The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 14
Capitulo 14 - Vidas Passadas




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Tap! Tap! Tap!

Kim Fox ouvira esse barulho uma única vez. O suficiente para jamais esquece-lo. Não acordava mais no meio da noite com qualquer ruído, mas esperava ansiosa pelo dia em que o ouviria novamente.

Tap! Tap! Tap!

Seu coração disparou. Correu até a sacada, com os olhos arregalados, se perguntando por que, justo naquele dia, não tinha vestido sua melhor camisola.

Tap! Tap! Tap!

Abriu a porta da sacada. Lá estava ele. O Homem-Aranha. A advogada se limitou a sorrir, convidando-o a entrar.

– Desculpe aparecer a uma hora dessas...

– Imagine! Eu ainda não tinha ido dormir...

– Mas tava quase, né!?



Kim corou. Para ela, era como estar diante de um astro de Hollywood.

(Quando parava para pensar na idéia, não conseguia conter o riso: tinha se apaixonado por um cara de pijama colorido!)

Mas a verdade era essa: Kim estava apaixonada e não ia deixar a oportunidade escapar.

– É bom te ver de novo, Aranha.

– É... Obrigado!

– Nós não nos falamos desde o incidente no LaGuardia (*). Achei que você tivesse morrido...

– O Duende Verde é encrenca, Kim. Eu tremo só de pensar que ele te atraiu pra essa armadilha.

– Você se importa mesmo?

– Claro. Com todos vocês.

– Ah, claro. Bobagem minha.

– O que é bobagem!?

– Nada!

– Ah, não! Começou a falar, agora termina! Eu fiquei curioso!

– Mas eu...

– Fala!

Kim tomou fôlego e falou, quase sem respirar:

– Eu achei que você se importasse comigo em especial por isso fiquei ansiosa quando você apareceu não que eu fosse tentar alguma coisa afinal nós mal nos conhecemos mas quem sabe se pudéssemos quebrar algumas barreiras entre nós eu tenho pensado muito em você e apesar de não saber quem você é (e sinceramente espero que você não seja o Harry Osborn mas se for me desculpe eu não tenho nada contra na verdade nem sei por quê disse isso) eu só quero saber se a gente pode se ver de novo...

– ...

– E aí? Ufa, nem acredito que falei!

– ...

– Aranha!?

– Dá pra repetir?

– ...

– Ei, eu tou brincando!



Os dois riram muito de algumas piadas tipicamente “aracnídeas”, mas o Aranha chegou ao ponto:



– O Duende já chegou até você, Kim. Eu nem quero pensar no que pode acontecer se algum outro maluco resolver te atacar, só porque você já me defendeu na imprensa.

– Eu... Eu entendo... Eu não esperava mesmo que... Quer dizer, eu tinha uma pontinha de esperança...

Kim abaixou a cabeça, com um olhar triste, buscando consolo. Ela ficava linda, mesmo triste. Os cabelos loiros tentavam cobrir os olhos, para que o Aranha não a visse chorando, mas eram curtos demais para isso. Como pôde se apaixonar por alguém que conhecia tão pouco!? O Aranha aproximou-se dela e falou, quase num apelo:

– Mantenha.

– Como?

– Mantenha essa “pontinha de esperança”.

– Você se importa mesmo?

– Eu estou aqui, não estou!?



Os dois se olharam por alguns segundos, sem dizer nada, apenas procurando a boca um do outro.

O Homem-Aranha foi embora, se perguntando por que tinha feito aquilo. Não era o fato de alimentar as esperanças de Kim que o incomodava, mas sim alimentar sua própria esperança.

Uma viatura com a sirene ligada, vários quarteirões à frente, distraiu sua atenção. Era até um alívio.

”Graças a Deus, as coisas não param de acontecer em Nova York!”

Seguindo a viatura, o Aranha logo estava em um beco. Desceu até a rua para acompanhar o trabalho dos policiais:

– Homem-Aranha! O que está fazendo aqui!?

– Supervisionando seu trabalho. O Semega me contratou para ver se vocês não deixam cair farelo de Donut’s no local do crime...

– Ora seu...

– Pega leve com ele, Jenkins. O cara não está fazendo nada de errado e pode até ajudar... – disse o outro policial, interrompendo.

– Sei não, David. Ei! O que é aquilo!?



Os policiais direcionaram o foco das lanternas até uma pilha de lixo no fundo do beco. Um cadáver ensangüentado, com os braços abertos, havia sido deixado lá. Era um homem branco, de uns 30 anos. O corpo havia sido retalhado, no sentido das artérias, de forma que elas ficassem expostas. Alguns ratos as puxavam.

O rosto estava intocado. Ainda guardava uma expressão de terror como aqueles homens jamais viram. Era como se tivesse ficado consciente durante todo o ritual de sua execução. O responsável por aquilo era um mestre no manuseio da faca (ou seria um bisturi?) e parecia ter tido muito tempo para executar seu ofício.

– Jenkins... Chama a Central. Jenkins!?



O policial estava em choque, apoiado na parede. O Aranha rumou até a delegacia. A cena era chocante e suas próprias palavras atormentavam sua consciência:



”Graças a Deus, as coisas não param de acontecer em Nova York!”



Encontrou Semeghini desesperado ao telefone:



– Mande todos para a Zona Leste, ouviu bem!? Ele está indo para lá!

– Ei.... Semega!?

