The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 43
Capitulo 43 - A Ultimá Canção


Notas iniciais do capítulo

A verdade revelada! Quem matou Heather Semeghini? Quem é o falso Coringa? A Guerra de Gangues chega à sua espetacular conclusão! Vidas serão transformadas e vidas serão destruídas de uma maneira que ninguém poderia imaginar!



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O Coringa ria freneticamente ao volante do furgão. Não se parecia em nada com o criminoso que o Chapeleiro Louco conheceu no Arkham. O Coringa sempre se manteve distante, de cabeça baixa, encarando a todos de sua cela com um olhar cheio de fúria e rancor. Muitas vezes, o Chapeleiro se perguntou se o Coringa era realmente louco. Na verdade, não havia uma só pessoa no Arkham que nunca tivesse se perguntado a mesma coisa.

Pacientes, psiquiatras ou o próprio Batman.

O Coringa era uma força da natureza. Encolhido em sua cela acolchoada, sua mente caótica nunca parava, nunca descansava. Sabia tirar o melhor proveito de qualquer situação, sempre tinha uma carta na manga. De todos, era o que mais próximo chegara de matar o maldito Batman – e, sem dúvida, era o que tinha deixado as cicatrizes mais profundas no Cavaleiro das Trevas.

Já tinha trabalhado com o Coringa antes, mas de maneira metódica, precisa. Nunca como um assassino em massa que, simplesmente, sai atirando pela rua. Não, o Chapeleiro sabia reconhecer: o Coringa era muito mais que as aparências. Era muito mais do que um maluco fantasiado, obcecado pelo Batman e sem pudores para matar. Não, nada disso.

O Coringa não era humano. Não era insano. Estava acima de qualquer parâmetro.

O Chapeleiro Louco olhou para o lado e tudo que viu foi um demente esquizofrênico dirigindo uma van emalta velocidade, gargalhando como um idiota e dando tiros para o alto. A imprudência dele já tinha mandado seus outros colegas para a cadeia ou, talvez, para o túmulo.

Abriu a porta e saltou do furgão em movimento.

– Não! Seu idiota – gritou o Coringa. – Eu ainda... Ah, maldição!

O Chapeleiro Louco não teve tempo de ouvir o Coringa. Tudo que queria era ficar o mais longe possível daquele farsante. Rolou pelo asfalto por vários metros, até finalmente parar, ferido e cansado. Levantou-se devagar, pegou seu chapéu e desapareceu entre os prédios, olhando para trás para contemplar o furgão do Coringa rumando para Coney Island.

– Coringa, falso Coringa... – disse, baixinho, o Chapeleiro Louco. – Até quando você pensa que pode enganar o Morcego? Nosso velho amigo Morcego? Ele não é muito tolerante com palhaços ou com farsantes... Quero estar longe quando ele te encontrar...

O Coringa continuava rindo e rindo...

Horas antes, naquela manhã:

– Peter? Tá tudo bem?

O relacionamento entre Peter e Mari Potter tinha chegado a um ponto preocupante. Ela já estava aprendendo a identificar suas expressões. Já reconhecia seu olhar, sua linguagem não-verbal. Sabia que alguma coisa estava errada com seu namorado, apesar de não poder definir exatamente o que era.

– Tá tudo bem, Mari... Tá tudo bem, sim...

Essa era a parte ruim. Precisava mentir pra ela. Na noite anterior, deu a desculpa de que sua tia estava passando mal para poder escoltar o Edward Semeghini, o Vigilante, até a polícia, onde ele deveria se entregar, conforme as orientações do Batman. Contudo, o tumulto feito pelos fugitivos do Arkham forçou o Homem-Aranha a lutar ao lado de seu cativo. Quando o sol estava prestes a nascer, avisou o Batman do caos em Nova York. Provavelmente, o Homem-Morcego já estava em sua cidade, se preparando para ajudá-lo a encontrar os fugitivos e impedir que a situação piorasse. Semeghini ficou no alto de um prédio, com alguns sanduíches, suco e uma série de ameaças sobre o que aconteceria com ele se não estivesse ali na noite seguinte.

