The New Storybrooke I - The Fairytales are Back escrita por Black


Capítulo 10
By the Other Side of the Door


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, voltei! Sei que não atingi a meta de oito comentários, mas Pim e Belle Frost deixaram comentários grandes, Belle Frost recomendou a Fic (OBRIGADA!), eu assisti ao primeiro episódio da quarta temporada de Once Upon A Time no domingo da estréia às onze da noite e amei o episódio, além de, é claro, já ter assistido à Promo e ao Sneak Peak do próximo episódio. Traduzindo: Não tenho do que reclamar.
Espero que gostem e boa leitura!



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Era noite e, no consultório de psicologia de Simon, estavam o próprio castanho, Elsa, já sem a tipoia e com o braço completamente curado, Marina e Anna sentados às poltronas que havia ali, discutindo sobre a quebra da Maldição.

– Bom, agora somos quatro. – Annabelle disse feliz, passando o olhar pela ruiva de cabelos indomáveis, a loira-platina e o castanho.

– Na verdade, somos três, afinal você não tem sua memória de volta. – Simon deu de ombros, mas parecia pensativo enquanto afagava distraidamente a cabeça de Banguela. – Mas isto não vem ao caso. – Suspirou com cansaço. – A questão é que temos que fazer alguma coisa para quebrar essa Maldição. Não temos tempo a perder. – Disse convicto.

– Nunca vi uma pessoa mais cética que Mylena Black, e eu estou viva há quarenta e nove anos, então se você tiver alguma sugestão, estou escutando. – Elsa respondeu-lhe desanimada, recostando-se ao encosto da poltrona marrom na qual estava sentada.

O silêncio se fez presente no consultório por um curto momento. Ninguém sabia exatamente o que fazer em seguida e precisavam pensar rápido antes que Pitch descobrisse que Simon e Marina sabiam de suas vidas anteriores. Então, a própria ruiva de cabelos indomáveis estalou os dedos, trazendo um sorrisinho satisfeito nos lábios.

– Podíamos fazê-la recuperar a memória, como aconteceu com a gente. – Ela gesticulou para si mesma e para Simon, que a olhava com total atenção e curiosidade ao conseguir assimilar a ideia da ruiva. Marina se virou para Elsa. – Você não tem alguma ideia de objeto com influência o bastante sobre ela para trazer as lembranças dela de volta? – Perguntou esperançosa.

Elsa se pôs a pensar. Elena nunca fora muito apegada a objetos, sempre tratara a maioria das coisas materiais como dispensáveis e triviais, de modo que um objeto não iria servir, mas uma pessoa sim, como acontecera com Marina e Simon. Ela própria não podia ser, afinal estava constantemente próxima a ela e nunca acontecera nada e o mesmo valia para Annabelle. Quem mais sobrara?

– Um objeto não, mas talvez uma pessoa. – Elsa explicou o que pensava ao perceber que os outros três a olhavam curiosos. – Andersen, quem sabe. – Arriscou.

– Pode ser. – Simon concordou pensativo. – Mas talvez também possa ser uma de vocês duas. – Declarou. – Pensem comigo. – Apontou para Marina. – Ela sempre esteve com a mãe, mas só agora suas memórias voltaram. Deve haver alguma coisa em específico que não está completa em relação a vocês, como a amizade entre mãe e filha da Merida e da Rainha Elinor. – Explicou.

– Concordo. – Annabelle assentiu, começando a pensar em que se situação específica poderia contribuir para que a memória de sua irmã mais velha voltasse.

Mais uma vez o silêncio perdurou e desta vez ninguém parecia disposto a quebra-lo. Depois de algum tempo consideravelmente grande, Elsa se levantou de seu lugar e olhou o relógio de parede do consultório.

– Já está tarde. – Declarou. – É melhor irmos e depois resolvemos isso.

Os demais concordaram e foram saindo. Marina e Annabelle foram na Mercedes com Elsa, afinal a loira-platina ainda devia deixar a Black mais nova em casa e a Scott continuava morando com ela e Mylena mesmo depois de ter se resolvido com sua mãe.

Chegando em frente à Mansão Black, Elsa parou o carro e Annabelle saiu, acenando em despedida antes de correr para casa e fechar a porta ao passar.

Boa noite. – Elsa escutou a voz da ruiva vinda do rádio que ganhara de Mylena e sorriu, pegando-o e aproximando-o da boca para falar.

– Boa noite. ­– Disse antes de mais uma vez guardar o rádio e dar partida no carro, seguindo para casa.

Enquanto isso, Annabelle já estava deitada em sua cama e, com um sorriso contente emoldurando os lábios, não tardou em fechar os olhos e adormecer.

– OUAT –

Anna acordou com sua cabeça latejando dolorosamente. Ainda meio tonta, abriu os olhos com certo esforço, encontrando a mãe e o pai fitando-a com olhares preocupados.

– Anna? – O Rei de Arendelle, Anthony, chamou-a, preocupado.

– Oi, pai? – Anna respondeu com o mesmo sorriso animado que seus pais se lembravam, espreguiçando-se.

A pequena ruiva de cinco anos olhou em volta, percebendo estar em seu quarto. O mais estranho de tudo era que ela sequer se lembrava de quando fora para lá.

– Querida? – A Rainha, Annabelle, chamou sua atenção e a pequena a olhou com curiosidade. – Do que se lembra?

Anna franziu o cenho. Não estava entendendo a atitude de seus pais para com ela. Estavam muitos esquisitos.

– Como assim? – A ruiva arqueou uma sobrancelha, confusa.

O Rei e a Rainha se entreolharam, mas não disseram nada. Lentamente os dois se levantaram e começaram a sair do quarto, mas Anna lhes chamou a atenção:

– Ei! – Ela exclamou e os dois se viraram relutantemente para ela. – Onde estão Elena e Elsa? – Questionou com animação. Queria brincar um pouco com as irmãs mais velhas.

Annabelle e Anthony se entreolharam e foi então que Anna percebeu as máscaras de tristeza nos rostos deles. Ambos traziam os olhos vermelhos e levemente inchados, indicando que estiveram chorando antes de ela acordar e os rostos ainda apresentavam uma leve coloração vermelha, também consequência do choro.

