Era manhã e todos estavam indo para mais um dia na escola. Ontem, quando Edu mostrou ao grupo as informações que colhera e depois discutiram sobre o assunto, Mila bolou um plano para saberem o que iriam fazer a respeito. Era uma sexta-feira que começaria anormalmente agitada.

–*-*-

Estava andando pelo corredor quando encontrei o Edu. Ele estava sozinho perto de uma janela observando o que quer que esteja lá fora. Talvez só estivesse pensando, logo não era um bom sinal.

– Oi.

– Ah... – Ele me olhou. – Oi, Mila.

– O que fazes aqui sozinho, Edu? O sinal está para tocar e...

– Mila. – Ele me interrompe. – Preciso falar com você sobre o plano.

– Ah... Pode falar.

Será que ele acha que o plano não irá funcionar? Mas eu não consegui pensar em coisa melhor que aquilo...

– Eu estava pensando... Tudo supostamente começou naquela festa, naquela cidade, então achei que poderíamos voltar lá. Encontrar aquelas pessoas com quem falamos, dançamos, ficamos etc.

Sim, eu pensei nisso. Mas também pensei que seria muito arriscado ir àquela cidade novamente e talvez o pai dele não fosse tão generoso a ponto de emprestar o carro de novo para a gente.

– Ah... Sei. – Dou uma pausa e depois volto a falar. - Seria seguro?

– Bom, disso eu não sei. Mas posso arriscar a pedir o carro de novo para o meu pai. Para esse final de semana.

–Esse final de semana?! – Gritei assustada.

– Ei! – Sussurrou ele fazendo um gesto para eu falar mais baixo.

– Desculpa.

– Sim. No domingo. – Afirma.

Não sei se eu poderia ir àquela cidade nesse final de semana, eu estava pensando em executar minha parte do plano o mais rápido possível, para logo nos livrarmos disso. Também há vários outros motivos... Não me sentiria bem lá.

– Não sei se vou. – Falei. – Não posso, preciso me arrumar para vender nossos acessórios nesse final de semana. Muito provavelmente no domingo, pois irei fazer minhas lições no sábado.

– Você e a Soph já irão executar a parte do plano de vocês nesse final de semana? – Perguntou ele meio incrédulo.

– Sim. O mais rápido possível.

O sinal toca.

– Mila, falo com todos vocês no recreio. – Ele sai meio apressado.

Olhando o Edu de costas andando para sua aula, imagino que seria injusto ele ir sozinho... Se realmente concordarmos com o plano dele. Sei disso porque ele quer muito voltar, ele está muito focado.

–*-*-

Não sei se consigo vasculhar os documentos do meu pai. Ele é corretor e há vários deles espalhados pelo seu escritório.

– Leonardo Montenegro! – O professor chama a minha atenção. – Pare de olhar para a parede e, por favor, preste atenção na aula.

– Tudo bem, professor. – Respondo atordoado.

– Obrigado. Continuando...

Preciso fazer isso. Preciso encontrar qualquer pista de quem são aquelas pessoas...

– Leonardo!

– Sim, professor...?

– A parede está muito bonita hoje pelo visto, não é mesmo? – Pergunta ele em um tom irônico e debochado. Todos da turma riem.

Gosto que as pessoas riam de mim, mas por causa das piadas que faço e não por ser chamado a atenção pelo professor. Fico envergonhado e não respondo.

– Da próxima vez é direto pra a diretoria, combinado? – Ele me encara.

– Combinado. – Falo, finalmente.

Qualquer coisa seria melhor do que aula de química.

–*-*-

Vestir-me de vendedora de acessórios é muito cafona para mim. Mas infelizmente irei ter que fazer isso para conseguir, pelo menos, olhar o rosto de quem são aqueles novos moradores.

– Ei, Soph. – Mila sussurra atrás de mim. Estamos tendo aula de geografia.

– Oi. – Sussurro de volta.

– Pensei em executar nossa parte do plano nesse final de semana.

– O que?! – Meu sussurro sai mais alto do que imaginei. Alguns alunos próximos de mim me olham, mas o professor parece não ter percebido. – Amiga, ainda não me preparei psicologicamente.

– Você tem um dia para isso. – Fala ela. – Ah, por favor, Soph! Quero logo acabar com isso.

Eu também quero logo resolver essa situação. Mas pensei que seria em outro dia mais distante... Será que o Léo já achou os documentos? Isso está rápido demais.

– Tudo bem. – De repente lembro. – Mila, não vai dar. Eu e o Edu temos um jogo no domingo a noite. Até convidamos você e o Léo.

– Droga! – O sussurro dela também foi um pouco alto dessa vez, mas novamente o professor não pareceu notar. – Conversaremos no recreio.

–*-*-

No recreio, combinei de conversar com todos para discutirmos mais uma parte do plano, que agora eu acho necessário adicionar.

– Então... Vocês concordam? – Estamos sentados em uma mesa na cantina como de costume.

– Falei para a Mila mais cedo e retorno a dizer. – Fala a Soph. – Neste domingo eu e você, Edu, temos jogo e até os convidamos. – Ela aponta para a Mila e para o Léo.

– Eu sei da existência desse jogo de futebol que meu time terá no domingo a noite e também sei que você, Soph, terá que estar lá como líder de torcida. Mas descartei, até porque o jogo começa às oito da noite e achei que não demoraríamos muito na cidade se saíssemos cedo.

– Soph, se o jogo começa nesse horário, dá para executarmos nosso plano. – Fala a Mila.

– Calma, gente! – Grita o Léo. – Como assim vocês resolvem as coisas sem mim?

– Não sei se deu para perceber, mas não tem quase nada resolvido aqui. – Soph responde.

– Não importa. Pensei que todo mundo iria à cidade, juntos. Mas pelo visto vocês duas não irão.

– Não. Não iremos... Já tenho toda a roupa e todo acessório que supostamente será vendido pronto. Por que adiantarmos as coisas?

– Cara. – Digo. – Você pode ir à cidade comigo, nós dois. Pedirei o carro ao meu pai.

–Então pronto. Nesse domingo vocês dois irão à cidade e nós duas iremos àquela casa. Estamos combinados? – Ninguém responde à pergunta da Soph. – Quem cala, consente.