Peter via o Vigilante como um amigo, mas não podia confiar sua identidade a ele. Talvez depois que toda essa loucura acabasse, depois que ele se entregasse, mas, por hora, o Vigilante era apenas um homem à beira da loucura, transtornado pela morte da esposa. O Homem-Aranha ia fazer qualquer coisa para ajudá-lo a não se tornar outro Frank Castle, para retribuir tudo que, inadvertidamente, o ex-capitão da polícia fizera por ele.

Foi Edward Semeghini quem indicou Peter Parker para o Instituto de Criminalística da Polícia de Nova York. Se não fosse por ele, talvez jamais tivesse conhecido Marianne Potter.

Tudo que tinha a fazer era mentir para ela.

E foi o que fez, ao longo de um dia inteiro, afirmando que estava tudo bem. Apenas teve uma “péssima noite de sono”, por causa da tia doente. Curiosamente, ao longo do dia, ouviu várias vezes o Dr Eisner, médico-chefe da equipe forense, conversar com outros oficiais da polícia sobre Frank Castle, o Justiceiro.

O mundo parecia muito pequeno para Peter Parker.

O dia passou devagar, as horas se arrastando. Estava cansado, com sono e precisava ir pra casa. Mari parecia contrariada, mas se acalmou quando Peter prometeu que a levaria para conhecer a tia May no final de semana seguinte. Apesar de ter receio que suas mentiras fossem expostas, precisava de tempo. Chegou em casa e dormiu até quase dez da noite, quando encontrou Batman e o Vigilante. Juntos, enfrentaram a gangue do Coringa e uma série de criminosos que o palhaço libertou da Balsa. Sua intenção era trazer o caos a Nova York. Sua cidade não estava preparada para isso, não estava pronta pra lidar com gente assim. O esforço era grande demais. Se culpava por usar a tia May em suas mentiras, se culpava por mentir para Mari, se culpava pela situação de Semeghini, se culpava pelos criminosos nas ruas.

Mas não havia tempo para isso.

Tinham um trabalho a fazer.

– Qual o plano?

O Homem-Aranha não queria apressar as coisas, mas Batman precisava pensar rápido. Tinham prendido a maioria dos fugitivos do Arkham e da Balsa. O mais perigoso, contudo, tinha escapado. O Coringa levara o Chapeleiro Louco consigo e ninguém fazia idéia de qual era o destino da dupla.

– Eu tenho as informações do furgão que o “Coringa” roubou.
– Legal, mas como a gente vai atrás dele?
– Precisamos de um carro.
– Você trouxe o seu?
– Não. Vamos providenciar um.
– Você quer dizer, roubar?!
– Alguma outra idéia?
– Não, eu...
– Eu cuido disso – interrompeu o Vigilante, saindo do beco onde se reuniram para planejar. Na condição de ex-policial, Semeghini não podia dar voz de prisão ou exigir o carro de alguém por quaisquer motivos, mas ele tinha aprendido o suficiente nas ruas para saber arrombar um veículo. Voltou em poucos instantes, dirigindo um Lexus RX preto.

– Semega, você precisa me ensinar esse truque.
– Brooklyn.
– Brooklyn? Mas...
– Dirija.
– Ok.

Enquanto esperavam o Vigilante providenciar um veículo, Oráculo já tinha levantado todas as informações sobre o paradeiro do furgão. Radares fotográficos capturaram o trajeto do Coringa desde o Bronx, passando em sinais vermelhos e quebrando o limite de velocidade. Tinha chegado a Coney Island e, enquanto o Vigilante dirigia a toda velocidade, Batman continuava recebendo informações.

– Batman, é Oráculo. Estou rastreando o paradeiro do Coringa em Coney Island, mas parece que ele parou de dirigir. Talvez tenha chegado a um esconderijo.

