The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 26
Capitulo 26 - A Grande Maravilha de Nova Iorque




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Ele voa entre os prédios, deslizando sobre correntes de ar, como um anjo, como uma águia. O vento não o incomoda por causa da máscara, mas ele sente a resistência do ar, capaz de derrubar um homem comum.
E ri dela.
Então ele percebe a graça da coisa. Ele finalmente descobre porquê eles fazem isso. Mas não consegue encontrar palavras para descrever. É a sensação de liberdade, de estar em queda livre rumo ao paraíso, depoder, poder como jamais experimentou antes, de enfrentar os céus e os elementos, de ser como as lendas, como os titãs que, um dia, caminharam sobre a Terra.
Ou sobrevoaram.
Ele ri novamente, cada vez mais alto.
– Vejam! É o Duende Verde!

Peter Parker pensou em ligar para alguém, qualquer um, apenas para não se sentir tão sozinho. Pensou em Tina McGee, Felicia Hardy, Debra Whitman... Mas era Mary Jane quem ela queria por perto. Era nela que Peter estava pensando, enquanto ouvia as músicas que os dois ouviam juntos, enquanto revia os filmes que os dois gostavam, enquanto tentava sentir o cheiro dela na blusa que ganhara no primeiro Natal que passaram juntos. Talvez devesse sair da casa da tia May, onde a conhecera, e voltar para o centro. Tinha o emprego na UES, o Clarim... Mas lá também tinha muitas lembranças de tudo que os dois passaram juntos. Tinha o Central Park, a Quinta Avenida, os cafés, museus, teatros... Tudo que um típico casal nova-iorquino gosta de experimentar. E eles não eram diferentes. Tudo que Peter precisava naquele domingo era respirar um pouco de ar puro, ir para o centro de Manhattan e tentar esquecer que vira sua mulher (”Ex-mulher!”) nos braços (”Eles estavam apenas jantando!”) de seu amigo (”Ele não é seu amigo!”) John Jameson.
Precisava de ar puro, precisava esquecer, espancar alguns ladrõezinhos.
Precisava da boa e velha Nova York, como nos velhos tempos.

– Rápido! Rápido! A polícia está vindo pra cá!

Assaltos eram coisa comum em Nova York. Não do tipo comum, onde um cara toma a bolsa de uma velhinha ou um bando de quatro ou cinco meliantes invadem um banco. Não, Nova York, como Gotham e Metrópolis, já tinha superado os crimes comuns. Todos os dias, aparecia alguém com um poder diferente, uma arma recém inventada ou algum tipo de plano mirabolante para enganar a polícia e os heróis da cidade. Os três sujeitos na Avenida North End, por exemplo: eles encurralaram um carro forte com bazucas sônicas, parecidas com o modelo criado por Reed Richards para deter o Venom. O caminhão estava caído por cima de um poste, bem amassado, enquanto os ladrões levavam o dinheiro:

– Vamos logo com isso, não temos o dia todo!
– Rápido! Rápido!
– Eu estou indo o mais rápidARRGHHH!!!

O impacto o atingiu em cheio. O planador do Duende Verde podia atingir velocidades de até 200 km/h durante o vôo. Apenas a força ampliada do Duende impedia que ele quebrasse os tornozelos durante as manobras de vôo. E foi com essa velocidade que ele atingiu o peito do primeiro ladrão.
Os outros ficaram olhando, incrédulos, enquanto o Duende Verde manobrava nos céus para voltar. O companheiro de assalto tinha sido arremessado a quase um quarteirão dali! Pegaram as bazucas sônicas e começaram a disparar.
Os primeiros disparos foram ridículos, passando longe do alvo. Mas um deles atingiu o Duende, que caiu do jato e rolou pelo asfalto da avenida. O jato continuou planando, a poucos metros do vilão, mas, enquanto ele tentava se levantar, atordoado pelo impacto, os ladrões se aproximavam para terminar o serviço. O que eles não sabiam é que o Duende tinha caído com todo o seu equipamento, e arremessou um bumerangue-morcego no primeiro deles, desarmando-o. O segundo se distraiu, apenas por tempo suficiente para que o Duende se levantasse num salto e o agarrasse pelo pescoço, apertando lentamente, estrangulando...