A Rainha de Arendelle colocou a mão no ombro do marido e gesticulou levemente com a cabeça para que ele seguisse para fora do quarto. Com um último olhar à esposa e à filha mais nova, Anthony se retirou, fechando a porta ao sair.

Assim que a porta se fechou, Annabelle retornou a passos lentos e aparentemente cansados até a cama da filha, sentando-se ao lado da ruiva hiperativa.

– Anna... – Ela começou a falar, atraindo a atenção da ruiva, mas respirou fundo antes de continuar. – Elsa está no quarto dela. Vai ficar lá por um tempo. – A mulher não olhou diretamente nos olhos da filha sequer uma vez, fitando o teto do quarto como se um mínimo olhar para Anna fosse fazê-la desabar a chorar, e realmente iria.

– E a Elena? – Anna insistiu, afinal a mãe sequer havia mencionado o nome da morena.

– S-sua irmã... – Annabelle parecia estar se forçando a não chorar, a não se mostrar tão triste e abatida na frente da filha, mas foi impossível que as lágrimas fossem contidas. – Sua irmã se foi, Anna. – Disse por fim, não mais engolindo o choro.

– E quando ela volta? – Anna questionou, parecendo confusa com a atitude e a frase da mãe. Não estava entendendo nada.

– Elena... Ela... – A Rainha tentava falar por entre soluços. – Ela não vai voltar, Anna. – Finalmente olhou para a filha, deixando que Anna visse toda a desolação presente em seus olhos e em sua expressão. – Elena morreu.

Como algo que lhe atingira momentaneamente, as lembranças, as que o Rei dos Trolls havia alterado, vieram a sua mente.

Já era noite e todos no castelo se encontravam dormindo em suas camas, exceto uma a pequena Anna, já em seus cinco anos. Ela foi andando sorrateiramente até uma porta branca com flocos de neve e a abriu, entrando no quarto.

Dormindo na única cama do cômodo, estava uma tranquila Elsa de oito anos.

– Elsa. – A mais nova chamou, subindo na cama. – Acorde, acorde, acorde. – Ela pediu.

– Anna, volte a dormir. – Elsa pediu, abrindo minimamente um dos belos olhos azuis.

Anna se deitou por cima da irmã e colocou um dos braços por cima da testa, como em uma cena dramática.

– Eu simplesmente não posso. – Falou. – O céu despertou, por isso estou acordada, por isso temos que brincar. – Disse, abrindo completamente os braços.

– Vá brincar sozinha. – Elsa respondeu, empurrando Anna da cama e fazendo a mais nova cair no chão.

Anna caiu sentada no chão e fez uma cara pensativa, mas que logo em seguida se desfez em uma expressão de compreensão. Feliz com sua ideia, a mais nova subiu novamente na cama da irmã para mais uma tentativa.

– Do you wanna build a snowman? – Perguntou, abrindo um dos olhos de Elsa.

A loira sorriu com entusiasmo, mas logo se lembrou de um pequeno detalhe.

– Perguntou a ela? – Elsa questionou.

Quando viu a mais nova franzir o cenho, logo soube a resposta. Levantou-se, ficando sentada na cama de frente para Anna.

– Eu prometi que nós só faríamos isso se ela desse permissão e nos acompanhasse. – Elsa lembrou.

– Eu sei, mas agora ela está dormindo. – Anna cruzou os braços e fez bico. – Não vai deixar.

– Se realmente quer brincar, temos que ir perguntar. – Elsa sugeriu.

Anna sorriu para a irmã e logo as duas correram até o quarto ao lado do de Elsa. Abriram lentamente a porta e lá encontram uma já adormecida Elena que já tinha dezoito anos. Elsa se aproximou com Anna logo atrás e cutucou o braço da mais velha.

– Elena. – Elsa chamou.

– Vocês deveriam estar dormindo. – Elena falou sem abrir os olhos.

– Mas queremos brincar. – Anna interveio.

– Vão dormir. – A mais velha pediu.

– Nós não estamos cansadas. – Elsa falou.

– Mas eu estou. – Elena respondeu, virando-se de costas para as meninas.

Anna subiu na cama e começou a pular em cima de Elena. Elsa soltou um risinho baixo com a cena e ficou parada observando.

– Por favor, por favor, por favor. – Anna insistiu.

Elena soltou um suspiro e tirou Anna de cima de si, levantando-se em seguida.

– O que eu não faço pelas minhas irmãzinhas? – Ela perguntou, revirando os olhos.

Anna deu alguns pulinhos de alegria e logo em seguida começou a puxar Elsa e Elena para fora do quarto.

– Vamos lá, vamos lá, vamos lá. – Anna apressou enquanto as outras duas faziam sinal para que ela ficasse em silêncio.

As três foram correndo em direção às portas do castelo, abrindo-as com cuidado e fechando-as silenciosamente ao saírem. Correram até os estábulos e montaram juntas no cavalo da mais velha, que logo partiu em direção às Montanhas do Norte.

Lá chegando, a neve cobria todo o chão, como sempre, afinal parecia que naquele lugar a neve nunca acabava, e estava nevando levemente. Havia também uma pequena, mas plana, camada de gelo ali, que facilmente serviria como uma pista de patinação. Elena segurou a ruiva e a guiou patinando pelo gelo com Elsa, que sabia patinar perfeitamente, seguindo as duas.

Logo depois, avistaram um monte de neve e ali as três criaram um boneco de neve. Elsa e Anna deram algumas gargalhadas com a cabeça meio torta que Elena fez. Ao terminar de dar os toques finais, Elsa virou o boneco para Anna, que estava sentada no colo de Elena, que por sua vez estava sentada na neve, e segurou os gravetos que formavam os braços do boneco, mexendo-os.

– Olá, eu sou Olaf. – Elsa falou, fazendo uma voz diferente como se fosse o boneco. – Eu gosto de abraços quentinhos.

– Eu te amo, Olaf. – Anna falou, correndo até onde a irmã estava e abraçando o boneco.

Elena também se aproximou das duas e passou a mão carinhosamente na cabeça de cada uma e sorrindo quando as duas olharam para ela.

– Eu tenho uma ideia. – Elena falou e começou a puxar as duas irmãs e o boneco para a pista de gelo.

