Eryk

Acabo de acordar para mais um dia de treinamento. Já se passaram 5 dias desde que os times foram formados. Eu estava no meu quarto particular do acampamento e retiro minha camiseta e me encaminho para o banheiro.

Só que quando eu passei pelo espelho algo me chamou a atenção. E quando eu voltei para me olhar no espelho, vi o que era.

– O quê que é isso? É muqui? É muqui, cara... – Falei comigo mesmo, impressionado, enquanto cutucava meus músculos no meu braço, curioso. Eu estava um pouco mais bombado do que quando eu cheguei na ilha. Mesmo eu treinando dias na Raimon, não mudava quase nada em relação a 5 dias treinando sem parar na ilha.

– Bora. Sua seção de treinamento já vai começar. – Hakuryuu aparece na porta já arrumado. Eu o olhei com cara de “e eu que nem tomei café?” Mas estava alegre demais para implicar com ele.

– Se liga nisso Hakuryuu! Fiquei bombadão haha! – Falei mostrando meus músculos pro Hakuryuu como uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo. Desde que iniciamos o treinamento eu não tenho visto a Fran com frequência. Só durante o almoço que a gente se esbarra.

– Ei, sai pra lá! Tá me estranhando, é? – Ele recusou virando a cabeça pro outro lado. Eu só fiz ignorar e continuar cutucando meu próprio braço com meu dedo ainda feliz com aquilo. – Vamos logo, não quero me atrasar também. – Ele retornou a me chamar e eu parei, finalmente indo me arrumar para mais uma rotina de treinamento pesada. É sério, não sei como estou vivo. Não vou nem contar o que passei para me fortalecer. Só digo que valeu a pena, e ainda faltava mais um dia de treinamento até o torneio.

Temos um local de treinamento individual no salão do Jardim do Éden. Os atacantes treinam numa parte, os zagueiros em outra, os meio-campistas em mais uma, e os goleiros também. No almoço a galera falou que estão criando uma técnica combinada em trio de defesa. Ainda não aperfeiçoaram, mas estão quase lá. Fran também está treinando para usar sua incorporação com mais frequência e sem sair do controle. E eu também estou aperfeiçoando uma técnica nova e poderosa. Espero que seja útil para ajudar a equipe. O Hebino tem me ajudado e muito também. Ele tem um jeitão de valentão, mas até que é gente boa. Ainda não vou muito com a cara do Hakuryuu também, embora eu esteja começando a entender como ele é assim depois de treinar ao seu lado. Mas as vezes ele inventa uma maneira de me zoar, mas fora isso ele é “legal” que nem o Tsurugi. Eles tem uma certa semelhança também, embora pareçam bem diferentes.

– Ufa... esse torneio vai ser o bicho. Mal posso esperar. – Falei, dando pra mim mesmo uma folguinha de míseros 5 minutos. Sentei encostado na parede enquanto bebia um cantil de água.

– Devemos sempre manter o foco na vitória. Cada treinamento valerá a pena não só durante o torneio, mas pelo resto da vida também. – Hakuryuu chegou até mim e sentou ao meu lado, também bebendo outro cantil de água, exausto de tanto treinar.

– Sabe? Tem uma coisa que eu não entendo. Até onde eu sei, a luz é algo bela, calorosa, essas coisas. Como é que alguém tão marrento como você possui um forte poder de luz em si? – Perguntei, num tom de curioso, sem ofender ninguém, e Hakuryuu sacou isso. Ele sorri, entendendo meu ponto de vista e sabendo onde queria chegar. E antes de me responder, ele logo ficou de pé.

– A luz não é só isso. Seu coração não precisa estar iluminado. Seu corpo é que tem que aceitar a luz. A luz também é forte, poderosa, e se descuidar, ela até se torna esmagadora. A luz é uma das coisas mais poderosas do mundo. E para agarrar algo forte, você precisa ser forte. Ela sempre ilumina o caminho para a vitória e é por isso que eu a sigo cegamente. Porque eu sei que, se algo me derrubar, a luz me dará mais força para levantar.

Hakuryuu dizia aquilo com tanta garra e tanta convicção que eu acho que estava quase entendendo ele. De fato, isso explica tudo. Agora entendo porque ele é tão “auto-confiante”. Ele acredita tanto na luz que dominou ela.

