The New Storybrooke I - The Fairytales are Back escrita por Black


Capítulo 12
The Headless Knight


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, sei que demorei, mas agora estou de volta!
Espero que gostem e boa leitura!
PS.: Quem aí assistiu ao episódio 8, de duas horas, da quarta temporada de Once Upon A Time, Smash the Mirror?



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Já fazia tanto tempo que ele já nem contava mais. Havia pouco mais de setecentos anos que havia morrido, que havia se tornado o Senhor das Trevas, que não mais envelhecia e que estava condenado a passar a eternidade assistindo o ciclo de vida das pessoas à sua volta, sempre solitário, nunca se aproximando da possibilidade que um dia sonhara para si: Encontrar o amor e formar uma família.

Era assim que Jack Skellington, há aproximadamente setecentos anos Jack O’Lantern, pensava, afinal, que outros pensamentos poderiam percorrer sua mente quando o amanhã deixou de ser algo importante?

Aquele era apenas mais um dia dos milhares que ele já deixara de contar, apenas mais um em que ele caminhava por entre os humanos, invisível a todos a não ser que desejasse o contrário, afinal, mesmo sendo um espírito e seus poderes fossem bastante influenciáveis às crenças depositadas em si, ele, como Senhor das Trevas, tinha total controle sobre sua visibilidade e, após alguns poucos séculos, decidiu que era melhor permanecer sozinho, sem que ninguém pudesse vê-lo.

A vila em que estava era bastante diferente da que um dia vivera, em sua época, aquela aldeia poderia ser chamada de reino, embora nada significasse para os padrões daquela época. Era um lugar próspero e alegre, rodeado por belas árvores. Era o tipo de lugar que Jack apreciava por ser bastante tranquilo e sem problemas, como a vila em que um dia vivera e tivera sua fazenda de abóboras, que agora não passava de plantações há muito tempo mortas e poeira.

Não havia realmente algo ali para lhe prender a atenção, nada que pudesse demovê-lo da ideia de continuar viajando pelo mundo em busca de um objeto, qualquer coisa que o fizesse se sentir mais do que um espírito ambulante e sem rumo, pelo menos, não até que ele a viu.

Ela era alta, quase tanto quanto ele, e magra. Tinha cabelos loiros reluzentes à luz do sol que os iluminava e olhos tão azuis quanto o céu. A pele era clara, embora com certeza não tanto quanto a dele. Ela usava um vestido bege simples e um avental branco por cima enquanto carregava uma cesta de roupas e cumprimentava gentilmente todos que passavam por ela, sendo retribuída pelos mesmos com a mesma gentileza que exibia.

Pela primeira vez em anos, Jack sentiu a necessidade de ficar visível e, tomando cuidado para que ninguém o visse, finalmente permitiu que os olhos dos vivos o vislumbrassem. Lembrando-se do mísero, não tanto assim, detalhe de que tinha a mais incomum coloração de olhos, com um simples feitiço, tornou-os negros como um dia foram, de modo que ninguém suspeitaria.

Com os devidos preparativos feitos, ele se dirigiu à primeira pessoa que viu, nem se dando ao trabalho de ver quem seria:

– Com licença. – Chamou a atenção da pessoa desconhecida, que então o fitou. – Quem é aquela? – Gesticulou para a moça que há pouco chamara sua atenção e que agora conversava com alguém pelas ruas da vila.

– Aquela é Theodora Halloween. – O homem desconhecido com quem falara o respondeu sem qualquer problema, gentil. – Filha de Robin Halloween. – Deu mais detalhes, embora Jack não houvesse os pedido.

– Entendo. – O Senhor das Trevas assentiu sem tirar os olhos da moça, que voltara a andar na direção em que ia anteriormente. – Obrigada. – Agradeceu antes de se distanciar, andando em direção a ela.

Foi seguindo-a a uma distância que ninguém suspeitaria e, em determinado momento, Theodora acabou tropeçando e deixando que a cesta de roupas caísse, espalhando as vestimentas pelo chão terroso. Rapidamente, ele correu até ela, abaixando-se e ajudando-a a recolher o que caíra.

– Obrigada, senhor. – Ela o agradeceu com um sorriso gentil enquanto continuava a colocar mais uma vez as roupas na cesta.

– Não há de quê. – Ele respondeu-a com o mesmo sorriso que ela exibia, mantendo os olhos na roupa que recolhia. – Sou Jack... – Ponderou se deveria dizer seu novo sobrenome, afinal O’Lantern era constantemente associado ao Senhor das Trevas e tudo o que ele menos queria era que ela descobrisse que ele estava morto. – Skellington. – Optou por se apresentar com seu sobrenome antigo. – Jack Skellington.

– Theodora Halloween. – Ela estendeu a mão para ele em cumprimento assim que os dois finalmente se levantaram e a roupa estava recolhida na cesta de palha apoiada na mão livre da loira.

– Prazer em conhecê-la, senhorita. – Ele falou o mais cavalheiro que se lembrava de que conseguia ser, sorrindo o tempo inteiro sem ao menos ter uma razão aparente. – Isto parece pesado. – Observou, fitando a dificuldade com que ela apoiava a cesta de palha. – Deixe-me ajuda-la. – Sem deixar com que a loira respondesse, tomou a cesta em mãos.

– Parece que você é o meu herói. – Theodora brincou de bom humor, sorrindo.

– Não sou um herói. – Jack negou com um gesto curto da cabeça, deixando que o sorriso que exibia morresse um pouco, mas sem deixar que desaparecesse completamente. – Na verdade, acho que passo bem longe disso. – Declarou.

Não sabendo ao certo o que deveria responder, a loira apenas assentiu e os dois começaram a andar na direção em que ela seguia anteriormente, completamente em silêncio.

O caminho não fora muito longo e o silêncio que perdurara não parecia totalmente desconfortável, de modo que não houve demora em alcançar a casa dos Halloween, que era relativamente maior que as demais, mostrando que a família tinha condições privilegiadas naquele lugar.

– É aqui. – Ela finalmente quebrou o silêncio que os seguia desde que ele a ajudara a recolher as roupas.

– Pois bem. – Ele devolveu a ela a cesta de palha e, com um pouco de dificuldade, ela pegou, sorrindo agradecida para ele logo em seguida.

– Obrigada. – A moça repetiu o que havia dito anteriormente ao outro.

– Não há de quê. – Ele também disse as mesmas palavras com a qual a respondera alguns minutos antes.

– Theodora! – Uma voz que não pertencia a nenhum deles chamou-lhes a atenção para um homem que subitamente abrira a porta da casa da moça.

Ele era alto e robusto, de cabelos loiros mais claros que os dela, grisalhos, e olhos azuis como os da moça à frente de Jack, usando calças negras, camisa branca de botões e botas escuras sujas de terra, além de um gorro branco na cabeça.