A mais velha contou as irmãs a brincadeira e logo Anna estava agarrada ao boneco de neve com Elsa empurrando-a pela pista de patinação enquanto Elena observava as irmãs se divertirem encostada a uma pedra coberta de neve.

Durante a noite, as três fizeram várias coisas. Anna e Elsa brincaram em um escorrego de neve construído por elas mesmas com a neve que havia ali e no impulso, Anna caíra em cima de Elena que estava sentada em um monte de neve à frente do escorrego.

A morena apenas riu enquanto a ruiva começava a pular de um lado para o outro pela montanha e Elsa sentou-se perto dela, observando Anna brincar.

Porém, a ruiva acabara por pisar numa pilha de neve que, por sua vez, desestabilizara todo o resto ali, provocando uma avalanche.

– Elsa, corra! – Elena ordenou enquanto pegava Anna, que havia caído no chão, no colo e começava a correr com a loira para longe dali, fugindo da imensidão de neve que parecia lhes seguir.

Mas não era o suficiente. A avalanche estava diminuindo, mas elas não iriam escapar. A neve iria lhes alcançar e as três sabiam disso. Sendo assim, Elena segurou o peso de Anna apenas com um braço e, com o outro, pegou Elsa, jogando ambas as irmãs para frente, o mais longe que conseguia, para longe do alcance da avalanche.

Anna sentiu-se cair na neve e o barulho aterrorizador que assombrava seus ouvidos pareceu diminuir até parar. A avalanche tinha acabado. Levantou-se, sacudindo a neve de suas roupas, pronta para correr até as irmãs.

Foi então que viu Elsa de joelhos chorando de frente para uma pilha de neve criada pela avalanche. Apenas uma mão inerte apresentava-se fora da pilha.

Elena lhes salvara, mas não conseguira salvar a si própria.

– OUAT –

Na manhã seguinte, Elsa acordou bem disposta e, após fazer sua higiene matinal e se vestir com calças jeans claras, blusa branca de mangas longas e tênis all-star azul-claro, já saindo de seu quarto, encontrando Marina e Mylena na cozinha conversando banalidades.

– Bom dia. – A loira-platina cumprimentou ao se aproximar.

As duas responderam rapidamente e logo a atenção das três se voltou para a televisão ligada, na qual o meteorologista descrevia a forte tempestade de neve que estava se aproximando da cidade.

– Parece que a tempestade vai ser forte. – Mylena comentou enquanto tomava um gole de café sob o olhar reprovador de Elsa, o que só serviu para fazê-la soltar um riso baixo, divertindo-se.

– Sim, então eu acho que tenho que chegar logo à Lanchonete ou não vou poder ir depois. – Marina concordou e, vestida com calças jeans pretas, botas pretas e blusa verde-musgo de mangas dobradas até os cotovelos, vestiu também um casaco preto e pôs um cachecol verde-claro, virando-se para a Black e para a Snow antes de abrir a porta. – Vejo vocês depois. – Disse isso e saiu do apartamento, fechando a porta ao passar.

– Eu também devia ir. – Mylena disse e, vestida com calças jeans escuras, suas inseparáveis botas pretas e blusa vermelha de mangas curtas, jogou um grosso casaco preto por cima dos ombros e pegou um cachecol branco pendurado no cabideiro próximo à porta.

– Eu vou também. – Elsa se aproximou dela e, tal qual a morena, pegou um cachecol e um casaco, por mais que, mesmo não tendo sua magia, o frio não a incomodasse.

– Não. – Mylena negou com um gesto curto da cabeça, sorrindo ao ver a expressão confusa de Elsa. – Anna disse que, quando você acordasse, queria te ver, então passe lá em casa e passe o dia com ela. – Lançou à loira-platina uma piscadela antes de sair rapidamente do apartamento.

Elsa deu de ombros e bufou, não tardando em também deixar o local.

– OUAT –

O tempo foi se passando. Anna ainda não havia superado a morte de Elena e o isolamento de Elsa só parecia tornar tudo ainda pior.

Mas a ruiva não perdia as esperanças. Olhou pelas janelas do castelo e viu a neve caindo sem parar, formando montes do lado de fora. Imediatamente correu até a porta branca com flocos de neve desenhados, que há tempos estava trancada, e bateu três vezes de maneira ritmada.

– Elsa? – Chamou a irmã, na esperança de fazê-la sair. – Do you wanna build a snowman? – Pôs-se a cantar num ritmo que ela mesma inventara com o passar do tempo. – Come on, let’s go and play. I never see you anymore. – Sentou-se no chão. – Come out the door. – Tentou olhar por debaixo da porta, mas não dava para ver muita coisa. – It’s like you’ve gone away. – Levantou-se e pegou três bonecas que trouxera consigo. – We used to be Best buddies. And now we’re not. – Largou os brinquedos no chão. – I wish you would tell me why. – Deitou-se no chão, mas logo se levantou, aproximando-se da porta e tentado ver por entre o buraco da fechadura. – Do you wanna build a snowman? It doesn’t have to be a snowman.

– Vá embora, Anna. – A mesma resposta de sempre vinda lá de dentro. Todos os dias era a mesma coisa, mas a ruiva tinha esperança de que pelo menos o inverno mudasse alguma coisa. Pelo visto, se enganara.

Ok, bye. – Ficou imediatamente cabisbaixa e saiu dali.

Foi andando pelo castelo e se deparou com sua mãe, que a olhou com preocupação ao perceber o seu desanimo.

– Algum problema, querida? – A Rainha questionou, aproximando-se da filha mais nova e abaixando-se de modo que ficasse da sua altura.

– Por que a Elsa não abre a porta para mim? – Anna perguntou, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. – O que eu fiz de errado? – Limpou as lágrimas com as costas da mão, mas elas continuavam a cair. – É por que a morte da Elena foi culpa minha?! – Elevou a voz algumas oitavas, começando a ficar histérica.

– O que?! Não! – Annabelle se apressou em responder a filha, jamais tendo imaginado que ela chegaria a uma conclusão como aquela, ainda mais tendo apenas cinco anos. – Não foi culpa sua. Elena sabia o que estava fazendo. – Embora tentasse passar segurança à ruiva, a própria rainha não tinha certeza de suas palavras. – Não foi sua culpa, querida... – Foi interrompida.