O Detetive Encapuzado nada respondeu. Voltando-se para o Vigilante, resolveu confirmar as informações que o levaram a Gotham:

– Semeghini, você disse que interrogou o Dr Octopus em Coney Island, não é mesmo?
– Sim.
– O Coringa abandonou a van em Coney Island. Onde, exatamente, o Octopus estava?
– Em um velho cortiço.
– Batman, tenho alguns endereços aqui – disse Oráculo, pelo rádio no capuz do Cruzado de Capa.
– Semeghini, leve-nos para lá.
– Tem certeza? O Coringa e o Octopus...?
– O Escorpião esteve em Gotham trabalhando para o Octopus. Ele roubou um carregamento de adamantium – que tanto poderia servir para aprimorar a cauda do Escorpião quanto os tentáculos do Octopus. O Coringa foge e vai para Coney Island. Não me parece que seja coincidência.
– Mas como eles poderiam...?
– Lembrem-se, não é o Coringa. O Coringa foi avistado em Gotham.
– Então, quem...?
– Estamos prestes a descobrir.

Os dedos do Vigilante se retorceram ao redor do volante, toda a raiva e frustração acumuladas prestes a explodir, seu peito denunciando a respiração irregular, o vômito quase lhe subindo à boca. A verdade estava prestes a aparecer. Se o Dr Octopus estivesse, de alguma forma, envolvido no assassinato de Heather, então ele pagaria muito caro. Não devia, nunca, ter aceito a palavra de Octopus. Quantas pessoas foram envolvidas nessa loucura? Quantas mortes?

Semeghini jurou para si mesmo colocar um fim àquela loucura.

– Ó de casa!

O Coringa entrou sem fazer cerimônia. Já conhecia o local. Sabia quem morava ali e foi direto conversar com o homem por trás de toda aquela loucura.

– Ock? Você está aí?

A resposta veio na forma de um poderoso tentáculo, agarrando o Coringa pelo pescoço e erguendo-o a quase dois metros do chão.

– Ack... Ack! Me... Solte...
– Não devia ter vindo aqui – respondeu Octopus, soltando o vilão.
– O que esperava que eu fizesse? Me diverti à vontade, fiz o que você mandou, mas agora acabou a brincadeira!
– O que você achou que estava fazendo?
– Eu já estava no Arkham, mesmo... Pensei em me divertir um pouco.
– E não matou o Escorpião, como eu pedi.
– Não precisei. Depois da confusão no Arkham, ele já vai ter problemas de sobra com o Batman e o Homem-Aranha.
– E eu vou ter problemas de sobra com o Escorpião vindo me cobrar uma parte no acordo que não tenho a menor intenção de cumprir! O que deu em você, afinal!?
– Ei... Em Gotham, como os gothamitas...
– Sem um pingo de intelecto, presumo! Agora, você veio pra cá e, além do Escorpião, vou ter que lidar com o Homem-Aranha e o Batman perseguindo você! Além, claro, de todos os assassinos do Arkham e da Balsa!
– Ninguém sabe que eu vim para cá!
– Questão de tempo. Sua idiotice pode me custar muito caro.
– O que vai fazer a respeito? Contratar alguém pra me matar, como você fez com o Escorpião?
– Ao contrário daquele demente, você costuma trabalhar bem. Ou, pelo menos, costumava. Mas vou pensar duas vezes antes de entrar em contato com você novamente.
– Ah, que triste! Vou ficar sem salário?
– Vai ficar sem a cabeça, desgraçado! – gritou o Escorpião, arrombando uma porta e investindo contra Octopus e o falso Coringa. – Eu ouvi tudo! Primeiro você me mandou roubar adamantium para construir uma cauda nova pra mim, depois me mandou numa missão idiota no Arkham e ainda colocou o Coringa pra me matar? Você me usou, Octopus! Eu fiz o que você mandou e você me usou!
– Grande, era só o que faltava... – disse Octopus, com ar entediado, levando a mão à cabeça. – Livre-se desse imbecil, sim?
– Com prazer.
– Acha que tenho medo de você, palhaço? – ameaçou o Escorpião, enquanto brandia sua cauda no ar. – Eu vou acabar com você! Eu vou fazer você pagar caro por me tentar me enganar!
– “Tentar”?! Hahahaha! Seu imbecil! Eu podia ter matado você quando quisesse! Você ouviu toda minha conversa com o Octopus e ainda assim não sabe quem eu sou? É impressionante, Darwin deve estar se revirando no túmulo!
– Do que você está falando, palhaço!?
– Eu me entrego demais aos personagens que interpreto, esse é meu problema – respondeu, revelando sua verdadeira face.
– Não! Não você!
– Sim, idiota. Eu... o Camaleão!

