Criança Perdida escrita por Lu Rosa


Capítulo 16
Capitulo Dezesseis




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Mas o Doutor não dormiu naquela noite. Por um impulso, ele foi até o quarto ocupado por Alexia para ver se ela esta bem.

Satisfeito por vê-la dormindo profundamente, ele saiu novamente para o corredor. Caminhando lentamente, com as mãos nas costas, ele se dirigiu ao gabinete continuo ao quarto de Alexia. É ali que ele pretendia dormir, o mais próximo possível de Alexia. E não nos aposentos suntuosos que a Presidente Julia designou para ele. A TARDIS, sua velha companheira lhe faria companhia pela noite.

Ele sentou-se em uma poltrona em frente a uma lareira, cruzou as pernas estendidas.

Muitas coisas ocupavam sua mente. E quase todas relacionadas à Alexia. Recordações, perguntas rodavam sua mente como em um carrossel.

Um facho de luz apareceu debaixo da porta e a ela se abriu.

— Quem está ai?

— Sou eu, o Doutor.

— Doutor? – o capitão Sorus entrou no aposento. – Não deveria estar em seu quarto, senhor. Não consegue dormir?

— Muitas coisas para pensar. E você? Sofre de insônia?

O capitão entrou e sentou-se na cadeira em frente a do Doutor.

— Não. Estou auxiliando a ronda desta noite. Também tenho muito em que pensar.

Os dois homens ficaram calados por um momento observando a dança das labaredas na lareira.

O capitão Sorus tinha quase certeza que os pensamentos do Doutor estavam voltados para Alexia. Então por que não estimular mais esse jogo de gato e rato?

— E a Senhora Alexia? Está bem instalada?

Como previra, a menção do nome de Alexia fez que o Doutor olhasse rápido para ele.

— Alexia? Dorme profundamente. Uma boa noite de sono lhe fará bem. Passou por muita coisa. Precisava descansar.

— E mesmo passando por todas as coisas que ela me contou, ela não perdeu o bom humor. Divertimos-nos bastante.

— É. Eu notei. – o Doutor levantou-se da poltrona e andou até a lareira.

— Nós tivemos uma boa conversa.

— E sobre o que? – o Doutor voltou-se a sentar, inclinando-se para o capitão. O brilho do fogo da lareira refletia-se em seus olhos azuis

— Bem... Tendo em vista tudo que ela sofreu, eu disse que ela poderia ser feliz aqui em Gallifrey.

Alexia. Gallifrey. Guerra Temporal. Daleks ensandecidos. O Doutor precisou de muito autocontrole para não correr, pegar Alexia e levá-la para longe dali.

— Alexia ficar em Gallifrey? Não. Ela não poderia.

— E por que não? – o capitão estava muito interessado na resposta do Doutor.

— Por que... – ele titubeou – Ela não é de Gallifrey. Ela seria muito discriminada. Os Senhores do Tempo podem ser muito preconceituosos.

— Ah, mas eu não estava pensando nos Senhores do Tempo.

— E com quem ela ficaria então, capitão Sorus?

— Ora, comigo. – Sorus quase riu da expressão chocada do Doutor – Não sou um Senhor do Tempo, mas minha família é tradicional aqui. Sempre servimos com distinção ao Alto Conselho. Seria um bom marido para a senhora Alexia. Qualquer homem perceberia a jóia valiosa que ela é.

Somente quando viu os punhos do Doutor se fechando, é que Sorus percebeu que talvez tivesse ido longe demais. Mas o Doutor era um homem que detestava a violência. No mesmo momento que o desejo de agredir o capitão veio, o desejo foi embora. Ele sorriu para o capitão, mas não havia humor nesse sorriso.

— E com certeza você percebeu isso, não é? – perguntou com ironia.

O capitão recostou-se em sua poltrona respondendo no mesmo tom irônico.

— E o senhor não?

O Doutor não respondeu de imediato. Procurou as palavras certas. O capitão, aparentando tranqüilidade, levantou-se da poltrona.

— O senhor já me respondeu. – ele declarou encaminhando-se para a porta. – Espero que a senhora Alexia tenha pensado em nossa conversa dessa noite. Bem, vou continuar com o meu trabalho. Boa noite, Doutor. – ele se inclinou.

— Capitão... – o Doutor murmurou uma resposta.

Sorus fechou a porta e esperou. Logo ele ouviu o barulho de algo se quebrando. Ele não conteve uma risada baixa. Afinal de contos, o Doutor não era tão imperturbável quanto aparentava.

Alexia abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o Doutor sentado em uma poltrona perto da janela lendo um livro incrivelmente grosso. Suas longas pernas estavam estendidas apoiadas em um banquinho estofado. Ele vestia apenas camisa branca e calças escuras. Alexia ficou contente ao ver que ele não vestia trajes gallifreyanos, apesar de sua posição como Senhor do Tempo. Vê-lo em um daqueles trajes, lhe daria a sensação dele ser inatingível. As roupas comuns lhe conferiam uma distinção e masculinidade que faziam seu coração bater mais rápido.