– Se eu não tivesse pulado naqueles montes de neve... – Anna prosseguiu do mesmo modo que antes, deixando a mãe ainda mais aflita.

– Querida, o que aconteceu com vocês podia ter acontecido com qualquer um. – Annabelle interrompeu a filha antes que pudesse ouvi-la se culpar mais uma vez. Já lhe era sofrimento suficiente ver Elsa trancada naquele quarto se martirizando por julgar que Elena morrera por causa dela. Não deixaria Anna seguir o mesmo caminho. – Elena era cuidadosa, mas altruísta. Faria aquilo por qualquer pessoa, mesmo que não fossem vocês. – Tentou forçar um sorriso, mas não obtendo muito sucesso. – Mas, mais do que tudo, ela nunca deixaria você e Elsa se machucarem. Você a conhecia. Não devia se surpreender tanto... – Sua voz foi morrendo até tornar-se inaudível e uma lágrima solitária escorreu por sua face.

– Então por que a Elsa não abre a porta para mim?! – Anna insistiu, já tendo percebido que não adiantaria discutir com a mãe, ainda chorando.

Annabelle suspirou com extremo cansaço e tristeza, colocando uma mão no ombro pequenino de Anna.

– Querida, Elsa só precisa de um tempo. – Era uma meia-verdade, mas ainda assim, uma verdade. – Está sendo difícil para ela. Você sabe como ela e Elena eram unidas. Apenas dê um tempo a ela, tudo bem? – Pediu e Anna assentiu com certa confusão, limpando as lágrimas de seu rosto.

– OUAT –

Depois de alguns poucos minutos, Elsa finalmente chegou à Mansão Black, onde Annabelle a esperava à porta. Assim que viu a Mercedes azul-escuro, a ruiva imediatamente correu até o carro da loira-platina, abrindo a porta e sentando-se no banco do passageiro. Pôs o cinto e a Snow deu partida no carro, saindo dali.

– Mylena disse que você queria me ver. – Elsa declarou sem tirar os olhos da estrada, trazendo nos lábios um sorriso pequeno.

– Sim. – A ruiva concordou, folheando o livro ‘Once Upon A Time’ que havia trazido consigo e que agora estava em seu colo. – Eu descobri uma coisa. – Falou contente.

Elsa a olhou pelo canto do olho, curiosa, mas logo voltou sua atenção à estrada, não tardando em perguntar:

– O que?

– Vamos à Ponte. – Foi o que a ruiva respondeu, trazendo um sorriso travesso nos lábios.

Elsa a olhou mais uma vez pelo canto do olho e, vendo aquele sorriso, soube imediatamente que não adiantaria perguntar, pois Anna não responderia, e tampouco algo de bom sairia do que iriam fazer.

Sem mais opções, dirigiu até a Ponte do Pedágio e estacionou o carro, saindo dele com a ruiva, que logo em seguida começou a andar em direção à floresta que rodeava a ponte.

– Anna, onde está indo? – Elsa perguntou, começando a segui-la.

– Vem comigo. – Annabelle chamou antes de correr floresta adentro com a outra em seu encalço.

Depois de alguns poucos minutos, neve começou a cair insistente do céu, rapidamente se espalhando pelo chão e tornando difícil a visão do que pudesse estar à frente. Aquela foi a primeira vez em que uma nevasca não alegrou Elsa, pois a estava impedindo de ver a ruiva que corria à sua frente.

– Anna, espere! – Chamou, mas a outra pareceu não escutá-la e continuou correndo. – Anna! – Alcançou.

– Temos que achar antes que a neve cubra tudo. – Foi o que a ruiva lhe respondeu, não lhe dando a mínima atenção enquanto andava.

Elsa suspirou com cansaço e preocupação. Precisava tirar a ruiva daquela tempestade de neve e tinha que fazer isso antes que algo pudesse sair errado.

– OUAT –

Anna continuava a bater na porta de Elsa, pedindo-a para entrar, todos os dias e os anos foram se passando daquele modo. A ruiva pedia para entrar e a loira lhe mandava embora.

O inverno novamente chegara e Anna, agora com seus dez anos, decidiu-se por aproveitar a melhor chance que tinha de tirar Elsa daquele quarto. Mais uma vez batera três vezes ritmadas na porta branca com flocos de neve.

– Elsa? – Chamou, não obtendo nenhuma resposta. Mesmo assim, prosseguiu em sua tentativa, começando a cantar como sempre fazia. – Do you wanna build a snowman? – Repetiu a pergunta feita em todo inverno. – Or ride our bikes around the halls? – Prosseguiu, tentando encontrar algo que motivasse a loira a sair. I think some company is overdue. I've started talking to the pictures on the walls! – Não era mentira. Vez ou outra se pegava conversando e dando nomes aos quadros das paredes do castelo. – It gets a little lonely. All these empty rooms. Just watching the hours tick by. Do you wanna build a snowman? – Tentou mais uma vez.

Vá embora, Anna. – Ouviu a mesma resposta de sempre vinda lá de dentro.

Ok, bye. – Despediu-se como nos outros dias e saiu dali.

– OUAT –

– Anna, nós temos que voltar! – Elsa tentava convencê-la enquanto a seguia de perto, uma vez que ficava cada vez mais difícil enxergar a Black mais nova por entre a tempestade de neve que começara a cair.

– Não, nós temos que achar...! – A ruiva tentou argumentar, mas não conseguiu terminar, pois foi interrompida pela loira.

– Annabelle, não é seguro! – Elsa falou em um tom bastante alto e alarmado, chamando a atenção da outra em especial por ter usado o nome completo ao invés do apelido. – Nós temos que sair daqui!

Sem opções, Anna concordou e seguiu Elsa para uma cabana de madeira que havia próxima ao local onde elas estavam. Depois de checar se não havia ninguém, abriram a porta destrancada e entraram.

Elsa não tardou em acender a lareira, uma vez que percebeu que Annabelle estava tremendo de frio, e, assim que o barulho do crepitar do fogo alcançou seus ouvidos, logo retirou o grosso casaco que usava sem necessidade e o estendeu para a ruiva, que o vestiu por cima do casaco que já estava trajando.

