America estava sentada em uma poltrona, no seu novo quarto, a suíte real. Ela lia um dos muitos livros da biblioteca que ela já podia chamar de sua. Já fazia horas que Maxon estava em reunião com o Conselho, e eles mal haviam voltado do passeio de lua de mel. Mas America não estava irritada, só estava um pouco nervosa e ansiosa para saber que rumo aquela bendita reunião estaria tomando. Mesmo que seus olhos estivessem lendo cada palavra do livro, as informações não conseguiam chegar até o seu cérebro; estava com a cabeça em outro lugar. A jovem rainha verificou as horas em seu relógio novo, presente que ela insistira para Maxon não lhe dar, e se surpreendeu ao perceber que já eram quase três horas da madrugada. Mas antes que America pudesse tomar qualquer iniciativa, ouviu uma batida na porta do quarto e logo uma das criadas do castelo apareceu, trazendo uma pequena bandeja com uma xícara.

— Vossa Alteza — falou, fazendo reverência. America ainda não estava acostumada em ver as pessoas se curvando diante dela e chegava a ficar sem jeito com isso, mas acenou com a cabeça. Era o melhor que podia fazer — Desculpe incomodá-la tão tarde. O Rei me pediu para que trouxesse chá para a senhora.

— Como é seu nome? — America perguntou. Não gostava de não saber os nomes das pessoas que lhe cuidavam.

— Meu nome é Karen, Alteza. — a jovem respondeu.

— Karen, muito obrigada pelo chá. Pode colocar a bandeja em cima dessa mesinha mesmo. — America pediu, apontando para a mesinha de centro em frente a sua poltrona — O Rei está no escritório?

— Sim, senhora.

— Ok. Obrigada, Karen. Pode ir descansar agora. — America disse, achava muito injusto os criados ficarem trabalhando praticamente por turnos.

— Com licença. — Karen pediu, antes de se retirar.

Quando já estava sozinha, America inclinou-se para pegar a xícara e ao fazê-lo, percebeu que um pedaço de papel encontrava-se embaixo do pires. Já imaginando do que se tratava, deixou a xícara de lado e pegou o papel, desdobrando-o e descobrindo a caligrafia de Maxon.

"Meu amor, me perdoe por não estar deitado com você (por mais que eu tenha certeza de que você não está deitada). Ainda estamos em reunião.

Mil vezes tocando a orelha.

Tente relaxar.

Eu te amo.

Maxon."

America dobrou o bilhete e o deixou em seu colo. Com certeza conseguiria relaxar agora, sabendo que o marido estava tocando a orelha desesperadamente. A Rainha chegou a se perguntar o que teria passado na cabeça de Maxon, para lhe dizer para relaxar logo após dizer que estava tocando mil vezes a orelha. America ficou dividida entre permanecer ali indignada ou ir atrás do marido, também indignada. Mas ela não queria interromper a reunião, e não seria certo fazê-lo. Tentou respirar fundo e beber seu chá calmamente, mas acabou bebendo mais rápido que de costume. Ela não tinha paciência para ficar bebericando igual um passarinho, até o chá esfriar e perder toda a graça. Assim que largou a xícara de volta na bandeja, afundou na poltrona e, sem demora, pegou no sono.

— America... — alguém chamava seu nome — Acorde!

— Eu recém consegui dormir! — a jovem protestou. Em sua mente as palavras saíam perfeitamente, mas na realidade eram um bolo de murmurações enroladas que fizeram Maxon cair na gargalhada — O que é tão engraçado, Maxon? — perguntou entonada, já cem por cento acordada e com a postura ereta.

— Ah! Você é tão linda com sono! — o Rei comentou, mas ainda ria entre os beijos que dava no rosto da sua esposa.

— Não consigo encontrar ligação entre algo lindo e algo que provoque tanta risada. — Ela ainda estava irritada. Por ele tê-la despertado, por ter dado risada da sua cara e ainda ter inventado uma desculpa tão boba.

— Não vem ao caso. — Ele deu de ombros para o que ela havia dito e também para a expressão irritada no seu rosto — Eu só acordei você para que fosse para a cama. Essa poltrona é ótima, mas não para dormir.

— Eu gosto dela. — America respondeu, fazendo pouco caso da situação.

— Bom, tudo bem. Eu vou deitar sozinho mesmo, porque estou cansado. Essa reunião me deu dor de cabeça. — Maxon dizia, já se despindo em direção ao banheiro.

America o fitou com os olhos semicerrados, tentou esconder o riso enquanto pensava no quão melodramático Maxon podia ser. Por fim revirou os olhos e levantou-se do seu assento confortável.

— Vamos, Rei ao quadrado. — A jovem disse enquanto caminhava até a cama, já com um sorriso nos lábios.

— Rei ao quadrado? — Maxon perguntou, parado na porta do banheiro.

— Sim, Rei de Illéa e Rei do Drama. — America respondeu com prazer, já caindo na risada.

Primeiro achou graça de sua piada, mas depois ria descontroladamente, porque Maxon correu até ela e empurrou-lhe na cama para já começar uma tortura incessante de cosquinhas.

— Para! Maxon, chega! — America protestava, esperneando embaixo do marido.

— Retire o que você disse e eu penso em te libertar — Maxon respondeu, fazendo America rir ainda mais da pose de mal que o marido assumiu o que lhe causou ainda mais um pouco de tortura.

— Tudo bem! — disse por fim — Já chega! Eu retiro! — gritou, fazendo Maxon sair de cima dela e se jogar ao seu lado na cama.

— Ótimo, assim está melhor — o jovem brincou.

— Nunca mais faça isso! — America pediu — É horrível. Agora vá duma vez se trocar.

— Sim senhora, Vossa Alteza! — Maxon respondeu, levantando-se e indo para o banheiro aos risos.

America suspirou profundamente, havia ficado quase sem ar de tanto rir. Havia se casado com um garotinho brincalhão, pensou. Mas logo desejou que a relação deles fosse sempre assim. Daquele jeito. Do jeito deles.