Semeghini pensava em Heather.

O tempo todo.

Pensava nas noites que passaram juntos, nos momentos de alegria que compartilharam. Lembrou-se daquela viagem para as Montanhas Rochosas, onde fizeram amor tendo o céu como testemunha. Lembrou-se de uma noite de bebedeira em Las Vegas, quando se casaram pela primeira vez.

Em Nova York, casaram-se pela segunda e definitiva vez.

Sentia falta do som da risada dela. Sentia falta de ouvir seus suspiros quando faziam amor. Sentia falta de fazer planos, de ter algo por que lutar.

Até de brigar com ela, Semeghini sentia falta.

Entrou no cortiço em Coney Island ao lado do Batman e do Homem-Aranha, disposto a vingar sua perda, mesmo ao custo de sua alma.

Estava cansado de viver.

Estava cansado de tudo.

Desceram por uma série de escadas, após deixar o Lexus roubado em uma rua próxima. A madrugada estava terminando e não iam poder contar com a vantagem da escuridão por muito tempo.

Chegaram a tempo de ver o Escorpião enfrentando o Camaleão, armas de fogo contra uma cauda mortífera. Batman investiu violentamente contra o Escorpião, esquivando-se de seu ferrão, e atingindo-o com uma série de socos. O Homem-Aranha foi atrás do Camaleão, tentando impedir que ele escapasse.

O Vigilante continuou sua descida, literal e metafórica.

O Escorpião era resistente, Batman tinha que admitir. Ao encurtar a distância, conseguiu se livrar dos ataques com a cauda, mas o vilão aproveitou para agarrá-lo.

– Se acha muito esperto, Morcego? Se acha durão?!
– Calado.

A cabeçada no nariz quase nocauteou o Escorpião. O sangue quente inundou-lhe a garganta, enquanto Batman se preparava para um novo ataque. Mesmo atordoado, MacGargan não precisava de muito esforço para girar sua cauda no ar, mantendo o Homem-Morcego longe.

Mas Batman sabia esperar.

No momento certo, laçou os pés do Escorpião e, com um tranco, derrubou-o. Ele ainda se debatia no chão, cravando seu ferrão no chão e arrancando lascas de madeira do assoalho. Aprisionar o Escorpião era muito difícil e Batman sentiu que estava perdendo tempo demais tentando nocauteá-lo. Foi quando o acaso interveio e o chão terminou por ceder, fustigado pelos golpes do vilão. A queda até o porão, muito mais alto que um andar comum do edifício, foi suficiente para nocauteá-lo.

Enquanto isso, o Homem-Aranha continuava tentando encontrar o Camaleão. Seu velho inimigo, novamente, tinha enganado a todos com seu disfarce. Conseguiu encurralá-lo numa escadaria.

– Pensei que você tinha se aposentado depois de fracassar ao tentar matar o Koffi Anan ¹, Camaleão...
– E perder toda a diversão, Aranha? Ainda tenho contas a acertar com você!
– Eu acho melhor você se entregar...
– Vai sonhando...

O Camaleão sacou suas pistolas e começou a atirar. Apesar de sua agilidade, foi apenas por muito pouco que o Homem-Aranha conseguiu se livrar dos disparos. De um salto, bateu os pés no teto e tomou impulso para golpear o Camaleão violentamente.

