Gêmeas escrita por Louise


Capítulo 6
Episódio II: Maria


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, voltei! Desculpa ter sumido por alguns dias, estou tendo uma semana bem atarefada D: Espero que gostem de mais um capítulo!



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Rússia, 1995.

Papai não me entende. Há alguns dias atrás, ele me perguntou o que eu queria de Natal. Eu disse que queria uma boneca, igual aquela da vitrine da loja de brinquedos da rua debaixo. Alguns minutos depois, ele fez a mesma pergunta para a Tatiana. Ela disse que queria uma faca, ou uma arma daquelas que ele tem na estante do quarto.

Hoje, manhã de Natal, achei um presente para mim debaixo da árvore. E adivinha só o que eu ganhei? A boneca não foi. Sabe o que eu ganhei? Uma faca, igual a que a Tatiana ganhou no aniversário passado.

Tatiana é muito diferente de mim. Enquanto eu quero ir brincar no parque com as outras meninas, ou ter uma boneca, uma casinha ou um vestido, ela adora ficar em casa e treinar os golpes novos que o papai ensinou, aprender como se usa uma arma nova, ou ganhar novos uniformes de treino. Tudo bem, eu gosto dos treinos – são divertidos, e dificilmente ela consegue me acertar, - mas eu sinto falta de alguém para conversar. As vezes imagino como seria se a mamãe estivesse aqui desde o começo. Será que o papai faria isso que está fazendo? Será que ela sabia o que ele fazia?

O nome da mamãe era Alexandra – sim, como a czarina Romanov. Papai diz que ela era maravilhosa, embora eu nunca tenha visto nenhuma foto. Ele diz que sou muito parecida com ela, e que eu e Tatiana ficaremos tão lindas e espertas como ela. Mamãe devia ser um anjo.

Converso com ela, de vez em quando. Lógico que ela não responde – está morta desde que eu e minha irmã nascemos, como poderia responder? -, mas falo como se ela respondesse. Algumas vezes, quando acordo de madrugada com medo de algo, finjo que ela está ali comigo, e consigo me acalmar. Minha vida seria tão diferente se ela estivesse aqui desde o começo.

Londres, 2014 - 11 dias depois do tiro.

Quando acordei naquela manhã, estava assustadoramente disposta. Meus ossos, que antes pareciam esmigalhados, agora estavam fortes como aço. As bordas das feridas feitas pelas balas já não doíam tanto, e eu me mexia na cama feito louca, desesperada para andar.

Sra. Hudson foi me visitar de manhã. Eu acabara de acordar quando ela abriu a porta, carregando em mãos uma bandeja com um belo café da manhã. Assim que abri os olhos e a vi, abri um sorriso. Vestia um daqueles vestidos de sempre, sujo de trigo ou de manteiga nas mangas. Ela tem sido uma ótima amiga ultimamente. Costuma sentar na poltrona a meu lado e assistir todos aqueles programas bobos da televisão, divide comigo alguns baldes de pipoca quando algum filme começa, e até jogamos pôquer uma noite.

__ Bom dia, dorminhoca – ela disse, sorridente. – Desculpe por demorar, acabei me atrasando da minha caminhada matinal.

__ Sem problemas. A senhora não deveria nem estar me trazendo isso todo dia, vou ficar mal acostumada.

__ Você precisa. E eu não tenho muitas coisas para fazer.

Me entregou a bandeja, sentando na poltrona, como sempre fazia.

__ Dormiu bem? – ela perguntou.

__ Mais ou menos. Tive uns sonhos estranhos.

__ Como assim?

__ Não lembro de muito. Eu estava olhando para cima, e o rosto de uma mulher apareceu. Ela se parecia tanto comigo, que suspeito que seja Sophia. Mas os olhos... Eram diferentes. Sophia tem olhos como os meus, verdes; a mulher do sonho tinha olhos azuis.

__ Não era sua mãe?

__ Minha mãe? Nunca a conheci. Ela morreu no parto.

__ Mas...

__ O que foi? – mordi um pedaço da torrada, seguido por um gole de chá.

__ Enquanto você está inconsciente, uma senhora ligou para o seu celular. John queria atender, mas Sherlock não deixou.

__ Ela já tem coisas demais para pensar – a voz grave e suave do detetive inundou meus ouvidos. Virei os olhos para o batente da porta, encontrando os dele. Meus Deuses, como são azuis.

__ Maria ligou?

Eu precisava ligar para ela de volta. O que ela iria pensar que poderia ter acontecido? É possível que esteja vindo para Londres, pelo nível de preocupação que tem comigo. Ah, meus Deuses, eu estou morta. Robert está vindo para cá! O que eu vou fazer? A essa altura, ele já deve estar na cidade, me procurando. E eu não estou atendendo o telefone.

Eu precisava falar com eles. Agora.

Ligeira, tirei a bandeja das pernas, joguei as cobertas para o lado e tentei me levantar. Por mais que eu sentisse meus ossos e músculos prontos para voltar a ativa, a prática não correu como esperado. Consegui, com alguma dificuldade, dar alguns passos apressados em direção a sala. O problema é que caí no meio do caminho.

