Perdas e Ganhos: Como Noites de Verão escrita por MariChia


Capítulo 11
Um homem observador...


Notas iniciais do capítulo

Mil bjos, meus queridos! Muito obrigada por todo carinho e apoio, não conseguiria sem vocês.

Ótima leitura, amores! ;*



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(Trilha para estes momentos)

Retomando de minhas experiências fortuitas. Esta aos dezoito anos. Quem sabe em outra oportunidade conte sobre quando pretendia me casar. Mas aí já estaria mudando muito o foco e tenho de terminar a contar minha noite com Eduardo e como ela mudou grande parte de minhas reles expectativas. E muito ainda iria acontecer naquela noite para que eu derrubasse muitas das muralhas da minha ignorância e saísse de minha redoma.

Agora, onde parei mesmo? Ah, sim... Havíamos voltado a ficar entrelaçados como uma “bola humana” e nos fitando fixamente. Perdendo e nos encontrando, enquanto emoções indizíveis fluíam de seus olhos para os meus.

E depois de muito tempo parados, eu pude ouvir toda calma silvestre ao meu redor. Concentrar-me em sua respiração cada vez mais rápida e pesada. Perceber seus olhos castanhos se movendo dos meus verdes para meus lábios. Sua respiração parecia mais difícil a cada instante que se passava e seu corpo parecia superaquecer.

Não sei em que momento ele percebeu que suas mãos estavam paradas, mas retomou seus redemoinhos agradáveis em minhas costas. Foi tão bom, que eu atendi ao reflexo momentâneo de fechar meus olhos e prestar atenção à sensação em meu dorso. Poucos segundos depois que cerrei os olhos, Eduardo desceu bem próximo aos meus lábios, e antes de encostar-se a eles – liberando sua respiração quente sobre minha pele – me confidenciou.

– Eu quero muito te beijar, Taís!

(Desculpe o humor, mas só de escrever já fiquei nervosa com a lembrança.)

Abri meus olhos imediatamente. Estava assustada, mas o temor que sentia tinha outro sabor. Não era medo dele. Nem a preocupação de que me machucasse. Meu medo vinha da inexperiência, do novo. E... de não ser considerada o suficiente.

Meus olhos continuavam arregalados o fitando sem saber o que fazer. Os dele estavam numa noite profunda sem estrelas, mas com um brilho caloroso, que me fez corar de imediato. Estavam semicerrados e os lábios mais turgidos. Eu e ele engolimos em seco.

– T-Taís? – ele me chamou com um sussurro, quase pastando sobre meus lábios.

Senti sua voz vacilar, e algo ainda muito persistente... uma determinação acalorada fluía dele e o fazia sôfregar. Continuei em silêncio, paralisada, perdendo alguns de meus sentidos aos poucos, conforme o tempo que mantive meus olhos nos dele aumentava. Ele passou a respirar com a boca levemente aberta. Podia sentir seu peitoral subir e descer com força, e sem perceber, estava imitando sua respiração.

– Então... – ele molhou os lábios de novo – Você... Taís, você... quer?

– Eu... – estava em uma grande dúvida e não conseguia pensar corretamente.

Todos os meus instintos e sentidos me imploravam para concordar. Uma necessidade indizível que me gritava que só me sentiria completa se recebesse aquele beijo. Todas vozes gritantes querendo ensurdecer minha razão.

Ah, a razão... àquela voz da consciência, como o grilo falante. A voz que me lembrava de que mal conhecia o rapaz à minha frente, que me pedia para pensar melhor. Pensar que ele poderia estar só querendo satisfazer seu desejo daquela noite. De que logo depois poderia me descartar, como vi vários rapazes fazerem a colegas minhas.

Sim... essa voz... e a voz que, por sua sagaz sabedoria, me lembrou que a hora já devia estar bem avançada e minha família preocupada a me procurar. Talvez até tenham chamado os bombeiros! – ela me convencia.

– Oh, não! – eu sussurrei assustada e o vi arregalar os olhos, completamente atônito.