– Quem é este? – O homem perguntou bruscamente, sem de dar ao trabalho de ser educado, olhando de modo quase acusatório para Jack.

– Este é Jack Skellington, pai. – Theodora o apresentou e, pelo termo que usara para se referir ao outro, o Senhor das Trevas logo concluiu que o homem à porta era Robin Halloween. – Ele me ajudou a trazer a cesta para casa. – Explicou o motivo de o agora O’Lantern acompanha-la.

– Entendo. – Robin respondeu do mesmo modo brusco de antes, ainda lançando olhares que deixavam até Jack desconfortável. – Entre. – Ordenou à filha, que, com um aceno de despedida ao espírito, adentrou na casa, seguida pelo pai, que fechou a porta com força suficiente para que toda vila escutasse.

– OUAT –

John Gold estava caminhava calmamente pelas ruas de Storybrooke, seguindo caminho até uma loja de pequeno porte que vendia todos os tipos de frutas e verduras. Adentrou e olhou em volta, logo encontrando quem estava buscando: Um homem alto e robusto, de cabelos loiro-claros, grisalhos, e olhos azuis, usando calças negras, camisa branca de botões e botas escuras sujas de terra, além de um gorro branco na cabeça.

– Senhor Gold. – O homem o cumprimentou friamente ao perceber a aproximação do penhorista.

– Estive procurando pelo senhor, Senhor Hernandez. – John foi direto ao ponto, curto e grosso, olhando o loiro à sua frente com desdém.

– Terei o seu dinheiro na semana que vem. – O Hernandez respondeu, realmente começando a se preocupar.

– Os termos do nosso contrato foram bem claros. – O Gold deu de ombros com desinteresse e logo dois homens adentraram na loja, começando a recolher tudo o que havia de valor. – Vou deixar vocês conversarem. – Sorriu e deixou a loja, escutando os protestos de Ronald Hernandez.

Caminhou alguns metros, distanciando-se cada vez mais da pequena loja, quando encontrou Pitch Black aguardando-o em uma das esquinas de Storybrooke.

– Mas que belo espetáculo, Senhor Gold. – O Black declarou com um sorriso irônico enquanto fixava os olhos do pequeno estabelecimento da qual o outro acabara de sair.

– O Senhor Hernandez só está tendo um dia ruim, acontece com todos. – John deu de ombros, desinteressado pelo que quer que Pitch tivesse a tratar com ele.

– Eu estava querendo conversar... – O Prefeito de Storybrooke falou sem rodeios, mas foi interrompido pelo penhorista.

– Ah, e quando você tiver algo que eu queira discutir, teremos uma conversa. – Gold sorriu com sarcasmo antes de tentar abandonar o local e ser barrado pelo Black.

– Não, faremos isso agora. – Pitch respondeu por entre os dentes, tentando soar o mais educado e paciente possível, mas não obtendo muito sucesso, afinal já estava começando a se irritar. – Posso garantir que é rápido. – Completou.

– Há algo lhe afligindo? – O penhorista supôs sem tirar o sorriso sarcástico dos lábios, satisfeito com a irritação do homem à sua frente. – Precisa desabafar? – Perguntou em tom de deboche. – Pois vai ter que esperar. – Pitch estava prestes a retrucar, quando John o interrompeu. – Por favor. – Pediu com o sorriso mais descarado que podia exibir.

Então, o Gold finalmente passou pelo Black, conseguindo então sair daquele local e, assim que John já estava a uma distância relativamente longa, o prefeito se virou em sua direção, semicerrando os olhos, pondo-se a pensar em um plano para que pudesse conseguir o que precisava.

Na Lanchonete da Vovó, Annabelle, Elsa e Mylena estavam sentadas a uma das mesas do local, conversando como em um dia qualquer quando Rachel se aproximou e se sentou com as três, arrastando consigo Miranda Scarlet White e Alicia King.

– Você pegou o livro. – Miranda supôs com um sorriso ao ver o livro na mesa à frente de Annabelle.

– Sim, comecei agora. – A ruiva concordou animada, pegando o livro em mãos. – É ótimo. – Declarou com um sorriso. – Só quero ver como acaba. – Disse entusiasmada.

– Vocês e suas conversas chatas. – Marina apareceu trazendo três xícaras de café numa bandeja, afinal, mesmo tendo recuperado as memórias de sua antiga vida, ainda tinha que desfaçar para que ninguém desconfiasse. – Arranjem algum assunto melhor. – Pediu enquanto começava a se distanciar.

Miranda, Alicia, Elsa, Annabelle, Rachel e Mylena riram do que a ruiva dissera e só foram interrompidas quando Jade Gold adentrou na lanchonete e se dirigiu até onde elas estavam.

– Como está o dia de vocês? – A Gold mais velha perguntou com um sorriso que parecia forçado e nervoso demais.

– Não encontramos a Jennifer. – Mylena declarou com uma expressão claramente insatisfeita enquanto bebericava o café que Marina deixara à sua frente.

– Não foi isso que eu perguntei. – Jade tentou desfaçar, mas recebeu de todas as outras, olhares completamente desacreditados, então suspirando e puxando uma cadeira para se sentar à já lotada mesa. – Nenhum sinal? – Deixou o sorriso morrer, mostrando o quão aflita estava.

– Não, caso contrário ela já estaria sendo vigiada por mim naquela cela. – Mylena deu de ombros e cruzou os braços, passando indiferença, mas claramente desgostosa com a situação.

Mais uma vez Marina apareceu na mesa, trazendo mais xícaras de café e deixando-as na mesa de frente para cada uma das meninas sentadas ali.

– A gente devia sair. – A Scott propôs animada, afinal adorava qualquer tipo de coisa que sua mãe provavelmente desaprovaria, afinal, mesmo tendo feitos as pazes com a figura materna, ela ainda tinha uma reputação de filha rebelde a zelar. – Só garotas. – Especificou. – Vamos todas. Elsa e Mylena também, se deixarem os distintivos em casa. – Inquiriu.

– Eu não estou muito afim, mas vocês podem ir e se divertir. – A Black mais velha deu de ombros sem parecer dar muita atenção à proposta de Marina, mas percebendo os olhares desaprovadores que Elsa lhe lançara ao falar, soltando um riso baixo. Então, o celular da xerife de Storybrooke começou a tocar e logo a mesma o pegou, fixando o olhar na tela.

– O que aconteceu? – Alicia finalmente se pronunciou depois de ter ficado tanto tempo calada, fazendo Elsa se perguntar internamente que tipo de personalidade amaldiçoada Pitch dera a ela.

– Problemas. – Mylena franziu o cenho e se levantou de sua cadeira com o celular em mãos e, quando viu que Elsa faria o mesmo, se apressou em impedi-la. – Eu vou, você fica. – Informou com um sorriso travesso e abafou um bocejo antes de deixar a Lanchonete.

– Ela parece cansada. – Rachel falou enquanto todas ainda olhavam as portas do estabelecimento, por onde a Black mais velha acabara de passar.

