The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 25
Capitulo 25 - Palavras e Silêncio




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– Feliz Natal, tia May.
– Ora... Não precisava se incomodar, Peter...

Peter sequer fazia noção de quantos natais já passara ouvindo aquilo. Como se aquela mulher não fosse tudo pra ele, a âncora que o apoiava quando o mundo parecia desabar. Nada como estar em família, nada como o almoço de Natal na casa da tia May.
May abriu o pacote. Era uma blusa de tricô vermelha e azul. Uma forma de Peter lhe falar do Homem-Aranha, a melhor que ele conseguia pensar. Eram as cores do seu uniforme. Era uma blusa muito bonita, afinal.

– É linda, Peter. Obrigada. Vou usar hoje mesmo!
– Que bom que você gostou, tia – respondeu Peter, enquanto pensava: Agora ela diz: “Também tenho uma lembrancinha pra você... Mas é só uma lembrancinha”.– Também tenho uma lembrancinha pra você... Mas é só uma lembrancinha.

Como se ela já não tivesse feito o bastante por ele. Peter abriu a caixa. Era uma edição antiga de O Senhor dos Anéis, com data de capa de 1963.

– Tia... Como conseguiu isso? Deve ter custado uma fortuna!
– Nem tanto. Encontrei num sebo no Brooklyn. Acho que a dona não tinha noção de valor, porque eu paguei uma pechincha. Sei que você já tem o livro, mas essa edição é tão bonita...
– É linda! Obrigado, tia.

Os dois se abraçaram por alguns instantes antes que ela voltasse àquele assunto:

– Não está esquecendo de nada, querido?
– Esquecendo? Esquecendo do quê?!
– Mary Jane. Você vai vê-la hoje?

Peter ficou preocupado. Desde a crise no Ravencroft, na semana anterior, não falava com ela. Depois de toda a insanidade que enfrentara, resolveu ficar um pouco recluso e aguardar até que a cabeça esfriasse [1]. Não passava um só dia em que não quisesse ligar para Mary Jane, não tinha um segundo sequer em que não pensasse nela. Mas ficava adiando, adiando... Até o momento em que não podia mais adiar.

– Eu... Eu vou dar uma passadinha no apartamento dela. Conversar um pouco.
– Que bom, querido. Você tem estado muito estranho nos últimos dias. Quieto, manhoso...
– “Manhoso”?
– É,manhoso. Acha que não conheço meu sobrinho?
– É... É saudade dela, tia.
Cada vez que fechava os olhos, Peter enxergava o Carnificina sorrindo, matando, enlouquecido...

– Então, vá à luta! Isso vai fazer você se sentir melhor, e eu odeio ver meu sobrinho triste desse jeito.

Peter a abraçou, para que ela não visse em seus olhos os horrores que ele próprio testemunhara. Mas ela estava certa. Precisava falar com Mary Jane.

– Oi, querida. Feliz Natal.

Edward Semeghini falava com Heather como se fosse a coisa mais importante do mundo. E, para ele, realmente era. Tinha rodado por toda Manhattan procurando o presente perfeito para ela: July, July, de Tim O’Brien. Um livro com prosa suave, marcante, realista, sobre as relações amorosas de um grupo de amigos que se reencontra no baile de formandos. Heather ia gostar, era o tipo de leitura que a fizera desistir do emprego como crítica para ser escritora. Depois de anos lendo os livros dos outros para o Clarim Diário, nada como ver seus próprios trabalhos chegando ao público.
Contudo, ela jamais viu seu livro ser publicado. Sequer o terminou.
Para Semeghini, nada disso importava.
Tinha dispensado a enfermeira que cuidava de Heather mais cedo naquele dia, para poder começar a leitura do livro para a esposa.

Nos telhados da Grande Maçã:

Não bastava ver Mary Jane. Peter precisava levar um presente para ela. Mas o que comprar? Felizmente, muitas lojas ficavam abertas no Natal, o que lhe dava a chance de comprar um presente de última hora. Mas o que poderia ser? A tia May tinha lhe dado um livro, podia dar um para MJ também. Mas o que escolher? Será que a Barnes and Noble está aberta? Talvez algo sobre moda... Um livro de moda? Isso existe? Sabia que não podia dar O Senhor dos Anéis para ela. Ela gostava dos filmes, mas nunca ia ler um livro daquele tamanho. Algo de leitura mais rápida, talvez... Paul Rabbit?
De jeito nenhum, pensou Peter. Nem eu tenho a auto-estima tão baixa pra ler um negócio desses. Se é pra enganar, é melhor comprar uns gibis do Eisner...
De qualquer forma, precisava ser rápido. Não podia correr o risco de não comprar o presente por culpa de sua indecisão. Parou em um telhado, vestiu um agasalho por cima do uniforme e foi até a livraria.

Heather parecia bem. Devia estar gostando da leitura. Se ao menos ela pudesse falar, Semeghini teria como saber se ela estava gostando ou não. Mas já fazia anos que Semeghini não ouvia a voz de sua esposa, desde aquela noite no Central Park. Era o final de seu turno, e foi encontrar sua esposa para irem ao teatro. Porém, naquela noite, uma batalha entre o Homem-Aranha e o Dr Octopus mudaria o rumo de suas vidas para sempre.
Octopus estava ensandecido. O Aranha tentava afastá-lo das pessoas, mas era inútil. Era como se ele não soubesse o que estava fazendo. Ou isso, ou seu ódio pelo Aracnídeo nublara completamente seus pensamentos. Semeghini colocou Heather dentro da viatura e tentou se aproximar para deter Octopus, antes que ele ferisse alguém. Sabia das acusações contra o Homem-Aranha, mas ele estava ali, diante de seus olhos, tentando ajudar as pessoas.
Criminoso ou não, ele precisava de ajuda.
Semeghini mal teve tempo de agir. O Aranha o tirou do caminho dos tentáculos do Octopus, saltando com incrível agilidade e colocando-o em segurança a alguns metros dali. O Aranha o deixou no chão, dando-lhe tempo para ver o Octopus virar a viatura policial em sua fuga. Estava indo na direção de um grupo de turistas, não havia tempo a perder. Semeghini levantou o mais rápido que pode para ver se Heather estava bem. Mas sentia-se em câmera lenta.
A esposa estava caída, dentro do carro virado. Ele a tirou da viatura e tentou conversar com ela, dizendo que tudo estava bem, que o Homem-Aranha o salvara. Ela não respondia, apenas continuava olhando para ele, com aqueles olhos grandes e bonitos.