Sinceramente, nunca vou encontrar ninguém mais desastrada que eu.

As feridas doeram mais do que o comum, pela pressão que exerci nos músculos. Respirei por alguns instantes, tentando recuperar o fôlego e começar novamente a peregrinação. Tentei me levantar, e de fato consegui, mas, no caminho até a sala, quase caí de novo. A diferença é que, dessa vez, o detetive estava lá para me segurar.

Depois dos dois desastres, cheguei à sala. Continuava tão bagunçada como antes.

__ Cadê o telefone? Preciso de um telefone! – gritei, tentando fazer com que a landlady me ouvisse.

__ Aqui – Sherlock me entregou o dele.

__ Mas você me disse que o seu celular estava quebrado.

Ele apertou os lábios. Me olhou como se eu tivesse descoberto o pior de seus segredos.

__ Comprei um novo.

__ Não, não comprou. Esse telefone foi comprado há, pelo menos... – olhei as bordas do smartphone. -... Dois anos. Bem, isso não vem ao caso. Qual é a senha?

Ele tomou o celular da minha mão, fazendo questão de esconder a senha. Não seria muito útil fazer esse tipo de coisa – fui treinada para descobrir códigos muito mais bem escondidos do que esse, como senhas complicadas para cofres pessoais e para sacar fortunas de bancos. E, a propósito, a senha dele era 9774.

Entregou-me o telefone já desbloqueado. Disquei o número de Maria e fiquei feliz por ouvir sua voz. O problema era que ela estava chorando.

__ Maria, o que aconteceu?

__ Luna? É você? – a voz metálica tremulou do outro lado da linha.

__ Sim, sou eu. O que aconteceu?

__ É o Robert. Ele... – ela soluçava. Maria estava mal, muito mal.

__ Ele o que? Diz logo!

Sherlock me observava com curiosidade. Queria saber o que estava acontecendo. Tirei o celular de perto do rosto, apertando o viva-voz.

__ Ele sumiu. Estávamos aqui em casa, hoje de madrugada, quando seu irmão apareceu.

__ O que? O que o Deniel faria ai?

__ Ele apareceu com uma arma. E Dimitri estava com ele.

__ Dimitri?

Dimitri não fez questão de esconder o rosto. Ele estava de volta. Merda! Eu devia ter percebido. Como fui burra.

__ Ele não morreu com a bomba. E agora está querendo matar todos nós. Eu, por sorte, escapei, mas Robert foi levado. Luna, por favor, preciso da sua ajuda. Não podem machucar o meu Robert!

__ Mãe, se acalma!

Eu não queria ter usado a palavra “mãe” para me referir a ela, embora já fosse um costume. Ela não é minha mãe. Ela era nossa babá – minha e de Sophia. Enquanto Dimitri fazia as viagens e organizava os esquemas, ela cuidava do nosso treinamento. Robert não sabe de nada disso, mas temo que, a essa altura, já deva desconfiar de algo. Ainda mais depois de tudo isso.

__ Luna, por favor, eu te imploro. Você precisa parar o seu pai. Ele não vai parar enquanto não matar a nós todos!

__ Maria, não saia da casa. Não ligue para ninguém, não tente chamar a polícia. Feche todas as janelas, desligue tudo. Faça como se fosse sair para uma viagem. E arrume as malas, estou indo atrás de você. Ele machucou você?

__ Tomei uma coronhada da arma. Minha cabeça está sangrando, mas vou sobreviver. Estarei te esperando.

Desliguei o celular, deixando-o sob as mãos do detetive. Consegui não cair durante o trajeto ao quarto, indo em direção as minhas roupas. Mesmo com os furos dos projéteis, deve servir para ir até o outro lado da rua. Tenho coisas para pegar lá, antes de sair.

__ Tatiana, você não pode simplesmente sair.

__ Sherlock, eu vou atrás do Robert e da Maria. Dimitri não vai parar, e eu preciso proteger aqueles que eu amo. Não posso deixa-la lá sozinha em um momento desses.

__ Então eu vou com você.

__ Ah, não vai não. Presta atenção – larguei o vestido sobre a cama, me aproximando dele, que parara ao lado do batente. Fiz um esforço imenso para não me perder naquele vasto mundo dentro de seus olhos. Conseguia sentir sua respiração em minha pele. – Isso não é problema seu. Volte para sua vida, desculpe por incomodar. Obrigada por salvar a minha vida, mas eu preciso seguir em frente agora.

Dei as costas e voltei para o vestido. Os furos no pano, nos exatos locais onde as balas perfuraram, estavam bem abertos - seria perceptível, levando em conta a brancura da minha pele. Virei-me para a entrada do quarto, mas ele não estava mais lá. Fechei a porta.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim :3 Nos vemos no próximo capítulo!

Beijinhos da ruiva,

Amelia.



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