– Não quero nem saber há quanto tempo ela não dorme. – Annabelle respondeu sem tirar os olhos da porta.

Pouco tempo depois de seu encontro com Pitch, John finalmente alcançou sua casa e, ao se aproximar das portas, percebeu que estavam abertas, o que era no mínimo estranho, afinal ninguém sabia do paradeiro de Jennifer e Jade era extremamente responsável. Sacou o revólver que escondia no paletó e entrou na residência, olhando atentamente em volta, procurando quem pudesse ter arrombado sua casa.

Por fim, já dentro do local, virou-se para trás ao escutar um barulho, que percebeu se tratar da entrada de Mylena, que acabara de chegar ao local.

– Xerife Black. – Gold a cumprimentou, recebendo apenas um aceno da cabeça por parte dela, que ainda olhava atentamente em volta.

– Seu vizinho viu a porta aberta e pediu ajuda. – A mais nova respondeu enquanto ambos ainda apontavam as armas um para o outro.

– Parece que eu fui roubado. – John disse sério, ainda sem abaixar o revólver.

– O Senhor é um homem bastante problemático, não é? – Ela questionou sarcástica, revirando os olhos e sem abaixar sua arma.

– Sou um homem difícil de amar. – Ele respondeu com um dar de ombros, então abaixando o revólver que anteriormente apontava para a xerife.

– OUAT –

Os dias se passavam desde o primeiro encontro de Jack e Theodora e, mesmo sem perceber, o espírito permanecia cada vez mais tempo naquela simples vila. Todos os dias, sendo propositalmente ou por acaso, ele encontrava com a loira e, na maioria das vezes, a acompanhava até em casa com um verdadeiro cavalheiro, mesmo tendo que encarar o olhar que Robin lhe lançava sempre que abria a porta e dava de cara com o ex-fazendeiro.

Em um destes dias, Jack e Theodora, que se tornaram excelentes amigos com o passar do tempo, estavam sentados à sombra de uma árvore próxima à casa da loira, conversando banalidades.

– Então, você não tem ninguém? – Ela perguntou ao escutá-lo dizer que há muito não sabia o que era ter a companhia de alguém. – Onde estão seus amigos? – Questionou, estranhando que alguém tão gentil quanto o homem à sua frente se mostrara ser pudesse estar tão solitário.

– Eu não tenho amigos, sou meio solitário. – Ele sorriu sem graça, sem saber ao certo como abordar aquele assunto sem acabar contando a verdade à outra.

– E não gosta da família? – Ela pressupôs, arqueando uma sobrancelha, curiosa.

– Eu não tenho família. – Jack imediatamente respondeu meio tristonho.

– Ora, vamos. – Ela tentou animá-lo ao ver que humor do outro subitamente despencara. – Todo mundo tem família. – Argumentou.

– Quero dizer, eu já tive família. – Ele então tratou de explicar, visto que ela não estava entendendo bem o que ele quis dizer. – Mas estão todos mortos. Se foram há muito tempo e, agora, eu estou sozinho. – Suspirou cansado.

Theodora ficou calada pelo que pareceu a Jack um tempo longo demais e, finalmente, ela o abraçou com força, tentando confortá-lo em relação à situação com que ele há décadas se acostumara. Jack, porém, em momento algum recusou o abraço, pelo contrário, retribuiu-o. E ambos ficaram naquela posição até que o pai da loira aparecesse para chama-la de volta para casa.

– OUAT –

– Pode ir agora, xerife. – John declarou alguns minutos depois de o pequeno embate entre ele e Mylena terminar e a morena agora discar alguns números no celular que tinha em mãos. – Sei exatamente o que foi roubado e quem fez isso. – Explicou ao perceber o olhar cético da outra. – Agora é comigo. – Finalizou.

– Não, não é. – Mylena discordou com um sorrisinho torto desafiador. – Foi um roubo, ou seja, ameaça pública. – Informou com um dar de ombros. – E se não me disser o que sabe, terei que prendê-lo por Obstrução à Justiça. – Suspirou, desfazendo o sorriso. – E você não quer ir para a cadeia. – Declarou, examinando atentamente cada expressão que o homem à sua frente fazia.

– Não quero mesmo. – John suspirou derrotado e, ao ver a xerife arquear uma sobrancelha, claramente aguardando uma resposta, finalmente começou a falar. – Muito bem, o nome dele é Ronald Hernandez, ele tem uma pequena loja no centro da cidade, não pagou um empréstimo e tivemos um pequeno desentendimento esta manhã. – Explicou com desinteresse e a face neutra, sem emoção.

– Tudo bem, eu vou investigar. – Mylena concordou e começou a caminhar em direção à porta da casa, mas foi parada pela voz do homem, que lhe chamou a atenção:

– Tenho certeza, supondo que eu não o ache. – Gold murmurou para si mesmo, mas a morena foi perfeitamente capaz de ouvir e, ao perceber a atenção dela centrada em si, ele continuou. – Digamos que coisas más acontecem a pessoas más. – Finalizou com um sorriso irônico.

– Isso é uma ameaça? – A Black arqueou uma sobrancelha, franzindo o cenho para o homem.

– Uma observação. – Ele respondeu, desfazendo o sorriso e, com um aceno em concordância da cabeça, Mylena saiu dali, mesmo que desconfiada. – Boa sorte. – John sussurrou ao assistir a xerife deixar sua casa.

– OUAT –

Mais tempo se passara e Jack tinha cada vez menos vontade de deixar aquela vila e, principalmente, Theodora. Já fazia um ano que estava naquele mesmo lugar, o que era algo extraordinário, afinal ele não passava mais do que um mês em qualquer que fosse o local, e, tendo pensado por um longo tempo, concluiu que chegara a hora de contar a verdade à loira.

Portanto, em uma data que ele passara a considerar extremamente especial, 31 de outubro, aniversário de Theodora, ele a chamara em um lugar mais afastado da vila, onde não houvesse camponeses para escutar o que ele tinha a dizer.

– Por que me trouxe aqui, Jack? – Ela perguntou curiosa, olhando as árvores verdes que se estendiam à volta deles, sem trazer qualquer resquício de preocupação na voz ou na expressão.

– Eu preciso conta-la algo. – Ele suspirou com cansaço, receoso, mas, por fim, começou a falar. – Eu não sou exatamente como você pensa. – Confessou, temendo a reação que ela poderia ter depois que soubesse a verdade.

– Como assim? – Ela questionou sem entender, fitando, confusa, o homem à sua frente.

– Cheque meu pulso. – Ele se aproximou dela e estendeu-lhe o braço pálido e de veias evidenciadas pela falta de cor e quase transparência da pele.

Mesmo sem entender bem, Theodora assentiu e levou as mãos até o pulso pálido e gelado do outro, realizando o procedimento com perfeição, mas franzindo o cenho, afinal havia algo drasticamente errado ali.