Então, pensou o Duende consigo, essa é a sensação...

E começou a gargalhar novamente, enebriado pelo poder.
O poder de matar.
Um chute do Homem-Aranha o afastou do ladrão:

– Homem-Aranha!
– Saudades, zoiúdo?
– Fique longe de mim! Eu não quero me meter com você!

O Duende arremessou alguns bumerangues-morcego a esmo, sem intenção real de atingir o Aracnídeo. Ele apenas queria ganhar tempo para saltar em seu planador e fugir dali, antes que fosse capturado.
Antes que o efeito passasse.
O jato o levou para longe enquanto o Aranha se esquivava dos bumerangues. Não deram muito trabalho, mas uma coisa ficou clara para ele naquele instante: ou Norman Osborn esquecera o cérebro em casa, ou aquele Duende não era o Norman!

Estamos transmitindo ao vivo de Nova York, onde o industrial milionário Norman Osborn está fazendo uma de suas raras aparições públicas para a inauguração da Clínica de Desintoxicação Harry Osborn. O nome da clínica é uma homenagem ao filho de Norman, morto pelo vício anos atrás. O milionário parece realmente disposto a ver seu nome relacionado a obras de filantropia, como uma forma de retificar seu passado de fabricante de armas com as Indústrias Oscorp.

Norman respirou fundo quando subiu no palanque. Parecia emocionado. Um busto de seu filho, Harry, estava diante da entrada da clínica. Com o olhar voltado para os céus, começou seu discurso:

– É um dia especial para mim. Harry me deu muitas alegrias: a alegria de ser pai, a alegria de aprender com os mais jovens, a alegria de me superar para causar a felicidade de alguém... Mas nem sempre as coisas saem como planejamos. Nem sempre nós vencemos nossas lutas, nem sempre podemos ajudar nossos entes queridos e, como pais, às vezes ficamos cegos para os erros de nossos filhos. Como eu fiquei. Em nossa ânsia de nos realizarmos neles, acabamos esquecendo o valor de uma conversa, a importância de um abraço... Cometi meus erros, mas não foram meus erros que levaram Harry. Foram as drogas...

E o maldito Homem-Aranha...

– ... Mas estou fazendo minha parte para ajudar outros pais de Nova York a impedir que tragédias como essa se repitam. Espero que isso lhes incentive e dê forças e espero que, onde quer que esteja, Harry me dê forças também.

O discurso arrancou lágrimas de alguns dos presentes. Os flashes começaram a espocar, registrando aquele momento. Norman se sentiu um grande ator, capaz de controlar multidões – um dom que precisava explorar melhor. Foi quando o grande momento da tarde começou:

– Vejam! É o Duende Verde!

O primeiro rasante quase atingiu as cabeças dos repórteres e convidados, dirigindo-se a Norman, que teve que saltar para o chão. O segundo atingiu o busto de Harry, fazendo-o em pedaços, a poucos metros de Norman.
O Duende continuava sobrevoando o lugar, colocando a vida de todos em perigo, perseguindo pessoas, dando rasantes. Nenhum fotógrafo conseguiu captar o sorriso demoníaco de Norman. Apenas as gargalhadas do Duende Verde eram ouvidas. Foi quando o Homem-Aranha chegou. Ele atingiu o solo no meio da confusão e disparou uma de suas teias nas costas do Duende, derrubando-o do jato. Ele caiu pesadamente, se debatendo.

– Salve-nos, Homem-Aranha! – gritou Norman, logo atrás do herói, com uma expressão de medo no olhar. O Aranha olhou para trás e, mesmo através da máscara, Norman percebeu seu espanto e não conteve o riso. Mas o Aranha não teve tempo de reagir. Um soco do Duende o atingiu em cheio:

– Eu disse pra você ficar longe de mim!
– Quem... Quem é você?
– Me deixa em paz, Aranha!

O misterioso Duende saltou em seu planador e fugiu novamente.

– Norman... Quem é aquele Duende?

– E como eu vou saber? – perguntou de volta Osborn, se levantando e caminhando em direção a seu velho inimigo. Eu não tenho nada a ver com isso, desgraçado. Cuide você de seus amiguinhos.
– Se eu descobrir que você está metido nisso...
– O que vai fazer? Me processar?