– Parece que ficaremos aqui por um tempo. – Elsa declarou enquanto fitava o céu tempestuoso por uma das janelas da cabana.

– É. – A ruiva concordou enquanto limpava a neve que caíra em seu livro e então o abria, fitando as páginas amareladas com um interesse vago, querendo apenas passar o tempo. – A gente podia conversar. – Propôs, em momento algum tirando os olhos das palavras escritas no livro.

– Claro, mas sobre o que? – A loira-platina se sentou numa das duas poltronas que havia em frente à lareira e Annabelle se sentou na outra.

– Depois que eu li a sua história... – Annabelle começou a falar, mas ao receber um olhar estranho da outra, não tardou em se corrigir. – A nossa história... Eu... – Respirou fundo antes de prosseguir. – Tem uma coisa que eu queria saber. – Confessou.

– O que? – Elsa a olhou com curiosidade e receio, temendo que ela fizesse alguma pergunta que não iria responder.

Annabelle não disse nada por um tempo que Elsa julgara longo e torturante demais. A julgar pelo olhar nervoso e frenético percorrendo toda a cabana, Anna estava claramente em busca de palavras para verbalizar sua curiosidade e a loira-platina apenas se perguntava o que a deixaria tão nervosa.

– No livro... – A ruiva finalmente começou a falar, deixando que Elsa soltasse o ar que até então não percebera estar prendendo. – Dizia que dos... – Respirou fundo. – Dos meus cinco até os meus dezoito anos, você nunca saiu daquele quarto, nem mesmo uma vez. – Suspirou e olhou a outra pelo canto do olho, percebendo que ela ficara cabisbaixa. – Eu sei que você passou muito tempo lá, mas... – Parou por um segundo antes de prosseguir. – Mas nem mesmo uma vez você foi me ver? – Finalmente perguntou o que queria saber.

Elsa ficou completamente calada com o olhar vidrado no chão de madeira, sendo aquela a vez de Anna ficar apreensiva com o que a outra poderia lhe dizer.

– Passei treze anos trancada naquele quarto e não foram muitas as vezes em que saí. – A loira-platina finalmente começou a falar. – Em todas, você estava dormindo ou fazendo algo que a impedisse de me ver. – Suspirou com cansaço. – Foi uma medida que eu adotei, mas que papai e mamãe nunca gostaram, pois por mais que soubessem dos riscos que meus poderes, quando descontrolados, podiam representar, sempre acharam que as luvas eram o suficiente e que não faria mal a você me ver algumas vezes. – Enrolou uma mecha rebelde de seu cabelo loiro no dedo indicador. – Saí do quarto para me despedir deles quando viajaram e Jack, algumas vezes, me arrastava para a Montanha do Norte para brincar na neve. – Sorriu com a lembrança boa que se projetava em meio a tantas ruins.

– Por isso escolheu a Montanha do Norte quando fugiu de Arendelle na sua coroação? – Annabelle perguntou, tendo ficado incomumente quieta e atenta ao que a outra dizia até então.

– Sim. – Elsa concordou com um gesto afirmativo e curto da cabeça. – Era um lugar que, apesar de todas as más lembranças que eu tinha, conseguia me fazer, pelo menos, um pouco feliz. – Desabafou.

Anna assentiu tristonha. A loira-platina, até então, não havia mencionado seu nome, o que a fazia crer, mesmo não tendo suas memórias, que ela não era um motivo forte o bastante para que Elsa se arriscasse a sair para vê-la, mas precisava ter certeza, então perguntou:

– Mas você, alguma vez, saiu para me ver?

Elsa ficou calada por um tempo, sem saber o que dizer. Seus olhos azul-gelo conflituosos transmitiam à ruiva que ela estava decidindo o que fazer, o que lhe responder.

Por fim, a loira-platina finalmente falou, rápida e direta:

– Não.

Annabelle concordou mais uma vez, virando o rosto um pouco para que Elsa não pudesse ver as lágrimas que se projetaram em seus olhos com a simples e curta palavrinha. Ela nunca fora um motivo forte o suficiente para que Elsa se arriscasse a sair de seu quarto, agora tinha certeza.

Tornou a olhar a loira-platina mais uma vez apenas quando a escutou arfar e um grito abafado de dor ecoar por entre as paredes da cabana. Ao virar-se para Elsa, percebeu-a encolhida segurando o braço direito, trazendo uma expressão agoniada no belo rosto.

– Elsa, o que aconteceu? – Annabelle rapidamente limpou as lágrimas e se levantou, não tardando a correr até a onde a loira estava.

Ao se aproximar, tentou dobrar um pouco a manga direita da blusa da loira para ver o que podia estar causando dor a ela, mas foi repelida pela mesma, que se encolheu em seu lugar.

– Eu estou bem. – Elsa tentou parecer segura, mas Annabelle via que claramente ela estava mentindo.

– Elsa, você não... – Tentou argumentar, mas foi interrompida pela loira logo em seguida:

– Está ouvindo isso? – Foi o que a Assistente de Xerife perguntou.

Anna apurou o ouvido, mas não conseguia ouvir um único som vindo do lado de fora, não entendendo o que a outra queria dizer com a pergunta.

– A tempestade acabou. – Elsa explicou ao perceber a confusão presente nos olhos azul-água da ruiva, não tardando em se levantar e correr para fora.

Porém, para Annabelle, aquela era uma clara tentativa de não contar o que a afligia e não deixaria isso acontecer. Descobriria o que estava machucando Elsa, quer ela quisesse contar ou não.

– Elsa! – Deste modo, saiu atrás da loira, no intuito de saber o que estava acontecendo com ela.

– OUAT –

Mais tempo se passava. Anna já estava com seus quinze anos e nunca, apesar de ter tentado todos os dias, conseguiu tirar Elsa daquele quarto.

Já havia feito sua tentativa do dia e, com seus pais preparando-se para uma viagem que fariam em breve, não havia realmente muita coisa que ela tivesse para fazer naquele imenso castelo.

Começou a andar pelos corredores, olhando em volta para todas as portas que passava. Já havia estado em todos aqueles quarto e não havia nada de especial neles. Bufou com tédio.