– Não sinto nada. – Ela declarou, de cenho franzido e expressão confusa, aguardando que Jack lhe desse uma resposta.

– Porque não há o que sentir. – Jack, cautelosamente, se afastou alguns passos, não querendo assustá-la. – Eu não tenho pulso porque... – Respirou fundo antes de prosseguir, quase incapaz de dizer o que deveria. – Porque eu estou morto. – Disse por fim.

Ela não disse nada, não conseguiu dizer nada, por um tempo que ele julgara longo e desconfortável demais. Por um momento, ele temeu que ela saísse correndo e nunca mais o olhasse, que tivesse medo, ou que sequer acreditasse no que ele estava dizendo. Jack não era o tipo de homem que tinha medo, na verdade, nunca tivera medo, mas agora a sensação o preenchia por completo enquanto aguardava a resposta da loira à sua frente.

– Jack, do que está falando? – Ela finalmente se pronunciou, olhando para ele ainda sem entender bem a situação. – Isso não é possível... – Começou a dizer, mas ele a interrompeu.

– Você acredita em vida após a morte? – Jack arriscou perguntar, julgando aquela como a melhor forma de começar a dizer o que devia dizer.

– Como o Céu? – Ela perguntou confusa.

– Como espíritos. – Ele a corrigiu nervoso. – Eu fui assassinado há setecentos anos, eu acho. – Disse sem graça. – Parei de contar na quarta década. – Confessou nervoso, tentando descontrair o clima pesado que se formara entre eles.

– Jack... – Ela abriu a boca para falar, mas, novamente, ele a interrompeu.

– Theodora, olhe para mim. – Ele pediu quase suplicante.

Ela o obedeceu. De fato a pele de Jack era pálida e fria demais para qualquer ser humano vivo, o que dava um pouco de sentido para o que ele havia lhe dito. Ele, então, piscou uma vez e, quando abriu os olhos novamente, estes não eram mais negros, eram de um tom vibrante de laranja.

Várias vezes ela abriu a boca para falar, mas em todas acabou fechando-a novamente, sem saber ao certo o que dizer. Sua expressão era completamente espantada, afinal aquilo era, sem dúvidas, completamente fora do comum. Por fim, começou a se aproximar lentamente de Jack, que teve de reprimir o impulso de recuar, até que já estava a apenas poucos centímetros dele.

– Se acha que pode apenas me assustar e me afastar de você, sendo espírito ou não, só posso dizer que não conseguiu. – Ela sorriu para ele do mesmo jeito que ele se lembrava e, antes que o outro se desse conta, o beijou.

E ali, parado naquela clareira beijando Theodora Halloween, Jack não se lembrava de, em todos os seus séculos, ter se sentido tão feliz.

– OUAT –

Algumas poucas horas depois, John estava na Delegacia de Storybrooke a chamado de Mylena, que, naquele momento, estava sentada atrás de uma mesa na qual estavam os objetos roubados na casa dos Gold.

– De nada. – A xerife falou indiferente ao perceber que o outro não lhe diria qualquer palavra. – Você estava certo, Ronald te roubou. – Declarou com um dar de ombros. – Isso tudo estava na casa dele. – Gesticulou para os objetos na mesa.

– É mesmo, e ele? – John foi direto em perguntar, examinando atentamente a pilha de objetos, procurando algo que ainda não havia visto.

– Estamos procurando. – Mylena respondeu, franzindo um pouco o cenho ao ver o nível de insatisfação do homem de pé à sua frente.

– Então, meio trabalho bem feito. – O homem murmurou, mas, como acontecera anteriormente em sua casa, a xerife o ouviu.

– Em menos de um dia eu recuperei tudo. – Ela suspirou cansada e massageou as têmporas com as costas da mão.

– Você não recuperou nada. – John grunhiu irritado, começando a caminhar para fora da Delegacia. – Falta uma coisa. – Explicou sem sequer precisar ver a confusão estampada no rosto da morena, que permanecera em seu lugar.

– Eu vou pegar quando o encontrar. – A Black garantiu, mas não recebeu qualquer atenção dele, que continuou andando para fora do lugar.

– Não se eu o achar primeiro. – Ele respondeu num quase rosnado antes de finalmente abandonar a Delegacia de Storybrooke.

– OUAT –

Mais alguns meses se passaram desde que Jack contara a verdade a Theodora e agora toda vila tinha consciência de que eles estavam juntos, afinal, há poucos dias, o homem pedira a mão da loira a Robin, que, de má vontade, afinal não escondia o fato de detestar o outro, concordou.

No final das contas, Jack e Theodora finalmente se casaram e agora moravam numa casa relativamente longe da vila, para que o Senhor das Trevas não tivesse de esconder quem era de verdade. A casa era simples, mas bastante aconchegante e bem arrumada e, para nostalgia de Jack, tinha uma plantação de abóboras no fundo, embora nem de longe tão grande quanto a que um dia tivera em sua antiga fazenda.

– Isso me lembra da minha antiga casa. – Jack comentou enquanto ambos andavam em direção à nova residência.

– Por quê? – Theodora questionou curiosa.

– Abóboras. – Gesticulou para a plantação de abóboras atrás da casa que podia ser vista mesmo da frente.

Ela assentiu e os dois finalmente adentraram em seu novo lar, prontos para começar uma nova vida.

– OUAT –

– Vai com calma, Marina. – Elsa pediu divertida enquanto observava a Scott virar um copo de bebida de uma só vez.

– Ah, qual é, minha mãe não está aqui, e não venha dar uma de cópia dela. – Marina soltou um suspiro desanimado, o que provocou risos nas amigas que estavam sentadas à sua volta. – Miranda, olha ali. – Apontou para dois rapazes que olhavam a Professora de Literatura há vários minutos.

– Querida, eu sou casada. – Miranda lembrou com um revirar de olhos, afinal Marina Scott era uma tremenda irresponsável.

– Mas o Will não está aqui. – Annabelle soltou uma risada baixa, levando de Elsa um tapa no braço seguido por um olhar de reprovação da loira, o que apenas a fez rir ainda mais do que antes.

Jade, Rachel, Alicia e Marina acompanharam a ruiva no riso, enquanto que Miranda apenas observava Elsa reprovar a mais nova com o olhar pelo comentário.

– Por falar no Senhor Scarlet, onde ele está? – Alicia se pronunciou, arqueando uma sobrancelha, embora a pergunta houvesse sido feita de forma tão tímida que Elsa se perguntara onde fora parar aquela menina curiosa e corajosa que a loira costumava ser.

– Não tenho ideia. – Miranda deu de ombros, sem parecer dar muita importância ao paradeiro de seu marido.

– Você é casada, lembra, Senhora Scarlet? – Marina provocou, recebendo um soco de brincadeira no braço por parte de Rachel, que ainda assim ria da situação.

