Rony estava a cada dia pior. Havia aparecido no Profeta Diário vários dias seguidos. Estava arruaceiro, bagunçava e bebia. Estava com a imagem denegrida e envergonhava descaradamente a família e a si próprio.

Estella, que havia saído do trabalho no orfanato e era mantida por ele, continuava acompanhando-o em todas as bagunças sem nunca ser flagrada fazendo algo.

Ele tinha se afastado do Ministério, não trabalhava mais como Auror e o que tinha era a parte que lhe cabia dos logros vendidos nas Gemialidades entregues por Jorge, que havia decidido continuar enviando os galeões após uma longa conversa com Harry e Arthur.

Molly já não sabia o que fazer com o filho. Estava intragável. Não aparecia na Toca, estava desorientado e não mantinha mais contato com ninguém. Era visto constantemente pelas ruas de Londres aprontando as mais diversas atrocidades com bruxos e trouxas.

Estava irreconhecível.

Era claro em sua face que estava entristecido, debilitado e não parecia mais aquele Rony brincalhão de sempre. Afastava-se a cada dia de sua família, de seus amigos e de suas responsabilidades, sendo visto nas noites estuporando, maltratando e até mesmo petrificando pessoas, o que lhe rendeu uma noite em Azkaban e a perda de sua varinha, que foi confiscada a muito custo por Harry.

A família apenas sabia o que acontecia e como ele estava pelas inúmeras más noticias que eram publicadas no Profeta Diário. Era realmente impossível acreditar que Rony Weasley fosse capaz de fazer tudo o que estava fazendo. A forma com a qual agia e a maneira que estava vivendo eram inimagináveis e a Londres mágica estava dividida entre crer que o melhor amigo do menino que sobreviveu e que o ajudou a derrotar Voldemort estivesse realmente enlouquecido ou estivesse sobre feitiço.

Diariamente Hermione recebia corujas com cartas de pessoas que a apoiavam, palavras de incentivo e de superação. Ela também acompanhava amargurada o desenvolver do marido e sentia-se abalada, pois mesmo com todo o apoio dos parentes, amigos e desconhecidos e por mais que confiasse em Harry, Hermione temia pela vida de Rony e que algo ainda pior pudesse acontecer aos dois.

Uma nova matéria publicada pelo Profeta Diário chamou a atenção de Harry e ele agradeceu intimamente que a Mione estivesse na casa dos pais, longe do mundo mágico por esses dias.

“Onde Irá Chegar Ronald Weasley?”

Na página principal, a foto de um Rony com a fisionomia desgostosa, agressiva e irritada. Ele apontava a varinha para algumas pessoas que passavam no Beco Diagonal e corria para uma rua que Harry reconheceu. Parecia a Travessa do Tranco, e a foto mostrava Rony se escondendo na Borgin & Burkes. Harry pegou o jornal totalmente desgostoso. Era a única maneira que encontravam para ter notícias. Comprou o jornal e rumou para casa.

– Gina? - chamou assim que entrou em casa.

– Oi Harry. Estou dando banho no James. Já vou descer.

Harry sentou-se no sofá da sala, em frente à lareira e começou a ler a matéria.

“Onde Irá Chegar Ronald Weasley?”

O famoso Ronald Abílio Weasley, 25 anos, aprontou mais uma vez.

Foi encontrado bêbado em uma casa noturna bruxa com uma jovem que descobrimos ser chamada de Estella Grey.

Nada sabemos a respeito da moça, porém rumores apontam que seja a bela morena de olhos esverdeados a causa da separação de um dos casais mais admirados e conhecidos do mundo mágico.

Sabemos também que Ronald, ex-auror famoso, participante da Ordem da Fênix, conhecido em todo mundo bruxo por ter ajudado Harry Potter a derrotar Aquele-que-não-deve-ser-nomeado está a cada dia mais enterrado no abismo.

Casado, até onde sabemos, com a também famosa Hermione Granger Weasley, que trabalha no Ministério da Magia e é reconhecida por ter criado leis que beneficiam elfos domésticos e seres indefesos e por ter ajudado na queda de você sabe quem, é encontrado facilmente nas ruas mágicas acompanhado da bela moça que ninguém conhece.