– O quê!? Homem-Aran... Er... David e Jenkins, deixem o corpo com o necrotério e vão para a Zona Leste! Eu entro em contato!

– Espero não estar te atrapalhando...

– O Policial David me disse que você viu o corpo...

– Vi, sim. Aquilo foi horrível. Alguma pista?

– Nada ainda.

– Nenhuma suspeita? Que história foi aquela de mandar todo mundo para a Zona Leste?

– O que você viu não foi o primeiro corpo a aparecer essa noite, Aranha. Foi o terceiro.

Terceiro!?

– Temos um serial killer muito ocupado essa noite. O primeiro corpo foi encontrado no começo da noite, em South Brooklin. O segundo em Ridgewood, meia hora atrás, e agora esse em Middle Village. O assassino é preciso e sabe trabalhar com a lâmina, mas está difícil determinar o perfil das vítimas. É como se...

– Como se ele matasse tudo que se move.



Semeghini e o Aranha olharam pela janela. Um vulto negro entrou no escritório como se fosse feito de gás, silencioso e calmo. O Homem-Aranha o reconheceu de pronto mas, para Semeghini, a cena era surreal demais.

– Como vai, Aranha?

– Hã... Oi, Batman.

– O que você está fazendo em Nova York?

– Eu sei quem é seu assassino, Semeghini. Um maníaco de Gotham chamado Szaz. Ele fugiu da cidade durante o terremoto (**) e veio para Nova York. Eu vim impedir que ele continue matando.

– Bom... Batman, eu... Vigilantismo ainda é ilegal...

– Mas você confia no Aranha. E eu conheço Szaz.

– Pode ao menos falar mais sobre ele?

– Ele vai matar qualquer um que cruzar seu caminho, apenas pelo prazer de matar. Para cada vítima, ele faz um corte na pele, uma marca que serve de troféu. Ele é perigoso e eu agradeceria se seus homens não se aproximassem muito dele.



Nesse instante o telefone tocou. Semeghini empalideceu ao ouvir a voz do outro lado da linha.

– Encontraram mais um corpo... Em Forest Hills...

– Ele está indo cada vez mais para a Zona Leste! Batman, que tal se nós...



Mas o Cavaleiro das Trevas já tinha saído. Sem perder tempo, o Aranha se lançou pela janela para tentar encontrar Batman, o que, para sua surpresa, não foi tão difícil. Os dois conversavam enquanto balançavam entre os prédios de Nova York:



– Aranha, eu não tenho experiência em Nova York.

– Sem problema. Você veio por causa do Szaz ou tem algum outro motivo?

– Ele é todo motivo que preciso. Já são quatro mortes.

– Você raramente sai de Gotham...

– Quando eu consigo manter os demônios de Gotham sob controle, não há motivo para sair. Mas a fuga de Szaz durante o terremoto o torna um problema meu.



Alguns minutos depois, estavam em Forest Hills. Pararam no topo de um prédio, de onde podiam ver o trabalho da polícia com o corpo que tinha sido encontrado:

– Alguma idéia?

– Use isso.

– O que é? – perguntou o Aracnídeo, colocando um plug no ouvido, por dentro da máscara.

– Um canal de comunicação. Estamos conectados com Oráculo agora.

– Hmmm... É bom pra saber o resultado dos jogos...

– [Como vai, Homem-Aranha?]

– Tudo bem, Oráculo. E você?

– [Tudo bem, obrigada. Batman, Szaz está escolhendo lugares movimentados, com mais vítimas em potencial. Sugiro que vão para Rego Park.]

– Obrigado, Oráculo. Aranha?

– É só me seguir!

Os dois se balançavam em silêncio. Batman não era mesmo de falar muito, mas o Aranha chegava a ficar incomodado com sua frieza. Sua obsessão chegava a ser ameaçadora.

Antes de chegar a Rego Park, Batman parou no alto de um prédio e começou a estudar o movimento nas ruas.



– Szaz tem um carro.

– Como sabe?

– Ele está se movendo rápido entre um local e outro. Assim tem mais tempo para escolher as vítimas. Veja... Ali está ele.

– Como sabe que é aquele carro?

– Nenhum motorista reduz diante de um beco. Ele está procurando um para agir.

– Ótimo! Vamos...

– Não.



O Aranha não discutiu. Apenas aguardou até que ele desse a ordem.



– Agora.



O Aranha já tinha perdido o carro de vista. Ambos saltaram e foi a vez do Aracnídeo seguir o morcego. Oráculo falou, pelo comunicador:



– [O carro foi roubado em Forest Hills. Um outro carro abandonado foi encontrado em Ridgewood. Ele está trocando de veículo para dificultar o trabalho da polícia...]



Batman e o Aranha já estavam no chão. Esgueiravam-se por entre o lixo dos becos, procurando por alguma pista, algo que os levasse a...



Um grito. Um olhar de Batman foi suficiente para que o Homem-Aranha entendesse o plano. Enquanto rastejava pelas paredes, o Cruzado de Capa se ocultaria nas sombras. Szaz estava arrastando sua próxima vítima pelo corredor do beco, até a montanha de lixo. Uma mulher baixa, magra, de cabelos pretos e maquiagem borrada pelo golpe do assassino. Szaz a deitou no monte de lixo, enquanto falava:

– “Aurora”, ela me disse que seu nome é “Aurora”... “Aurora”, eu vou expor suas tripas, “Aurora”...