Foi então que, próxima à porta do quarto de Elsa, parou para olhar a porta ao lado da porta da loira. Era completamente branca, sem nenhum enfeite ou coisa do tipo. Sempre evitara olhar para ela, uma vez que lhe trazia lembranças que ela preferia não ter no momento.

Mesmo assim, parecia a única coisa que lhe restara a fazer, então se aproximou da porta e girou a maçaneta hesitante, como se esperasse que estivesse trancada. Mas, diferentemente da do quarto de Elsa, não estava. Sendo assim, entrou no quarto, fechando a porta atrás de si para evitar ser pega.

O quarto parecia exatamente do mesmo jeito a qual Elena havia deixado. A cama claramente arrumada de forma apressada, uma vez que Elsa e Anna reclamavam a cada segundo que ela demorava em arrumá-la naquela noite. Tudo estava empoeirado e intocado. Ninguém ia ali desde antes da morte da morena e a ruiva até entendia. Também não lhe agradava estar ali, mas foi lá que ela percebeu o quanto sentia necessidade de ter alguma coisa que lembrasse Elena. De ter alguma coisa que lembrasse que a irmã maravilhosa que lhe salvara a vida era uma pessoa real.

Havia apenas uma coisa que Anna não se lembrava de ter visto na fatídica noite. Um par de cartas que estavam em cima da cama. O papel já amarelado e empoeirado indicava que havia anos que alguém as havia deixado ali.

– Estranho. – Anna murmurou enquanto seus pés a guiavam sem que ela percebesse para perto da cama.

As cartas estavam lacradas e uma delas tinha seu nome escrito na frente, enquanto que a outra tinha o nome de Elsa. Pegou aquela que estava endereçada a ela e abriu o envelope rapidamente, sendo tomada pela curiosidade que era uma característica tão presente da Princesa de Arendelle. Reconheceu a caligrafia de Elena ali e pôs-se a ler ainda com mais vontade.

Anna...

Não consigo nem pensar em algo para te escrever aqui. Não há realmente muito mais coisas que eu queira lhe falar além das que você já sabe ou das que algum dia eu já lhe disse.

Suponho que eu não esteja aí com você quando estiver lendo essa carta. Quanto tempo haverá se passado eu não sei, mas espero que eu não te faça tanta falta.

Enfim, há certas coisas que eu nunca lhe disse, mas acho que deveria, mesmo que talvez você já saiba. Não sei se já cheguei a lhe dizer o quanto você é maravilhosa e o quanto sempre tornou meus dias mais felizes. Honestamente, até tinha certo ciúmes quando você ficava mais tempo com a Elsa do que comigo, mas acho que é coisa de irmã. Afinal, como eu poderia gostar de repartir a atenção da melhor companhia do mundo com outra pessoa? Não que alguém esperasse que eu fizesse isso com facilidade, por mais que a Elsa fosse... Bem, a Elsa.

Anna, você sempre foi muito importante para mim. Sei que lhe chateava que eu passasse mais tempo com a Elsa, mas não sei se você chegaria a entender se eu lhe contasse. Quantos anos tem agora, afinal?

Só espero que você não se sinta mal por mim. Justo você que sempre me fez sentir tão bem e tão feliz. Aceite os meus votos de que você seja feliz, Anna, mas não pense nessa carta como uma despedida. Afinal, talvez um dia, você ainda me veja de novo. Quando, onde e como eu não sei, mas você ainda verá. Eu acredito nisso, por que não você? Sei que você sabe: Acreditar é exatamente o que torna algo verdade. Tenha isso em mente quando pensar em mim.

Não é como se uma carta fosse conseguir passar a você tudo o que eu pretendia, mas espero que tenha sido o suficiente para te fazer entender o quanto é importante para mim.

Cuide da Elsa. Sei que posso contar com você para isso.

Elena

Mesmo antes de terminar de ler, os olhos de Anna já estavam cheios d’água, mas assim que terminou, o choro tomou conta da ruiva completamente. Todos esses anos aquela carta estivera ali e ela nunca soube. Era relativamente curta, mas ela não precisava de mais do que aquilo para se convencer do tipo de pessoa que Elena era.

Abriu um sorriso tristonho, abraçando a carta e limpando as lágrimas com as costas da mão. Olhou novamente para a cama e a carta endereçada a Elsa permanecia intocada. Era tentador lê-la, mas não iria trair a confiança de ambas as irmãs daquele modo.

– Anna, já estamos partindo! – Ouviu a voz de seu pai vinda dos corredores do castelo. Provavelmente ele estivera lhe procurando.

Dobrou cuidadosamente sua carta e pegou também a de Elsa. Esperou até que não ouvisse mais nenhum barulho do lado de fora antes de sair, afinal não queria que seus pais descobrissem onde ela estivera. Sabia o quanto a lembrança de Elena os fazia ficarem tristes.

Escondeu as cartas atrás das costas ao ver os dois terminando de arrumar as malas no quarto deles com a porta aberta, que dava visão direta para o corredor onde ela estava. Correu imediatamente para lá, mas parou à frente da porta do quarto de Elsa. Até pensou em bater, mas não queria ser enxotada mais de uma vez no dia, então apenas se abaixou e passou a carta por debaixo da porta. Com sorte, a loira pelo menos iria lê-la.

Então, Anna correu para se despedir de seus pais, abraçando-os assim que chegou perto deles, escondendo a carta para que eles não vissem.

– Vejo vocês em duas semanas. – A ruiva disse e os dois assentiram com sorrisos nos rostos.

– OUAT –

– Elsa, mas o que...? – Annabelle tentou perguntar ao finalmente se aproximar da loira, que agora massageada o braço dolorido enquanto fitava a neve que a tempestade deixara espalhada pelo chão.

– Se antes estava difícil, agora tenho certeza de que não vamos conseguir encontrar o que quer que seja que você está procurando. – Elsa a interrompeu, varrendo o chão com o olhar, procurando algo na qual prender sua atenção.

– A questão não é essa. – Annabelle negou, alternando olhares entre o rosto contorcido de dor de Elsa e o braço que ela mantinha junto ao corpo. – O que houve com seu braço? – Perguntou.

– Nada de importante. – Elsa sorriu sem graça. – Jennifer atirou em mim, lembra?