Tentamos entrar em contato com alguns de seus irmãos, mas não obtivemos bons resultados, e a atual esposa, Hermione Granger Weasley não foi encontrada no mundo mágico. Supomos que tenha se afastado da cidade temendo ser apontada pela comunidade, envergonhada pela atual situação do marido.

O que o mundo mágico gostaria realmente de saber é o que acontece com o tão cotado e bom Auror, Ronald Weasley. Conhecido por ter um enorme coração, sempre ajudar ao próximo e por sua magnifica coragem, tem se degradado em companhia de pessoas que não se sabem a origem e está a cada dia mais afundado.

O Departamento de Aurores ainda mantêm-se em segredo relacionado a investigações. O menino que sobreviveu e melhor amigo de Ronald Weasley, Harry Potter mantem-se no mais absoluto sigilo em relação ao caso, mas fontes confiáveis afirmam que o Escolhido tem total confiança no amigo arruaceiro e acredita que o mesmo esteja sob feitiço.

A família também mantem-se em segredo e tudo o que sabemos é graças ao próprio, que tem aprontado a cada dia.

A comunidade bruxa espera que toda esta situação seja solucionada rapidamente antes que Ronald Weasley seja definitivamente preso, tendo em vista que já teve sua varinha confiscada por estuporar e petrificar quatro pessoas no último fim de semana.

Continuaremos em busca da verdade e relataremos tudo o que descobrirmos e que não é compartilhado pelo Ministério da Magia com nossos leitores.

Para saber mais sobre Ronald Weasley, sua família e suas peripécias, veja a página 7.

Leia também: Feitiço, Poção Polissuco, Loucura ou Transtorno de Personalidade? Saiba o que acreditamos está acontecendo com o ex-Auror Ronald Weasley. Página 10.

Por onde anda Hermione Granger Weasley? Página 12

Novo restaurante bruxo inaugurado nesta sexta-feira por Aberforth Dumbledore. Leia tudo a respeito na página 15.

– Não entendo – Gina comentou por cima do ombro de Harry - Não sei o que podemos fazer Harry.

– Bem – Harry fechou o jornal e suspirou cansado – A novidade é que a família Gray nunca existiu. Não temos registro sobre Jason, Lola ou Ester Grey.

– Então ela não é quem diz ser? - Gina sentou-se intrigada ao lado do marido.

– Exato.

– Mas então, quem ela é?

– É isso que estamos tentando descobrir agora.

– E como a Mione tem reagido com todas essas novidades?

– Ainda não contei sobre essa descoberta. Estou tentando fazer o possível para que ela não veja essas matérias que tem saído no Profeta Diário, mas desde a época de Hogwarts ela tem a assinatura.

– É, eu lembro... Também não acho que seja bom pra ela acompanhar esse tipo de notícia. Acho que vou visitá-la amanhã.

– Seria muito bom que você fosse vê-la. De inicio ela ficou bem nervosa, mas as porções que a curandeira tem passado são bem fortes e ela tem esperança que tudo se resolva logo. Infelizmente ela tem se acostumado com a situação e está tentando ser forte, mas eu sei que ela não está assim tão bem.

– Eu também sei. Ela se faz de forte para não preocupar ninguém e todos nós temos a esperança que isso se resolva logo. Isso tem sido barra pra Mione...

– É verdade. O Neville comentou o quanto é estranho as coisas que o Rony tem feito. Tudo o que ele faz acaba de certa forma atingindo a Mione, magoando ela.

– Eu também percebi isto e comentei com a mamãe. É como se a maior intensão dele seja machucar ela. Como se fosse tudo direcionado pra ela.

– De fato Gina. Você e o Neville realmente tem razão. Não havia percebido este fato. Preciso investigar mais sobre isso também.

– Apenas confirma o que ela disse quando visitou a Mione no Ministério.

– Sim. Precisamos saber de onde a Mione conhece essa mulher.