Ergueu a faca lentamente, mas foi detido por um fio de teia.



– Como se atreve...!?

– Ê, bonitão! Por que não encara alguém do seu tamanho?



Szaz se levantou e começou a puxar o fio de teia. Os trancos eram fortes e o Aranha teve que fazer força para não ser arrancado da parede. Mas o Aracnídeo não estava sozinho.

As sombras ao redor de Szaz tomaram forma e um golpe o atingiu com violência. O assassino caiu no chão, rindo:

– Hehehe... Ora, ora, ora... Olha o que o Morcego escondeu... Visitando seu primo rastejante de Nova York, orelhudo? Estava com saudades de mim? Quer que eu volte para Gotham?

– Silêncio, Szaz.

Batman, cuidado!



O Sentido de Aranha avisou o Escalador de Paredes de alguma coisa errada ali. O que fosse, estava avançando de encontro ao Homem-Morcego. Apesar do alerta, o Aranha ainda saltou, tirando Batman do caminho. Alguém, ou alguma coisa, passou por eles, agarrando Szaz e saltando uma cerca de metal no fim do beco.



– O que era aquilo?

– Cheque a mulher. Eu vou atrás de Szaz.



Antes que pudesse retrucar, o Aranha viu Batman se levantar e saltar a cerca. A mulher parecia bem, apenas inconsciente. Sem perder tempo, foi atrás de Batman mas a escuridão do outro lado do beco o desorientou.

– Oráculo, você está aí?

– [Sim, Aranha.]

– Eu perdi o Batman.

– [Ele está à sua esquerda, se movendo rápido...]



Enquanto isso, Batman perseguia o ajudante misterioso de Szaz. Ativou o infravermelho nas lentes de seu capuz e começou a rastrear a escuridão. Foi quando começou a ouvir os gritos de Szaz e o som de ossos se quebrando. Vários metros à sua frente, encontrou uma mulher envolta em trapos, que parecia se divertir torturando o serial killer.

– Pare!



A mulher se virou. Não apenas estava vestida em trapos, faixas e ataduras, como também tinha seu rosto cheio de cicatrizes e pontos cirúrgicos mal-feitos.



– Ele gostava de contar às pessoas que matava, herói. Eu estou contando os ossos do corpo dele.



Outro estalo, outro grito, mais um osso quebrado. Szaz não estava em condições de reagir.

Batman correu e segurou a mão da mulher, que se virou rapidamente e começou a sufoca-lo com uma das faixas que envolviam o próprio corpo. Sua força era descomunal, o suficiente para derrubar Szaz.

O suficiente para derrubar o Batman.

A consciência do Batman aos poucos foi se esvaindo. Ele ainda tentou golpear a mulher em algum ponto vital, mas tudo que conseguiu foi atingir sua pele, dura como rocha e fria como um cadáver. Foi quando o Aranha chegou.

De um chute, conseguiu tira-la de cima do Batman. Ela deu uma série de saltos, desaparecendo em meio à escuridão.



– Atrás... dela...

– O Szaz precisa de uma ambulância!

Enquanto socorriam Szaz, Batman e o Aranha recebiam informações de Oráculo.



– [A descrição bate com Gretchen Culver, a Sutura. Ela foi violentada e torturada por policiais corruptos mas, de alguma forma, conseguiu sobreviver. Agora ela mata assassinos seriais. Estava desaparecida, mas...]

Uma viatura da polícia chegou. Szaz estava em choque, mas ia viver. Batman se afastou, em direção às sombras.



– Ei... Batman!?

– Szaz foi detido. Eu vou levantar mais informações sobre Sutura. Fique com o comunicador. Oráculo entrará em contato.

A escuridão o envolveu. O Aranha resolveu sair antes que os policiais chegassem. Correu até a delegacia:

– Semega!? Eu preciso de ajuda!

– O que foi, Aranha?

– Eu preciso de informações sobre uma tal Sutura, acho que o nome dela é Gretchen Culver!

– Eu me lembro desse caso. Procure os detetives Sam e Twitch, eles vão poder te ajudar.

– Valeu, Semega!



Estava quase amanhecendo. O Aranha teria um dia cheio pela frente. Na verdade, Peter Parker. Kim Fox, Szaz, Sutura, Batman e quatro cadáveres. Era demais. Precisava dormir.



”Graças a Deus, as coisas não param de acontecer em Nova York!”



E rezar para não ter pesadelos.

Peter Parker não se lembra dos seus sonhos. Na maioria das vezes, ele acha que nem sonhou. Mas, nessa noite, ele sonhou com um homem pálido, usando trajes brancos, que lhe falava sobre sonhos que continuam vivos, uma cidadezinha muito pequena e uma garotinha ruiva, chamada May, que brincava em seu colo.

Acordou com o barulho do telefone e não se lembrou mais do sonho:

– Lôu.

– Alô! Peter?



Peter ficou mudo. Depois de meses... Era realmente ela!

– Mary Jane!

– Tudo bom com você, Peter?

– Claro, MJ! E você?

– Tudo bom. Eu... voltei para Nova York. Pra ficar.

– E onde vai morar?

– Estou montando um apartamento. Faz tempo que a gente não se vê e... Bom, eu estava pensando se você não quer almoçar comigo.

– Claro que eu quero! No Sujinho!?

– Claro – Mary Jane riu. – No Sujinho.