– Sou a esposa, não a mãe dele. – Miranda abriu um sorriso brincalhão. – E não me chame de Senhora Scarlet ou eu vou pensar que minha sogra está aqui. – Brincou, fazendo as demais rirem.

A noite estava indo bem, pelo menos por enquanto, e, naquela cidade, Elsa apenas se perguntava até quando aquela paz iria durar.

Na mercearia que ficava no centro da cidade de Storybrooke, Jake olhava a prateleira que continha os cartões de Dia dos Namorados, procurando um que fosse perfeito para a pessoa para quem ele queria dar, mas sem achar um que fosse bom o suficiente. Por fim, achou um azul com vários flocos de neve que se arrumavam em forma de coração. Sorrindo, o pegou e seguiu para o caixa, no intuito de pagar pelo item.

– Não sabia que tinha namorada, Senhor Winter. – A voz de John Gold o tirou de seus devaneios, chamando a atenção do castanho para o homem, que se encontrava pagando por alguns objetos no caixa.

– Não tenho. – Jake sorriu envergonhado, coçando um pouco a nuca. – Não ainda. – Murmurou em um tom que só ele poderia ouvir, trazendo um sorriso bobo no rosto.

– Boa escolha, eu acho. – John deu de ombros, sustentando a conversa mais um pouco enquanto o homem atrás do balcão terminava de contabilizar os preços dos objetos que o Gold comprara.

– É, esse parece ser tão a cara dela. – O sorriso bobo de Jake aumentou enquanto ele olhava o cartão azul, torcendo internamente para que a garota para quem ele o daria fosse gostar.

– Você tem sorte de ter alguém para amar. – John disse sem expressão no rosto.

– Acho que tenho sim. – Jake concordou de bom-humor.

– Amor... – John falou a palavra de um jeito tão estranho que chamara a atenção do Winter. – É como uma chama delicada, e, quando se apaga, some para sempre. – Soltou um suspiro cansado. Jake assentiu, refletindo sobre as palavras do homem. – Boa sorte. – O Gold disse enquanto pegava a sacola com suas coisas já pagas e começava a se retirar da loja.

– Obrigado. – Jake agradeceu, seguindo então para o caixa.

John continuou andando e saiu da loja, seguindo para seu carro, que estava estacionado bem à frente do estabelecimento. Sentou-se no banco do motorista e, antes de dar a partida, olhou para o banco de trás, onde Ronald Hernandez estava amarrado e amordaçado. Com isso, começou a dirigir.

Depois de alguns minutos, finalmente chegou onde queria, numa cabana no meio da floresta onde, alguns dias antes, Elsa e Annabelle aguardaram a tempestade de neve passar. Levantou o homem em seu banco de trás e, apontando seu revólver para ele, obrigou-o a adentrar na pequena construção de madeira.

– Geralmente, eu não deixo as pessoas se safarem. – O Gold disse enquanto fechava a porta da cabana, já com os dois lá dentro.

– OUAT –

Já fazia alguns meses que Jack e Theodora haviam se casado e parecia que tudo ia bem. Eram bastante felizes juntos, provavelmente o casal mais feliz em toda a vila na qual moravam nas redondezas.

– Jack! – Theodora o chamou do lado de fora da casa e ele não demorou em atender ao pedido dela, indo até onde sua esposa lhe esperava.

Ela sorria com uma abóbora em mãos, sendo que aquela tinha olhos esculpidos e uma boca sorridente. Ele também sorriu para ela. A loira adorava aquelas brincadeiras. Era sempre tão bem-humorada...

– Eu vou à vila comprar algumas coisas, já volto. – Ela o beijou e, com um cesta de palha, saiu dali, deixando-o sozinho.

Depois que ela se foi, Jack passou algum tempo cuidando de sua plantação de abóboras até que ouviu passos vindo em sua direção.

– Você voltou cedo. – Disse sorrindo, mas ao se virar, percebeu que não era Theodora.

Era Robin.

– Senhor Halloween. – Jack cumprimentou confuso pela presença do outro homem ali.

– Seu demônio! – O mais velho gritou antes de sacar um machado e tentar acertar Jack com ele, mas o outro desviou, pegando uma enxada para se defender.

– Do que está falando? – Jack questionou sem entender.

– Eu acho que você sabe, afinal já deve ter bastante experiência com seus setecentos anos, não é? – Robin questionou com um sorriso sarcástico, mas uma vez tentando acertar Jack.

Se possível, Jack ficara mais branco do que já era, e, tão distraído estava com as palavras do homem, Robin foi capaz de acertá-lo, golpeando seu pescoço e cortando fora sua cabeça. Nenhum sangue jorrou, afinal Jack já estava morto, de modo que aquilo tampouco o feriu de verdade. Percebendo isso, Robin tentou acertá-lo mais uma vez, mas agora Jack revidou acertando-o com a enxada.

Os dois continuaram a brigar, sendo que Jack levava a melhor e conseguiu derrubar o outro, golpeando-o repetidas vezes, sendo interrompido apenas por um grito conhecido.

Theodora chegara e tudo o que vira fora seu marido agredindo seu pai.

– Theodora, eu posso explicar. – Jack tentou falar e sua voz saia de onde sua cabeça anteriormente estava.

– Jack, como pôde?! – A outra gritou ao ver o estado deplorável de seu pai, uma vez que Robin já estava quase morto no chão. – O que você fez?!

– Ele veio aqui para me matar, Theodora! – Jack exclamou, mas ela não o ouviu.

A loira o empurrou quando ele tentou se aproximar e levantou seu pai como podia, apoiando-o com o braço em volta de seu pescoço. Com lágrimas nos olhos, falou:

– Eu nunca mais quero vê-lo! – Disse ferida, afinal, não podia perdoar o que fora feito ao seu pai, principalmente por não saber que realmente fora o Halloween quem fora ali para matar o O’Lantern.

Então ela se foi, sem nunca mais voltar para ele.

– OUAT –

– Deixe-me explicar. – Ronald pediu, sentado numa cadeira de madeira, enquanto John andava à sua volta ainda com a arma em mãos.

– Isso é fascinante, realmente fascinante. – John revirou os olhos e sorriu com ironia, pegando um pedaço de madeira que se encontrava abandonado no chão e levando até a garganta do outro homem, impedindo-o de respirar. – Deixarei você respirar por um segundo e você me dirá duas frases. – Sorriu de forma cruel. – Primeiro, vai me dizer onde ela está. Segundo, vai me dizer quem te mandou pegá-la. Entendeu as regras? – Questionou.

– Sim. – Ronald se forçou a falar ainda com o bastão de madeira sobre sua garganta, dificultando sua respiração.

John então retirou o pedaço de madeira dali, permitindo que o outro respirasse, e aguardou que ele começasse a falar.

– Eu preciso daquele dinheiro. – Ronald disse assim que conseguiu tomar ar o suficiente para falar.