Só que eu ainda não dominei minha luz. Eu só deixo ela me dominar. Sem falar no meu lado escuro. Eu não sei se é isso que atrapalha o Mixi-Max. A escuridão dentro de mim é imensa, mas eu sempre posso contar com a luz para dominá-la. Vai ver é esse o problema. Não posso deixar a minha luz dominar a minha escuridão, sou eu mesmo que tenho que fazer isso. Mas para fazer isso, e fazer com que o Mixi-Max funcione, eu tenho que dominar a própria luz.

O que eu fiz até agora foi me guiar pela luz e prender minha escuridão. Eu tenho que dominar a luz e a escuridão, sem deixar ser dominado por um ou pelo outro, se não eu serei dominado por um dos dois. Mas para isso eu tenho que dominar minha luz e usá-la ao meu favor para dominar as trevas.

Mas se eu realmente quero fazer isso, eu tenho que encontrar uma maneira de ficar mais forte.

– Beleza, acabou a forra. Agora vamos ao treinamento! – Falei me levantando também, surpreendendo um pouco o Hakuryuu. Eu apenas me dirijo para uma das maquinas de treinamento enquanto deixo o albino para trás.

– E-ei espera! – Escutei ele me chamar correndo na minha direção. E seguimos com o treinamento infernal até não poder mais.

Só espero que o Endou e o resto do pessoal estejam melhor que a gente.

Endou

No primeiro dia o Shu ensinou a mim e ao resto do time a usar a Floresta Ancestral ao nosso favor para o nosso treinamento. E deste então temos treinado muito para o torneio.

Já faz 5 dias desde que começamos. Cada um de nós era auxiliado por um dos jogadores do time do Shu. Graças as dicas deles andamos treinando tanto que adquirimos resultados. Cada um de nós ficamos mais fortes, sem falar das novas técnicas que estamos treinando.

Não temos acesso ao local de treinamento da equipe do Eryk. Nós sempre passamos a noite na cabana, enquanto eles passam a noite no prédio principal do Jardim do Éden para que não percam tempo treinando pelo que parece.

– Ai... estou exausto... – Falei desabando no chão de terra do campo. Eu estico meus braços e pés de tão cansado que estava. Até eu me despertar com uma pequena gota de água.

– Você anda treinando direto que está quase desidratado. Deveria tomar isso. – A gota de água veio do cantil que a Natsumi me ofereceu. Eu me sento e aceito a bebida engolindo toda a água na mesma hora.

– Aaaah...! Muito obrigado mesmo Natsumi. Sinto minhas energias retornando! – Falei começando a sentir uma força crescendo dentro de mim, e recuperando a energia que avia gastado.

– Você exagera muito quando está treinando. Daqui a pouco vai acabar caindo morto no chão de tanto treinar. – Natsumi falou me dando uma bronca. Eu apenas sorriu e coço a cabeça sem jeito.

– Foi mal, foi mal. É que eu sempre fico animado para um jogo. E ainda mais agora. Eu tenho que ficar muito mais forte ainda para quando o Asta voltar. – Falei decido. Ela me olhou preocupada. Parecia estranha. – O que foi? – Perguntei não entendendo o motivo de ela ter ficado assim de repente.

– Hã? Nada, é que...Endou eu... – Ela ficou de costas para mim e continuou a falar. Eu quase não entendo o que ela quer dizer. Mas pela maneira que ela dizia já dava para saber.

– Natsumi... Não se preocupe comigo. É para isso que estou treinando tão duro. Não vou deixar nada acontecer comigo, com você, com todo o time e nem com o futebol, tá? – Eu fiquei na frente dela e falei tudo isso. Ela estava de cabeça baixa, e quando levantou para me olhar nos olhos, percebi que ela estava um pouco lacrimejada.

– Eu sei... Eu sei que você vai continuar lutando. Eu só...

Ela para de falar e me abraça na hora. Aquilo me pegou de surpresa. Eu acho até que fiquei vermelho um pouco. Mas eu pude sentir a aflição dela com aquilo e logo correspondi a aquele abraço.

– Eu só... queria estar com você. Com você e... com o pessoal.

Não sei descrever o que sentir quando ouvir aquilo. Só sei que foi bom. Foi caloroso. Tão caloroso quanto o abraço que ela me dava.

– Natsumi...

Uma bola que quase acerta a gente, interrompendo o que eu ia dizer. Nos separamos no susto. Quase que ela pega a gente.

