Coletando estrelas cadentes. escrita por mending4


Capítulo 4
Capitulo 2 - de volta ao inferno.


Notas iniciais do capítulo

Eu sou Cassie Armistead, tenho dezesseis anos e acabei de sair de um hospital psiquiátrico, onde fiquei internada durante seis meses. Após a minha saída do hospital, eu esperava me estabilizar e recomeçar a minha vida. No entanto, recebi a pior notícia que eu poderia receber: Minha família e eu estávamos de mudança para a Inglaterra. Que droga! Eu esperava recomeçar a minha vida na América e não partir, subitamente, para outro continente. Agora terei que me adaptar a um lugar frio, uma casa pequena e a pessoas tão frias quanto o próprio ambiente. Sorte que eles tem um sotaque maravilhoso! Mas isso não muda o fato de que vai ser difícil me adaptar, fazer amigos e principalmente, ser normal. Eu não sou muito boa nisso.



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“Coisas da Cassie”. Eu já havia desempacotado umas oito caixas dessa. Na maioria delas havia livros, CDs, DVDs, cadernos velhos da escola, provas escolares de anos atrás — a maioria com notas B, C, e D — etc. Finalmente peguei a caixa que importava. A caixa de coisas especiais: meu computador, meu antigo diário que ninguém jamais leu (ou lerá!), pôsteres de bandas e filmes e a coisa mais especial e importante que havia na caixa: meu pendrive.

Aquele pendrive tinha muita história… Uma longa e embaraçosa história. Liguei o computador e conectei o pendrive a ele. E a história é a seguinte: Há dois anos, quando eu ainda estava no ensino fundamental, eu conheci um garoto na escola. Seu nome era Ethan. Ethan Ross. Ele era extremamente adorável e encantador. Quero dizer, na aparência. Ele parecia um garotinho inocente com seus cabelos loiros bagunçados, seus óculos quadrados e sua habilidade de desvendar cubos mágicos.

Naquela época, foi amor à primeira vista. Nós tínhamos aulas de Inglês, Álgebra e História dos EUA juntos. Ele era novo na escola e em seu primeiro dia de aula ele se sentou logo atrás de mim. Isso foi ótimo! Pena que não é uma história de amor… Eu não dei o meu primeiro beijo nele e muito menos o namorei. Quem me dera!

Em dois meses de aula nós começamos a nos falar. Mas como? E por quê? Bom, não foi como se do nada ele quisesse falar comigo porque me achou interessante. A verdade é que, eu sou muito boa em inglês. Já ele, ele era péssimo. Portanto, ele viu em mim uma forma de ser aprovado em inglês sem precisar fazer muito esforço. Então ele virou meu “amigo por interesse” e começou a adquirir ajuda em inglês de mim. No entanto, eu o ajudava até demais. Eu fazia suas lições de casa e lhe dava as respostas das provas sem ele precisar pedir. Eu sei, eu me iludi…

Mas, para ser sincera, eu sabia que ele estava me usando. Eu sabia que ele não era meu amigo de verdade. Eu sabia que ele só fingia ser meu amigo por puro interesse. Mas eu estava apaixonadinha. Aquelas paixonites de adolescentes da oitava série, sabe? Então. As minhas colegas daquela época — que hoje nem se quer se lembram do meu nome — me avisavam, mas eu não as escutava. Houve uma época que elas pararam de me aconselhar e tentar abrir os meus olhos. Elas simplesmente passaram a alimentar essa minha ilusão. Elas queriam que eu me aproximasse mais dele e me iludiam dizendo que talvez ele gostasse de mim. E a pior parte é que: eu acreditava. Eu me deixava ser iludida tanto por ele quanto por elas.

Eis que um dia, enquanto eu o ajudava na aula de inglês, ele estava sentado ao meu lado, coladinho a mim. Aquilo para mim era um sonho realizado! As minhas colegas daquela época estavam sentadas do outro lado da sala, apenas assistindo a nós dois. A professora iludida e o aluno interesseiro. Mal sabia eu que elas estavam tirando fotos de nós dois. Sim, tirando fotos! Elas tiraram vinte e sete fotos e depois me mandaram todas elas pelo celular!