– Viu só? – John revirou os olhos e mais uma vez abriu o sorriso cruel. – Isso não é uma boa resposta. – Bateu no homem à sua frente com o bastão de madeira. – Me diz onde está! – Exigiu, acertando-o mais uma vez com o bastão. – Me diz onde está! – Acertou-o mais uma vez.

– Não foi minha culpa! – Ronald gritou encolhido em seu lugar por conta da dor, o que só pareceu enfurecer o Gold, que apertou o bastão de madeira com mais força.

Minha culpa? – John repetiu sem sorrir, completamente enfurecido. – Como assim “minha culpa”? – Perguntou em meio a um grunhido irritado. – Você a matou. – Ele praticamente rosnou ao falar. – Você tinha o amor dela, mas você a matou. – Disse entredentes, batendo no outro novamente com o bastão de madeira. – Ela se foi. – Os olhos negros do Gold brilhavam com as lágrimas que ele não deixava sair. – Ela se foi. – Repetiu. – Ela não voltará. – Mais um grunhido escapou da garganta do homem. – E a culpa é sua! – Bateu no outro novamente. – Não minha! – Golpeou mais uma vez. – Você era o pai dela! – Gritou, acertando-o mais uma vez.

Continuou então golpeando o outro homem com o bastão de madeira, sem se incomodar com os gritos de dor do Hernandez.

– OUAT –

Em sua casa agora abandonada, Jack quebrou cada objeto presente ali, cada lembrança boa, tudo o que ele construíra com a ajuda de Theodora. Afinal, o que adiantaria? Ela fora embora. Ela o deixara.

– OUAT –

– A culpa é sua! – John gritava a cada vez que acertava Ronald com o bastão de madeira. – A culpa é sua! – Continuaria a golpeá-lo, mas sua mão foi segurada.

– Pare. – Mylena ordenou um pouco assustada com a cena que acabara de presenciar, tendo chegado ao local naquele exato instante.

– OUAT –

Com sua casa completamente destruída, Jack saiu da construção, dirigindo-se à plantação de abóboras com uma tocha acesa em mãos, a qual ele logo jogou nas plantas, deixando que queimassem.

Porém, uma delas ele não pôde deixar ser destruída. Aquela abóbora na qual Theodora, em meio às suas brincadeiras, esculpira um rosto. Correu até ali e a pegou antes que o fogo a desintegrasse, fitando-a por um tempo que lhe parecera longo demais antes de sair dali em direção ao local onde brigara com Robin.

Avistou sua cabeça abandonada e caminhou até ali sem qualquer preocupação com o fogo que se alastrava atrás de si. Apanhou-a e fitou-a, lado a lado com a abóbora. Por fim, jogou a cabeça no chão e colocou a abóbora onde ela deveria ficar e, naquele instante, as feições esculpidas por Theodora Halloween pareceram ganhar vida.

– OUAT –

No Rabbit Hole, onde Marina levara as garotas, Elsa estava sentada com Rachel e Annabelle, uma vez que Miranda já havia ido embora com Will, que aparecera ali para levar a esposa para casa, Jade fora chamada para um plantão de emergência no hospital, Selina aparecera pedindo a ajuda de Marina para algumas coisas na lanchonete e Alicia decidira-se por ir logo para casa.

As três restantes estavam conversando animadamente quando, de repente, a voz de um rapaz chamou a atenção das três:

– Rachel?

Era Eugene Fitzherbert, o rapaz que Rachel havia conhecido no Dia da Flor Dourada, quando ele a ajudara com a fiação elétrica dos terrenos da mansão onde a comemoração seria realizada.

A morena imediatamente se levantou e foi até ele, que trazia em mãos um buquê de rosas vermelhas e parecia bastante envergonhado.

– Eugene? – Ela pronunciou o nome dele quase sem acreditar. – O que faz aqui? – Perguntou ainda surpresa.

– Eu só queria te ver. – Ele disse tão rápido que ela quase não entendeu. Quase. – Eu só queria te perguntar se... – Respirou fundo antes de prosseguir e estendeu o buquê para a morena. – Se você quer ser minha namorada. – Finalmente falou, com seu melhor sorriso nos lábios.

Rachel abriu a boca várias vezes para responder, mas nenhum som saiu. Revirando os olhos, Annabelle gritou para ela:

– Responde logo, morena! – A Black riu, recebendo mais um tapa de Elsa no braço.

– Sim! – Rachel finalmente respondeu e, se é que era possível, o sorriso de Eugene se alargou ainda mais enquanto ele puxava a Lockwood para um beijo.

– Você quer dar uma volta na minha moto? – Ele perguntou assim que se separaram. – Não é bem um encontro. – Falou meio envergonhado.

– É o melhor de todos. – Ela respondeu e, com uma última olhada para as amigas que a assistiam, saiu dali com seu novo namorado, dirigindo-se para a moto branca dele, que estava estacionada do outro lado da rua.

– Quanto a nós, acho que eu deveria te levar para casa. – Elsa se levantou da cadeira em que até então estava sentada e, juntamente com Annabelle, também deixou o estabelecimento.

Caminhando para a Mercedes da Snow, Elsa e Annabelle avistaram Rachel e Eugene na moto do rapaz, distanciando-se dali. Sua atenção só foi desviada dos dois quando Jake Winter se postou no caminho das duas.

– Quer saber, eu tenho dezoito anos e posso ir para casa sozinha. – Anna soltou uma risada baixa antes de praticamente correr para longe dali, deixando Elsa e Jake sozinhos na rua deserta.

– Oi. – Ele cumprimentou um pouco envergonhado.

– Oi. – Ela respondeu com um singelo sorriso nos lábios.

– Eu só passei aqui para te dar o cartão do Dia dos Namorados. – Estendeu o envelope azul para ela, que o pegou.

Sorrindo, a loira-platina rapidamente o abriu, tirando de lá um cartão também azul com um coração formado por flocos de neve brancos na frente.

– Anda me vigiando? – Ela perguntou enquanto abria o cartão para ler o que havia escrito lá dentro.

– Talvez um pouco, afinal não quero que arranje outro cara. – Ele respondeu sorrindo como um bobo enquanto ela lia o que ele havia escrito para ela:

– “Elsa Snow, eu te amo”. – Ela leu com um sorriso idiota nos lábios, mas finalmente pareceu processar a frase que ele havia dito anteriormente: “Não quero que você arranje outro cara”.

De certa forma, Jake era o outro cara, afinal, por mais que, de certa forma, fossem a mesma pessoa, ainda assim, eram diferentes. O formal e educado Jake Winter jamais seria o brincalhão e bem-humorado Jake Frost e o pensamento das diferenças entre os dois cortou o coração de Elsa.

– Eu fiz errado em te dizer como eu me sinto? – Ele perguntou ao ver a expressão quase torturada no rosto dela.

– Não, não fez errado, eu só... – Ela não sabia ao certo como verbalizar o que estava sentindo, afinal aquilo era uma loucura tão grande que ela própria quase não acreditava.

