prometido, meu domingo foi praticamente o dia inteiro com Theodore por perto. Ficamos jogando conversa fora, ele uma vez ou outra tentou fazer uns comentários bem diretos sobre o que mais queria. Só no fim que achei bem tosco o que ele fez ao me entregar uma florzinha roxa. Não sei se eu que sou estranha, mas achava esse tipo de ato tão tosco.

Mesmo que na segunda fosse um outro dia, as olhadas ficaram persistentes, principalmente nas aulas que a Grifinória tinha com a Sonserina. Era muito estranho ficar com essa sensação de estar sendo bisbilhotada a qualquer momento, não curtia muito.

Outros olhares que recebia com frequência eram de Malfoy, o que me deixava mais desconfortável porque eram dois me olhando! Sentia uma enorme dificuldade de mandar os dois pararem de olhar e o Malfoy com um mais de mandá-lo para puta que pariu pelo que fez com o Bicuço. Se ele não tivesse feito papel de idiota na primeira aula de Trato de Criaturas Mágicas, Hagrid não estaria sofrendo.

Falando em Hagrid não conseguimos falar em nenhum momento com ele desde sábado. Não encontramos nenhuma brecha de noite para ir até sua cabana. O único momento que encontramos para falar com ele é na aula. Só que ia ser feito no final dela.

Hermione estava ao meu lado consultando comigo uma parte do O Livro Monstruoso dos Monstros até que do nada apareceu um bilhete em forma de pássaro.

— Mas que merda é essa…? — indaguei, pegando o pedaço de pergaminho para ler.

— Quem te mandou? — Hermione perguntou olhando tudo em volta.

Abri o bilhete e nele tinha uma pergunta pequena e indireta; bem direta.

            “Quer namorar comigo?”

            — Omg! Quem te mandou isso? — exclamou Hermione.

            Eu a olhei um tanto assustada.

            — E-eu… — Precisei pensar no que dizer, não sei se falaria que foi quem eu sei que mandou aquilo. — Não faço ideia quem mandou.

            Claro que sabia perfeitamente quem mandou aquele bilhete e fez o pedido, olhei Theodore no mesmo instante que também me olhava.

            Fiquei com muita raiva dele, pois aquilo ficou martelando a aula toda na minha cabeça. Acabei ficando toda perdida na aula, nem sabia mais o que estava fazendo e quase esqueci do Hagrid. Se não fosse Harry me puxando estaria voltando para o castelo.

— É tudo minha culpa. Me atrapalhei para falar. Eles estavam sentados lá, vestidos de preto, e eu não parava de deixar cair minhas anotações e esquecer as datas que você viu para mim, Mione. Depois Lucius Malfoy ficou em pé e falou, e a Comissão fez exatamente o que ele mandou…

— Ainda tem recurso! — disse Rony ferozmente. — Não desista ainda, estamos trabalhando nisso!

Regressamos para o castelo com o restante da classe. À frente, via Malfoy, que caminhava com Crabbe e Goyle e não parava de olhar para trás, rindo com ar de deboche.

— Não adianta, Rony — disse Hagrid, muito triste, quando chegamos na entrada do castelo. — Aquela comissão faz o que Lucius Malfoy manda. Eu só vou tomar providências para que os últimos dias do Bicuçinho sejam os mais felizes que tive na vida. Devo isso a ele…

Hagrid deu meia-volta e saiu correndo em direção à sua cabana, com o rosto escondido no lenço.

— Olhem só ele, chorando feito um bebezão!

Virei-me furiosa e vi Malfoy, Crabbe e Goyle que deveriam ter parado para escutar.

— Vocês já viram uma coisa mais patética? — perguntou Malfoy. — E dizem que ele é nosso professor!

É agora que esse imbecil vai me conhecer muito bem; vou quebrar a cara dele. Só antes de chegar na Madame, Hermione chegou primeiro e a punho dela também.

PÁ!

Ela tinha dado um soco na cara dele, fazendo-o ir com tudo para trás se não fosse Goyle ele teria caído no chão. Harry, Rony, Crabbe, Goyle e eu ficamos parados, estupefatos, enquanto Hermione tornava a levantar a mão.