— Vocês são as melhores. Obrigada! — eu exclamei quando vi as fotos. Para mim elas haviam me feito um favor. Quando é que eu imaginei que um dia eu fosse tirar uma foto com Ethan? Pois agora eu tinha vinte e sete fotos com ele. Esta era uma oportunidade única. Jamais aconteceria novamente!

Então eu comprei um pendrive, que custou quinze dólares, e coloquei todas as fotos neste pendrive. Desde então sempre guardei o pendrive debaixo de sete chaves como se fosse um tesouro. Meu precioso

Doentio, não? Eis que essa paixonite já se foi há muito tempo. Não tenho mais contato com as pessoas daquela época, no entanto, não compreendo por que não apaguei essas fotos.

Vamos ressaltar que eu estava horrível nas fotos. Elas me pegaram desprevenidas, mas, eu não sei, as fotos estavam tão espontâneas. Eu não consigo me desfazer delas. Sempre que penso em apagar tudo, ao mesmo tempo eu penso: “Aproveite, porque aconteceu”. Apesar de Ethan ter me usado, ele era um garoto legal. Como tínhamos alguns períodos juntos, ele me tratava bem como ninguém jamais me tratou enquanto estudei lá. E além do mais, nem sempre ele falava comigo só para ter respostas de inglês, uma vez que, ele era ótimo em álgebra, portanto às vezes ele me ajudava. Ele era engraçado e me fazia sentir bem. Além de ser lindo pra caramba!

Bom… Eu acho que não vou apagar as fotos tão cedo. Daqui alguns anos isso vai soar — já soa — ridículo, mas dane-se.

— Cassie, hora do jantar! — minha mãe gritou do primeiro andar.

Uma hora depois que chegamos do nosso passeio foi que minha mãe chegou em casa. Seus cabelos estavam desgrenhados e ela estava com um ar meio sonhador. Agiu como se não tivesse feito nada, como se estivesse ido à casa do vizinho só para ver o papel de parede do quarto ou experimentar a cama e o colchão — talvez ela queira comprar uma cama igual, não?

Eu não toquei no assunto. Ela estava ciente de que eu sabia, mas preferi ficar calada como se não tivesse visto nada. Passei o resto do dia desempacotando, arrastando móveis, tirando pó etc. Eu estava exausta e com fome. Minha mãe havia pedido pizza. Nós três comemos no sofá enquanto assistíamos à TV que já havia sido instalada pela minha mãe.

— Que tal assistirmos a um filme? — minha mãe sugeriu — Cassie, nós poderíamos assistir a um de seus DVDs.

— Não, obrigada. — levantei-me do sofá assim que terminei de comer a pizza — Vou tomar meu remédio e ir dormir.

— Mas você poderia nos emprestar o DVD do Homem de Ferro! — Bob gritou quando eu estava subindo as escadas.

— Não! — gritei quando já estava no segundo andar e bati a porta do quarto.

Não importava se eu dissesse não. Bob, sorrateiramente, pegaria o DVD da minha estante.

***

Segunda-Feira.

Minha mãe acordou a mim e ao Bob às 06h30min. Em outras ocasiões — quero dizer, se eu tivesse em minha antiga casa na América — eu enrolaria mais um bocado na cama. Colocaria o travesseiro na cabeça para não ouvir a voz da minha mãe e demoraria mais uns quinze minutos para me levantar.

Porém, esta nova casa só tem um banheiro. E eu não queria ter que esperar Bob tomar seu banho de trinta minutos e deixar o banheiro molhado e imundo. Portanto corri para o banheiro e bati a porta para acorda-lo. Assim ele veria quem dominou o banheiro. Hahá!

— Argh, vadia! — ele gritou e começou a socar a porta ao ver que eu havia entrado no banheiro antes dele. Fiquei em silêncio até ouvir minha mãe brigar com ele. Ela odiava quando Bob falava este tipo de coisa. — Ai, ai, solta a minha orelha, mamãe. Desculpe, ok? Desculpe. Au!

E tomei banho em paz.

A nossa casa já estava toda arrumada e felizmente tudo já havia sido desempacotado. O final de semana foi só para isso: desempacotar caixas. Por sua vez, já havia uma cortina na janela do meu quarto (Graças a Deus!).

— 12,6°C — minha mãe abriu a porta do quarto — Melhor colocar algo quente.