– Você tem namorado. – Ele pareceu entender, deixando seu sorriso sumir de seus lábios, fitando os próprios pés.

– É mais ou menos isso. – Ela assentiu, também fitando suas botas pretas como se, de repente, fosse a coisa mais interessante a se fazer antes de começar a caminhar para longe dali, porém, seu braço foi segurado.

– Mas não pense que eu vou desistir de você. – Jake disse com o melhor sorriso que conseguia exibir naquele momento antes de soltar o braço dela. – Feliz Dia dos Namorados. – Falou antes de ir embora dali.

Elsa ficou atônita, ainda segurando com força o cartão de Dia dos Namorados que ele lhe dera, para só então se dirigir a sua Mercedes e retornar ao seu apartamento.

Em frente à cabana, a viatura da polícia estava estacionada próxima à ambulância, para onde os médicos levavam um desacordado Ronald Hernandez. Por sua vez, Mylena foi até onde John Gold estava parado assistindo a tudo.

– Me disseram que você não quebrou nada que ele precise. – Ela falou séria, de braços cruzados, fitando o homem. – É um homem de sorte, Gold.

– Você tem uma definição engraçada de sorte. – Ele respondeu com um sorriso irônico, olhando a maca onde Ronald estava por cima do ombro dela antes que os enfermeiros o colocassem na ambulância e fechassem as portas.

– E você tem uma definição engraçada de justiça. – Ela franziu o cenho, apertando os lábios numa linha fina, tentando entender o que acabara de presenciar naquela construção de madeira. – O que ele fez realmente? – Arqueou uma sobrancelha.

– Ele roubou. – John respondeu com simplicidade.

– Sua reação foi exagerada para um simples roubo. – Mylena respondeu com seriedade, soltando um suspiro cansado. – Você disse algo sobre como ele a machucou. – Repetiu o que havia ouvido lá dentro. – Como ele foi cruel com ela. – Continuou. – Quem é ela? O que ele fez? – Questionou um pouco preocupada. – Se alguém precisa de ajuda, eu posso ajudar.

– Desculpe, mas acho que ouviu errado. – John deu de ombros.

– Você não quer mesmo cooperar? – Ela arqueou uma sobrancelha, começando a ficar mal-humorada.

– Terminamos aqui. – Ele respondeu e começou a caminhar para longe dali, mas ela o segurou.

– Na verdade, não. – Mylena retrucou com um par de algemas na mão livre. – Você está preso. – Declarou e começou a algemá-lo.

– OUAT –

Mesmo separados há muito tempo, Jack nunca deixara de observar Theodora, ainda mais quando soube que ela estava grávida. Ele passava todos os dias vigiando-a, zelando por sua segurança, e isso aconteceu pelos próximos anos. Sempre fora assim.

Mas, no dia em que Jack e Theodora assistiram a multidão furiosa matar suas filhas, colocando uma espada no coração de cada e jogá-las na fogueira, tudo pareceu mudar. Do outro lado da clareira, os dois assistiram tudo, ela com lágrimas nos olhos e ele apenas não chorava porque sua cabeça de abóbora não lhe permitia.

– ISSO É TUDO CULPA SUA! – Ela gritou quando a multidão se distanciou, deixando que as lágrimas caíssem como uma cascata por seus olhos. – VOCÊ SEMPRE DESTRÓI TUDO O QUE EU AMO!

– Theodora. – Ele tentou falar, com ela, mas ela simplesmente não queria.

– ELAS ESTÃO MORTAS, JACK! ESTÃO MORTAS E NUNCA MAIS IRÃO VOLTAR! – A loira não parava de chorar, com seu coração estilhaçado em milhares de pedaços. As únicas pessoas que amava foram tiradas dela.

– Theodora. – Ele mais uma vez tentou se explicar.

– VÁ EMBORA! – Ela gritou. – NUNCA MAIS QUERO TE VER! – Gritou antes de sair correndo dali e, desta vez, ele não a seguiu.

– OUAT –

Na manhã seguinte, Elsa foi informada sobre o ocorrido na noite anterior e, juntamente com Mylena, estava na delegacia, vigiando John Gold, que estava numa das celas, e arrumando alguns arquivos que desapareceram juntamente com Jennifer.

As duas foram interrompidas de suas atividades pela chegada de Pitch e Annabelle, que pararam em frente a elas. O prefeito parecia bastante satisfeito enquanto que a ruiva aparentava estar imensamente feliz.

– Mylena, Assistente Snow, trouxe Annabelle para passar um tempo com vocês. – Ele declarou com as mãos nos ombros da ruiva, que parecia mal conseguir permanecer quieta em seu lugar dada sua animação. – Passeiem com ela, comprem um sorvete. – Sugeriu.

– Você quer ficar sozinho com ele? – Mylena gesticulou para John, que olhava a cena sem nenhum verdadeiro interesse.

– O tempo está passando. – Pitch respondeu sem olhar para ela, mantendo seus olhos negros no prisioneiro atrás das grades.

– Me trás uma casquinha. – John deu de ombros, indicando que elas fossem.

Entreolhando-se, Elsa e Mylena pegaram seus casacos e deixaram a delegacia com a ruiva eufórica. Assim que elas se foram, Pitch começou a caminhar na direção da cela onde Gold estava preso.

– Você queria mesmo ter aquela conversa, não é? – O homem atrás das grades questionou sem nenhum verdadeiro interesse. – Por favor, sente-se. – Apontou para o sofá mais próximo da cela, onde, de má vontade, o Black se sentou. – Quando duas pessoas querem algo que a outra tem, um acordo pode ser feito. – Falou sem qualquer expressão no rosto. – Você trouxe o que eu quero?

– Trouxe. – O Prefeito Black sorriu, aparentemente bem-humorado.

– Então você o envolveu nisso? – John questionou de braços cruzados, tentando passar a imagem de alguém que não se importava com nada à sua volta.

– Eu só sugeri que pessoas fortes pegam aquilo que precisam. – Pitch deu de ombros.

– E disse a ele exatamente o que pegar. – John adicionou.

– Nós nos conhecíamos tão bem, Senhor Gold. – Pitch sorriu com ironia. – Chegamos mesmo a este ponto?

– Aparentemente sim. – John respondeu de cenho franzido e dentes semicerrados. – Você sabe o que eu quero. – Afirmou e o outro assentiu. – Mas o que você quer? – Arqueou uma sobrancelha.

– Eu quero que você responda a uma pergunta. – Pitch respondeu com um sorrisinho satisfeito. – Quero uma resposta simples. – Ficou sério. – Qual é o seu nome?

– É John Gold. – O outro respondeu com um sorriso pequeno de pura ironia.

– Seu nome verdadeiro. – Pitch especificou, começando a se irritar.

– Por todos os momentos nesta terre, este tem sido o meu nome... – John respondeu, mas foi interrompido pelo Prefeito de Storybrooke.