– Mas foi no outro braço. – Anna estava decidida a não se deixar enganar. Tinha que descobrir o que afligia a outra e faria isso sendo ou não a vontade dela.

– Anna, eu estou bem. – A loira garantiu com o sorriso mais convincente que conseguia expressar. – Agora vamos voltar, eu quero ficar sozinha um pouco. – Declarou.

– Você tem uma irmã. – Annabelle gesticulou para si mesma, fingindo-se de ofendida. – Nunca ficará sozinha. Até mesmo quando eu estiver longe, meu espírito estará com você. – Brincou, fazendo a outra rir.

– Isso é bom. – Elsa disse e as duas começaram a andar de volta para a Ponte do Pedágio, onde estava estacionado o carro da loira-platina. – Mas pode me dizer o que estávamos procurando? – Perguntou.

– Algo que achei que pudesse nos ajudar a saber o que fazer quanto à Mylena. – Annabelle respondeu, embora ainda olhasse para o braço que Elsa mantinha junto ao corpo.

– O que seria? – A loira-platina insistiu.

Anna então bufou e pegou seu livro de Contos de Fadas, entregando-o a Elsa, que o abriu na página marcada.

– OUAT –

Os dias iam se passando desde que seus pais viajaram. Anna estava deitada em sua cama lendo a carta de Elena pelo que lhe parecia ser a milésima vez quando ouviu batidas na porta.

Imediatamente guardou a carta debaixo do travesseiro e foi até a porta, abrindo-a e encontrando Gerda, a governanta do castelo.

– Oi, Gerda...? – Anna ia falar algo animado para a mulher, mas ao perceber que ela não estava bem, calou-se. – Algum problema?

Gerda ficou calada por um momento, soluçando e chorando sem parar, trazendo um péssimo pressentimento a Anna.

– Gerda, o que foi? – Insistiu ao ver que a mulher parecia não estar conseguindo proferir uma única frase.

– S-seus... Pais... – Ela gaguejava, mas foi o suficiente para a ruiva entender e saber o que significava.

O enterro foi realizado e Anna teve suas esperanças de que Elsa aparecesse completamente destruídas ao não notar um sinal sequer da loira por ali. Isso era ainda mais evidenciado quando as pessoas lhe perguntavam sobre onde Elsa estava e Anna mentia dizendo que estava doente e não pudera ir.

Retornou ao castelo logo após o enterro e foi diretamente até a porta do quarto da irmã, que, como sempre, estava trancada. Anna já não sabia mais o porquê de ainda nutrir esperanças de que Elsa abriria.

– Elsa? – Chamou-a mais uma vez, como já fizera incontáveis vezes. – Please, I know you’re in there. – Sua canção não mais era alegre e animada, mas triste e um tanto quanto melancólica. – People are asking where you’ve been. They say “have courage” and I’me trying to. I’m right out here for you. Just let me in. – Virou-se de costas para a porta e escorregou por ela até estar sentada, encolhida no chão. – We only have each other. It’s Just you and me. What are we gonna do? – Fechou os olhos e apoiou a cabeça na porta. – Do you wanna build a snowman?

Mais uma vez, mesmo com a morte de seus pais, Elsa não abrira a porta, tampouco desta vez proferira alguma palavra para manda-la embora. Depois do que lhe pareceram horas, Anna finalmente reuniu forças para se levantar e saiu caminhando até seu quarto.

– OUAT –

Elsa leu rapidamente as palavrinhas escritas no livro, reconhecendo de forma vaga a descrição do dia em que Anna encontrou as cartas que Elena deixara para as, na época, Princesas de Arendelle.

– O livro fala das cartas, mas não descreve os que elas diziam. – Annabelle explicou quando Elsa a olhou com confusão. – Achei que talvez, se achasse alguma delas, poderia encontrar algo para fazê-la recuperar a memória.

– E como pretendia achar um par de cartas na floresta? – Elsa perguntou com um sorriso divertido.

Anna se aproximou dela e passou algumas páginas do livro até chegar quase ao final deste, parando numa que tinha uma imagem da ruiva, em suas roupas de princesa, acompanhada de Elsa e Elena, abaixada entregando um baú pequeno ao Rei dos Trolls, Pabbie.

– Parece que eu entreguei as cartas a Pabbie, para que ele guardasse. – Annabelle declarou, percebendo pela expressão de Elsa que ela começava a se lembrar do ocorrido tantos anos antes.

– Sim. – Elsa concordou com um gesto curto da cabeça. – Você cismou que não queria perder, que elas eram uma lembrança importante e que, talvez, um dia nós até viéssemos a precisar. – Riu baixo. – Você era sentimental. – Revirou os olhos.

– Ei! – Annabelle estapeou de leve o braço não machucado de Elsa, que pareceu rir ainda mais com isso.

– Por acaso, estou mentindo? – A loira-platina alfinetou, sorridente.

Anna bufou com uma irritação fingida, mas logo começou a rir incontrolavelmente, com Elsa rindo também, embora de forma mais moderada e educada.

– Enfim... – Annabelle finalmente falou ao conseguir parar de rir. – Só achei que poderia encontrar na Casa dos Trolls. – Explicou e deixou os ombros caírem, desanimada.

– Fique tranquila. – Elsa tentou confortá-la, colocando as mãos em seus ombros. – Quando a neve derreter, nós iremos procurar. – Garantiu.

Anna assentiu e recomeçou a caminhar de volta para o carro de Elsa, enquanto que a loira-platina apenas a seguiu com o olhar, repensando a decisão que tomara mais cedo. Massageou as têmporas com a ponta dos dedos e logo chamou:

– Anna!

A ruiva então se virou para ela, curiosa.

– Uma vez. – Foi o que Elsa disse antes de rapidamente passar por ela e entrar no carro, deixando a ruiva confusa do lado de fora.

Annabelle, depois de pensar por um tempo que ela própria julgara longo demais, finalmente entendeu o que Elsa estava dizendo, a que pergunta ela estava respondendo: “Mas você, alguma vez, saiu para me ver?”.

– OUAT –

Elsa estava deitada encolhida em sua cama e tudo à sua volta estava congelado e coberto de neve. Já não tinha mais lágrimas para chorar. O rosto estava vermelho e lágrimas secas tinham lugar. Não se mexia até que Jack lhe empurrou o envelope que Anna passara por baixo da porta outro dia.