Ela ainda ficou por alguns minutos observando o Doutor sem ser notada, mas Alexia era uma mulher de ação e ela logo procurou alertá-lo de seu despertar.

Assim que Alexia deu sinal que estava despertando, o Doutor levantou-se da poltrona e caminhou até a cama. Mas ele logo percebeu seu erro, pois nunca havia estado com Alexia em tal grau de intimidade. Permanecer em vigilância no mesmo quarto que ela lhe pareceu uma boa idéia no momento que ele a teve, até por que Alexia estava entregue a um sono profundo. Mas a imagem dela com os cabelos em desalinho sobre os travesseiros tiveram sobre ele um efeito devastador. E ele nem queria pensar na curva de seus ombros que apareciam sob a linha do lençol.

— Bom dia, Alexia. – ele cravou os olhos no chão, pois Alexia sentou-se na cama e o lençol escorregou mais alguns centímetros.

— Bom dia Doutor. O que vamos fazer hoje?

— Eu vim avisá-la que estarei no gabinete da Presidente Julia. Ela pediu a minha ajuda em algumas questões.

Ela não escondeu o desapontamento.

— Ajuda. Sei... – murmurou baixinho.

O Doutor inclinou-se para ela. – O que disse Alexia?

— Nada. – ela respondeu em voz alta. – E o que eu faço enquanto você faz política?

— Pode começar com o café da manhã. – ele indicou a mesa repleta de iguarias. Ele viu o olhar preocupado dela para a mesa. – Não se preocupe. É tudo da TARDIS. A comida gallifreyana pode ser um tanto indigesta para quem não é daqui. E me desculpe por ontem. Eu deveria ter tido cuidado com a diferença de paladares. E você pode ficar com o capitão Sorus. Vocês parecem ter se dado bem.

— Ah, sim. Sorus. É ele me convidou para ver o treinamento dos soldados dele. Talvez seja bem instrutivo. – ela acrescentou com ar sério.

O Doutor revirou os olhos. Com tantos intelectuais em Gallifrey, Julia tinha que deixar Alexia aos cuidados do capitão da guarda do Panopticon.

— Só tenha cuidado. Todos os olhos estão voltados para nós.

— Acha que vou causar problemas? – Alexia só não levantou da cama por que estava só de lingerie por baixo dos lençóis.

— Você tem que admitir que o seu gênio seja forte, não é?

— Eu só sou um pouco impulsiva. Mas não se preocupe, vou me comportar como uma boa inglesa. Gelo nas veias, meu caro. – ela acrescentou rindo. – Outra coisa, Doutor. Preciso de roupas. Eu não consigo me imaginar vestindo algum daqueles trajes.

— Você se acostumaria, tenho certeza. Mas não se preocupe. A TARDIS está aqui ao lado. Você só tem que cruzar esta porta aqui. Vou deixar a chave aqui. – ele colocou a chave da TARDIS sobre a mesa.

— Doutor, se a TARDIS estava bem ali ao lado, por que nós não dormimos nela a noite passada?

— Por uma questão de educação. Nós somos convidados da Presidente Julia. É como se fosse uma visita de chefe de estado. Você sendo da Terra tem status de Embaixatriz.

— Ah, entendi. Mantendo a classe mesmo em perigo. Com o Mestre

à solta...

— Você não correu perigo, Alexia. – O Doutor respondeu de forma enigmática.

— Eu estava tão cansada que uma manada de elefantes poderia passar que eu não ia perceber. Como você sabe que não me raptaram durante a noite e na verdade que sou um andróide ou um Auton? Ou quem sabe um Zygon alucinado por poder.

Ele deu um de seus sorrisos estonteadores.

— Por que eu fiquei aqui a noite toda vigiando. – Dizendo isso ele fechou a porta ainda sorrindo da expressão horrorizada de Alexia.

Alexia olhou para a porta fechada ainda sem acreditar nas palavras do Doutor. A noite toda?! Ele a observara no sono a noite toda?! Alexia tentou se lembrar se tivera algum sonho, por que era fato corrente na família Calendale que ela falava durante o sono. Mas sua mente estava vazia pelo choque. Tudo era um branco só. Mas, decidiu-se com um balançar de ombros, se ela dissera algo de comprometedor, ela não deveria se preocupar por dois motivos. Um, o Doutor era um cavalheiro e nunca ele iria comentar o que ouvira. Dois: o que ela falara, se realmente falara algo sobre ele, era absolutamente verdade.

Ela saiu da cama, enrolada no lençol. Estendido na cama estava o diáfano tecido do Luna Lux. Ela o pegou e o trouxe perto do rosto, sentindo a maciez do tecido. Com reverencia, ela o dobrou e o colocou na caixa de madeira trabalhada.

Levando seu precioso presente, ela foi para a TARDIS.


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