The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 39
Capitulo 39 - O Chugato


Notas iniciais do capítulo

Peter finalmente vai conhecer a família de Marianne Potter! Ele só não pensou que a família pudesse ser tão grande e... diferente!



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– Peter? Andou brigando?!

Talvez não fosse uma boa contar a verdade a ela. Por algum estranho motivo, “um alienígena matou meu amigo, saí na porrada com ele, mas acabei deixando o bicho escapar” não soava bem.

E Al Kraven não era seu amigo.

Viu o Caçador ser morto cruelmente, com uma violência e ferocidade impressionantes, pela criatura que apelidaram de “Predador”. Seja lá o que fosse, não era deste planeta. Um caçador nato, portando tecnologia especificamente para colecionar troféus. Felizmente, o Homem-Aranha conseguiu destruir boa parte de seu equipamento e impedir que a cabeça de Al Kraven fosse exibida em alguma “galeria de caça” alienígena. Mas foi uma noite terrível, sentiu a morte próxima várias vezes. Enfrentou uma criatura cuja força rivalizava com a sua. Esperava jamais vê-lo novamente, mas eles sempre voltavam.

Monstros e assassinos sempre voltavam.

– Peter?
– Hein!? Ah, oi, Mari! Desculpe. Bom dia!
– Bom dia. O que aconteceu com você?
– Nem te conto.
– Conta sim.

Ferrou.

– Eu precisava pegar um remédio da minha tia que fica numa prateleira muito alta. Sempre coloco um pé na cadeira e um pé na mesa pra alcançar. Mas, ontem, a mesa não agüentou meu peso. Já estava velha, eu acho. Ou eu que engordei. Será que eu tô gordo? Bom, enfim. Me arrebentei.
– Sei... Já leu o jornal ontem? Aquele conhecido seu de quem estávamos falando ontem... Alyosha Kravinoff... Ele foi assassinado no Central Park noite passada...
– Como é? – disse Peter, tentando fingir surpresa.
– Parece que alguém o atacou em seu apartamento. Ele e o Homem-Aranha foram atrás do agressor, que destruiu viaturas da polícia, árvores e bancos no Central Park, até desaparecer no esgoto. Mas não sem antes matar Al Kraven e dar... uma surra... no...

Peter desviou o rosto e voltou para o seu terminal. Conhecia aquele olhar. Aquela expressão investigativa, a maneira como Mari o encarava sempre que o tema “Homem-Aranha” estava em pauta. Precisava mudar de assunto rápido ou, pelo menos, encobrir melhor seus rastros.

– Triste isso. O Al Kraven parecia um cara legal, diferente do pai dele.
– Parece que foi bastante... violento. As informações ainda não chegaram aqui, mas a equipe de plantão já cuidou de tudo. É bem provável que isso vá pra Unidade de Crimes Especiais.
– E o assassino? Nenhuma pista?
– Nenhuma que faça sentido. Você vai ao funeral?
– Bom... Al Kraven e eu não éramos exatamente amigos... Mas é provável que eu vá sim.
– Hematomas, funerais... Que tal dar uma animada na sua vida, Peter?
– Como assim?
– Bom... Tem um primo do meu pai que estava preso... Ele cumpriu pena, foi pro Brasil e agora vai voltar pra Nova York. Esse final de semana é o aniversário dele e meu pai quer fazer um churrasco típico gaúcho pra comemorar. Então eu estava pensando, se você não for fazer nada no final de semana, se você não quer aparecer lá em casa... Conhecer a família, e tal. O que acha?

Está ficando sério, pensou Peter. Oh, meu Deus! Está ficando sério!

– Eu... Acho... Claro que eu... Bom...
– Eu acho que está na hora de a gente se ver fora do ambiente de trabalho. Claro, pode ser um pouco assustador, mas... Seria uma boa chance de nos conhecermos melhor.

Foi quando Mari olhou para Peter como quem não vai aceitar “não” como resposta. Não por ser autoritária, ou por estar limitando suas escolhas. Mas porque realmente queria que ele fosse. É o tipo de convite que não dá pra recusar.

Além do mais, se Peter realmente queria que seu relacionamento com Mari chegasse a algum lugar, precisava sair de seu casulo e encarar o mundo. Ao lado dela. Por muito tempo, tentou colocar limites, evitando que as pessoas conhecessem sua vida a fundo, por medo do que sua dupla identidade poderia causar. Mas, com o tempo, aprenderia a confiar em Mari, a conheceria melhor e, se tudo desse certo, ela entenderia.

Só tinha uma maneira de descobrir.

