Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 19
Uma grande prova de amor


Notas iniciais do capítulo

O último capítulo.
Será que o menino Regis vai mesmo viver feliz junto aos bilhões de susterianos que o amam como a um verdadeiro filho?
Conto com um breve comentário sobre este final.



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Já se passara mais de vinte dias que retornara à Suster, quando, junto com Luecy, resolvi ir à sala de computação, para conversar com o senhor Frene. Porém, encontramos a sala vazia.

— Luecy, por acaso você sabe mexer com esta máquina? — Perguntei ao robô.

— Não há coisa que eu não saiba fazer! — Insinuou ele.

— Duvido! Você sabe ligar esta máquina com a Terra?

— Isto é grupo!

— Grupo uma ova! Eu só não acredito!

— Quer provas? — Desafiou-me ele.

— Só acredito vendo!

Provando que ele realmente sabia lidar com aquela máquina, ligou-a, me mostrado a Terra, ao vivo e provando que era mesmo inteligente (ou intelirobô) de verdade, mostrou-me minha casa:

Não foi em pior hora. Mamãe estava sentada em minha cama, segurando uma moldura de meus oito anos. Na foto, eu sorria e na realidade, mamãe chorava em silêncio, talvez de dor e saudade. De repente, entrou minha irmãzi-nha Letícia de oito anos e ao ver mamãe chorar, perguntou:

— Por que você está chorando?

— Não estou chorando, filhinha! — Negou ela. — Só estou resfriada!

— Ta chorando sim! Ainda é por causa do Regis! Não é verdade?

— É sim, filhinha! Acho que sim!

— Onde ele está? Por que ele abandonou a gente?

— Ele não abandonou a gente!

— É verdade que ele foi morar com Deus?

— Quem disse isso a você?

— Foi papai!

Ela se calou por alguns segundos, depois, chorando mais, desconsolada, abraçou minha irmãzinha, dizendo:

— É filhinha! Acho que é verdade!

— Não é verdade mamãe! — Neguei chorando, na sala onde estava, a trilhões de quilômetros de distância dela. — Eu estou vivo!

Naquele instante entrou o senhor Frene, que gritou furioso:

— Quem lhe deu ordens pra mexer aí?

Virei-me a ele chorando e gritei:

— Quero voltar pra casa!

— Calma! — Pediu ele. — Vamos conversar!

— Não quero conversar! — Continuei chorando. — Quero voltar pra minha mãe!

— Mamãe! Ele quer mamar! — Caçoou Luecy.

O senhor Frene desligou o computador e se aproximou dizendo:

— Sente-se um pouco, garotão! Vamos conversar como dois amigos!

— Não quero conversar! Isso em nada me ajuda! — Gritei chorando.

— Ouça Regis: eu só quero o seu bem! Ainda por estes dias, vou te levar à passeio a Merlin e Orington; as cidades mais avançadas do planeta.

— Mais avançadas do Universo! — Emendou o robô.

— Não quero conhecer nada! Só quero voltar pra casa!

— Deixe de ser ingrato garoto!

— Que gratidão o senhor quer de mim?

— Nós amamos você!

— Mentira! — Gritei. — Quem me ama não me faz sofrer!

Ao me ouvir gritar assim, ele se calou por alguns segundos, se aproximou mais e me pediu:

— Regis, meu filho! Olhe pra mim.

Olhei. Porem neguei:

— Não sou seu filho! O senhor sabe muito bem!

— Mas eu o amo, como se fosse! E você sabe disso!

— Senhor Frene, minha mãe pensa que eu morri e está sofrendo muito por isso. Se o senhor realmente me ama como a um filho, então deve saber que ela e papai me amam como a um filho também e sofrem muito com minha ausência e o mais importante, eles têm todo o direito sobre mim. O mais importante ainda, é que eu os amo também!

— E pelo que estou fazendo, me odeia?

— Não! — Neguei sinceramente. — Eu o amo também! Jamais quero odiar o senhor e nem outra pessoa qualquer, aqui de Suster.

— Robô não odeia ninguém! — Negou Luecy.

— Pense bem Regis: você sofre com a ausência de seus pais e eles com a sua. Se por acaso você for embora, quem irá sofrer serei eu e todos daqui.

— Por que o senhor não cria uma forma, de na Terra eu falar com o senhor e o senhor comigo? Falarmos e nos vermos!