– A-a-ah eu sinto muito. – Konoha correu até nós e pegou a bola que caiu. Estava um pouco nervosa pela bola quase ter acertado a gente.

– Não. Tudo bem... – Disse para tranquilizá-la. Konoha pega a bola e sai correndo para continuar o treinamento.

– É-é melhor eu ir também. – Natsumi falou também indo embora. Eu ergo minha mão quase dizendo “espera”, mas eu não conseguir.

Eu olho para minha mão e me lembro da sensação boa que sentir quando estava abraçando ela. E... eu sentir falta quando ela foi embora. Queria estar mais com ela, sentir aquilo de novo. E é aí que eu me lembro do motivo de eu estar lutando.

Eu fecho minha mão com garra e retorno ao treinamento. Passei o dia focado em aperfeiçoar minhas habilidades que nem notei o tempo passar. Quando terminamos, Shu me convidou para assistir o pôr-do-sol em uma rocha no topo de uma cachoeira de um penhasco da ilha.

– Que vista linda... – Falei maravilhado com aquilo. Shu e eu nos tornamos amigos no tempo que passamos aqui na ilha. E deste então, ele tem me ajudado e muito.

– Quando existem forças únicas, a diferença não é o tamanho do poder, e sim do tipo dele. A Floresta Ancestral ajuda a não só treinar seu corpo, como também o espírito. Paisagens como essa fortalecem o espírito para quem quer fortalecê-lo. Tenma treinou muito nessa cachoeira e conseguiu alcançar e superar os limites de sua própria força. – Dizia Shu ao meu lado, enquanto contemplávamos aquela vista.

– Entendo. Meu avô também falou que a verdadeira força vem do coração. É sempre daqui que tiro toda minha vontade de lutar. – Elevei meu punho para o peito, fechando os olhos e sentindo a sensação poderosa em mim a medida que eu pensava nos meus amigos.

Amigos...

Família...

Futebol...

Natsumi...

Esse ultimo me fortaleceu mais ainda. Eu sorri, ainda de olhos fechados, me recordando da sensação de mais cedo. E quando eu abro os olhos, me deparo com um belo pôr-do-sol escarlate. O céu estava tão lindo e avermelhado que me lembrava da Natsumi. Seu cabelo, seus olhos, tudo dela. E antes de eu perceber, uma imagem dela aparece na frente do sol, como se ela fosse o próprio sol. Aquilo bastou para reconfortar meu espírito e sentir uma força maior ainda crescendo dentro de mim.

– Isso mesmo. Sentimentos fortes nos deixam mais fortes. Como nosso amor pelo futebol. – Shu dizia me ajudando a entender melhor tudo isso.

– Sim, meu amor pela Nats... Querdizer! Pelo futebol, não é? Hehe...

Não sei o que deu em mim. Só que aquilo meio que escapou. Eu não queria dizer aquilo mas quase acabei dizendo.

O Shu apenas solta uma risada. Acho que ele ouviu o que eu disse.

– Você é interessante. Tanto você quanto o Tenma. Eu também tentei ser forte para proteger minha irmã, a quem eu mais amo, mas... – Aos poucos Shu foi se encolhendo, como se trouxesse péssimas lembranças. Eu fiquei um pouco preocupado e tentei ajudar.

– O que ouve? – Perguntei.

– Minha irmã. Na época eu não sabia, mas não era para eu ser forte para protegê-la. E eu fiquei tão preocupado com isso que eu acabei perdendo-a por causa do futebol. Mas graças ao Tenma agora eu sei o que eu deveria ter feito naquele dia e não ter jogado esse peso no futebol também. Mas não adianta, não é? O que passou, passou.

Ele terminou sorrindo fraco para mim. Na mesma hora fico pensando na Natsumi, se algo acontecer com ela como aconteceu com a irmã de Shu. Eu não sei o que eu faria.

O céu ficou escurecendo, como se estivesse se ajustando ao clima daquele momento. Até que eu percebo que já estava ficando tarde e me levanto para ir embora.

– Nossa, já escureceu. Nós temos que ir. Temos que nos encontrar com os outros. – Falei.

– Está certo. Vamos. – Disse Shu se levantando também.

Resolvi me concentrar no treinamento. Conforme os dias foram passando eu treinava mais e mais aumentando mais ainda a minha força.

Até o primeiro dia do torneio chegar.

Narração Normal

– Pontos por gols? – Pergunta Nagazy surpresa.