– Vamos. Leia. – O albino pediu quase em súplica, que era algo incomum para ele, uma vez que Jack Frost era o que se podia chamar de garotão que jamais ficava triste ou abalado, muito menos submisso.

Ainda deitada encolhida na cama, Elsa pegou o envelope da mão dele e o abriu com certa relutância, lutando para não congelá-lo.

Elsa...

Acho que você deve estar realmente surpresa com a carta, afinal não é bem o tipo de coisa que usaríamos para conversar, mas eu não tenho outra escolha. Eu não lhe escreveria e te lembraria da minha ausência se não fosse realmente importante.

Há algo sobre mim que eu gostaria que você soubesse. Acho que, de certo modo, eu permaneci “congelada” na vida que eu escolhi. Sei que pode parecer loucura para você, mas tudo o que aconteceu foi resultado das escolhas que eu fiz. O passado está muito atrás de mim, Elsa, e eu, honestamente, gostaria tanto de poder enterrá-lo na neve, mas simplesmente não é possível. Mesmo não tendo sido a melhor opção, era a única que eu tinha. Você provavelmente não sabe do que eu estou falando, mas apenas saiba que se eu não tivesse feito o que fiz provavelmente você não estaria viva para ler essa carta agora. E saber que você está viva e bem compensa tudo.

Eu jamais quis abandoná-la, Elsa. Nunca quis isso. Eu sempre prometi que estaria com você, que a ajudaria a controlar seus poderes. No final das contas, tudo o que consegui fazer foi colocar o Jack no meu lugar. Sinto muito por isso. Agradeça a ele por mim, a propósito.

Só peço que se cuide e não tenha medo. Todos têm desafios na vida. É comum. Apenas não deixe que o medo a domine.

Tenho apenas mais uma coisa a dizer. Lembra-se de quando você me disse que acreditar em algo não o torna verdade? Não me lembro se cheguei a respondê-la, por via das dúvidas, o farei agora. Acreditar em algo é exatamente o que o torna verdade. Então acredite que nos veremos de novo e antes que perceba, eu estarei te importunando, afinal, onde você estiver, eu vou te encontrar. Sempre. Não se esqueceu, não é? The cold never bothered me anyway.

Sinto muito por tudo. Por tudo o que eu nunca te disse e por todo o tempo que não passarei com você. Mas, mesmo que me doa saber que não a verei por um longo tempo, acho que valeu à pena. Quando eu era pequena, eu era muito diferente de hoje. As pessoas costumavam dizer que eu não tinha sentimentos ou qualquer coisa do gênero e eu até concordo com elas. Foi você quem mudou isso. E, Elsa, por você, pela pessoa que derreteu meu coração congelado, tudo sempre valerá à pena.

Cuide da Anna. Não a deixe sozinha, como tem tendência a fazer.

PS.: Frost, cuide bem da minha irmã.

Elsa terminou de ler atônita. Queria chorar, mas não sabia se ainda tinha lágrimas para isso. Jack havia lido por cima do ombro dela e a abraçou assim que ela se levantou da cama.

Para a surpresa do albino, a loira se dirigiu à porta assim que ele a soltou.

– Onde está indo? – Ele perguntou com curiosidade misturada a animação, afinal não eram muitos os momentos em que Elsa saía daquele quarto.

– Eu já vou voltar. – A animação dele diminuiu consideravelmente, mas ela não percebeu. – Tenho algo a resolver. Apenas me espere aqui.

Ele assentiu e ela destrancou a porta e a abriu, saindo do quarto logo em seguida. A loira foi andando pelos corredores vazios, uma vez que já era meia-noite e todos provavelmente estariam dormindo, e fez um caminho que nunca esqueceu.

O caminho para o quarto de Anna.

Bateu três vezes na porta, no mesmo ritmo com que a ruiva costumava bater na sua, e suspirou aliviada quando alguns minutos se passaram e ninguém a abriu. A porta de Anna não estava trancada, então a loira entrou no quarto, observando a ruiva adormecida ainda usando as roupas do velório e com lágrimas secas emoldurando o rosto vermelho pelo choro. Aproximou-se hesitante dela.

– Anna? – Chamou uma vez para ter certeza de que ela estava dormindo e quando obteve a confirmação que sim, ajoelhou-se ao lado da cama da irmã, segurando levemente sua mão. – Of course I’m always in there. – Pôs-se a cantar no mesmo ritmo em que a ruiva cantara para ela mais cedo naquele mesmo dia. – So don’t come ask where I’ve been. You say I’m courage, but I’m not like you. There’s nothing I can do. Can’t let you in. ­– Suspirou com tristeza e engoliu o choro que ameaçava lhe dominar. – We haven’t seen each other and it’s because of me. Just know I miss you too. ­– Parou por um segundo e uma lágrima escorreu por seu rosto. – And Yes, I wanna build a snowman. – Colocou a mão livre no rosto da ruiva. – É claro que eu quero brincar com você, Anna. É só que eu não posso. Eu não quero te machucar. Só queria que você soubesse o quanto eu te amo, mas provavelmente seria mais difícil para você. – Sorriu, mas não um sorriso alegre, um sorriso torturado e agoniado. – Eu te amo. – Disse isso e beijou a testa da ruiva adormecida.

Assim, levantou-se e caminhou para fora do quarto, retornando ao seu próprio. Retornando ao seu isolamento sem que a ruiva jamais soubesse que um dia ela havia ido lá.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
A carta que a Elena deixou para Elsa tem vários spoilers sobre os capítulos futuros, então leiam com atenção. Em segundo lugar, o que acham que está acontecendo com a Elsa?
Para vocês não perderem tempo procurando a tradução dessa música que a Elsa cantou no final, aqui está:
"Anna...
É claro que eu sempre estou lá
Então não venha perguntar onde eu estive
Você diz que eu tenho coragem, mas eu não sou como você
Não há nada que eu possa fazer
Não posso deixá-la entrar
Nós não temos nos visto e é por minha causa
Só sei que eu também sinto sua falta
E sim, eu quero construir um boneco de neve"
Próximo Capítulo: Locked Into the Woods.