— Não se atreva a chamar Hagrid de patético, seu sujo... Seu perverso…

— Mione! — exclamou Rony com a voz fraca, e tentou segurar a mão dela ao vê-la tomar novo impulso.

— Sai, Rony!

Hermione puxou a varinha.

— Deixei-a continuar, Rony — disse com um sorriso cruel olhando Malfoy que me olhou assustado.

Ele recuou. Crabbe e Goyle olharam para ele pedindo instruções, inteiramente abobados.

— Vamos — murmurou Malfoy com a mão no nariz e, num instante, os três tinham desaparecido no que levava às masmorras.

— Mione! — exclamou Rony, parecendo ao mesmo tempo espantado e impressionado.

Enquanto isso eu comecei a bater palmas.

— Muito bom, Hermione — exclamei rindo com a cena que acabou de acontecer. — Esse soco foi brilhante.

A vi dando um sorriso sem graça.

— Valeu — disse ela com as bochechas coradas.

— Se não fosse você, eu é quem teria dado um soco nele — e teria dado mesmo.

— Harry, acho bom você dar uma surra nele na final de Quadribol! — disse ela com a voz esganiçada. — Acho bom dar porque não vou suportar ver Sonserina vencer!

— Está na hora da aula de Feitiços — disse Rony, olhando para Hermione. — É melhor a gente ir andando.

E assim subimos correndo a escadaria de mármore para chegar à classe do Profº Flitwick.

— Vocês estão atrasados, garotos e senhoritas! — disse o professor, em tom de censura, quando Harry abriu a porta da sala. — Vamos, depressa, tirem as varinhas, hoje estamos fazendo experiências com os feitiços para animar, já dividimos os pares…

— Hermione, acho que a gente seremos um... Cadê ela? — perguntei ao olhar para o meu lado e ela simplesmente desapareceu.

Harry e Rony também a procuraram.

— Eu juro que estava do meu lado — murmurei aos dois.

— Eu também vi — falou Rony.

— Que coisa esquisita — comentou Harry, encarando Rony. — Vai ver... Vai ver ela foi ao banheiro ou outra coisa qualquer.

Mas ela não apareceu durante toda aula.

— Ela bem que precisava de um feitiço para animar, também — comentou Rony quando saímos para almoçar, todos muito sorridentes, os feitiços acredito que tinha deixado todos uma sensação de grande contentamento.

Hermione não apareceu no almoço tampouco. Na altura em que terminei a torta de maçã, os efeitos dos feitiços estavam se dissipando, e eu comecei a me preocupar. Harry e Rony também.

— Você acha que Malfoy fez alguma coisa? — perguntou Rony, ansioso, quando seguíamos apressados para a Torre da Grifinória.

— Eu espero que pelo bem da vida dele, que não, se não eu juro vou agarrá-lo até não aguentar mais — ameacei.

Passamos pelos trasgos de segurança, demos a senha à Mulher Gorda (“Flibbertigibbet”) e passamos pelo buraco do retrato para chegar à sala comunal.

Hermione estava sentada à mesa, profundamente adormecida, com a cabeça pousada sobre um livro aberto de Aritmancia. Os garotos se sentaram de cada lado e eu fiquei de pé na frente dela, abaixei e a cutuquei de leve para acordá-la.

— Ó!... Quê? — exclamou Hermione, acordando e olhando assustada para os lados e para mim. — Já está na hora de ir? Qual é a aula que temos agora?

— Adivinhação, mas só daqui a vinte minutos — respondi.

— Mione, por que você não foi à aula de Feitiços? — perguntou Harry.

— Quê? Ah não! — guinchou Hermione. — Me esqueci de ir à aula de Feitiços!

— Mas como é que você pôde esquecer? — perguntou Harry. — Você estava conosco até chegarmos à porta da sala de aula!

— Eu não acredito! — lamentou-se Hermione. — O Profº Flitwick ficou aborrecido? Ah, foi o Malfoy, eu estava pensando nele e me atrapalhei!