Todos os Super Onze estavam na sala de reuniões da cabana, onde o pai de Nagazy explicava mais detalhes sobre o torneio para os times.

– Sim. Os times do Super Onze enfrentaram os times da ilha. Todos os gols acumulados de todas as partidas serão somados para decidir o vencedor no final. – Dizia o pai de Nagazy.

– Em outras palavras, mesmo se um time perder, o outro time poderá ter a chance de fazer mais gols e trazer a vitória por eles, não é? – Analisava Manabe.

– Exato. E se der empate ou não, tudo será decidido depois do ultimo jogo, onde os Super Onze das equipes A e B formarão uma só para enfrentar o time mais poderoso da ilha. – Dizia o senhor Yumura.

– O time Zero... – Completou Tsurugi.

– Isso mesmo. Para os que irão jogar hoje, vocês têm meia hora para se arrumar até o jogo contra o Brilho Ilimitado no Campo Branco central do Jardim do Éden. Enquanto os outros estão dispensados. – Terminou Yumura, fazendo todos os jogadores se organizarem para o grande jogo, enquanto os outros corriam para as arquibancadas para assistir.

Depois...

Eryk estava parado no meio de um corredor escuro. Estava um pouco nervoso com o jogo prestes a começar. Ele tinha noção da força da equipe do Hakuryuu assim como Hakuryuu tem noção da força da equipe de Eryk. O que preocupava o garoto era como ele ia comandar seu time.

– Beleza Eryk. Fica frio. É hoje que você vai detonar com o time do Hakuryuu. A galera confia em você. – Eryk falava sozinho como se estivesse se aquecendo como concentração para o jogo. Ele respirava fundo, bem fundo para deixar seu nervosismo de lado.

– Você está muito tenso. – Fran aparece no corredor atrás de Eryk. O garoto vê ela e se encosta na parede.

– Eu estou empolgadaço com esse jogo. Mas ao mesmo tempo estou nervoso se caso eu não me sair bem. É a primeira vez que banco o capitão do time então eu tenho que jogar como um. – Dizia Eryk.

– Eu sei. Você está tão nervoso com isso que até esqueceu da sua braçadeira no vestiário.

– EU O QUE!? – Eryk se espanta quando Fran mostra a braçadeira de capitão que o goleiro tinha esquecido. Ele imediatamente pegou de sua mão e a coloca no braço.

– Nós já conversamos sobre isso, Eryk. Você é um ótimo goleiro e um ótimo jogador. Esse será seu primeiro jogo após ter treinado tanto. Sem falar que o pessoal confia muito em você agora. Então está tudo bem. – Dizia Fran para consolá-lo.

– Eu sei. Eu sei, mas... tá difíííícil... – Falou Eryk manhoso de preocupação, quase escorregando na parede onde encostava.

– Bom... nesse caos eu vou te dar um incentivo.

Fran dá uma corridinha até ficar no lado de Eryk e beija sua bochecha.

– Se você vencer o jogo de hoje... eu posso recompensá-lo mais tarde. – E com um sorriso em seu rosto, Fran vai embora e deixa Eryk sozinho no corredor.

O garoto põem a mão onde Fran tinha beijado. E de repente, ele sente uma força crescendo dentro dele, quase o tornando inabalável pra tudo.

– AGORA EU TÔ PODENDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – Gritou Eryk mais confiante que nunca.

Seu time lhe aguardava em frente da escadaria que levava ao campo de futebol. Eryk se juntava a eles andando de vagar até se deparar com cada jogador ali.

– Aí está você. Está pronto? – Pergunta Ibuki.

– Vamos mostrar pra eles que nós não vamos dá molhe não haha! – Dizia Nishiki mais do que animado para jogar.

– Eu estou um pouco nervoso... – Admitiu Kabeyama um pouco agoniado.

– Não se preocupa! Vai ficar tudo bem. Né não Eryk? – Pergunta Kinako.

– É bom você não decepcionar a gente, hein? – Brincou Sakura para Eryk.

– E então? Vamos “capitão”? – Chamou Fran, o que fez Eryk abrir um sorriso de orelha a orelha.

– É a primeira vez que eu vou dizer isso antes de um jogo.

Dizia Eryk, passando por todo o seu time, indo subir as escadarias que traziam uma luz tão forte que chegava a cegar a visão.

– Tá na hora de pirar...!

Continua...