Provavelmente ele tinha esperanças de receber outra resposta. Mas tão rápido quanto veio seu espanto, também decaiu em uma expressão de tristeza. Meu coração doeu muito em vê-lo daquela forma, apesar de não querer abrir mão da razão que já havia amarrado meus sentidos.

– N-Não é isso... não é que não queira... – Eu realmente quero?, pensava – É que...

Estava ficando muito difícil encontrar as palavras. Principalmente porque dentro de mim continuava uma terrível batalha entre o Id e o Ego. Entre minhas vontades mais primitivas e a consciência sensata.

– Você nunca... nunca beijou? – aquela pergunta me pegou tão de surpresa que me soltei do colo dele tão rápido que quase cai do sofá.

– Calma! – Eduardo me segurou com uma rapidez ainda maior e soltando um suspiro de alivio, continuou – Pelo visto vejo que não!

Deu uma risada abafada; que embora tenha sido um leve deboche, ainda era muito bom ouvi-lo rir. Ele abriu um sorriso amarelo e ergueu uma sobrancelha de forma sensual.

– Estou vendo que vou ter que te ensinar!

E começou a rir como um tolo, até gargalhar, conforme eu sentia meu rosto queimar violentamente e procurava me afastar o máximo que podia com leves movimentos.

E o calor da vergonha passou a se tornar raiva, pois ele não parava de rir. Eu apenas grunhi um som de desaprovação e me soltei de seus braços, pronta para sair de perto dele. Mas Eduardo era muito ágil, e sua grande força me manteve sob seu abraço, que ele começou a apertar.

Me trouxe ainda mais próxima com minha cabeça amparada sobre seu peitoral. Fez alguns carinhos em minhas costas, costelas e cabelo. Beijou algumas vezes o topo de minha cabeça e voltou a soltar algumas risadas em sopros.

– Ah, Taís! – ele parecia alegre – Você é mesmo muito... muito... uma donzela!

E riu com uma alegria quase infantil, abraçando-me com força, enquanto irritada me contorcia para sair de perto dele e seus deboches.

– Desculpe... – ele já estava se controlando e afrouxou o abraço, me permitindo fita-lo.

Ele ainda me olhava com uma expressão divertida. E eu não pude aguentar e sorri também. Mesmo que ainda com um sorriso meia boca.

– Vamos... Desculpe!

Sua mão veio ao meu queixo e o segurou como a um copo. Ele aproximou nossas cabeças e voltou ao sorriso sedutor, mas agora com uma voz macia, que torceu minhas entranhas, estimulando as borboletas a voarem novamente.

– Mas, então... posso beija-la?

Seu olhar profundo me tomou. Mergulhei em suas piscinas noturnas e estava a ponto de conhecer o sabor de seus lábios. Ele se aproximou um pouco mais, fechou seus olhos, descendo suas mãos as minhas laterais, fazendo alguns pequenos arrepios correrem por minha estrutura.

(Minha mente estava dividida.)

Voltaram as lufadas aquecidas de suas narinas, acariciando meus lábios. Porém... eu ouvi passos agitados na grama e gritos agudos que levou todo o clima que havia se formado entre nós, junto com um furacão de desilusões.

Ele olhou além da varanda. Paralisado e atento como um cão que descobre o ladrão em seu território. Mas, com o passar do tempo, as vozes ficavam mais baixas, mais distantes e já não podíamos ouvir passos ou qualquer som. Em poucos minutos, desde o momento em que fomos interrompidos de nosso quase beijo, a canção silenciosa da noite e suas criaturas nos envolvia mais uma vez.

Mas agora, todo o clima havia se quebrado e me sentia muito envergonhada. Me soltei dos braços de Eduardo e dessa vez ele não manteve nenhuma resistência. Pensei que ele também estava como eu, mas quando encarei sua feição vi que estava com os olhos em direção as minhas pernas e a pequena parte de minha coxa que a saia do vestido levantada acabou deixando exposta por nossas movimentações.

Eu puxei a saia automaticamente, tampando minhas pernas e segurando a saia até os joelhos. Estava queimando de vergonha e mantive-me de perfil para ele, com a cabeça baixa e o corpo encolhido o máximo que podia.

