Gêmeas escrita por Louise


Capítulo 3
Episódio I: Coincidência


Notas iniciais do capítulo

Oi :3 Voltei o/ Espero que gostem desse capítulo



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Sherlock adentrou a Cosmos com a mesma calma de sempre. Sentia-se estranho dentro de um lugar como esses – achava ridícula a ideia de pessoas se reunirem para dançarem e suarem juntas ao som de uma música monótona e alta demais. Como de costume, Anderson já estava perto do corpo.

A vítima. Mulher, por volta dos 27 anos. Casada, dois filhos, uma menina de dois anos e um menino de três. Pelo bilhete de amor no bolso, escrito em francês, o marido mora na França. Segundo o ticket de trem, escondido num cantinho da bolsa preta que levava consigo, chegara há dois dias, e iria embora no dia seguinte. Não estaria aqui a trabalho, ou então não viria para uma casa de dança, seria antiético. Não, ela estava aqui por um motivo especial. Visitar a irmã? Talvez. Mas porque não o fez logo que chegou? Tomando coragem?

Procurou feridas. Nada. Sem marcas de agulhas. O que explicaria o sangue escorrendo da boca e do nariz? Normalmente, é uma hemorragia. Mas por quê? Sabia que as amostras seriam levadas para Molly, no St. Barts. Pelo que se lembrava, uma ou outra droga poderiam causar esse tipo de sangramento, mas eram todas aéreas, então seria impossível ser acidental, ou todos teriam morrido da mesma forma. Ela foi contaminada singularmente.

Foi assassinada.

Um assassino invisível, com uma arma invisível.

Aquele dia finalmente estava ficando divertido.

*

__ Não consegue se lembrar de mais nada?

Ao fim da conversa, eu e John já estávamos sentados como bons amigos nas escadas da ambulância, tomando café. Ele era um homem muito gentil, diferente do parceiro. Não parecia ter maldade nos olhos.

__ Só isso.

__ Tem certeza de que não tem mais nada por trás dessa briga...?

Ele apertou a ferida. Na verdade, tinha. Mas eu não poderia dizer. Fiz um juramento de nunca falar sobre isso. Ou acabaria como a minha irmãzinha. Será que ela abriu a boca? Pode ser que sim. Mais uma vez, meus dons de atriz surgiram, e eu conseguir mentir com maestria.

__ Não, não que eu me lembre.

__ Bom, se se lembrar de alguma coisa, sabe como me encontrar – ele encerrou a conversa quando notou que o colega saia da danceteria, mais confiante do que nunca de que esse caso seria extremamente interessante. – Espero que consigamos pegar quem fez isso – o médico apertou minha mão e saiu, tendo em seu encalço o moreno. Sumiram depois de dobrar uma esquina.

*

__ Bom dia, dorminhoca – Benjamin abriu um sorriso, logo que me viu de olhos abertos. Onde eu estava? Porque ele estava ali.

__ Bom dia – respondi, pigarreando logo após. – Onde estamos?

__ Na minha casa. Não sabia se você tinha chaves para o seu apartamento na bolsa, e não quis mexer e encontrar alguma coisa que... não devia – disse. – Então te trouxe aqui para casa.

Levantei a cabeça. Deuses, que dor nas costas. E meu pescoço está me matando, vou ficar com um belo torcicolo. Notei que estava na sala, deitada e coberta por uma manta. Aquele sofá era horrível para dormir. Senti minha barriga roncar.

Olhei em volta. A sala era bem organizada. O único sofá, que agora eu ocupava, ficava de frente para a televisão, tela plana, muitas polegadas. No chão, tacos de madeira clara. Do lado esquerdo, uma bancada americana dividia a sala e a cozinha. Do lado direito, a porta de entrada.

__ Dormiu bem.

Não. Definitivamente não.

__ Sim... Que horas são?

__ Por volta das dez da manhã. Porque? – ele voltara para o outro lado da bancada, e cozinhava alguma coisa.

__ Meu expediente no St. Barts começa ao meio dia. Parece ser mais tarde.

__ Estou fazendo café da manhã, quer também?

Sim, pelo amor dos Anjos. Estou faminta.

__ Não, obrigada. Bem, agradeço por tudo que fez para mim, mas preciso voltar para casa. Preciso de um tempo para... colocar tudo no lugar.