— Sabe de uma coisa, Hermione? — disse, olhando para o livro de Aritmancia que ela estivera usando como travesseiro. — Acho que você está sofrendo um colapso mental. Está tentando fazer coisas demais.

— Não estou, não! — retrucou ela, afastando os cabelos dos olhos e procurando a mochila, com um ar de desamparo. — Foi só um engano! É melhor eu procurar o Profº Flitiwick e pedir desculpas... Vejo vocês na aula de Adivinhação!

Hermione se reuniu com a gente ao pé da escada para a sala da Profª Trelawney, vinte minutos depois mais tarde, com um ar extremamente encabulado.

— Não posso acreditar que perdi os feitiços para animar! E aposto que vão cair nos exames; o Profº Flitwick insinuou que poderiam cair!

— Não se preocupe que depois te ajudo — me ofereci e recebi um olhar agradecido da mesma. — É melhor irmos.

Juntos, subimos a escada para a sala escura e abafada da louca da Trelawney. Brilhando em cada mesinha havia uma bola de cristal cheia de uma névoa branco-pérola.

Harry e Rony; Hermione e eu nos sentamos juntas em mesas diferentes, mas uma ao lado da outra.

— Pensei que não íamos começar bolas de cristal antes do próximo trimestre — resmungou Rony, lançando um olhar preocupado, à procura da professora, caso ela estivesse espreitando por ali.

— Veja pelo bom, isso significa que terminamos a quiromancia — murmurei no ouvido dele em resposta. — Isso quer dizer que ela não vai mais examinar a mão do Harry e fazer careta.

Harry então fez uma careta e resmungou:

— Eu já estava ficando cheio com isso.

— Bom dia para todos! — saudou a voz etérea e familiar, e a professora saiu das sombras em sua costumeira e dramática aparição.

Vi Parvati e Lilá estremecerem de excitação, os rostos iluminados pelo brilho leitoso das bolas de cristal.

— Resolvi começar a bola de cristal mais cedo do que tinha planejado — disse a professora, sentada de costas para a lareira, olhando para a turma. — As Parcas me informaram que o exame de vocês em junho tratará de orbe, e estou ansiosa para oferecer-lhes muita prática.

Hermione deu uma risadinha.

— Bem, francamente... “as Parcas a informaram” ... Quem é que prepara o exame? Ela mesma! Que profecia assombrosa! — continuou ela sem se preocupar em manter a voz baixa.

E eu nem me preocupei em rir baixo.

Harry e Rony sufocaram risadinhas.

Era até difícil dizer se a professora nos ouvia, pois seu rosto estava oculto pelas sombras. Ela, no entanto, continuou como se não tivesse ouvido.

— A vidência com a bola de cristal é uma arte particularmente requintada — disse em tom sonhador. — Por isso não espero que vocês vejam alguma coisa ao procurarem examinar pela primeira vez as profundezas infinitas do orbe. Vamos começar praticando o relaxamento da mente consciente e da visão exterior — Rony começou a soltar risadinhas irrefreáveis e precisou meter o punho na boca para abafar o som, eu precisei me segurar para não rir dele — para vocês poderem limpar a visão interior e a supraconsciência. Talvez, se tivermos sorte, alguns de vocês consigam ver alguma coisa antes do fim da aula.

Como foi pedido começamos a praticar. Obviamente que não conseguia ver nada, apenas uma cortina branca na bola de cristal. Os mais divertidos eram os muxoxos de Hermione sobre a aula; Rony me fazia companhia aos risos.

— Viram alguma coisa? — perguntou Harry para nós.

— Já, tem uma queimadura no tampo dessa mesa — disse Rony apontando. — Alguém derruba uma vela.

— Isso está muito chato, até agora não sei por que escolhi fazer Adivinhação — resmunguei apoiando a mão na mesa e olhando a bola.

— Isto é uma baita perda de tempo — sibilou Hermione. — Eu podia estar praticando alguma coisa útil. Podia estar recuperando a matéria de feitiços para animar…

A Profª Trelawney passou farfalhando.

— Alguém gostaria que eu ajudasse a interpretar os portentos obscuros que aparecem em seu orbe? — murmurou sobrepondo a voz ao tilintar dos seus badulaques.