Peter ficou pensando na oportunidade que tinha diante de si. Rever Mary Jane era...

Mas e a Kim? “Cara, você beijou a garota ontem! Eu sabia que não devia ter feito isso, eu sabia!” Realmente, sua vida amorosa tinha muitas pontas soltas. Mary Jane, Felicia, Tina e agora a Kim. Isso pra não mencionar as que ficaram pra trás... Bom, não podia pensar nisso agora. A Mary Jane era sua prioridade. Depois ainda tinha que ir até o escritório dos detetives Sam Burke e Twitch Williams se informar sobre Gretchen Culver, a Sutura. O comunicador que tinha recebido de Batman, um pequeno plug auditivo, estava em cima da mesa. Resolveu leva-lo consigo.

A manhã no laboratório da Universidade Empire State foi lenta, arrastada... A hora demorava para passar e um ansioso Peter Parker sequer conseguia se concentrar no seu trabalho.

”Não posso deixar ela pensar que não estou bem. Eu tenho que estar ótimo! Não dá para ficar choramingando pra sempre, não é mesmo? Se eu conquistei a MJ com o que eu tenho de melhor, preciso traze-la de volta do mesmo jeito. Ela vai me ver bem, confiante, bem-humorado... Acho que vou cortar o cabelo antes de ir para lá. Dá tempo, né!? Que horas são? Putz, nove e meia...”

Finalmente, chegara a hora do almoço. Peter escapou dez minutos antes para ter tempo de cortar o cabelo, depois correu para o Sujinho. Mary Jane já estava lá.

Linda, como sempre.

Ela se levantou e os dois trocaram um longo e caloroso abraço, sem dizer nada. Era difícil para ambos esconder a alegria de se reverem. Quando se sentaram, Mary Jane foi a primeira a falar:



– Quando você cortou o cabelo?

– Hã... No começo da semana.

– E você não toma banho desde então?

Quê!?

– Ta cheio de cabelo nos seus ombros...

– Ah! É que... Bom, eu tou usando um xampu novo e me disseram que isso poderia acontecer...

– Arrã.

– Não colou?

– Não.

– Eu cortei antes de vir pra cá.



Mary Jane sorriu, meio vencedora, meio excitada.



– Ficou ótimo, gatão.

– Heh! Obrigado.

– E como vai o emprego de cientista?

– Ah, vai bem. É mais tranqüilo do que trabalhar pro Jameson. E paga melhor, também.

– Ta ficando rico, Peter?

– Não, falta muito ainda. E você? Por que resolveu voltar?

– É minha cidade, afinal. Não dava pra ficar longe muito tempo, e com o dinheiro que ganhei na Flórida, não preciso ter pressa de voltar a trabalhar.

– Uau... Virou marajá...

– Nem tanto. Eu tentei te ligar ontem à noite! Onde o senhor estava?



”Beijando uma advogada que é gamada no Aranha, mas quase morreu porque o Duende Verde a descobriu. Depois fui ajudar o Batman a pegar um assassino de Gotham que estava aqui, mas apareceu uma maluca chamada Sutura, que escapou.”



– Emprego noturno. Sabe como é.

– Sei, sim. Vai pedir o quê?



E a conversa continuou, entre reprises de Friends, palavras cruzadas e músicas velhas. Peter estava empolgado, bem à vontade, falando bastante e rindo muito. Mary Jane estava contida, mas ria muito com Peter.

A conversa não demorou para chegar no coração. Como Peter ou como Homem-Aranha, ele teve seus envolvimentos ao longo dos últimos meses. Mary Jane trabalhou muito enquanto esteve na Flórida, conheceu muita gente. Mas, como Peter sabia muito bem, não se substitui facilmente um amor assim.



– Eu penso muito em você, MJ. Às vezes, quando me pego lembrando tudo que passamos juntos, eu me desligo do mundo para poder ficar sozinho com essas boas memórias.

– Eu sei como é. Também sinto muito sua falta. Falta do seu humor, de ter um dia cheio mas saber que vale à pena, porque no fim do dia eu estaria em seus braços. Você era minha paz.

– E você, minha alegria.

– Vamos com calma, está bem? Um passo de cada vez. A gente precisa estar perto de novo antes de pensar em qualquer coisa.

– Eu entendo. É estranho te ver de novo, depois de tanto tempo, mas, ao mesmo tempo, é tão familiar.

– Eu ligo, Peter.

– Claro. Bem-vinda de volta.

– Obrigada, gatão.



O dia passou em meio a uma avalanche de sentimentos conflitantes no coração de Peter Parker. “E se...”, “como foi que...”, “mas ela sempre me disse que...” e coisas do gênero. Mas não podia pensar nisso, não agora.

Quando a noite caiu, o Homem-Aranha ganhou os céus de Nova York novamente.

O escritório dos detetives Sam e Twitch fica numa sala imunda e mal iluminada da Baixa Manhattan. Não era o tipo de lugar onde você iria procurando ajuda, mas sim problemas. A luz da sala estava acesa.

Tap! Tap! Tap!

– Ei, Twitch! Tão batendo na janela! Deve ser outro maluco uniformizado!



Twitch foi até a janela. Era um sujeito franzino, usando óculos de lentes grossas e com jeito de nerd. Definitivamente, não punha medo em ninguém.



– É o Homem-Aranha, senhor. Devo abrir ou posso fuzila-lo!?