– Faz idéia de quantas pessoas morreram por sua causa?!
– Hahaha! Agora eu sei como o Coringa se sente!
– Vai se sentir melhor sabendo que você vai pro Arkham? Com o resto dos loucos?
– Não... Você não tem autoridade pra fazer isso, apenas um juiz pode...
– Eu vou entregar você pro Batman... Quando você chegar ao Arkham, conte pra todo mundo que você entrou lá se passando pelo Coringa e começou essa guerra... Tenho certeza que muita gente vai querer ouvir sua história...
– Você não pode fazer isso!
– Por que, Camaleão? Por que todas essas mortes?!
– Porque fui bem pago pra isso! Porque eu sabia que isso ia ajudar a transformar sua vida num inferno! O que você esperava? Que eu passasse o resto da minha vida lutando com gente como você e a Gata Negra? Eu estou nessa por grana, Aranha! Grana! E o Octopus me pagou bem pra apagar o Escorpião!
– Por que o Octopus...
– Pra ninguém saber o que ele estava planejando... Pra ninguém saber o que ele roubou e ficar com o adamantium só pra ele... O Escorpião era o melhor homem pra roubar o carregamento, mas ele precisava sumir! Por isso o Octopus me contratou! Ele podia me pagar quanto fosse pra matar o Escorpião, ele preferia isso do que ajudar aquele idiota a “ser o mais forte”, com um rabo ridículo feito de adamantium! O Octopus não quer concorrência, cara! E o Escorpião é concorrência direta! Eu? Eu sou só um facilitador...

O Homem-Aranha segurou o Camaleão pelo pescoço e ergueu o punho:

– Onde o Vigilante se encaixa nisso? Por que a mulher dele teve que ser assassinada?!
– Pergunte ao Octopus. – disse o Camaleão, usando sua habilidade para escapar da teia do Aranha e golpeá-lo, empurrando-o em seguida com o pé. - Não quero estar aqui quando as bombas começarem a explodir – disse, piscando para o Homem-Aranha e voltando a subir as escadas.

O Camaleão era ardiloso. Alguém com tanto talento para disfarces, obviamente, tinha preparado mais alguns truques para o caso de enfrentar o Aranha. Escapismo era uma novidade no repertório do terrorista. O Sentido de Aranha acusava a presença do Camaleão subindo as escadas, mas também alguma coisa no topo do cortiço. Seriam as bombas de que o Camaleão falou? Se ao menos o vilão tivesse lhe dito algo mais... Qualquer que fosse o motivo deles para matar Heather Semeghini, apenas o Dr Octopus poderia lhe dar respostas agora.

Mas, para isso, precisava encontrá-lo antes do Vigilante!

– Homem-Aranha! O Camaleão...?
– Subiu, mas disse que há uma bomba no topo do cortiço.
– Deve ser uma distração, nós temos que encontrar o Octopus antes...
– Não, não é. Tem algo errado lá em cima.

Uma violenta explosão sacudiu o prédio, confirmando as palavras do Homem-Aranha.

Semeghini ainda pensava no primeiro beijo, na sensação de estar com a mulher que mais amava no mundo, no cheiro do cabelo dela, a pele quente e molhada, a vibração quando a tocava, como eletricidade, como o fogo do paraíso...

Estava, mais uma vez, frente a frente com o Dr Octopus.

– Vire-se.
– Ah, Semeghini... Como vai? Encontrou o que procurava?
– Não foi o Escorpião.
– Suponho que você vá tomar a palavra de um criminoso como sendo verdade?
– Não foi o Escorpião!
– Ora, seu idiota! É claro que não! O Escorpião ia fazer um serviço pra mim em Gotham, o Camaleão ia garantir que o serviço fosse “finalizado”. Por que não matar dois coelhos de uma cajadada só? Quem matou sua esposa foi o Camaleão, usando suas admiráveis habilidades para fazer parecer que o assassino era o Escorpião. Isso o colocou numa corrida desesperada para matar o homem errado. Assim, eu tinha a chance de me livrar do Escorpião e de você. Ou você achou mesmo que podia apontar uma arma para meu rosto, me ameaçar e eu simplesmente curaria sua mulher sem mágoas ou ressentimentos? Eu queria ver você sofrendo! Eu queria que você morresse por dentro, morresse mil mortes, só pra que eu pudesse olhar na sua cara e dizer que eu fui o responsável! Está me ouvindo? Você revelou sua “identidade secreta” para mim e tudo que eu tive de fazer foi mandar alguém lá para punir você pela petulância de achar que pode me obrigar a fazer alguma coisa. Eu aleijei sua esposa, eu a curei. Por fim, eu mandei matá-la, porque sabia que isso destruiria você! E ainda coloquei você contra o Escorpião, na esperança de que vocês se matassem! Mas a incompetência foi maior...
– Octopus, seu desgraçado!