— Eu não preciso de ajuda — digo, recebendo os olhares da professora. — É óbvio o que isto significa. Vai haver um nevoeiro daqueles hoje à noite.

Harry, Rony e Hermione explodiram em risadas.

— Ora, francamente! — exclamou a Profª Trelawney quando todas as cabeças dos alunos se viraram em sua direção.

Parvati e Lilá fizeram caras escandalizadas.

— Vocês estão perturbando as vibrações da vidente!

A professora se aproximou da mesa de Rony e Harry e espiou as bolas de cristal dos dois. Pela cara que Harry fez, ele já deveria imaginar o que viria a seguir…

— Vejo algo aqui! — sussurrou a professora, aproximando o rosto da bola, de modo que esta se refletiu duas vezes em seus enormes óculos. — Alguma coisa que se move... Mas o que é isso?

Eu já até sei o que era, notícia boa que não era.

— Meu querido... — sussurrou a professora, erguendo os olhos para ele. — Está aqui, mais claro que antes... Meu querido, aproximando-se de você, cada vez mais perto... O Sin…

— Ah, pelo amor de Deus — exclamou Hermione em voz alta. — Não é aquele ridículo Sinistro outra vez!

A Profª Trelawney voltou sua atenção para onde estava Hermione e eu. Vi Parvati cochichando alguma coisa para Lilá, e as duas olharam feio para Hermione também. A professora fitava Hermione com uma raiva inconfundível.

— Sinto dizer que do instante em que você entrou nesta sala, minha querida, ficou evidente que não tinha o talento que a nobre arte da Adivinhação exige. Na verdade, eu não me lembro de jamais ter encontrado uma aluna cuja mente fosse tão irreparavelmente terrena.

Seguiu-se um momento de silêncio. Então…

— Ótimo! — exclamou Hermione de repente, levantando-se e enfiando o exemplar de Esclarecendo o Futuro na mochila. — Ótimo! — repetiu, atirando a mochila sobre o ombro e quase derrubando um garoto da Lufa-Lufa da cadeira. — Eu desisto! Vou-me embora.

E não é que Hermione deixou mesmo a sala, deixando todos boquiabertos. Até mesmo eu fiquei chocado porque não imaginaria fazendo algo do tipo.

Levou alguns minutos para todos se aquietaram outra vez. A professora parecia ter se esquecido completamente do Sinistro.

Deu as costas, bruscamente, à mesa de Rony e Harry, respirando forte e ajeitando o diâfano xale mais perto do corpo.

— Ooooh! — exclamou Lilá de repente, assustando todo mundo. — Ooooh, Profª Sibila, acabei de me lembrar! A senhora viu a Hermione nos deixando, não foi? Não foi, professora? Na altura da Páscoa, alguém aqui vai deixar o nosso convívio para sempre! A senhora disse isso há um tempão, professora.

Vi a professora sorrir suavemente.

— É verdade, minha querida, eu sabia que a Srta. Granger iria nos deixar. Esperemos, no entanto, que tenhamos nos enganado com os sinais... A visão interior pode ser um fardo, sabem…

Lilá e Parvati pareceram profundamente interessadas e trocaram de lugar.

Essas duas são ridículas!

— Um dia Hermione vai capotar, hein? — Rony murmurou, fazendo cara de espanto.

— Se é que ela já não capotou — disse ao me sentar junto com eles.

(...)

 

— Pensou na minha resposta?

Depois do jantar fui me encontrar com Theodore para dar a resposta sobre o tal pedido de namoro. Como imaginava, não precisei perguntar se foi ele mesmo, pois o cara se entregou. E é claro que pensei no pedido, não demorei para pensar na resposta já que consegui em questão de minutos o que iria dizer e no mesmo dia.

— Pensei, eu pensei sim sobre o que te responder — ele muito esperançoso para o meu gosto —, e bem minha resposta é não. Sinto muito, mas não me sinto preparada para iniciar um romance. Então a é não, eu não aceito.

Se fui cruel na resposta eu não sei, mas acho que foi como se tivesse jogado um balde de gelo no coitado até porque seu sorriso sumiu rapidinho.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?