– Nem, pode abrir. Esse cara é gente boa.

ME fuzilar!? – o Aracnídeo gritou, assim que entrou. - Que idéia foi essa!?

– Não esquenta, Aranha. O Twitch gosta de praticar tiro ao alvo com sujeitos que usam colante hehehe...

– Vou fingir que entendi a piada. É o seguinte, amizade: eu preciso de informações sobre Gretchen Culver, a Sutura.

– Sutura!? – perguntou Twitch. – Você está atrás dela... ou o contrário?

– Ela quase matou um cara que eu estava perseguindo.

– Ah, sim. O tal Szaz, de Gotham. Eu li no jornal que ele teve múltiplas fraturas pelo corpo...

– Onde ta o jornal, Twitch?

– Debaixo do seu sanduíche, senhor. Bom, Aranha... Nossa experiência com ela é limitada, mas tenho certeza de que podemos fornecer informações valiosas à respeito.



Os detetives Sam e Twitch contaram ao Aranha a história de Sutura: sobre como Gretchen Culver foi violentada por paramédicos e policiais, teve seu corpo desmembrado e se recusou a morrer. Seu retorno, transformada em Sutura, foi marcado por uma série de mortes. Ela matava assassinos seriais, e dirigiu sua vingança aos homens que haviam destruído sua vida e matado seu noivo, Wayne Tannanger.

– Então é isso. Agora ela mata assassinos seriais.

– Por aí. Sabe, muita gente no nosso ramo até gosta da idéia de ter alguém como a Sutura por aí. Cada vez que ela age, tem um maluco a menos nas ruas. Mas sabe como é, a tal Culver ficou doida. Uma hora ela vai perder o senso de certo e errado, aí já viu...

– Sei como é. Se ela está em Nova York, eu tenho que dar um jeito de pega-la.

– Por que você, Aranha!? E os teus incríveis amigos? Você é membro da Liga da Justiça, mas tem os Vingadores, o Morcegão de Gotham...

– Eu... penso nisso. Às vezes. Mas eu fico com a sensação de que, se eu não fizer alguma coisa, vai acabar em mais mortes.

– Homem-Aranha – interrompeu Twitch. – O mundo é pesado demais pra você carregar nas costas.

– Ele fica mais pesado quando a gente desiste dele.



Gotham City.

Foram várias horas de viagem. Uma viagem cansativa, de destino duvidoso. Mas ela conseguiu. Estava na Cidade das Trevas.

Olhando para os arranha-céus, teve a sensação de ser um anjo caindo do paraíso. Quando a rebelião de Lúcifer fracassou, foi assim que ele se sentiu? Foi em Gotham City que ele caiu? O barulho não era o mesmo de qualquer outra cidade. O caos, o inferno urbano, gritos, sirenes, fábricas, carros, pessoas... Era tudo mais intenso, mais sombrio. Mesmo com o sol nascendo, a sombra dos prédios forçava a iluminação pública a trabalhar pela manhã. E mesmo assim, era escuro como um pesadelo. Ainda tentou visualizar a silhueta da cidade no horizonte, mas tudo que viu foi cicatrizes no céu escarlate. Julgamento.



– Bruce!?

– Bom dia, Bárbara. É o Tim. O Bruce ainda não chegou.

– A essa hora da manhã!?

– É, ele está com o comissário, se não me engano.

– Então ele já sabe...

– Se sabe, não me contou nada. O que aconteceu?

– O corpo de um estuprador foi encontrado no Robinson Park. Por todo o Robinson Park, quero dizer.

– Céus! Quem faria uma coisa dessas!?

– Eu tenho um palpite. Mas se o Batman está com meu pai, então ele já está um passo à frente.



Necrotério.

”Sutura”, ele pensa, quando o corpo chega.

”Sutura”, ele rosna, quando lembra que a deixou para depois.

”Sutura”, ele amaldiçoa, quando vê o corpo da vítima.

”Sutura”, ele blasfema, pensando no que poderia ter evitado com um pouco mais de empenho quando esteve em Nova York, ao lado do Homem-Aranha.



– Batman... Você está bem? – pergunta o comissário Gordon ao ver a expressão no rosto do velho amigo.

– Sutura.

– Como é?

– O nome da responsável por isso é Sutura. Eu a encontrei em Nova York quando estava atrás do Szaz. Eu e o Aranha a tratamos como se ela fosse apenas um incômodo, mesmo quando ela quase me matou. Agora ela está em Gotham.

– E o que a faz pensar que ela veio justo para Gotham?

– Ela mata assassinos seriais. Onde mais ela poderia encontrar tantos?!

– Nós vamos pegá-la. Como sempre.

– Sim. Mas não importa quando, para esse homem será tarde demais.



Nova York, na noite seguinte.

O Homem-Aranha se balança entre os prédios, procurando um crime de rua, traficantes ou puxadores de carro. Qualquer coisa para entrar em ação, ocupar a cabeça e parar de pensar nela um pouco.

Parar de pensar em Mary Jane.

Era difícil se concentrar em qualquer outra coisa. Depois de tudo que tinha acontecido, era impossível ligar a TV e não ver um programa que os dois gostavam de assistir juntos. Ou andar por Nova York e não se lembrar de, em cada canto da cidade, cada prédio, estar com ela nos braços, sentindo seu perfume, seu calor, seus beijos...

O amor é tão estranho.