No Outono em Londres, a temperatura mínima média é de: 11,4°C e a máxima de 19,9°C. Eu nunca fui muito fã do frio, principalmente do muito frio como em Londres. Em Charlotte a temperatura era quase sempre 24°C e 28°C. Assim vai ser meio difícil de me adaptar. Vesti uma roupa quente e coloquei um casaco por cima. Eu estava pronta… Pronta para sair de casa, mas não para voltar à escola.

Meu café da manhã foram algumas barras de cereal e uma caixinha de suco de abacaxi. Minha mãe só faria compras no meio da semana, então eu teria que aguentar esse tipo de café da manhã por mais alguns dias.

— Tome aqui o dinheiro do seu lanche — ela me deu o dinheiro — E aqui está o endereço da escola — e me deu um papel amassado com um endereço.

Eu não estava acreditando que ela não me levaria à escola em meu primeiro dia de aula! Não é nada sentimental, é só que, eu nem sei o caminho da escola. Ela faria a mesma coisa com Bob, mas para a sorte dele um ônibus escolar vai vir busca-lo.

— Boa sorte, querida — ela me deu um beijo na bochecha — E tenha um bom dia.

E saí de casa.

O Outono para mim é a época mais bonita do ano. Principalmente em Londres. Apesar do frio, era uma época bonita. Mas infelizmente, ainda não estava bonita do jeito que eu queria. A cidade ainda não estava alaranjada e ainda não parecia uma pintura com suas folhas caídas. Essa paisagem só irá aparecer no final de Outubro, e ainda estávamos no final de Setembro.

O tempo estava nublado e o vento cortante. Peguei o papel com o endereço da escola. Eu tenho a mãe mais horrível do mundo! Sua letra era um garrancho e ela fez várias setas sem sentindo que eu não compreendia.

Segui na direção sudeste da rua onde eu morava. Eu virei muitas direitas e várias esquerdas. Segui por inúmeras ruas e peguei uma saída. Eu devia estar perdida.

— Com licença — parei um senhor que caminhava ao meu lado — O Senhor poderia me informar onde fica o Colégio Whitefield?

— Claro. Desça esta rua e vire à direita. Siga em frente e vire à esquerda e você verá o colégio no fim da rua — ele me informou.

Eu o agradeci e segui suas instruções. O sinal tocava às 08h00 e já eram 07h53. Tudo porque minha mãe é preguiçosa demais para me levar à minha própria escola. Já que foi ela quem me meteu nisso, o mínimo que ela poderia fazer era me levar à escola em meu primeiro dia. Mas por culpa dela, eu me perdi.

Pisei no gramado do colégio. No exato momento o sinal tocou. Não importa o continente – America do Norte ou Europa – se o sinal tocou, eu tenho que estar na sala de aula. Mas primeiramente, eu nem tinha um horário de aula. Eu ainda ia ter que ir à diretoria!

Corri para dentro da escola. Eu estava ofegante e minha garganta queimava. Eu odiava correr. O corredor estava se esvaziando aos poucos e as pessoas estavam entrando em suas respectivas salas. “Onde fica a diretoria?”, perguntei-me. “Merda!”, xinguei. A culpa disso tudo não era minha.

Enquanto caminhava pelo corredor fui olhando o nome das salas. Eu tinha que encontrar uma sala escrita “Principal” ou pelo menos “Secretaria”. Subi escadas e virei corredores. Eu não encontrei nada, além de um zelador que seria a minha salvação.

— Com licença — eu o chamei. O zelador olhou — O Senhor pode-me dizer onde fica a sala do diretor… Ou a secretaria?

— Americana? — ele perguntou, rindo meio zombador. Não compreendi o porquê da risada, mas assenti. — Terceiro andar, fim do corredor, vire à esquerda.

— Obrigada — respondi e corri para o terceiro andar.

— Não corra! Você não está na América! — ouvi o zelador dizer.

Quando cheguei à secretaria fui direto falar com uma moça sentada atrás de uma mesa. A secretária, obviamente. Ela era muito gorda e muito branca. Seu único destaque eram seus cabelos loiros quase brancos.

— Com licença — falei. Ela olhou para mim por cima de seus óculos de meia-lua. — Eu sou nova aqui e…

Eu não precisei terminar, pois ela me interrompeu pegando o telefone e ligando para a sala do diretor que era ao lado da sua mesa. Extremamente desnecessário, não?

