Jen e Jay passaram alguns dias sofrendo miseravelmente, vivendo de comida barata e dormindo em hotéis vagabundos. Pensaram em tentar descobrir onde ficava o esconderijo dos homens de letras, que havia se tornado recentemente um lar para Sam e Dean, mas se deram conta de que não saberiam encontrá-lo.

Enquanto isso, Garth, além de trabalhar muito em diferentes casos sobrenaturais, se mantinha firme ajudando Kevin a desvendar a tábua dos demônios. O profeta precisava decifrar quais seriam as próximas provas que Sam deveria enfrentar para fechar os portões do inferno. Foi com um imenso desprazer que Garth recebeu a notícia de que Gale, O Dentuço, aprontava das suas, por culpa dos irmãos Winchester, que o haviam deixado escapar, e sumiram do mapa.

Garth telefonou para Dean, pela milésima vez. Dessa vez Jen resolveu atender.

– Dean, onde você e Sam se meteram? Gale, O Dentuço já mordeu meio mundo, e está solto por culpa de vocês!

Jen ficou alarmado, não pretendia caçar nenhuma criatura sobrenatural. Colocou o telefone no viva voz para que Jay pudesse ajudá-lo.

– Oi Garth, aqui é o Sam. Olha, eu e o Dean desistimos de ser caçadores.

Garth riu. "- que brincadeira é essa?"

– brincadeira nenhuma – respondeu Jen sério – nos deixe em paz, não vamos atrás de Gale. Ele é dentuço!

– Rapazes, parem com isso, estão me assustando! – reclamou Garth, ainda torcendo por um risinho de "enganei um bobo na casca do ovo". Mas o riso nunca veio...

– E... As provas do Sam... para fechar as portas do inferno? – gemeu o caçador.

– Nem morto! – respondeu Jay, nervoso só de pensar em fazer algo tão perigoso.

Garth não entendeu o que se sucedera com aqueles dois, antes tão corajosos e determinados. Os rapazes não deram muita conversa para ele, e afirmaram estar cansados demais dessa luta do bem contra o mal. Haviam se aposentado de vez.

Depois desse dia, Jen e Jay desligaram os telefones celulares que tinham consigo e passaram algumas noites em claro com medo de que fantasmas e demônios pudessem visitá-los a noite.

O único consolo dos dois amigos é que tinham um ao outro. Não gostavam de sair, pois tinham medo dos monstros sobrenaturais que viviam por aquele universo enlouquecido. Passavam o dia todo jogando baralho, lembrando de suas "vidas passadas", vendo TV... As vezes choravam juntos, e se abraçavam consolando um ao outro. As vezes tinham ataques de riso, sem nenhuma explicação. Estavam sobrevivendo, aos trancos e barrancos, e graças um à companhia do outro.

Garth, entretanto, ficou inconformado. Como os irmãos não atendiam mais suas ligações, foi pessoalmente ao encontro dos dois, após rastrear seu paradeiro. E um belo dia, Jen e Jay brincavam de cabra sega no quarto quando alguém bateu na porta.

– Garth, o que você está fazendo aqui? – surpreendeu-se Jay ao abrir a porta e deparar com a cara de bobo do caçador magrelo.

– Vim buscar a ajuda de vocês! Não podem simplesmente abandonar suas obrigações e me deixar cuidando de tudo sozinho! Gale está solto por aí, e nós vamos atrás dele.

– Não! – protestou Jen – Esse Gale é feio e morde! Arranje outros idiotas para servirem de backup para você.

– Agora os dois valentões tem medo de um duendinho? O que aconteceu com os caçadores competentes que eu conhecia?

Aquela conversa não estava levando a lugar nenhum. Jen e Jay estavam implacáveis, mas Gale os tentava convencer a voltar a ativa. A verdade é que com Dean e Sam aposentados, caberia a ele fazer as três tarefas para fechar a porta do inferno. E ele estava com medo, claro.

O que nenhum dos três sabia é que Garth havia sido seguido por um fantasminha. Branco, pequeno, e quase inofensivo. O poltergeist olhou para os três rapazes que discutiam e se manifestou:

– BOOOOOOOO! - gritou ele.

Jen e Jay, apavorados, se esconderam atrás de Garth, tremendo. O caçador não podia acreditar que aqueles homens, grandes e fortes, estivessem com medo de tão frágil espectro. Garth falou meia dúzia de palavras, jogou um pouco de sal, e logo o branquelo se retirou de lá. Garth ainda teve que perder mais duas preciosas horas de sua vida consolando os "irmãos Winchester". Ambos choravam, tremiam e pediam para Garth não sair mais de lá porque precisavam de proteção.

Assim que conseguiu se desvencilhar dos dois, Garth mandou uma mensagem para todos os demais caçadores: "Os Winchester enlouqueceram, são um caso perdido". E só assim os atores foram deixados em paz para continuar sua existência miserável.

Alguma coisa dentro de Jay, porém, urgia por uma explicação lógica sobre aquele acontecimento sem sentido. Não estava conformado em acreditar que, como num passe de mágica, havia simplesmente se transformado em Sam Winchester. Esse tipo de coisa não acontece, não podia acontecer... E foi durante uma madrugada, mais uma daquelas madrugadas que Jay passava sem dormir, que finalmente encontrou a explicação de que tanto necessitava. Ele estava alucinando. Claro, só podia ser isso!

Em suas divagações, Jay imaginou que pudesse ter sofrido um acidente, e estar em coma. Ou quem sabe estivesse em estado catatônico, internado em algum manicômio... E por algum motivo sua alucinação queria que ele vivesse como Sam. Aquele pensamento o deixou aliviado, afinal seu corpo estava protegido em algum outro lugar. Talvez a melhor solução mesmo fosse viver o papel de Sam, e imaginar Dean ao seu lado. Dean era corajoso, protetor, saberia apoiá-lo e seria seu companheiro de aventuras. E foi com esse pensamento, decidido, que Jay adormeceu finalmente.