Foi até a delegacia conversar com Semeghini.



– Fala, Semega!

– Venha ver isso, Aranha.



Seu tom de voz estava soturno, preocupado.



– Eu recebi isso do comissário de polícia de Gotham City. Estão me pedindo informações a respeito da Sutura.

– Em Gotham? Mas...

– Ela está em Gotham, Aranha.

– Claro! Pra onde mais ela iria!? Ela vai... D’oh!

– Entendeu agora? Gotham City vai virar um rio de sangue se o seu amigo de orelhas pontudas não fizer alguma coisa rápido. Você conversou com os detetives Sam Burke e Twitch Williams, não é!?

– Sim, eles já encontraram a Sutura. Pelo jeito, ela só vai parar de matar quando...

– Ela não vai parar, Aranha. Hoje são os semelhantes dela, mas e amanhã? Os meus semelhantes? Os seus?

– Eu... Vou ver o que dá pra fazer, Semeghini. Eu vou dar um jeito.

– Você é membro da Liga, Aranha. Não há nada que vocês possam fazer, de sua torre na lua?

– É de Gotham City que estamos falando, Semeghini. Dos céus, ninguém olha para Gotham City.



A escolha era óbvia. Tinha sido inconseqüente ao lidar com Sutura. Batman podia se virar sozinho, mas o Aranha preferiu ajuda-lo ao invés de ir atrás da assassina. Agora ela estava em Gotham. Batman não costumava aprovar visitas em sua cidade, mas era um caso extraordinário.

Mas, em se tratando de Batman e Homem-Aranha, não eram todos?



Gotham City.

Em qualquer época do ano, o vento noturno em Gotham parece capaz de mutilar a pele. Sutura observava a cidade, pensando em quanta sujeira tinha para limpar. E pensando se alguém a tentaria deter novamente. Mas não podia parar, não podia! Não até cada marginal estar morto, até cada uma de suas cicatrizes ser vingada.



A caminho de Gotham, o Homem-Aranha examinava o plug que tinha ganho do Batman. Era apenas um receptor, não tinha como localizar Batman ou Oráculo com ele. Mas tinha como se fazer notar.



– Batman? É Oráculo.

– Diga.

– Eu recebi um sinal, Batman. Do Homem-Aranha.

– Como?

– Aparentemente, ele alterou a configuração do nosso comunicador para enviar um sinal codificado. Eu não acharia estranho se ele estivesse vindo para Gotham.

– Não é uma boa hora para isso.

– E você pretende deter a tal Sutura sozinho?! Ela quase te matou! O Aranha pode ajudar!



Ninguém falava assim com ele. Exceto Bárbara.



– Tomara que sim.

“Eu só posso ter enlouquecido...”



Peter Parker desceu do ônibus e olhou para o alto. Estava em Gotham City. Era suja, escura e decadente. O barulho o atordoava, a fumaça lhe dava enjôo e, o pior: ainda tinha que encontrar o Batman.

“Bom, vamos lá. Já dei um jeito de enviar um sinal para Oráculo. Agora é esperar anoitecer e torcer pra ter dado certo.”



Peter se hospedou num hotel perto do Robinson Park, onde Sutura tinha atacado pela primeira vez. Resolveu dormir um pouco antes de entrar em ação. Acordou às dez da noite, já refeito da viagem de ônibus.

Vestiu o uniforme.

Thwip!

– Bárbara, algum sinal?

– [Não. Nenhuma ocorrência grave foi registrada. Nenhum avistamento, nada que possa nos levar a Sutura.]

– O Homem-Aranha?

– [Continua mandando sinais. Ele está perto do Robinson Park.]

– Entre em contato, diga que estou indo para lá.

– [Sim, senhor.]

Longe dali...

Terra de Ninguém... Cidade das Trevas...

Inferno.

Não importa de quantos nomes a chamem, Gotham ainda é Gotham.

Estou me sentindo em casa.

Vou limpar essa cidade, dos esgotos ao centro. Não vai sobrar um só desses vermes aqui e ninguém vai ficar no meu caminho.

Vou lavar Gotham City com sangue e já sei por onde começar.


Robinson Park...

Run and tell all of the angels... This could take all night... Think I need a devil to get things right... (*)

– [Aranha, você canta muito mal...]

– Oráculo?

– [Perdido, Aranha?]

– Bom... Não estou no meu ambiente. Não sei por onde começar.

– [Não se preocupe. O chefe está a caminho.]

– Esse era meu medo...

– [Continua cantando. Quem sabe você alegra ele...]

– Arrã.

– [Ei, eu gosto de Foo Fighters!]

– Pode ser, mas o seu chefe gosta do quê?

– [Bom... Você pode perguntar pra ele...]



O Aranha apenas virou a cabeça para o lado. Ele parecia estar ali há algum tempo, mas não ativou seu Sentido de Aranha. O Aranha não o ouviu. Nada.



– Homem-Aranha.

– Ôu. Estávamos falando em você...

– Viu algo?

– Não vi nada. Meio que acabei de chegar.

– A cidade está calma demais...



A voz dele era aterradoramente profunda. Parecia saber mais sobre as pessoas do que elas mesmas. Parecia jamais estar enganado.



– Ei, Batman... Sei que você não gosta de intromissão, mas... Tudo bem se eu ajudar?

– Tudo.

– Ah, ta. Valeu.

– ...

– Muito gentil.

– ...