— Excelente idéia! — Concordou o robô.

— Você é duro de roer! — Riu o senhor Frene.

— Se poe no meu lugar... Só um pouquinho... Procure sentir o que estou sentindo! Sinto muitas dores! O coração está sempre apertado! Chorando mesmo!

— Regis... Eu... — Ele também tinha lágrimas.

— Por favor... — Pedi carente, com o rosto molhado.

— Está bem! Vou lhe dar uma grande prova de amor! — Disse ele muito triste. — Vou mandá-lo de volta pra sua casa!

— Verdade! — Exclamei contente, porem ainda com lágrimas.

— Infelizmente!

— Ficou todo mundo maluco! — Insinuou o robô.

— Lembre-se meu querido filhinho: na Terra você terá que trabalhar, estará exposto a sofrimentos, angústias, vai se envelhecer e o que é pior, um dia vai morrer. São coisas que aqui jamais aconteceria.

— Não se preocupe com isto! — Pedi.

— Seu corpo bonito de criança, um dia ficará velho, enrugado e feio. — Afirmou Luecy, novamente em plágio.

— Não sou burro Luecy! — Neguei com o peito aliviado. — Sei o que vai acontecer comigo!

— Pode se preparar. — Ordenou o senhor Frene. — Tony e Rud irão levá-lo de volta à sua Terra!

— Quando? — Perguntei animado.

— O mais depressa possível!

Saí da sala de computação, rindo de tanta felicidade e segui direto para meu quarto; tirei aquelas roupas esquisitas, porem confortáveis e o mais rápido que pude, após muito tempo, tornei a vestir meu uniforme escolar. Quando fui me retirar, entrou Luecy, dizendo:

— Pensei que éramos amigos!

— Mas eu sou seu amigo! Podes crer!

— Amigo traidor!

— Não sou traidor! Olhe, tenho uma idéia: por que você não vem comigo pra Terra? Tenho certeza de que o senhor Frene autoriza!

— Jamais abandonarei meu mundo!

— Muito bem! — Aleguei. — Você não quer abandonar seu mundo e me julga traidor, por não querer abandonar o meu! Eu é que pergunto: Que amigo é você?

— Desta vez você venceu! — Aceitou ele. — Adeus!

E se retirou.

Fiquei ali parado por alguns minutos e então, me retirei também, seguindo até a sala de computação, onde entrei sem chamar e sem nenhuma surpresa, encontrei o senhor Frene, sentado, assistindo um tape de minha chegada à Suster, seu mundo. Ele estava chorando.

A me ver chegar, desligou a máquina, se levantou, limpou os olhos e me perguntou:

— Já está pronto?

— Sim senhor! — Afirmei sério.

— O Tony e o Rud, já estão se preparando! Basta você esperar umas duas horas e eles o levarão de volta.

Resolvi me retirar, mas na porta, parei e chamei:

— Senhor Frene...

— O que é? — Perguntou-me ele secamente.

— Obrigado!

Como ele nada respondeu, completei:

— De coração...

Retirei-me, indo de encontro a Tony, que sem fazer perguntas, disse que me levaria pra casa, dentro de poucas horas.

Estava muito ansioso, feliz e confesso, um pouco triste também. Embora sentisse muita falta e precisasse voltar para meu mundo, existia ali um mundo que me amava de todo coração e alma, o qual, com certeza, me traria muita saudade.

Após quase quatro horas de espera, fui chamado e já, na entrada do grande disco voador, Luecy me disse:

— Desculpe as brigas. Jamais o esquecerei!

Abracei aquele amigo de metal, sabendo que ele seria reprogramado e acabaria sim, me esquecendo; então me dirigi ao senhor Frene, que estava muito triste. Percebendo que ele não queria muita conversa, lhe pedi:

— Posso lhe dizer... pelo menos tchau?

— Não! — Negou ele.

Baixei a cabeça e segui lentamente para a nave, mas ele se voltou e me abraçou chorando. Depois me disse:

— Aqui também existem dores! Esta é uma delas!

— O senhor poderá me ver quando quiser! É só ligar o computador!

— Lembre-se garotão: Se algum dia, você desistir de lá, basta dizer que quer voltar, que eu mandarei te buscar novamente. Seja o dia que for! Mesmo que neste dia, você já tenha cinquenta anos de idade! Ou setenta!

