A Espiã escrita por MandyCillo


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que só postaria quando estivesse pronta, mas estou postando de livre e espontânea pressão mesmo.

Dedico essa fic a todas as meninas do Grupo Sherlolly Facebook.

Espero de coração que vocês gostem. ♥



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No último ato, quando a cortina desceu e o público aplaudiu apenas educadamente, o elenco já entendeu que a peça era um fracasso. Tinham suspeitado disso desde o início é claro, mas sempre havia a possibilidade de estarem errados e de que acabariam por conseguir dar vida a um texto tolo e cansativo. Porém, essa recepção medíocre numa cidadezinha do interior significava que o espetáculo não teria a menor chance de sensibilizar as plateias mais exigentes de Londres, ou das outras grandes cidades, que estavam nos planos dos produtores. Quando os atores se juntaram no palco para os aplausos finais evitaram se olhar nos olhos, sabendo que suas esperanças tinham ido por água abaixo e que cada um recomeçaria a interminável procura de um novo trabalho.

A cortina foi levantada e todos se inclinaram. Os dois atores principais deram um passo à frente e depois foi a vez dos coadjuvantes. Quando Molly Hooper avançou, sentiu-se gratificada ao ouvir as palmas aumentarem um pouco, apesar de a maioria dos espectadores já estar vestindo seus casacos e se dirigindo para a saída. O pano desceu de novo e foi o fim. Nem mais um aplauso, só o barulho de pessoas deixando seus lugares e conversas abafadas.

Desanimados, atingidos no seu orgulho profissional, os membros do elenco foram para os camarins trocar de roupa. Agora só lhes restava a vida comum. Molly tirou o sofisticado vestido preto que havia usado no último ato, tomando o maior cuidado para não sujá-lo com a maquiagem do rosto. Como o orçamento da peça era pequeno, os atores tiveram que usar suas próprias roupas. Aquele vestido havia custado um bom dinheiro, apesar de ter sido comprado numa loja de departamentos. Ela se olhou no grande espelho iluminado e suspirou. Não estava com ânimo de remover a maquiagem. Deixaria isso para mais tarde, quando voltasse para casa, mas soltou e escovou os cabelos castanho-avermelhados, deixando-os cair livremente sobre os ombros.

Dividia o camarim com mais duas atrizes: uma mulher de meia-idade que representava o papel de mãe e uma garota ainda muito jovem, que fazia a ingênua da peça. Molly, insinuante, era a mulher fatal.

— Alguém me acompanha num drinque? — perguntou a atriz mais velha. — Estou precisando de um!

— Eu também — respondeu Molly, e lançou um olhar para a mocinha, Janine.

Ela concordou, mas não disse nada, parecia estar a ponto de explodir em lágrimas. Esse tinha sido o primeiro papel decente da sua breve carreira no teatro e havia ficado cheia de esperanças. Mas agora se via como os outros, sem a menor perspectiva de trabalho.

Molly suspirou resignadamente e atravessou o camarim para consolar Janine. Tocando-lhe o ombro, disse com um sorriso gentil:

— Venham, vamos afogar nossas mágoas juntas.

O teatro, pequeno e moderno, ficava num centro cultural inaugurado havia pouco tempo, que também abrigava um auditório para conferências, um salão de exposições, um cinema de arte e dois bares. As três mulheres foram para o menor deles, onde se juntaram aos homens do elenco, que estavam acompanhados pelo produtor, o diretor de cena e um técnico. Só a atriz principal tinha ido diretamente para casa. Seu nome relativamente famoso deveria ter atraído um público muito mais expressivo.

Ficaram envolvidos por uma atmosfera pesada, que ninguém tentou aliviar.

— Venham sentar com a gente — disse um dos homens, puxando uma cadeira para Molly. — Vamos somar as nossas tristezas.

— Quanto tempo acham que a peça vai aguentar? — perguntou Janine, ansiosa.