– Mas você tem alguma outra pista? Alguma novidade?

– Nenhuma, além da família falsa! Parece que Estella Grey nunca existiu. Não sabemos nada a respeito dela, de onde veio, se teve passagem em algum lugar mágico. Falamos com o Ministro trouxa, mas também não encontramos nada sobre esta mulher. Parece que ela apareceu do nada. Surgiu do nada. Não tem passado. Nada.

– Nunca gostei dela, desde o início. Não confiei nela.

– Independente de qualquer coisa, precisamos continuar investigando e agir rápido. O Neville também descobriu uma varinha na casa onde encontramos a Estella.

– Sério?

– Sim, mas estava quebrada. Não tivemos muito o que fazer. Achamos que ela mentiu. Que não é um aborto como nos fez acreditar.

– Mas que sem vergonha dos infernos...

– É sim Gina, e se tudo o que desconfiamos for verdade, ela é uma pessoa muito má.

– Mas vocês não podem pegar ela, prender e interrogar logo e de uma vez?

– Infelizmente não, Gina. Só conseguimos deter o Rony uma vez. Confiscamos a varinha, mas nada que fosse o suficiente para mantê-lo sob custódia. Ela sempre está limpa. Tudo o que acontece é feito pelo Rony e nada é suficientemente forte o bastante para mantê-lo em Azkaban por mais tempo. Ela o acompanha, mas nunca participa ativamente de nada. Precisamos de uma pista ou um indício convincente para poder pegá-la, mas ela é realmente muito esperta.

– E o que você pretende? Como vamos fazer Harry? O Rony esteve em Azkaban. Ele não está bem. Temo muito que aconteça algo pior com o Rony. Não suportaria... Nossa família não suportaria outra perda.

– Gina, por favor, não fale assim. Não vai acontecer nada com o Rony. Devemos ter esperança.

– Ah Harry, eu tenho tanto medo... - ela tinha os grandes olhos castanhos brilhantes e as lágrimas já caiam sem controle.

– Todos nós temos, meu amor, mas devemos acreditar. Vamos descobrir o que tem acontecido com ele.

– E se for tarde demais Harry? Eu... eu amo tanto o meu irmão e, eu não suportaria outra perda dessa... Por favor Harry, não deixa o Rony morrer... Eu te imploro... Mamãe não suportaria. Nossa família acabaria de vez... Por favor Harry, trás o meu irmão trasgo e insensível de volta pra nossa família... Trás ele de volta pra mim Harry, por favor, eu te suplico...

– Gina, meu amor, por favor, controle-se - com um floreio da varinha Harry conjurou um copo de água para a esposa - Beba, acalme-se ou não vou mais contar nada a você.

– Você não seria louco de me deixar sem notícias...

– Então controle-se. Preciso de você firme, corajosa e confiante como sempre foi.

– Eu sei meu amor... Mas é tão difícil... Eu temo muito por Rony, Harry. Não temos ideia do que ele pode tentar fazer, ou do que esta louca pode tentar contra ele.

– Ele tem a expressão alucinada. É visível que não está bem. Até o Profeta Diário percebeu que ele parece enfeitiçado. Precisamos afastá-lo dela o mais rápido possível.

– E se o problema não for ela, Harry? E se houver outra pessoa por trás disto tudo?

– É uma possibilidade e estamos investigando isto também. Não podemos deixar nada de fora. Estamos empenhados. Dividimos o departamento inteiro. Alguns Aurores continuam de olho no mundo bruxo, afinal não podemos descuidar, mas uma parte dos aurores está empenhada em descobrir o que acontece com ele.

– Harry, e o finiti incantatem? Não dá pra usar com o Rony?

– Infelizmente, não. Não podemos usar um feitiço desse tipo contra ele. Não sabemos o que ele tem. Não sabemos que feitiço ele tem recebido. Se foi azarado ou se é poção. Seria arriscado demais...

– Espero que consigam resolver isto logo. Amo muito meu irmão. Estamos todos preocupados e a Mione não merece sofrer desta forma, ainda mais agora que está grávida.