– “Churrasco gaúcho”... É carne de jacaré?

Os preparativos:

– Tudo certo pro Chugato?
– Pai, por favor... Não diga “chugato”!
– Ora, mas é como meu primo Fabian chama essas comemorações fora da terra natal dele. Ele diz que, fora do Sul do Brasil, o churrasco é tão ruim que parece feito de carne de gato. Por isso é “chugato”. Hehe.
– Hilário. Mas o Peter pensou que fosse carne de jacaré ou algum animal exótico da fauna brasileira que íamos assar. Se falar que é carne de gato, é bem capaz de ele cair nessa.
– Tem jacaré no Brasil, Mari?
– E eu vou saber, pai?! Pergunte pro tio Rodney.
– Se ele vier, né? O Rod anda muito... misterioso ultimamente.
– Sei... Os “rumores”.
– Deixa pra lá. Vou comprar algumas coisas. Qualquer coisa, me ligue. Seu namorado vem?
– Vou ligar pra ele, pra ter certeza que ele não vai tentar se esquivar.
– Ótimo, filha. Todo mundo está ansioso pra conhecê-lo.

Mari segurou o palavrão. Sabia que Peter não gostava de ser o centro das atenções. E nem ela gostava. Mas já era hora de seu “relacionamento” subir um degrau e ficar com cara de “namoro”.

Mas não conseguiu deixar de pensar “agora f*d&u!”

De qualquer forma, ainda tinha um assunto muito sério a resolver com Peter. Certamente, não seria durante a festa. Mas precisava deixar bem claro para ele que queria a verdade. Que ia fazer tudo que estivesse ao seu alcance para apoiar Peter, para ficar do lado dele. Mas precisava que ele confiasse nela. Essa seria a parte difícil.

Se conheciam tão pouco ainda. Que direito ela tinha de exigir que ele se abrisse com ela? Que revelasse seus segredos? Talvez, por isso, a festa estivesse tomando contornos tão importantes para Mari. Sabia que era uma chance de estreitar os laços, se aproximar dele. Deixar que ele a conhecesse melhor e soubesse que estava tudo bem.

Tudo ia ficar bem.

Bastava confiar nela.

– Falando assim fica tão fácil...

Interlúdio:

Não conferiu as malas. Não se importava de deixar alguma coisa para trás, de esquecer uma parte de sua velha vida. Talvez não fosse realmente sua. Talvez não fosse uma vida de verdade, afinal.

Mary Jane tinha lágrimas nos olhos, mas não ia se deixar deter por isso. Sentia que, mesmo aquelas lágrimas, não lhe pertenciam. Tudo podia não passar de um jogo doentio do Duende Verde, mas havia algo...

Uma sensação de perda...

E já tinha perdido tanto. Seu casamento. Sua filha. Queria esquecer tudo aquilo, deixar Nova York para trás e ir pra Flórida morar com sua tia Anna, longe do Homem-Aranha, do Duende Verde, clones e todas essas coisas insanas que insistiam em invadir sua vida. Queria ser feliz. Queria se redescobrir. Sentia muito a falta de Peter, mas sabia que tinham chegado num ponto sem retorno. Talvez, um dia, se reencontrassem.

Até lá, precisava encontrar a verdadeira Mary Jane Watson.

A Expectativa:

Peter pensava nas reviravoltas que sua vida tinha dado, enquanto tomava banho. Num momento, tudo parecia lhe ser tirado, como se não fosse digno, como se a única recompensa por ser o Homem-Aranha fosse perder o pouco que tinha.

Aos poucos, tudo lhe foi dado de volta.

Talvez aquilo fosse um sinal dos céus, uma indicação de que estava no caminho certo, que valia a pena combater o bom combate. Já tivera seus momentos de dúvida, seus questionamentos, mas nunca se entregara.

Qual era a outra opção? Desistir? Virar um vilão?

Por algum tempo, sentiu-se agindo fora de suas características. Estava se tornando um vigilante selvagem e violento, sem compaixão, sem escrúpulos. Tinha experimentado o gosto de sangue, cruzando uma linha que sempre tentou evitar. Mas foi capaz de enxergar nobreza mesmo nesse ato desesperado e se perdoar. Não tinha mais sede de sangue. Não estava mais se punindo.

Estava voltando a viver.

E tinha Mari. Talvez as coisas não fossem tão boas, tão legais sem ela. Claro, talvez não tivesse as preocupações com a segurança dela ou a identidade secreta, mas estava valendo a pena. Ela fazia valer a pena.

E, mesmo que não desse certo, valeu.