— É difícil saber — respondeu o galã, encolhendo os ombros. — Uma semana, duas, se tivermos sorte. Com essa plateia fraquinha… E não adianta levar um fracasso desses para outras cidades. Os patrocinadores não vão continuar investindo, é perder dinheiro na certa.

— Mas será que não podemos fazer alguma coisa? Acrescentar cenas, reescrever a peça para que fique melhor?

O produtor balançou a cabeça, com um ar triste.

— Não vai adiantar: é um fracasso. Temos que enfrentar a realidade.

Continuaram conversando, analisando os vários pontos negativos do espetáculo e Molly levou algum tempo até perceber que estava sendo observada. Virando a cabeça, viu um homem sentado numa mesa próxima, ele a olhava com muita atenção. Era de meia-idade, com cabelos grisalhos nas têmporas. Usava óculos e vestia um terno escuro e muito bem cortado. Exibia um anel de ouro num dos dedos e tinha aquele ar imponente que só os ricos possuem.

Quando percebeu que havia conseguido atrair a atenção dela, não desviou o olhar, mas fez um breve aceno com a cabeça.

Molly ficou em dúvida, imaginando se já o conhecia de algum lugar, mas como tinha uma boa memória, logo se convenceu de que nunca o vira antes. Acostumada a ver os homens ficarem atraídos pela sua figura ou mesmo por sua profissão, ela desviou o olhar, continuando a conversa com os colegas. Porém, um minuto depois, o garçom trouxe o recado de que o senhor sentado à outra mesa havia assistido ao espetáculo e gostaria de pagar uma bebida para todo o elenco.

— Nunca fui de recusar um drinque grátis — disse um dos homens e aceitou em nome de todos.

Quando as bebidas chegaram, o grupo se virou para o homem, sorrindo com acenos de agradecimento. Em pouco tempo os copos já estavam vazios e o diretor de cena se levantou.

— Bem pessoal, tenho que ir para casa. Minha mulher está de olho no relógio e vai me deixar do lado de fora se eu demorar muito.

Os outros o viram afastar-se com alguma inveja, pois sabiam que ele não ficaria desempregado por muito tempo.

— Acho que vou começar a trabalhar como diretora de cena ou coisa parecida — comentou Molly.

— O quê? — Com toda essa beleza? — o galã exclamou. — Você está brincando!

— Não, é sério. Já faz algum tempo que estou pensando no assunto.

— Mas não é justo! — protestou Janine. — Você tem talento, já fez bons papéis e é… linda!

— Obrigada. — Molly sorriu. — Mas existem muitas moças bonitas na nossa profissão. E sempre aparecem caras novas, como você — acrescentou, com pena da mocinha. — Não, já decidi. Se não conseguir trabalho numa boa peça ou série de televisão, vou desistir de ser atriz.

Algum tempo depois o grupo começou a se desfazer e Molly pegou a bolsa para sair com as colegas que dividiam um apartamento com ela. Porém, quando se encaminhava para a porta, o homem da outra mesa também se levantou e veio falar com ela:

— Com licença, Srta. Hooper. Será que poderíamos conversar um pouco, antes de ir embora?

— Sinto muito, mas temos que pegar o último ônibus — ela disse, preparando-se para despachar um admirador inconveniente.

— Por favor, só alguns minutos. Depois eu lhe pago o táxi. Garanto que é uma conversa estritamente profissional — enfatizou.

— Desculpe, mas estou cansada e…

— Quem sabe signifique trabalho para a senhorita — o homem disse com suavidade.

Molly hesitou por um instante. Ele podia ser um agente, ou coisa parecida, apesar de não dar essa impressão. O mais provável era aquela insistência toda não passar de desculpa para uma cantada, como tantos outros homens já tinham feito. No entanto, não podia se dar ao luxo de jogar fora uma oportunidade. Fez um sinal para as amigas que já estavam perto da porta e gritou:

— Vejo vocês mais tarde.


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Notas finais do capítulo

E aí? *roe as unhas*



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