– Realmente é muito injusto com a Mione. E sem sentido para o Ron.

– É sim. E me preocupo. Esse Ronald grosseiro e transtornado não pode ser meu irmão, por mais grosso que ele seja, ele jamais faria essas coisas.

– Eu sei. Nós vamos resolver tudo Gina. Não se preocupe. Eu prometo que vamos ajudar o Rony.

– E o pedido de separação?

– O Ministro suspendeu. Enquanto não tivermos certeza do que acontece com ele, nada que o Rony faça tem verdadeiro valor.

A conversa foi interrompida pelo som da campainha.

– Quem será? – Gina adiantou-se. Não era comum receberem visitas pela porta tradicional.

– Deixa que eu abro – Harry precipitou-se levantando-se.

– Obrigada.

***

Longe dali, uma morena de cabelos armados tinha lágrimas em seus pequenos olhos castanhos. Lia um jornal, estava sentada em sua cama e respirava profundamente tentando entender o que realmente estava acontecendo com sua vida e como tudo poderia ter mudado, ter tido uma reviravolta tão trágica em sua vida, que poderia agora estar perfeita.

Acariciou a pequena barriga. Sentiu um aperto no coração. Respirou fundo novamente e deitou-se na cama, colocando o jornal no chão. Não aguentava mais ler aquele jornal, não aguentava mais receber tão más notícias sobre seu maior amor.

– Mione, minha filha.

– Entre mamãe.

– Trouxe um chá, meu amor. Como está?

– Estou bem mamãe. Obrigada pelo chá.

– Minha filha, por favor, pare de ler este jornal. Você precisa descansar. Precisa de paz. Precisa de tranquilidade.

– Não posso mamãe. É a única maneira que tenho de saber que ele está bem. Que mesmo transtornado como está, ele continua vivo, forte... Só tenho notícias através do Harry e deste jornal.

– Mas este jornal é muito sensacionalista, minha filha. Não seria melhor esperar as notícias que o Harry te trás?

– Sim, em partes. Mas sei que o Harry me esconde muitas coisas e por mais sensacionalista que este jornal seja, eu sei através dessas matérias e dessas imagens como ele está... O que tem feito e o que está acontecendo com ele.

– Você que sabe, meu amor. Mas acho que deveria diminuir esta leitura.

– Não precisa se preocupar comigo mamãe. Eu estou bem.

– Pedir que uma mãe não se preocupe com um filho é o mesmo que pedir para o Sol deixar de nascer todos os dias.

– Eu te amo, mamãe - o abraço foi fraternal. Reconfortante... Renovador.

– E que tal irmos passear um pouco? Você precisa de roupas novas. Logo, logo esse bebê começa a crescer e suas roupas antigas já não vão servir.

– Tem razão. Vamos sim. E eu aproveito e me distraio um pouco.

– Sim... Ótimo. Estão se apronte e vamos. Vou colocar essas coisas na cozinha e te espero lá embaixo.

– Certo.

Ela sorriu. Forçadamente, mas sorriu. Precisava superar essas tristezas. Precisava ser forte. Precisava ser ainda mais forte. Por seu filho. Por Rony. Precisava confiar. Tudo iria se resolver.

"Merlin, ajude. Trás o Rony de volta."

Olhou a foto na cabeceira de sua cama. Eles estavam abraçados. Sorriam felizes. Era uma foto trouxa, mas que mostrava o tamanho de sua felicidade. O aniversário do seu pai e Mione aproximou-se da foto. Pegou o porta retratos e após acariciar a imagem do ruivo, suspirou novamente.

– Eu sinto sua falta. Sinto muito a sua falta. Volta pra mim, por favor.

***

– Olá, Potter.

– O que você quer aqui? – Gina falou assustando-se.

– Calma, Gina – Harry adiantou-se – O que você quer?

– Preciso conversar com você.

Harry pensou antes de permitir que a visita entrasse, ponderou os riscos, as dúvidas e os receios, mas mesmo contra o desejo da esposa, ele decidiu por fazê-lo.

– Entre.