Ela era especial de uma maneira que, receava, jamais fosse capaz de expressar. Ela tinha tocado sua vida num momento de descrença, de desespero.

Jamais deixaria de pensar em Gwen, Mary Jane ou quem quer que fosse, mas era bom estar começando a construir um relacionamento ao invés de lutar para que não desmoronasse, só pra variar.

E Felícia estava muito quieta ultimamente, o que era, ao mesmo tempo, motivo de alívio e preocupação.

Mas podia deixar a Gata Negra para outra hora.

Saiu do banho se perguntando se, finalmente, teria uma noite tranqüila para passar ao lado da namorada.

“Namorada”...

– Peter, já está pronto?
– Já sim, tia. Tem certeza que não quer ir? A Mari disse que quer muito te conhecer.
– Ah, peça desculpas a ela por mim, mas vai ficar pra uma próxima vez. A semana foi bem cansativa pra mim e quero dormir cedo.
– Quem manda ficar treinando muay thai a semana inteira?
– É pra poder acompanhar o pique do meu sobrinho, que parece revigorado desde que conheceu essa Marianne...
– É... É verdade... Mas, tia May, se mudar de idéia e quiser ir...
– Eu ligo. Pode deixar. Divirta-se. E não deixe essa moça escapar.
– Vou fazer o possível, tia.

Despediram-se carinhosamente, felizes por estarem voltando a partilhar esses momentos. A vida de Peter não era a mesma sem a tia. Não ia deixar que nada estragasse isso.

Assim que o sobrinho saiu, May Parker foi para a sala, assistir TV e descansar, quando o telefone tocou.

– Alô.
– Tia May? É Mary Jane.
– Ora... Mary Jane, que surpresa! - tinha algo errado na voz da ex-mulher de Peter, mas May achou melhor fingir naturalidade até que ela contasse o que estava havendo.
– Eu... Eu estou saindo de Nova York, May. Eu vou pra Flórida, com a minha tia Anna.
– Ora, mas... Assim, de repente?
– Aconteceram algumas coisas... Maiores do que eu. Lamento, May, eu queria poder explicar melhor. É difícil pra mim deixar tudo pra trás e, ao mesmo tempo, é necessário. Eu não sei por que eu liguei. Só diz ao Peter que eu o amo, sim? Eu nunca ia conseguir sem ele... Mas agora preciso descobrir minha própria força.
– Mary Jane, o quê...?

Desligou.
May Parker ficou sem entender o que ela pretendia com aquele telefonema. Mas, se a própria Mary Jane não sabia, tudo que lhe restava era contar ao sobrinho o que tinha acontecido.

E torcer para a tristeza que ela sentiu na voz de Mary Jane fosse só uma nuvem passageira.

O Churrasco:

Peter chegou um pouco mais tarde do que gostaria. Toda a família de Mari Potter já estava lá, comendo e bebendo. Mari o recebeu com um beijo caloroso, do tipo que deixa o sabor na boca por horas, dias...

Em momentos assim, não lhe restava a menor dúvida de que tinha tomado a decisão certa.

– Venha, Peter. Quero que você conheça meus pais!

A sensação de alívio foi, então, substituída por terror absoluto. Seus relacionamentos tinham um histórico interessante. Peter só tinha a tia May e, de modo geral, suas namoradas também não tinham uma família muito grande. Mari era a exceção. A casa estava cheia e teve a sensação de que todos se cutucam, dizendo: “olha, é ele!”

Os pais de Mari estavam na sala, assistindo o que parecia ser o vídeo de uma festa anterior:

– Pai, mãe... Este é Peter Parker. Peter, estes são meus pais, David e Babette. Aquele você já conheceu, meu irmão Harry. Aquele é o aniversariante, meu “tio” Fabian. Aqueles são Richard e Josi, com o pequeno Gustaf, Laurie e Vanessa, com o pequeno Matthew... Henry e Chris, com o Dolph... Eles adotaram o Dolph recentemente, não é uma graça? São todos tios, primos, não tenho muita certeza! Aquele é meu tio Peter Caldrón... Quem mais? Ah, acho que os outros estão lá fora.

Peter foi passando por todos, enquanto os cumprimentava. Os pais de Mari eram bastante receptivos e foram calorosos com ele. Estavam felizes pela filha, e isso ficou claro pela maneira como receberam Peter. Depois foi a vez de Harry e do aniversariante, Fabian Ochoprenhauser. Fabian contou a Peter sobre o tempo que passou na cadeia, a viagem ao Brasil e seus planos agora que tinha retornado a Nova York. Infelizmente, Peter não entendeu lhufas, porque o sotaque de Fabian era ininteligível. Mais tarde, descobriria que ninguém na família conseguia entender muito bem o que o Ochôa falava.

