Cassie Fairscale pensava na vida enquanto escutava músicas aleatórias no seu iPod. Ela não passava de mais uma garota de 17 anos excluída de tudo e todos na cidade de Manhattan. A menina tinha um único amigo — Logan Goldstorm.
Eles se conheceram em algum lugar do Central Park aos oito anos de idade, se tornando melhores amigos desde então.
Sua mãe, Lauren Fairscale, tinha depressão profunda — isto se deu depois da morte de John, pai de Cassie. A mulher era magra, alta, tinha cabelos negros e lisos, e olhos surpreendentemente azuis — assim como os da filha. Lauren mal saía de casa, quase nunca comia e vivia pálida como a neve. Ás vezes, Cassie se perguntava por quê sua vida era assim. Por que ela era tão excluída?
Bem, deveria ser porque ela era um tanto estranha e excêntrica. A garota tinha 1.72 de altura, seus cabelos eram lisos e caíam pelos ombros como uma cascata negra, e era muito magra. Ela até tinha algumas curvas, mas nada comparado às garotas populares de seu colégio. Quando alguém estranho se aproximava, ela lançava um olhar mortal, que espantava todos. Cassie usava roupas pretas, botas de couro e seu cabelo era um tanto desajeitado. A menina nunca ligou para aparência. Sempre foi desleixada desde muito pequena. Lauren nunca a via — ficava o dia todo trancada no quarto, sem receber visitas — o que dificultava a convivência entre as duas.
Cassandra tinha a impressão de que sua mãe nunca se importara com a filha. Mas estava totalmente errada. Tudo isso tinha um propósito. Um grande e importante propósito.

O celular dela vibrou em seu bolso, despertando-a do devaneio. Era seu amigo, Logan.

— Alô?

— Alô, Cassie?

— Oi, Logan! Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— Tirando o fato de que Kreetos fez cocô no meu dever de casa, tudo bem, sim. — Kreetos era o hamster de Logan. Cassie dera o roedor no 16º aniversário do garoto.

— Haha, garoto esperto. Devo ressaltar que é muito mais esperto que o dono.— caçoou Cassie

— Sem piadinhas desnecessárias, senhorita Fairy.

— Para com isso, Logan. Você sabe que odeio que me chamem assim... — Cassie fez uma pausa — Ok., você me ligou para contar a grande catástrofe causada pelo seu hamster de estimação?

— Ah, claro que não. Eu queria te convidar pra ir naquela boate que você adora hoje à noite. Topa?

— Lights?

— Essa mesmo.

— CLARO! Que horas você vem? — entusiasmou-se Cassie

— Passo aí às nove e meia.

— Beleza.

Cassie levantou-se da poltrona azul de seu quarto e caminhou em direção aos aposentos da mãe.

— Mãe? — disse ela, batendo na porta. — Mãe, você está aí?

— O que foi? — indagou Lauren, ainda dentro do quarto.

— Quero avisar que vou sair com Logan hoje.

— Aonde vocês vão, querida?

— Naquela boate, Lights.

De repente, Lauren abriu a porta e encarou Cassie. A mulher tinha um líquido vermelho escorrendo pelos cantos da boca. Cassandra recuou e a encarou, perplexa. Aquilo parecia... Sangue?!

— Mãe... O quê é... — gaguejou ela, passando o dedo nos cantos da própria boca — Isso?

Lauren franziu o cenho e passou as costas da mão no líquido, limpando-o.

— Ah, não importa. — disfarçou ela — O que importa é que você não vai.

— E o quê me impede? — perguntou Cassie, levantando a voz.

— Eu a impeço, Cassandra. Você não vai e ponto final!

— Eu vou sim, mãe. Vou e ninguém me impedirá.

— NÃO, CASSANDRA FAIRSCALE. VOCÊ NÃO VAI NESTA BOATE! ESTÁ ME OUVINDO? NÃO VAI! — berrou a mulher

Cassie hesitou. Não entendeu por que sua mãe agia daquela maneira. Lauren nunca tivera problemas com as saídas da filha com Logan. Bem... até agora.

— Escuta aqui, senhora Fairscale. Eu não sou obrigada a ficar trancada nesta casa 24 horas por dia! Cansei de ter de ficar no meu quarto, pensando em como minha vida é inútil e desprezível! CANSEI! — berrou Cassie — Cansei de ser ignorada como se fosse a coisa mais normal do mundo!

Cassandra não esperou qualquer resposta da mãe. Foi marchando até o quarto e bateu a porta.