– O que você pode me recomendar?
– Bom... Qual seria, exatamente, o gosto da pessoa que vai ganhar o presente? - Ela gosta de novidades, do que está na moda... Escritores famosos, livros de sucesso...
– Hmmmm... Que tal A Arte de Viajar?
– Quem escreveu?
– Alain de Botton.
– Não é aquele cara que escreveu Ensaios de Amor? Isso é livro filosofia barata!
– Já que é assim – respondeu a vendedora, visivelmente contrariada. – Por que não me diz o seu gosto e a gente tenta achar algo que faça sua namorada se encantar pela sua... Personalidade avançada?
– Hã... Olha, eu não quis ofender. Não sabia que você gostava.
– Não se incomode. O presente é para você ou para ela?
– É para ela. Desculpe, ok? Eu vou levar esse mesmo.
– O do Botton?
– É.
– Cheque ou cartão?
– Dinheiro bem trocado.

Do jeito que dava gafes, não era de se surpreender que Peter tivesse tantos desencontros amorosos em sua vida. Mas, como a vendedora disse, era um livro da moda. Mary Jane ia gostar.

– Lamento muito, senhor Semeghini. Mas, quando o carro virou, sua esposa sofreu algum tipo de lesão cerebral. Não é muito comum, mas estamos esperando os resultados da tomografia para termos um laudo mais conclusivo...
– Ela... Ela vai ficar bem?
– Ainda não sabemos, senhor. O senhor vai precisar ser forte agora. Pelo menos, até que descubramos exatamente quais áreas do cérebro foram afetadas para poder dar início ao tratamento.

Mas jamais houve tratamento para ela. Heather Semeghini estava além da cura. Estava perdida, alheia ao mundo, esquecida dentro de sua própria alma. Se não fosse pelo Homem-Aranha, Semeghini sabe que estaria morto. Mas ver a coragem do Aracnídeo, sua disposição de lutar ao ponto de arriscar a própria vida, ao ponto de se sacrificar por alguém que nem conhecia...
Desejou ser um herói também.
Não para salvar Heather, preferia deixar isso nas mãos da Medicina. Sabia que, um dia, encontrariam uma cura.
Mas para impedir que essa tragédia se repetisse.
Leu mais um capítulo do livro, deu de comer à esposa e deitou-se ao lado dela, como sempre fazia, dando-lhe um beijo.
– Boa noite, amor. Feliz Natal. No ano que vem, é a sua vez.

Sua vez de falar comigo e me desejar Feliz Natal, pensou entre lágrimas.

O Aranha rastejou pela parede do prédio, até chegar à janela do apartamento de MJ. Estava com o livro, torcia para que ela gostasse. Afinal, um presente e uma visita inesperados podiam fazer muita diferença entre eles.
Podiam reaproximá-los.
Olhou pela janela e a viu jantando com John Jameson. Não era exatamente uma ceia de Natal, mas era um belo jantar. Deixou o livro preso do lado de fora e voltou para casa.

– Obrigado pelo jantar, Mary Jane. Estava ótimo.
– Eu é que agradeço, John. Obrigada pela companhia.
– Precisamos fazer isso mais vezes.
– É... – Respondeu Mary Jane, olhando para o chão, com o pensamento a vários quilômetros dali. John era boa pessoa, mas não tinha certeza se...

– Mary Jane, eu...

John se aproximou dela, levantando-lhe a cabeça com um toque sutil no queixo. Mary Jane pensou em como era bom sentir-se com alguém novamente, mas também pensou em com quem realmente queria estar. Depois, pensou em como ele nunca estava por perto e beijou John.
Foi um beijo triste.

– Eu... Preciso dormir agora, John.
– Tudo bem. Posso te ligar.
– Pode. Claro. v - Boa noite, Mary Jane. Feliz Natal.
– Tchau.

Mary Jane foi até a janela, olhar para as estrelas, pensar um pouco no que estava acontecendo. Gostava de ficar na janela com Peter olhando o horizonte de Manhattan. Justo ele, que conhecia aquela cidade em seu coração. Mas essa é a nossa janela, a nossa vista, dizia ele. E ela se sentia protegida em seus braços, sabia que, não importando onde ele estivesse, estaria segura. Mas odiava se sentir sozinha, principalmente numa noite como aquela.
Foi quando viu o livro preso na janela. A noite estava muito fria, abriu a janela rapidamente e o pegou. Não tinha cartão, mas veio com a nota de compra. Sabia muito bem quem era a única pessoa capaz de lhe deixar um presente na janela com o preço nele.

– Peter... Ah, Peter, onde você está agora?

Era o mesmo livro que tinha ganho de presente de John Jameson.
Pensou em ligar para Peter e agradecer, mas por que ele deixaria o livro na janela? A menos que...
De repente, sentiu que não tinha muito a lhe dizer.
Foi dormir chorando, com saudades, raiva e medo.


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