O Aranha disparou um fio de teia e partiu, indo atrás do novo Duende Verde. Ora, ora, ora...– pensou Norman. O rastejante está realmente surpreso...

É claro! – pensou o Duende, enquanto ziguezagueava pelos prédios de Manhattan. É tão óbvio... A sensação de enfrentar a grande maravilha de Nova York... O maior dos desafios... É por isso que há tantos malucos fantasiados... Pela emoção... É disso que eu estava precisando... O Duende é maneiro, mas comparado ao Aranha... Ele não é nada! Por isso todos querem enfrentá-lo! Por isso tem tanta gente vestindo essas fantasias de carnaval e pulando de prédio em prédio por aí! Como nunca pensei nisso!? O Aranha...

Talvez precisasse chamar a atenção do Aranha. Já tinha tentado afastá-lo duas vezes, e se ele não voltasse mais? Talvez um pouco de barulho... Sim, era isso! Barulho!

Começou a arremessar as bombas-abóbora pela Avenida Quarenta e Dois, destruindo carros, postes e a fachada de algumas lojas. E a risada novamente...
Aquela gargalhada ensandecida, babando pelo canto da boca, enquanto ouvia o barulho das explosões, o calor do fogo o excitando, a destruição, os gritos...
Aquilo é que era vida! Nada da tola responsabilidade acadêmica, as obrigações de um ex-militar ou atleta fracassado! Era com aquilo que vinha sonhando a vida inteira, a emoção de ser caça e caçador.
De ser o maior inimigo do Homem-Aranha.
Parou no topo de um arranha-céu e aguardou até que seu inimigo chegasse.

O que o Norman foi fazer dessa vez?

O simples pensamento arrepiava Peter. Desaparecido desde que tentara ressuscitar Harry, apenas para matá-lo acidentalmente mais uma vez, através de um pacto demoníaco, [1] Norman passava longos períodos quieto antes de tentar algo novo. Muitas vezes ele achou estar livre do Duende, fosse por causa da amnésia de Norman ou de suas “mortes” misteriosas.
Mas ele sempre voltava.

O que estava planejando agora? Depois dos vários Homens-Aranha mortos, ia começar a usar um exército de Duendes?
O Homem-Aranha chegou à Avenida Quarenta e Dois, transformada em uma zona de guerra. Bombeiros e policiais tentavam conter os incêndios e tumultos iniciados pelo Duende, enquanto o Aranha cruzava a avenida. Ele estava lá, no topo de um prédio, esperando.
Gargalhando.


– Esse emprego ia ser mais fácil se eu não tivesse que agüentar as malditas gargalhadas...


O Duende não se mexeu. Apenas esperou até que o herói estivesse em cima dele e começaram a trocar socos no alto do prédio. Sem dúvida, aquele não era Norman Osborn. O Duende Verde original não era uma presa fácil.
Aquele Duende, quem quer que fosse, mal sabia usar sua força. Bastaram alguns golpes para que o Aranha o prendesse no chão com sua teia.


– Muito bem, canalha... Você já devia saber que eu odeio clones, cópias e afins. Vamos ver quem está por trás desta máscara...
– Não... Aranha, por favor... Fique longe de mim...
Não! Não pode ser você!