Refeito da queda, o Escorpião investiu ferozmente contra o Dr Octopus, o ferrão cortando o ar ameaçadoramente ao redor do insano cientista. Usando seus tentáculos, Otto Octavius mal se mexia. Estava no controle da situação, senhor absoluto das próteses que criara. O Escorpião percebeu, então, o que tinha feito ao roubar o carregamento de adamantium.

– O que achou dos meus novos tentáculos, seu animal? As peças de adamantium ajustaram-se perfeitamente, não acha!?
– Este adamantium era pra mim!
– Ora, não seja idiota! Acha que eu ia dar a um troglodita como você uma arma tão letal quanto esta? Seria como dar um bazuca a um macaco!
– Seu...

Perdido em seus pensamentos, Semeghini morreu por dentro. As palavras do Dr Octopus deram um peso novo a todos os erros que cometera nos últimos dias. Tinha espancado criminosos, tinha jurado vingança. Sabia que não estaria acabado até pegar o Octopus, mas aquilo... Saber que o vilão o tinha usado e matara sua esposa por mera crueldade...

Aquilo era mais do que podia suportar.

Sentou-se no chão enquanto os dois homens à sua frente dançavam um balé de morte e destruição, pegou uma pistola e olhou fixamente para ela.

Ouviu o barulho de uma explosão, vários andares a cima. Imaginou se morreria soterrado naquele velho cortiço, como tantos outros amigos seus, durante o 11 de setembro. Morreram como policiais, como heróis. No cumprimento do dever.

Um dever que tinha relegado a uma simples vingança quando vestiu a máscara e pegou aquela arma.

Nunca reparou o quanto ela era pesada. Nunca parou pra pensar nos fantasmas que a habitavam. Quantas vidas já havia destruído. Quanto sangue derramara. Vingança, morte, assassinato... Palavras sujas que se resumiam na peça de metal que tinha em suas mãos. O sangue, na verdade, estava em suas mãos. Estava maculando sua alma, toda vez que decidia tirar a vida de alguém com um tiro. Os fantasmas o assombravam. Por sua culpa, Heather tinha sido assassinada. Por sua omissão no cumprimento do dever, enterrara sua esposa. Se tivesse prendido o Octopus quando teve a chance, se tivesse sido o policial que todos esperavam que fosse, nada disso teria acontecido.

Era tudo culpa sua.

A arma em suas mãos gritava seu nome. Não foi assim que Adrian Chase, o outro Vigilante, morreu? Estava carregando um legado maldito?

Então, tinha que fazer jus a ele.

O Dr Octopus prendeu os dois braços do Escorpião e a cauda com seus tentáculos. Em seguida, passou a espancá-lo. Os golpes era violentíssimos. Ossos se quebravam, o sangue escorria farto. O Escorpião apenas sorriu, a boca escancarada suja de sangue e sem dentes.

– Do que você está rindo, seu idiota!?
– De você, Octopus... Você é covarde demais pra me matar... Você mandou o Camaleão atrás de mim porque não tem culhão pra fazer o serviço!
– Ou, talvez, eu tenha julgado que você ainda tenha utilidade vivo – disse Octopus, soltando o Escorpião, que caiu pesadamente.
– Idiota! Acha que isso vai ficar assim?
– Pouco importa pra mim – respondeu Octopus, dando as costas ao Escorpião. – Você está chateado porque eu não cumpri minha parte no acordo, eu compreendo. Talvez possamos repensar os termos de nosso acordo.
– Eu não vou deixar você numa boa depois dessa!
– Não? Tem certeza? Eu ainda sou o único que pode garantir os aprimoramentos que você tanto quer.
– Depois de me apunhalar pelas costas?!
– Ora, meu caro Escorpião... Negócios são negócios.
– Tenho cara de homem de negócios, por acaso!?