Richard e Josi esbanjavam simpatia. Seu filho tinha pouco mais de um ano, mas Richard teve que largá-lo no colo da mãe e sair correndo pra cuidar da churrasqueira. Já Laurie apenas cumprimentou Peter de maneira reservada, enquanto Vanessa foi mais atenciosa, apresentando-lhe o pequeno Matthew, também com um pouco mais de um ano de idade. Mais tarde, Peter soube que Laurie tinha bebido demais e dito algumas “verdades inconvenientes”, causando um grande mal-estar entre ele e a esposa. O que, aliás, era uma tradição nas reuniões de família.

Enquanto conversava com Henry, sua esposa, Chris, os interrompeu gritando “Henryyyy, olha o Dooooolph”. Lá se foi o Henry correr atrás do filho recém-adotado, que estava tentando colocar o gato na churrasqueira.

Caldrón parecia bastante falador, o tipo de sujeito que adora uma conversa. Com tanta gente na casa, ficava difícil “administrar” a atenção, mas ele não ia perder a chance de finalmente falar com seu xará:

– O famoso Peter, hã? Mari fala muito de você.
– Hã... Legal.
– Oxi, não fique acanhado. Ela falou bem!
– Ah... Que bom! “Oxi”!
– Na verdade, o tio Caldrón foi um dos que mais me incentivou a começarmos a namorar, Peter.
– Poxa, bacana.
– Essa menina merece. E você também, pelo que estou vendo.
– Ora... Obrigado.
– Vem, Peter, vamos aproveitar que a comida está quente!
– Prazer em conhecê-lo, Peter.
– O prazer foi meu... Peter.

Peter e Mari saíram da sala para comer alguma coisa e conversar mais à vontade.

– Pronto, Peter... Conheceu boa parte da família e escapou com vida!
– Mas tá cheio de gente aqui!
– Meu pai adora festas. Ele convida todo mundo. Tem gente aí que eu nem conheço, mas não se preocupe. Os amigos mais próximos são esses. Tem outros também, mas essa família... Bom, deu pra ver, né?
– Deu, sim. Escuta, quem são aqueles dois? – perguntou Peter, apontando para dois sujeitos que estavam num canto, isolados dos demais, cutucando um ao outro enquanto apontavam para os demais convidados e faziam comentários.

– Ah, são tios da minha mãe. Caso complicado. O da direita é o tio Martin, é cleptomaníaco e megalomaníaco. O outro é o tio Edward. É maníaco-depressivo, tem transtorno bipolar, múltiplas personalidades. Eles não são muito bons em se socializar, mas são legais.
– Acho que eles tão falando de mim...
– Eu tenho certeza. Mas não se preocupe, são inofensivos. A maior parte do tempo. Tenho certeza que eles gostam de você. Ah, olha o tio Rodney!
– Oi, tio Rodney!
– Ah, você deve ser o namorado de Mari – respondeu Rodney, abraçando Peter. – Que rapaz lindo! Parabéns, Mari! Tchauzinho!

Peter ficou olhando para Mari com cara de “o que foi isso?”, enquanto ela ria.

– Dizem que o tio Rod é homossexual. Ele sempre vem sozinho, sai misteriosamente, atende o telefone longe de todo mundo... Ele é do Brasil também, mas não da mesma região que o tio Fabian. Onde o tio Rod mora, tem jacaré. E olha, o tio Marty e o tio Eddie já estão comentando!
– Algum caso grave na família que eu deva ficar sabendo?!
– Não, o pior já passou.
– E quem são aqueles três brigando?
– Ah, são primos do meu pai. Acho. Walt, Andrew e Mark Moore. Eles só sabem se comunicar aos gritos. São um pouco... histéricos. Mas daqui a pouco a esposa do tio Mark chega e ele fica quietinho.
– Putz! Lá em casa somos só eu e minha tia e já acho confusão demais!
– Pena que ela não veio, né? Mas estou feliz que você tenha vindo, Peter – disse Mari, segurando a mão dele. – Significa muito pra mim.

Os dois se olharam, sem dizer nada por alguns instantes, apenas para aproveitar o momento. Talvez aquele fosse o começo de algo que Peter estava esperando há tanto tempo:
Uma vida.

Não conseguia se ver sem o Homem-Aranha, sem sua vida dupla, mas começava a entender que a vida não se resumia a esmurrar criminosos. Com Mary Jane, tentou colocar panos quentes na sua carreira heróica mas, com Mari, podia finalmente fazer escolhas.