Norman Osborn.
O nome do demônio é Norman Osborn.
Não importa o que esteja errado em sua vida, não importa o que esteja diante de seus olhos, não importa quem esteja por trás da máscara. É sempre ele. O pesadelo, o assassino, o monstro que matou Gwen Stacy e aterrorizou sua vida durante anos, secretamente, até que chegasse a hora de finalmente se enfrentarem. Todo o resto não passava de um incômodo passageiro, um mal-estar que você cura como um resfriado, com algumas aspirinas.
Mas não Norman Osborn.
Não, Norman já era um problema crônico. Um câncer consumindo a vida de Peter Parker lentamente, célula por célula, dia após dia. Um vírus que não ia descansar até destruir tudo que ele tinha, tudo que ele acreditava.
A guerra entre os dois continuava.
Dessa vez, o Duende Verde espalhara uma onda de violência e destruição por Nova York, como um moleque irresponsável, um vândalo destruindo propriedade privada. Enquanto tentava detê-lo, o Homem-Aranha se viu diante de uma terrível constatação: o homem por trás da máscara não era Norman Osborn. [1]
Tudo aquilo cheirava a podre, cheirava a corrupção e mentira, mas o Aracnídeo não tinha tempo para interrogar Osborn, especialmente em frente a câmeras de TV. O confronto com o novo e misterioso Duende Verde o levou ao topo de um edifício na Avenida Quarenta e Dois, após seguir um rastro de destruição que se estendia por dez quarteirões.
E, finalmente, ele removeu a máscara do Duende.
Nem mesmo em seus sonhos mais selvagens, Peter estava preparado para aquilo:

– Homem-Aranha! Me solte!
– Ah, fica quietinho que agora eu quero saber quem...
– Não! Por favor, não faça isso!
– Ah, você é tímido? Não precisa...
Não!– O que... Você! Não pode ser! Flash Thompson!!

Sozinho em seu trono no topo de uma torre de aço e vidro, o demônio gargalhava.
Ele já deve ter descoberto, pensava consigo Norman Osborn. A essa hora, ele já deve ter arrancado a máscara de Thompson. Moleque idiota. Da próxima vez, vou dar ao Thompson algo que o faça desejar não ter nascido. Assim esses moleques terão o que merecem...
O noticiário transmitia ao vivo da Avenida Quarenta e Dois, onde os tumultos pareciam ter se encerrado com a chegada do Homem-Aranha. Cinegrafistas apontavam suas câmeras para o céu, na esperança de captar alguma imagem do combate, mas era inútil. Tudo estava quieto.
Tudo...
Subitamente, pedaços de concreto e metal começaram a se precipitar do alto do edifício. O Homem-Aranha pareceu ter sido arremessado com eles, em queda livre rumo ao solo. O Duende Verde partiu em disparada a bordo de seu jato.
Tomara que você morra, Thompson. Mas o Parker é meu.

Peter estava sentado no chão, ao lado de Flash, que se debatia violentamente para tentar arrancar as teias que o prendiam.
– Me solta, Aranha! Me solta!

Mas o herói estava alheio àquilo, de cabeça baixa, apenas pensando na desgraça que sua vida levava às pessoas que amava. Todo o bem que ele fazia, tudo pelo que acreditava, parecia ruir diante de seus olhos, se desfazer como poeira em suas mãos, tornando tudo inútil.
Gwen, Harry e, agora, Flash.
Quanto tempo até que Mary Jane ou a tia May entrassem para a lista do Duende Verde? Quanto tempo até que ele não pudesse mais conter a matança ou, pior ainda, até que ele se acostumasse com isso?
Quanto tempo até ele matar Norman Osborn?
Talvez finalmente tivesse chegado a hora de desistir, de se entregar à polícia, revelar sua identidade e denunciar Norman. Matt Murdock era seu amigo, ele poderia dar um jeito em tudo. Mas, além do Duende, muitos outros de seus inimigos mal podiam esperar pela oportunidade de descobrir seu endereço, descobrir quem eram as pessoas que ele mais amava e como destruí-las de uma vez por todas.
Por causa do Homem-Aranha, tudo por causa do Homem-Aranha.
E Flash, o coitado do Flash, idolatrava o Aranha! Por que o Norman escolheu justo ele para esse absurdo? Quanto tempo faltava para Peter tentar matar Norman Osborn e livrar as pessoas ao seu redor desse demônio?
Quanto tempo antes de eu matar Norman?
Perdido em seus pensamentos, Peter não notou o Sentido de Aranha tentando avisá-lo que Flash tinha se soltado do chão. Com um pedaço de concreto, Flash atingiu a cabeça do Aranha, levantando-se em seguida. O Aracnídeo se levantou, mas teve que dar uma série de saltos para trás, para não ser atingido pelas bombas-abóbora. Se, no começo da luta, Flash não estava disposto a matar o herói, agora ele parecia ter mudado de idéia. As explosões o encurralavam para trás, cada vez mais, até que um pedaço de concreto e aço solto o jogaram para fora do telhado. Os destroços caíam a seu lado, como se estivessem câmera lenta, mas sabia que tinha pouco tempo. Procurou deter os pedaços maiores com sua teia, enquanto disparava fios que amparassem sua queda. Com o canto do olho, viu o Duende Verde fugindo em seu jato.