– E quanto aos momentos passados em outros lugares? – Pitch perguntou com um sorriso descarado.

O silêncio se fez presente e John franziu o cenho antes de perguntar:

– Que pergunta é essa?

– Acho que você sabe. – Pitch respondeu do modo mais descarado que conseguia, aparentemente divertindo-se com a situação. – Se quer que eu devolva o que é seu, diga-me o seu nome. – Exigiu, mais uma vez sério, sem qualquer sombra de ironia ou divertimento.

Finalmente, John sorriu.

– Jack O’Lantern. – Ele respondeu e segurou com força as barras da cela. – Agora devolva o que é meu. – Exigiu.

– Quanta hostilidade. – Pitch sorriu enquanto vasculhava a mochila que trouxera consigo.

– Perfeitamente. – John declarou com um sorriso irônico.

– Só por causa disto? – Pitch questionou ao retirar da mochila uma abóbora já velha com feições esculpidas e com uma vela apagada em seu interior. – Uma pequena lembrancinha sentimental? – Estendeu-a para o Gold, que a pegou.

– Obrigado, majestade. – John respondeu com um sorriso de escárnio, segurando a abóbora por entre as grades, uma vez que ela não passaria pelas barras. – Mas agora que estamos sendo honestos, vamos lembrar como as coisas eram. – Sugeriu. – Não deixe estas barras te enganarem, sou eu quem tem poder por aqui. – Sorriu. – Estarei fora daqui muito rápido e nada entre nós irá mudar.

– É o que veremos. – Pitch também sorriu antes de começar a caminhar para fora dali.

– Cuidado. – John pronunciou a palavra com uma lenta precisão, fazendo Pitch se voltar para ele mais uma vez. – Sei seus pontos fracos melhor que ninguém e, por mais que você não queira aparentar, você dá muito valor à sua família. – Sorriu ao ver que o homem ficara subitamente pálido.

– Do que está falando? – O Prefeito se fez de desentendido embora sua expressão o entregasse.

– Eu acho que sabe. – John respondeu com descaso. – Naquele dia, você não usou os poderes da maldição para puni-la, mas para provar a si mesmo que não a amava. – Viu o outro ranger os dentes enquanto falava. – Acho que sei o porquê de você não ter usado novamente. – Sorriu. – Filhos não são tão facilmente esquecidos, principalmente porque você morou com ela por vinte e oito anos.

– De quem está falando? – Pitch perguntou subitamente hostil, embora já soubesse a resposta.

– Ela é a cara da mãe, não é? – John continuou como se o Prefeito não tivesse falado. – Os cabelos castanhos, os olhos azuis. – Citou.

Pitch ia dizer algo, mas o barulho de passos fez com que os dois homens se calassem, notando a chegada de Elsa, acompanhada por Jade. A loira-platina parecia mais pálida do que geralmente era, mas não dava indícios de ter ouvido a conversa dos dois.

– John, sua filha quer te ver. – Elsa disse, gesticulando para Jade.

Pitch então deixou o local e Elsa seguiu seu exemplo, deixando ali apenas John e Jade Gold.

– Oi, pai. – A médica o cumprimentou com as mãos nos bolsos da calça, aproximando-se da cela em que a figura paterna estava presa. – Parece que você seguiu o exemplo da Jennifer. – Comentou sem olhar para o homem, que nada disse em resposta. – O que é isso? – Apontou para a abóbora aparentemente velha nas mãos do homem.

– Algo que eu não vejo há muito tempo. – Gold olhou para ela e, percebendo aquela pessoa incomodada e até um pouco envergonhada, aquela pessoa que definitivamente não era sua filha, tomou uma decisão. – Você poderia levar para a loja por mim? – Pediu.

– Claro. – Jade sorriu e se aproximou, estendendo as mãos e segurando a abóbora.

Quase a largou quando milhares de flashs invadiram sua mente em um único segundo. Quando acabaram, finalmente, ela olhou para o pai e finalmente John pôde identificar sua filha naqueles olhos. Mesmo assim, ela forçou um sorriso, claramente falso, para ele.

– Já vou indo. – Ela disse antes de sair dali com uma pressa exagerada.

John sorriu. Aquela sim era sua filha.

– OUAT –

Preso na cela subterrânea onde fora colocado por Jacky, Jennete e Breu, Jack não tinha muito o que fazer além de ficar sentado entre as paredes rochosas. Nem mesmo sua cabeça restara, afinal ficara com Jacky.

– Ora, se não é meu carcereiro. – O O’Lantern declarou assim que deu pela presença de Breu, que vinha andando sorridente até ele.

– Aproveitando sua cela? – Breu perguntou com escárnio.

– É confortável. – Jack respondeu com descaso, dando de ombros. – Mas isto não muda nada. – Levantou-se e foi até as grades. – Estarei fora daqui bem depressa e veremos qual de nós é o mais poderoso. – Breu tinha certeza de que ele estaria sorrindo.

– Está chateado comigo? – O Rei dos Pesadelos questionou irônico. – O que foi que fiz agora? Foi por que te joguei aqui com a ajuda das suas próprias filhas? – Arqueou uma sobrancelha e seu riso ecoou por entre as paredes rochosas. – Mas saiba que eu não tive nada a ver com aquela tragédia. – Disse e começou a ir embora dali.

– Que tragédia? – Jack questionou sem entender, fazendo com que Breu parasse de andar e se virasse para ele.

– Você não sabe? – O bicho-papão perguntou com escárnio, reaproximando-se da cela. – Ora. – Deu de ombros. – Depois que sua querida esposa voltou para a casa do pai e ele soube que as netas haviam morrido por sua causa, bom, digamos que a reação dele não foi muito boa, principalmente pela associação dela a você. – Riu. – E você sabe como Robin é.

– Vá direto ao ponto! – Jack exclamou impaciente e preocupado. – O que aconteceu com ela?!

– Ele foi cruel com ela. – Breu deu de ombros mais uma vez, fazendo pouco caso da situação. – Por toda... – Pareceu pensar numa palavra. – Desobediência e outras coisas... – Sorriu. – E, principalmente por sua causa... – Parou por um segundo antes de falar. – Ele a matou. – Sorriu.

O silêncio se fez presente por um tempo longo demais.

– Está mentindo. – Jack falou, recusando-se a acreditar.

– Estou? – O Rei dos Pesadelos repetiu, soltando uma gargalhada, começando a caminhar para longe dali. – E tudo porque alguém contou a ele que você era um espírito. – Sorriu, deixando o local.

Naquele momento, Jack não se importou em saber que fora Breu que estragara sua vida, afinal estava concentrado demais em cair no chão de sua cela e gritar seu sofrimento a todos que estivessem perto o bastante para ouvir.


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Notas finais do capítulo

E aí?
O que acharam?
Comentários?
Favoritos?
Recomendações?
Próximo Capítulo: Things Happens.