A grande escolha, no caso, não era deixar de ser o Homem-Aranha.

E sim deixar que sua vida fosse mais do que isso.

– Gostou da carne?
– O que?! Ah! Ah, sim. Esse é o churrasco gaúcho que você comentou?
– É, sim. Carne de primeira, muito bem passada e uma bebida típica chamada “caipirinha”. Vai gelo, limão, açúcar e uma coisa que parece álcool puro. Quer experimentar?
– Bom, eu não sou de beber...
– Ah, nem eu. Experimenta, vai. É gostoso.

Peter resolveu dar uma chance. Não devia ser mais forte do que um licor, já que tinha tanto açúcar e gelo misturado com a bebida. Mas estava enganado.

Sentiu como se estivesse tomando gasolina.

– Uau!
– Hehe, gostou?
– Não é ruim, mas outro gole disso e eu vou entrar em coma!
– Então, vamos parar por aqui. Não quero que nada aconteça ao sobrinho da tia May.

De fato, as coisas estavam ficando sérias. Estavam adorando a companhia um do outro, o som de risos e o calor das mãos. Peter estava se sentindo à vontade com ela, apesar da família toda voltar as atenções para eles. Mas nada disso parecia importar.

Estava feliz.

Estava com ela.

– Vou te mostrar uma coisa, Peter.

Mari pegou o violão e arranhou alguns acordes. Estava tímida, mas respirou fundo e começou a cantar. A melodia era simples, quase uma canção infantil. Se chamava “Rock Me Gently”.

E quando ela cantava, todo o tempo era suspenso. Quando ela cantava, nenhuma outra voz se ouvia. Não havia mais preocupação, não havia dúvidas nem receios quando ela cantava.

Peter torcia para a música não acabar e poder continuar ouvindo a voz dela. Quando a música acabou, torcia para ela dizer qualquer coisa. Não era a música, não era o que ela dizia. Era o som da voz dela.

De certa forma, Mari sentia o mesmo.

Antes que pudessem verbalizar seus sentimentos, contudo, Walt e Andrew jogaram Mark na piscina. A esposa de Mark apareceu, aos gritos, tentando censurar os dois engraçadinhos. Dolph, Matthew e Gustaf passaram correndo por ela, derrubando-a na água também. As mães das crianças pararam de correr para tentar disfarçar os risos.

Enquanto isso, Rod subia na mesa para cantar “Livin’ La Vida Loca” – o que apenas servia para alimentar os rumores. As crianças corriam de um lado para outro, mas Richard largou a churrasqueira para jogar playstation com Laurie. Porém, Laurie já estava bêbado e disse alguma coisa sobre “limpar o aquário” perto da esposa, que acabou mal. Ninguém entendeu e, honestamente, parecia melhor assim.

Peter e Mari resolveram entrar para ajudar na cozinha. Ao passar na frente da TV, Peter não pode deixar de notar a manchete “Shocker ataca novamente”. Seu velho inimigo estava fora da prisão e dando trabalho para seus colegas da polícia.

“Seus colegas”.

Precisava fazer alguma coisa a respeito.

– Hã, Mari, olha, desculpa mas minha tia acabou de me ligar, ela não está se sentindo muito bem...
– Putz! Logo hoje!?
– Eu sei, eu sei... Desculpa, mas...
– Não, não precisa se desculpar. É a sua tia, oras.
– Não queria sair assim...
– Não se preocupe, eu explico o que aconteceu. Me ligue assim que puder, tá?
– Tá, eu...

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Mari arrancou um beijo de Peter. O tipo de beijo que a gente não esquece quando vai dormir, nem quando acorda no outro dia pela manhã. Por um instante, pensou em deixar tudo pra lá e ficar ali, com ela, no meio da cozinha até o mundo acabar.

Mas não ia mentir pra si mesmo. Apenas garantiu que ia esmurrar o Shocker com todas as suas forças por ter saído da prisão justo naquela noite!

Virou a esquina apressado, lançou sua teia e ganhou os céus.

Em casa, Mari ficou se perguntando o que podia ter acontecido com May para Peter sair daquele jeito. Mas, ao passar em frente à TV, viu as notícias sobre a perseguição ao Shocker em Manhattan e tudo lhe pareceu mais claro. Passou o resto da noite na frente da TV, esperando notícias do Homem-Aranha, que, tinha certeza, não tardaria a chegar.


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Notas finais do capítulo

Na próxima edição: o prelúdio para GUERRA DE GANGUES



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