O Escorpião levantou a cauda de maneira ameaçadora contra Octopus, que ainda estava de costas. Antes que pudesse desferir o golpe fatal, contudo, foi atingido na nuca por um tiro a queima-roupa. Pedaços de seu cérebro escaparam pela boca, os olhos explodiram nas órbitas e, no instante seguinte, o Escorpião estava morto.

– Quem disse que nunca tem um policial por perto quando a gente precisa, hein?
– Cale a boca, Octopus! Você é o próximo!
– Ora, Semeghini! Não seja idiota. Não gosto de perder meu tempo. Largue essa arma e vá embora daqui com sua culpa e sua vida desgraçada.
Você desgraçou minha vida, e agora você vai pro inferno comigo!

Semeghini descarregou a arma em Octopus, mas foi inútil. Os rápidos movimentos dos tentáculos de adamantium diante de Octavius foram suficientes para bloquear os disparos, até que Semeghini ficasse sem munição.

– Isso é tudo?

O topo do cortiço estava em chamas. Batman e o Homem-Aranha estavam tendo muito trabalho para tirar os moradores do prédio. Quando os bombeiros chegaram, a situação começou a se acalmar.

– O Camaleão escapou bem debaixo do meu nariz!
– Nós vamos encontrá-lo, não se preocupe. Por enquanto, precisamos terminar o que viemos fazer.

Continuaram se esforçando para retirar os moradores dos apartamentos e ajudá-los a alcançar as saídas de emergência e escadas do corpo de bombeiros. Não havia muitas famílias morando no cortiço, mas apenas o suficiente para que o Camaleão tivesse tempo de escapar.

– O Octopus está lá embaixo. Acha que os bombeiros dão conta?
– Minha preocupação é com a estrutura desse prédio velho. Temos que achar Octopus e sair daqui o mais rápido possível.

Sem dizer mais uma palavra, Batman e o Homem-Aranha começaram a descer rapidamente as escadas do velho edifício, até voltarem ao porão. Não sabiam o paradeiro do Chapeleiro Louco e o Camaleão tinha escapado. Restavam Semeghini, o Escorpião e o Octopus. Quando chegaram ao porão, encontraram o Vigilante e o Dr Octopus se encarando, o corpo do Escorpião entre eles.

– Semeghini! Afaste-se dele!
– Ora, o famoso Batman – provocou Octopus. – Nossa reunião está cada vez mais concorrida!

O Homem-Aranha correu até o Escorpião, enquanto Batman se colocava entre eles e Octopus, afastando Semeghini.

– Devo presumir que meu velho amigo Homem-Aranha esteja se empenhando para salvar a vida do vilão que o mataria na primeira oportunidade? Quão nobre, quão fútil...
– Você vai para a cadeia, Octavius!
– Ah, Batman, não fale comigo como se eu fosse um daqueles malucos que você assusta com sua cara feia. Como deve ter descoberto a essa altura, eu mandei o Escorpião para Gotham roubar um carregamento de peças de adamantium que o exército comprou para blindar equipamento de comunicação. As peças já estavam prontas, no formato que eu precisava. É muito difícil manipular adamantium. Muito caro. Pra minha sorte, não tive muito trabalho com esse carregamento. Elas serviram para revestir meus tentáculos, tornando-os muito mais devastadores. Observe.

Octopus atacou Batman, os quatro tentáculos sincronizados chicoteando o ar. O Homem-Morcego se viu forçado ao limite de sua agilidade, esquivando-se e saltando a toda velocidade. Diversos golpes dos tentáculos atingiram sua capa, rasgando-a com facilidade. Se um daqueles golpes o atingisse, seria o fim.