Mary Jane estava voltando para seu apartamento após sair da delegacia. Passou horas prestando depoimento, após ter sido acusada de roubar um diamante valiosíssimo durante um desfile. Tudo culpa de Felicia Hardy, a Gata Negra... De todas as ex-namoradas de Peter, Felicia conseguia ser, ao mesmo tempo, a melhor amiga e a pior inimiga de Mary Jane. Mas, mesmo tendo usado seu nome para roubar o tal diamante e ainda lhe dando umas porradas, MJ não a denunciou para a polícia em seu depoimento. Não queria saber de complicações, não queria que aquela história fosse adiante e passasse a se tornar um problema. [2]
Estava resolvido, fora inocentada e não precisava se preocupar mais com a Gata Negra.
Mas ainda tinha saudades de Peter. Talvez devesse ligar para ele, ou fazer uma visita. Depois de ter jantando com John Jameson, precisava de um tempo sozinha, para saber o que realmente queria.
O que realmente importava em sua vida.
E era em Peter que ela pensava o tempo todo, enquanto convivia com a solidão. Era com ele que Mary Jane queria estar, ouvindo suas piadas, contando suas neuroses, dividindo sorvete no meio da madrugada e brigando por causa do uniforme sujo em cima da cama. Sentia falta dos CD’s de Peter, de assistir desenho com ele e de namorar no sofá da sala.
Sentia falta de tantas coisas, tantas coisas...
Era como uma vida que ela sabia ter vivido, mas fora arrancada dela.
O queixo ainda doía por causa do murro que levara da Gata Negra. Quando chegasse em casa, ia fazer uma compressa de gelo e...
A movimentação nas ruas interrompeu o devaneio de MJ. Dezenas de cinegrafistas se acotovelavam, apontando suas câmeras para o céu, enquanto a polícia interditava todos os acessos à Avenida Quarenta e Dois. Havia carros destruídos, lojas em chamas e hidrantes estourados, transformando uma das ruas mais importantes de Manhattan num verdadeiro campo de guerra.
Mas não havia nenhum sinal dos combatentes.
Mary Jane se aproximou dos repórteres, tentando ouvir alguma coisa que lhe desse uma pista do que estava acontecendo. Desde que descobrira a identidade secreta de Peter, aprendera alguns macetes muito úteis para acontecimentos desse tipo. Porém, antes que algum repórter soltasse a língua, algumas pessoas na rua começaram a gritar. Uma série de explosões no topo de um arranha-céu desprendeu pedaços de concreto, que fatalmente atingiriam as pessoas na rua.
A menos que alguém fizesse alguma coisa.
Era sempre assim em Nova York. Em meio ao caos e desespero, enquanto o homem comum gritava e tentava se esconder da ira dos deuses, as Maravilhas apareciam para salvar o dia. E foi justamente o Homem-Aranha quem deteve os pedaços de concreto, enquanto se lançava em perseguição a um dos seus maiores inimigos: o Duende Verde.
Ela até poderia lidar com a idéia de Peter estar arriscando a vida todos os dias para proteger as pessoas comuns. Mas aquele era o Duende Verde.
As coisas tinham ficado muito, muito feias.
Precisava conversar com ele, e sabia que Peter também precisaria conversar quando tudo acabasse.
O problema é que, quando o Duende Verde estava envolvido, parecia que o pesadelo nunca acabava...