— Aluna nova — ela falou. Sua voz era adenoide, metade do som saía pelas narinas. Era irritante. Ela desligou o telefone e sem olhar para mim falou: — O diretor Lewis irá vê-la agora.

Dei três batidas em uma porta de madeira com uma placa de metal escrita “Diretor Lewis”. Ouvi uma voz masculina me pedir para entrar. Eu entrei. Atrás de uma mesa de madeira havia um homem careca de cavanhaque e pele cor chocolate.

— Com licença, senhor.

— Sente-se, Senhorita. — ele pediu.

Eu me sentei à cadeira em frente a sua mesa.

— A Senhorita é a Senhorita Armistead, certo? — ele perguntou — Cassandra Louise Armistead.

— Sim, senhor — confirmei.

Ele não falou mais nada durante alguns minutos, pois estava digitando algumas coisas no computador a sua frente.

— Senhorita Armistead, eu estive vendo o seu histórico escolar do seu antigo colégio nos Estados Unidos — ele finalmente disse algo — E, a Senhorita esteve fora da escola por dois meses e alguns dias, não é?

Assenti.

— Vejo que isso não interferiu em sua aprovação — ele disse — Mas eu gostaria de saber, o que houve? Por que ficou afastada da escola durante dois meses?

Era vergonhoso ter que explicar o motivo. Quando fui internada, eu pedi a minha mãe que não contasse a ninguém onde eu estava. Nem que eu não pedisse, ela não contaria. Era embaraçoso até para ela. Eu não tinha nenhum amigo com quem me preocupar sobre descobrirem onde eu estava então a minha única preocupação eram os vizinhos fofoqueiros. Ou seja, ninguém soube da minha internação além da minha mãe e do meu irmão.

— É um assunto muito delicado — comecei a falar. Eu não queria começar o ano falando sobre a parte mais vergonhosa da minha vida, mas eu também não podia mentir.

— Não se preocupe, Senhorita Armistead. Qualquer coisa que você diga aqui permanecerá aqui.

De fato isso era verdade. Isso era o que o Doutor Barnes sempre me falava em minhas consultas quando eu não queria lhe contar algo. Então, fingi que eu estava conversando com o Doutor Barnes.

— Em março, eu fui internada em um hospital psiquiátrico onde permaneci durante seis meses — expliquei — Mas, antes de eu ser internada, eu havia me saído muito bem nos estudos. Então eles levaram em consideração os sete meses em que fui bem e meio que “esqueceram” os dois meses em que eu não fui à escola. Afinal, eu tinha uma justificativa.

Enquanto eu falava, o diretor apenas assentia. Igual ao Doutor Barnes. Fiquei feliz que ele não tenha feito uma cara de espanto quando lhe informei que eu havia sido internada em um hospital psiquiátrico.

— Mas, a Senhorita está melhor agora? Seguirá com o ano letivo sem interferências? — ele perguntou.

— Esta é a minha intenção, Diretor Lewis — respondi. Sinceramente, essa era a minha intenção. Eu não queria ter colapsos, surtos e queria afastar os pensamentos suicidas da minha cabeça. Eu queria ser normal. Eu precisava ser normal!

— Então, está tudo certo. — o diretor pegou uma folha e me entregou — Este é o seu horário de aulas, Senhorita Armistead. Eu montei de acordo com seu antigo horário de aulas de seu antigo colégio, e acrescentei as aulas optativas de acordo com suas antigas escolhas também.

Peguei a folha com os horários.

— E eu acredito que você já esteja ciente das regras do colégio, certo? São as mesmas regras de qualquer colégio. Se fizer algo errado, você virá para cá. E eu espero não vê-la pelos motivos errados.

— Pode deixar. — eu sorri.

Ele estendeu sua mão para que eu apertasse.

— Obrigada, Diretor Lewis — eu apertei sua mão.

— Disponha — ele sorriu — Agora vá, você está atrasada para a sua primeira aula. E seja bem-vinda ao nosso colégio. Espero que dê tudo certo para você.

“Eu também espero”, pensei. E saí da sala do diretor.


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Notas finais do capítulo

Se estiverem gostando, comentem, gostem, adicionem aos favoritos. Ficarei eternamente grata.



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