Ouvi sua risada. E quando ela cessou, senti-o se aproximar de mim. Me afastei como num reflexo e comecei a tremer. E mesmo depois de todos os sentimentos que ele havia me produzido antes, estava sentindo um temor estranho.

Não como o medo que ele me fizesse algum mal, tinha certeza que não faria. Mas, como já sabia, o medo desconfortável da insegurança, da falta de experiência que me deixava apreensiva e assustada com o que deveria fazer e até mesmo deixar fazer.

Senti suas mãos roçar minhas costas, depois ele ficar um pouco atrás de mim e colocar sua cabeça sobre meu ombro, enquanto suas mãos ficavam nas laterais de nossos corpos assim unidos.

– Está tudo bem? – o ouvi perguntar.

Mas não sabia se era para saber se podia ficar nessa posição, ou sobre o momento constrangedor de minha saia levantada. De qualquer forma, apenas respondi sem pensar.

– Sim!

– Mesmo? Não está chateada por eu ter visto...

Ele sussurrou em meus ouvidos e sua voz atingiu um tom tão rouco e aveludado que sensual não é nem de perto a melhor definição.

– ...Suas belas pernas?

E trouxe sua mão esquerda para traçar com o indicador uma linha fantasma sobre o tecido da saia do vestido. A verdade é que ele nem chegou a me tocar de fato. Mas só a visão do ato me fez encabular ainda mais, enquanto meu estomago parecia uma máquina de lavar ligada no máximo. Girando e jogando minhas emoções num carrossel de desejo e incerteza.

(Isso também me faz lembrar dele.)

O ouvi rir mais um pouquinho; depois inclinar sua cabeça novamente sobre meu ombro e soltar um longo suspiro enquanto depositava suas mãos sobre o assento do sofá. Uma para cada lado de nossa figura conectada.

– Tudo bem se eu ficar assim, também? – ele sussurrava.

– Sim! – ainda estava com os sentimentos divididos, entre permitir e empurra-lo.

Mas a verdade é que não queria impedir seu contato. Ainda mais, por todos os nossos momentos. E sua presença começou a ter muito significado para mim, mesmo que me sentisse, de certa forma, desconfortável pela mesma. Era mais forte o sentimento que me compelia a mantê-lo próximo, que ansiava por seus carinhos.

– Sabe... é a primeira vez que te vejo numa festa da empresa ‘Moura’. E sei que seu pai trabalha lá há uns cinco anos, no mínimo.

Ele me tirou de meus pensamentos para um assunto sobre o qual não gostaria muito de conversar.

– E eu trabalho há um ano na Moura Logistics, mas venho em todas as festas dos funcionários desde... acho que... desde 2010, quando conheci a Miranda...

Não queria comentar que eu sempre ficava perto dos meus pais e evitada sentar junto de qualquer outra pessoa. E, por um cansaço de continuar assim, resolvi, justamente naquele aniversário, me juntar à mesa dos jovens e entrar em toda essa pequena aventura. Então, aproveitando a informação a mais que sua fala me deu, resolvi mudar o rumo da conversa.

– Como conheceu a Miranda?

Ele parou de falar. Levantou sua cabeça do meu ombro e me deu um longo olhar desconfiado.

– Não vai me responder, neh? – ele deu uma risadinha.

– Hãn... Eu... – me virei para a paisagem à frente e torci as mãos sobre o colo.

– Está me fazendo acreditar que é alguma coisa ruim. – ele sorriu – Vamos fazer assim... eu respondo uma pergunta sua e você responde uma minha, Ok?

– Não! – suspirei – Acho melhor ficarmos observando as estrelas...

Ele deu algumas risadas sem humor.

– E eu achei que você não era complicada. – suspirou desiludido.

– Mas eu... não sou... Sou?!? – a última palavra foi mais um sussurro para minha reflexão do que para respondê-lo.

– Fique tranquila! Se não quiser falar tudo bem, mas ai não te conto como conheci a Mira.

Eu estava um pouco curiosa, ela havia sido tão amável comigo desde o começo e parecia tão agradável; apesar de seu tratamento com Tales, o loiro baixinho. Ponderei um pouco sobre o que fazer e por fim tomei uma decisão que não me agradava muito, mas já havia ganho sobre minha sensatez.