A perseguição continuava, entre prédios, passando pelo Central Park, próximo ao Rio Hudson e voltando para o centro. O Duende Verde não parava, apenas voava o mais rápido que podia, como um desesperado. O Aranha tinha visto em seus olhos, os olhos de seu amigo Flash Thompson, que algo estava terrivelmente errado. Ele estava fora de si.
Não que precisasse ser um gênio para deduzir isso, afinal, não é o comportamento padrão de uma pessoa em sã consciência colocar uma fantasia de duende e sair por aí destruindo os bens alheios...
Mas Peter conhecia Flash muito bem. Aquele olhar, aqueles gritos... Norman tinha feito algo com ele.
Só podia ser coisa do Norman!
Precisava deter seu amigo antes que ele se machucasse, mas ele continuava fugindo. Não era como suas outras batalhas com super-vilões, onde eles ficam tentando encurralar o Aracnídeo, ou fingem estarem fugindo para o pegar na próxima esquina. Ele apenas queria ir para longe.
Restava saber o que acabaria primeiro, o combustível do jato ou os cartuchos de teia.
Aparentemente, Flash estava preocupado com a mesma coisa, pois passou a tentar manobras que despistassem o Aranha. Primeiro, desceu até o nível da rua e passou a entrar em becos estreitos. Mas o Aranha ainda conseguia acompanhá-lo, ficando acima dos prédios. Inadvertidamente, o inexperiente Duende tinha dado ao Aracnídeo a chave para a vitória.
Agora, o Homem-Aranha podia cruzar os ares mais rápido que o Duende, preocupado em desviar dos obstáculos nas ruas e nos becos. Até que, finalmente, o Aranha conseguiu ficar em vantagem na perseguição.
As teias preocupavam o Duende, que agora tinha mais um obstáculo para desviar. A tática do Aranha era forçá-lo a errar, contando com sua inexperiência no controle do jato. Até que, depois de alguns minutos manobrando em vielas estreitas, desviando de caixas e latas de lixo, além das teias, Flash finalmente perdeu o controle do jato e caiu.
Dessa vez, entretanto, o jato não voltou para perto dele. Ao chocar-se contra uma das paredes do beco, foi avariado e caiu no chão. Isso acabava com as chances do Duende fugir.
Quando o Aranha se aproximou dele, Flash tentou atingi-lo com uma garrafa que estava em meio ao lixo do beco. O ataque falhou, graças ao Sentido de Aranha e agilidade do Aracnídeo, mas deu a Flash tempo para mudar de estratégia. Os bumerangues afiados, em forma de morcego, afastariam o Aracnídeo dele.

Qualé, Thompson? Não sabia que batarangues são marcas registradas do Morcegão?, pensou Peter consigo.

Pensou, mas não falou. Não conseguia dizer nada engraçado. Não viu graça na própria piada.
Tudo tinha se tornado obscuro.
Desviava dos bumerangues com extrema rapidez. As armas mortíferas ficavam presas quando se chocavam com algum obstáculo, devido a suas lâminas. O menor erro podia custar uma artéria ao Aracnídeo, mas Flash não parecia realmente disposto a atingi-lo. Os disparos eram feitos em direção oposta aos flancos do Aranha. Se ele simplesmente ficasse parado, dificilmente seria atingido. Mas ele só percebeu isso quando o Sentido de Aranha começou a diminuir de intensidade, avisando que perigo não era tão grande quanto parecia.
Grudou numa parede atrás de si e encarou o Duende. A maldita máscara do Duende. Teve medo de perder seu amigo para sempre. Flash sacou uma bomba-abóbora da bolsa. O Aranha estava encurralado, não teria para onde fugir. Era hora de testar sua teoria de que Flash Thompson não queria lhe machucar:

– Pare com isso, Flash!
– Fica longe de mim!
– Largue isso!
– Não! Eu não quero ir para uma maldita clínica de desintoxicação! Me deixe em paz! Eu estou cansado das drogas, cansado das terapias! Eu quero ficar sozinho agora!
– Do que você está falando, Flash!? Acalme-se! Sou eu...
– Me deixa em paz...
– ... o Homem-Aranha... Lembra?
– Me deixa... sozinho...
– Não, Flash. Sozinho, não.