– Eu até...

– [Homem-Aranha] – interrompeu Oráculo. – [Não abusa da sorte.]



Então, o Batsinal surgiu nos céus. Era uma visão impressionante. Já há algum tempo, o comissário estava usando um sinal laser, ao invés do gigantesco holofote. O sinal era nítido, intimidador.

Foram para o topo do prédio da polícia, onde Gordon os esperava.



– Acompanhado?

– O Aranha me ajudou com Szaz. Agora ele está atrás de Sutura.

– Sei. Prazer, Aranha. Espero que o Clarim esteja enganado a seu respeito.

– Ah, está sim, senhor. Sobre mim e sobre aquela história do Ronaldinho na final da Copa...

– Como?

– Nada, nada...

– Hmrmrgh. Bom, estamos com um problema sério. A segurança do Arkham foi quebrada.

– Alguém fugiu?

– Não. Por isso o chamei. A segurança foi quebrada de fora para dentro. Alguém entrou lá. Achei que isso pudesse interessar a você e seu amigo humorista...

– Ei!

– Nós vamos para lá, comissário. É melhor manter seus homens longe, até termos certeza.

– Claro. Mas vamos estar de prontidão, assim mesmo. Você não vai, Aranha?

– Claro que vou! Eu tou esperando o...



O Homem-Aranha olhou em volta. Batman já tinha ido.



– Ele faz isso o tempo todo?

– O tempo todo. Você acaba se acostumando.

– Eu vou chegar atrasado desse jeito...

– Então é melhor correr.



O Aranha pulou, ainda a tempo de alcançar o Cavaleiro das Trevas, enquanto o Comissário Gordon pensava: “É um bom rapaz. Podia ficar aqui por uns tempos.”



No Batmóvel, o Homem-Morcego explicava ao Aracnídeo as plantas do Arkham:



– O sistema de segurança não permite que um invasor saia pelo mesmo lugar que entrou. Mas esse é o menor dos nossos problemas. Duvido que Sutura queira sair.

– Você tem certeza que é ela?

– ...

– Mal aí.

– Chegamos.



O Asilo Arkham era uma velha mansão, quase um castelo, no alto de um morro, numa região isolada de Gotham. Sua arquitetura lembrava um filme de terror dos anos 50. Era um lugar realmente pavoroso.



– Vamos ter que entrar furtivamente. Vá pela ala Norte. Eu irei pelo Sul. Nos encontramos no setor de segurança.

– Ok. Hã...

– Algum problema?

– Não, nada. Boa sorte.

– ...



”Eu queria dizer que estou apavorado, mas não fica bem...”



– [Homem-Aranha, aqui é Oráculo. Eu, você e Batman estamos conectados agora. Só use essa conexão em último caso.]



”Espero não precisar...”



O Aracnídeo correu vários metros até o muro da ala Norte e o escalou rapidamente. Arrombou a primeira janela que viu: seu sentido de Aranha não indicava nenhum problema. Passou por um longo corredor, onde não havia celas ou quaisquer tipos de salas. Apenas um longo corredor.

Antes de chegar à entrada do setor de segurança, se deparou com uma grande porta de aço.

Estava aberta.

Dentro, encontrou o corpo de uma mulher completamente retorcido, como se tivesse sido espremida. O sangue ainda pingava da boca dela. Contendo a náusea, o Aranha pegou uma identificação que estava caída no chão e saiu dali. Batman o esperava.



– Acho que chegamos tarde... Eu encontrei isso, e um corpo desfigurado...

– Margaret Pye... Magpie.

– Você a conhece?

– Eu e o Superman a prendemos anos atrás. Sutura está aqui.

– É estranho... Aquele corredor por onde eu entrei não tem salas...

– É uma área nova do Arkham, criada para casos como esses. No outro extremo do corredor há compartimentos isolados por onde os funcionários podem deixar o Asilo em segurança. Estamos sozinhos aqui.

– Bom, então não é por ali que a Sutura foi, certo?

– Certo. Siga-me e fique atento.



Sutura não queria nada com os funcionários do Arkham.

Ela estava ali pelos malucos.

Batman e o Homem-Aranha seguiram por um corredor bem largo, com celas dos dois lados. As celas eram isoladas por um vidro, ao invés portas de metal ou grades. Era uma maneira de monitorar os prisioneiros.

E ser monitorado por eles.

Os loucos começaram a gritar assim que Batman pôs os pés ali.



– Ei, Morcego! – gritou o Ventríloquo. – A maluca foi por ali!

– Cale-se! – gritou Scarface, o boneco com expressão aterrorizante. – Ela só não te matou porque você é um traste, goneco! Vamos deixar que ela encontre o Gatman e o mate!



Alguns metros à frente, o vidro de uma das celas estava estilhaçado. Os vidros foram criados para deter qualquer um dos prisioneiros do Arkham. Eram a prova de balas, som e fogo, permitindo a comunicação apenas por terminais na parede.

Mas Batman já conhecia a força de Sutura.

Dentro da cela, o criminoso conhecido como Violinista tinha sido feito em pedaços com os cacos de vidro.



– Eu... Eu...

– Não há nada a ser feito aqui, Aranha. Vamos.



O Aracnídeo o seguiu, não sem antes olhar para trás. Sua curiosidade o fez procurar a cabeça do Violinista, mas ela não estava lá.