De repente, os flashes da noite passada me atingiram como tapas na cara. Pensando bem, a imagem de Sophia parecia mais com um soco na boca do estômago. Não fora um sonho ruim. Tudo aquilo era real.

__ Tudo bem, sem problemas. Vou com você até a porta.

Ele me seguiu até a entrada do apartamento, solicito como sempre. Abriu a porta para mim, entregou-me a bolsa, as botas, a jaqueta e a rosa.

__ Tem certeza que não quer ficar para o almoço?

__ Tenho. Preciso de um tempo para mim. Preciso ligar para a minha mãe, falar com ela. Obrigada mesmo, por tudo – dei-lhe um beijo na bochecha. Bem parecia um cara legal, mas não era o tipo de homem que eu procurava. Nosso encontro, afinal das contas, não foi o melhor do mundo.

__ Até mais.

__ Até mais – respondi.

Andei, sem rumo. A cena provavelmente era patética: em pleno sábado de manhã, uma maluca andando com uma jaqueta jogada sobre as costas, descalça, com um vestido preto e curto, segurando um par de botas, uma rosa vermelha e uma bolsa. Eu sabia que não teria muita comida em casa, então, antes de voltar, passei no café debaixo do 211B. Entrei e sentei em uma das mesas. Estava morrendo de sono, e a dor nas minhas costas provavelmente não me deixaria me paz tão cedo.

__ O que vai querer? – a garçonete brotou do meu lado. Mascava um chiclete como uma cabra comendo.

__ Um café bem forte, e, se tiver, uns pães de queijo, por favor.

Ela sumiu, sem anotar nada.

__ Um concelho: nunca peça um café. Não aqui – ouvi uma voz masculina atrás de mim. Arregalei os olhos, sabendo que ele não estava vendo. Tive a estranha sensação de que ele estava me seguindo. Quatro vezes em menos de dois dias, não pode ser só coincidência.

__ Porque não? – perguntei. Sherlock apareceu ao lado da mesa. Estava vestindo exatamente a mesma roupa de ontem, concretizando a minha teoria de que ele nunca troca de roupa. Estava com um adesivo de nicotina em cada braço – notei pelas mangas do casaco – e com olheiras horríveis. Alguém também andou não dormindo muito.

__ Simplesmente porque o café daqui é ruim – ele respondeu. – Posso...? – apontou para a cadeira em minha frente.

__ Claro, por favor.

Ele me acompanhou.

__ Porque sua irmã viria para Londres? Alguém em especial? – ele foi sucinto. Não esperava que fosse ser tão rápido.

__ Não faço a menor ideia. Toda a minha família agora mora na Itália, ela não tem motivos para vir para cá.

__ Talvez atrás de alguém que não vê há um bom tempo, procurando reconciliação.

Eu sabia onde ele queria chegar.

__ Não, ela não iria querer meu perdão. Sophia não se culpa pelo que aconteceu, embora eu a odeie por isso. Não teria porque vir para pedir desculpas.

Meu café chegou. Tomei um gole. Estava bom, mas queimei a língua. Merda, isso sempre acontece. Voltei o copo ao tampo da mesa.

__ Ela pode ter mudado. De repente, o que fez pesou na consciência.

Eu ri.

__ Sophia? Com a consciência pesada? Impossível.

Sherlock me olhou, desconfiado. Eu teria que explicar um pouco mais se quisesse convencê-lo.

__ Ela é, ou melhor, era fria, calculista. Nunca amou ninguém, nunca se importou com ninguém.

__ E seu pai? Me disseram que era muito ligada a ele.

Como ele sabe? Ah, ele deve ter falado com a mamãe.

__ Meu pai era uma espécie de Deus para ela. Nunca o amou; ela era... submissa a ele. O que Robert dissesse, para Sophia, era lei.

__ Posso usar o telefone da sua casa?

__ Você tem um celular, porque não o usa?

__ Não está funcionando, quebrou há alguns dias. Eu pegaria o do John, mas ele não está em casa.

__ Não tem fixo em casa?

__ Nope. Muito perigoso e provavelmente grampeado.

__ Ah, tudo bem. Só não repara na bagunça.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim! Se quiser, comenta ai :D Nos vemos amanhã o/

Beijinhos da ruiva,

Amelia.



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