Peter Parker foi para casa pensando nas conseqüências de tudo que tinha acontecido. Como o Duende conseguira drogar Flash, a ponto de fazê-lo usar a roupa? O que ele esperava conseguir com isso?
E, mais importante, qual seria seu próximo passo?
Peter chegou na sua casa no Queens e entrou sem prestar atenção nas visitas:
– Ei, gatão! É assim que você demonstra suas saudades?
– Mary Jane!
– Mary Jane veio fazer uma visita, Peter – interrompeu a tia May. – Vou deixar vocês dois à vontade enquanto vou até a cozinha preparar um chá... – May saiu da sala, sabendo que os dois tinham muito a conversar. Desde o Natal, Peter mal tocava no nome de sua ex-mulher. May resolveu respeitar a privacidade do sobrinho e não enchê-lo de perguntas, não até que ele tivesse a iniciativa de conversar à respeito. Mas foi MJ quem deu o primeiro passo.
– Bom ver você, Mary Jane.
– Bom ver você, Peter. Eu... Vi você. Na Quarenta e Dois.
– Você está bem?
– Claro. Você agiu rápido. O Duende?
– Você não vai acreditar...
Peter levou Mary Jane para fora, dando a desculpa de que a levaria para casa. Assim os dois poderiam conversar mais à vontade. Ele contou a ela sobre Flash e sobre como ele havia sido submetido a algum experimento com drogas. Contou sobre como o deixara nu e inconsciente em um hospital, destruindo as roupas do Duende Verde, e contou sobre a desagradável sensação de que vinha mais por aí.
– Eu entendo sua preocupação, Peter. Sei onde você quer chegar.
– Mary Jane, eu não posso...
– Peter, eu não estou te censurando! Eu gosto de me sentir segura. Sei que o Norman é louco, sei que sou um “alvo potencial”. Mas estou feliz por ter você pra cuidar de mim, da tia May...
– Eu pensei em matar o Norman, MJ. E ainda penso. Se o Aranha acabasse com ele...
– Não se atreva, Peter! Nem mesmo termine essa frase! Esse não é você falando! O que aconteceu de tão ruim pra você achar que matar alguém é solução?
– Bom... O que aconteceu? Deixa ver... Primeiro teve aquele garoto, que foi morto pelo FBI e eu não consegui evitar... [3] Depois teve o Carnificina, matando mais gente do que conseguíamos contar, e ainda escapou de mim e dos Titãs. [4] Teve a...
Teve a noite de Natal, em que eu fui te visitar, mas você estava com o John Jameson... [5]
– “Teve a” o quê, Peter?
– A coisa com o Duende.
– “A coisa”?
– É. Com o Duende e o Flash.
– Peter...
– Ah, qualé! Me conta de você um pouco, então!
– O que eu tenho pra dizer? Levei uma surra da Felicia Hardy e fui acusada de roubo por causa dela...
Como é!?
– Isso mesmo, sua ex-namorada, a Gata Negra, me deixou numa bela enrascada...
– Felicia roubando!? Eu não acredito que ela...
– Algumas coisas nunca mudam...

Peter olhou bem nos olhos de Mary Jane e percebeu o tempo que estava desperdiçando, falando em Duendes e Gatas.

– Teus olhos estão brilhando, Peter. Quer me dizer alguma coisa?
– Eu... Eu não quero que nada aconteça com você...
– Não tem perigo. Eu estou segura, agora.
– Como?
– Fica perto.

Mary Jane o abraçou, deu um rápido beijo e entrou em seu prédio, sem se despedir. Peter ficou ali parado, como uma múmia, tentando pensar em algo minimamente romântico para dizer.
Quando conseguiu balbuciar “eu te amo”, quase dez minutos já tinham se passado.
Realmente, algumas coisas nunca mudam.
No caminho de volta para casa, passou em frente a um dos edifícios onde havia escritórios da Oscorp. Parou diante da torre e ficou olhando para o alto, imaginando se seu velho inimigo estaria lá, observando o mundo abaixo de si, a Nova York das Maravilhas, protegido pelo seu poder.
Norman sabia que ele estava lá embaixo, e encarava as formigas sob seus pés com desdém. Mas nenhuma lhe causava tanto desprezo e compaixão quanto o Homem-Aranha. A fase um de seu plano havia sido um sucesso. Agora, começava a fase dois.
Lentamente, astuto como um réptil, até que Parker implorasse para morrer.
Eu vou matar você, Norman, disse Peter, ainda olhando para o alto do prédio. Pode ter certeza disso, seu desgraçado.


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