Andaram mais alguns metros. Os prisioneiros continuavam gritando e se debatendo dentro de suas celas.



– Batman... pare!

– ...

– Ela está nos esperando... Cuidado!



Sutura saltou sobre os dois. O Homem-Aranha apenas teve tempo de empurrar Batman. Entre os dois. Sutura começou a falar, calmamente:



– Ora, ora, ora... Meus velhos amigos de Nova York... Vieram me visitar? Vieram ao meu playground?

– Sutura, nós estamos lhe dando uma chance! – gritou o Batman. – Reagir é inútil!

– Então, fique paradinho, Homem-Morcego... Enquanto eu acabo com seu sidekick...



Sutura investiu contra o Aranha numa série de ataques rápidos. Apenas o Sentido de Aranha e sua agilidade foram capazes de salvar o Amigão da Vizinhança de ser rasgado pela investida violenta da assassina. O desespero fazia o Homem-Aranha transpirar, mas não era suficiente para faze-lo perder a pose:



– Estou... cheio... de ser chamado... de sidekick...



Enquanto se esquivava com uma série de saltos mortais para trás, o Aranha deu tempo para que Batman tentasse usar um bumerangue para prender Sutura. Ela deu de ombros, arrancou o Cavaleiro das Trevas do chão pelo cabo e o arremessou contra a proteção de uma das celas, estourando o vidro protetor:



– Ora, ora, ora... Uma surpresa, em pleno shabat! A gente se vê daqui uns dias, Batman...

– Não... saia... da cela...

– Tarde demais, Morcego. Você não está em condições de me dar ordens hoje. E o Homem-Calendário vai fugir numa sexta-feira.



Sutura agarrou os dois braços do Homem-Calendário, lhe deu uma cabeçada no nariz e, de um único movimento, arrancou-lhe os braços. Em choque com a brutalidade da cena, o Homem-Aranha se descuidou, dando chance para que Sutura o golpeasse com os braços decepados. O Homem-Calendário caiu no chão, entre convulsões, sangrando muito.



– Você devia ter ficado em Nova York, Aranha!

– Ah, mas me disseram que era alta temporada em Gotham e eu... Ai! Isso dói!

– Eu não tenho nada contra você ou seu amigo! Vocês não deviam ter ficado no meu caminho!

– Errado, dona remendo: foi você quem ficou no nosso!

O Aranha não tinha o hábito de ser brutal.

Mas aquilo era diferente.

Sutura era perigosa e muito forte. O Aracnídeo tomou a iniciativa e passou a atingi-la, até que ela largasse os braços que usava como armas. O sangue do Homem-Calendário, Violinista e Magpie já forrava todas as paredes do lugar. Só havia uma maneira de deter Sutura: sem regras.

”Eu odeio Gotham”, pensou o Aranha.

Seus golpes pareciam realmente estar atordoando Sutura, dando-lhe confiança. Por isso não reagiu a tempo quando o Sentido de Aranha lhe avisou que era um truque. Usando uma das ataduras que envolviam seu corpo, Sutura agarrou o Aranha e tentou estrangula-lo, da mesma maneira que ela havia feito com o Batman em Nova York.

Foi a vez do Cavaleiro das Trevas salvar o Aranha. Um golpe na têmpora, violento, decisivo.

Sutura caiu.

– Ela... Ela...

– Vai acordar em algumas horas. Use sua teia para confina-la até que os funcionários voltem.

O Aranha estava ofegante, mas o próprio Batman parecia abalado pela surra que levara dela. Esperaram até que os homens de Gordon entrassem e confinassem Sutura. O Aranha apagou dentro do Batmóvel enquanto o Homem-Morcego o levava até o hotel no Parque Robinson.

Peter Parker acordou em seu quarto de hotel, com as batidas na porta:

– Ei! Sua diária venceu!

– Grande, o Morcego podia ter pago a conta!

– Eu te ouvi, moleque! Não me faça entrar aí!

Mal teve tempo de pular a janela e fugir em direção a rodoviária. Dentro do ônibus que o levaria de volta a Nova York, resolveu dar uma conferida na mochila para ver se não tinha esquecido nada. Havia um bilhete:

”Oráculo apagou seus registros no hotel. Não há nada que comprove que você esteve em Gotham. Também restituímos suas despesas.”

– Hmmm... Isso deve ser o “agradecimento formal” dele. Normal... Ele também levou uma bela canseira da Sutura... Isso é que são férias! Todas as despesas pagas! Mas como ele sabia em que quarto eu estava e quanto eu gastei? Será que a Oráculo...?

Na Torre do Relógio de Gotham, Bárbara Gordon conversava com um exausto Cavaleiro das Trevas:

– Está feito. Apaguei os registros dele e restitui o que ele gastou na viagem.

– Obrigado, Oráculo.

– E Sutura?

– Está sob custódia. O Homem-Calendário, Magpie e o Violinista foram mortos.

– E o Aranha?

– Teve mais sorte do que eu.

– Acha que ele volta pra Gotham?

– Eu duvido.

– Bom... Agora que ele já sabe o caminho, talvez venha nos visitar...

– ...

– Er... Oráculo desligando.

”Mas Gotham ia ser bem diferente com o Aranha aqui!”, pensou Bárbara.

No ônibus para Nova York, Peter Parker pensava em como as temperaturas já estavam baixas nessa época do ano. Inverno, o Natal chegando... Que surpresas teria em Nova York?


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