O Homem-Aranha, vendo que não podia fazer mais nada pelo Escorpião, resolveu entrar na luta. Disparou sua teia contra os pés de Octopus, mas o vilão percebeu o ataque antes que pudesse ser derrubado. Rapidamente, puxou o fio de teia e arremessou o Homem-Aranha em direção à parede oposta.

O Aracnídeo conseguiu cair pronto para o contra-ataque, num movimento preciso. Sua manobra deu tempo ao Batman de arremessar alguns batarangues no rosto do vilão, cortando-o. O grito de dor e raiva de Octopus pareceu tirar Semeghini de um transe. Sem temer pela própria vida, Batman tentava se esquivar dos tentáculos e avançar contra o insano cientista. O Homem-Aranha não fazia por menos, usando suas teias para bloquear os ataques cegos do vilão.

Semeghini se aproximou.

– Vigilante, longe dele!

Mas ele não deu ouvidos ao Homem-Aranha e continuou se aproximando, um zumbi, um corpo sem alma movido apenas pelo desejo de vingança.

Mas não era vingança contra o Camaleão, o verdadeiro assassino de sua esposa. Não era vingança contra o Escorpião, cujo corpo jazia sem vida a poucos passos dali.

Não era vingança contra o Dr Octopus.

O único culpado por todos os erros que cometera, por todos os fracassos em sua vida, esse sim, merecia ser punido. O único a quem podia culpar era a si mesmo.

Semeghini caminhava, enquanto os tentáculos de Octopus impediam o Homem-Aranha e o Batman de detê-lo.

Aproximando-se pelas costas do vilão, Semeghini segurou seu pescoço dando-lhe uma “gravata”. Cego pela fúria, Octopus não pensou duas vezes. Incrustou seu tentáculo nas costas de Semeghini, erguendo-o a uma altura de três metros e arremessando-o violentamente contra o chão. Em sua raiva, não ouviu o grito do Homem-Aranha, nem foi capaz de notar Batman se aproximando. O Dr Octopus podia se valer de seus poderosos tentáculos em uma luta mas, no mano-a-mano, tinha apenas a força de um homem comum em seus cinqüenta anos. Um soco do Batman, então, foi suficiente para nocauteá-lo.

Tarde demais, contudo, para salvar a vida de Edward Semeghini.

Em seus últimos momentos, Semeghini ouviu o Homem-Aranha gritando para que se afastasse do Dr Octopus. Ele arriscaria a própria vida para salvar quantas pessoas pudesse. Batman continuava lutando, aliando uma técnica impressionante a uma determinação inigualável. O Octopus conseguiu se defender de balas, mas o Batman conseguiu lutar de igual para igual com Octopus.

Eram heróis.

Nunca desistiam, nunca se davam por vencidos.

Semeghini, por outro lado, viu os últimos dias de sua vida como uma sucessão de fracassos. Quando seu corpo caiu ao chão, a última coisa que viu foi Batman nocauteando Octopus. Sabia que não o matariam. Eram heróis, não justiceiros.

Sua própria vida, contudo, estava vazia de significado e propósito. Traiu a confiança de amigos, cometeu erros que custaram vidas inocentes, não foi capaz de defender a própria esposa. Mesmo diante de seu assassino, não foi capaz de levar a cabo sua vingança.

Ouviu a voz de Heather cantando sua canção favorita, fechou os olhos e esperou o frio conforto da morte, cantando junto com ela.

Mãe, tire esse distintivo do meu peito
Eu não posso mais usá-lo
Está ficando escuro, escuro demais para ver
Sinto como se estivesse batendo nas portas do Céu
Estou batendo nas portas do Céu
Mãe, coloque minhas armas no chão
Eu não posso mais dispará-las
Aquela fria nuvem negra está descendo
Sinto como se estivesse batendo nas portas do Céu
Estou batendo nas portas do Céu
Não seria uma grande sorte se você conseguisse sair da vida com vida?
Batendo nas portas do Céu...


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