– E-Está bem! Eu concordo! – disse desanimada, me dando por vencida.

Ele abriu seu belo sorriso, pousou sua cabeça sobre meu ombro e pôs-se a relatar sua história.

– Eu... eu conheci a Miranda... conheci ela pelo meu irmão. Ele trabalhava na Moura Logistics antes... e até foi ele que me ajudou a conseguir um estágio lá, mas depois eu falo disso – ele parecia contente com suas lembranças, sua voz estava alegre e isso foi me acalmando.

– Ele tinha chamado a Mira pra sair. Ah, não sei se ela te disse, mas ela é neta do seu Horácio e vive zanzando por lá. Mas... onde eu tava mesmo?

– Na parte deles saírem juntos... – minha voz soou com uma animação infantil e ele riu um pouco. Fiquei me sentindo tão tola e achei melhor não interrompe-lo mais.

– Ah, é! Eles saíram várias vezes até. E nessas, ele apresentou ela pra gente, depois ela virou namorada dele e começou a frequentar lá em casa. Aí ela chamava a gente para vir nas festas do vô dela, o chefão, o Seu Horácio, que você já conhece... um cara massa.

Eu percebi que estava ficando muito animado e as palavras jorravam dele como se não houvesse um fim.

– Ele sempre diz que quanto mais gente melhor. Deixava a gente fazer o que quisesse e não regulava na comida, bebida... nada. E como ela e meu irmão passaram a namorar sério por quase uns... dois anos... Nós viramos família e mesmo depois que eles terminaram a gente continuou sendo chamado. Até porque conhecemos toda a turma e ela gostava de mim e do Nado. E o Carlos sempre foi na dele e nunca deixou um clima chato entre eles.

– Carlos... Qual dos seus irmãos é? – falei isso pensativa; não sei por que me ocorreu de perguntar, mas precisava ligar o nome à pessoa para minha pergunta seguinte.

– É... ah.. Na-Não senhorita... tem que responder minha pergunta primeiro. – ele disse zombeteiro.

– Aff... está bem! O que tinha me perguntado? – já estava mais descontraída.

Sua animação e seu jeito me contagiou o suficiente para me animar. Falei com um ar travesso, e só o vi torcer um pouco o nariz em uma careta divertida como se ele quisesse me dizer para parar de enrolar.

– Está bem... – dei uma risadinha – Eu... eu costumo ficar perto dos meus pais, nas festas. E muitas vezes até peço pra ficar em casa. Não gosto muito de sair, na verdade.

– Então... você é antissocial? – ele estava tentando segurar o riso.

– Na... hãn... um pouco...

– Pela sua resposta acho que bastante.

– Claro que não! – eu tinha gritado com ele. Meu Deus como fiz isso?

Ele parou, me olhando um tanto surpreso e depois retomou ao seu sorriso bobo.

– Depois desse grito, não sei naum... – ele riu um bocado - Eu sei, Taís. Sei que não. Mas você é tímida, neh?

Eu apenas meneei a cabeça positivamente.

– Por isso te acho tão linda... – eu o encarei e ele tinha um brilho de admiração nos olhos.

– Hãn-hã... Você ainda não me respondeu. – eu tentei quebrar o clima com meu sussurro sem jeito e procurando esconder meu rosto corado longe dele.

– Humm... o Carlos... ele é o mais velho. – diante de minha expressão indagativa ele continuou – O de cabelo curto, com cavanhaque e a tatoo no braço.

– Ah, sim!! Me lembro dele... – me lembrava dele ter chamado Eduardo para me olhar mais de perto. Senti-me abatida por essa lembrança.

– Foi ele que te encontrou e me disse pra onde você correu.

Definitivamente tinha de agradecê-lo depois. Ele havia sido muito gentil e ainda havia enviado Eduardo atrás de mim. Para esse segundo feito não sabia se poderia agradecer totalmente.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam desse momento de breves confissões? E Eduardo... é ou não um rapaz notável?

Muito obrigada por lerem! :D



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