— Nunca irei me esquecer do senhor!

— Daqui estarei acompanhando sua vida, em todos os momentos que ela existir!

— Fico feliz em saber, que o senhor continuará gostando de mim! Mesmo eu querendo ir embora!

— Eu te amo! E tenho orgulho de seu jeito firme de querer as coisas! Não te condeno nunca!

— Se nossos mundos fosse mais perto, eu até que poderia vir visitar vocês.

— Não é perto! Só o milagre da tecnologia, me fez poder ir até você. Mesmo assim, foi muito complicado.

— O senhor e toda sua tec... tecno...

— Tecnologia! — Ajudou-me com a palavra difícil.

— O senhor poderia criar a máquina de transporte e assim ficaria mais fácil de eu vir.

— Teletransporte, você quer dizer? Escaneamento quântico!

— Não sei o nome! — Dei de ombros. — São aquelas máquinas usadas em filmes de guerra no espaço.

— Aí eu desintegraria você em bilhões de partículas atômicas em meu mundo e o reconstruiria em seu quarto, lá na Terra?

— Seria legal! Eu poderia visitar o senhor e seu mundo.

— E se alguns milhares dessas partículas se extravias-sem no caminho? Você poderia, por exemplo, sair daqui menino e chegar a seu mundo menina.

— Sai de mim!

— Ou faltando um dedo... uma perna talvez!

— É?

— Teletransporte, só é mesmo possível, na mente de escritores criativos, nas estórias de ficção científica.

— Será?

— Se eu quisesse criar uma máquina de escaneamen-to quântico, que o levaria à seu mundo, além do perigo em você chegar lá deformado, a energia que eu teria que empregar, seria grande o suficiente para destruir meu querido mundo imortal.

— É?

— Além do mais, para que nada desse errado no momento do escaneamento, você teria que ficar completa-mente imóvel, para não haver nenhuma falha na reconstituição de sua matéria. Um simples pulsar de seu coração teria consequências drásticas.

— Posso pedir outra coisa?

— Claro!

— O senhor vai continuar me observando na Terra. Certo?

— Sempre!

— Poderia me dar privacidade, quando eu estiver no banheiro? Ou trocando de roupa?

— Vou ver o que posso fazer! — Riu ele. — Não tenho interesse em vê-lo no banheiro! Não em seus momentos de necessidades fisiológicas!

— Hem!?

— Vou respeitar sua lua de mel com a Beth! — Riu ele.

Dei-lhe um beijo na face.

— Uma coisa é certa: faz um ano terrestre que você está conosco e agora, ao voltar, se você falar que esteve aqui, ninguém acreditará... Ou melhor, apenas um amigo acreditará e fará deste fato, um relato pra prosperidade. Ou quem sabe, você mesmo faça tal relato!

Pouco depois, estava dentro daquela nave ultra veloz, cortando a barreira do espaço sideral e só, trinta dias susterianos depois, dia dezessete de Fevereiro, do ano de um mil novecentos e oitenta e um, pouco depois das dez horas da noite (dia e horário de Brasília), estava na cabine com os dois susterianos.

— Estamos na fronteira da órbita terrestre. — Insinuou Tony. — A cento e noventa mil metros de altitude. Vamos lhe conceder um presente, antes de entrega-lo à sua família.

— Que presente? — Especulei-o

— Vamos fazer com você, uma viagem de apenas uma volta e meia, na órbita da Terra.

— Pra quê? — Admirei.

— O que você vê agora? Olhando para o espaço sideral?

— Muito bonito! — Confirmei.

E era. Apesar de ser dia, naquela região da Terra em que estávamos (a Ásia), acima da atmosfera, o espaço sideral se fazia negro impenetrável, com a visão de milhões de estrelas; abaixo, a mais bela paisagem da Terra, jamais vista para a grande maioria dos seres humanos. Uma Terra totalmente azul clara, com alguns pontos de brancos e raros pontos marrons ou verde.

— Vamos lhe mostrar as geleiras nos polos. Uma terra totalmente branca. Vamos lhe mostrar o nascer e o por do Sol.

— Não quero! — Neguei convicto.

— Nenhum ser do seu mundo, jamais fez esta viagem, Regis.

— Não importa. Quero ver meus pais!

— Serão apenas cento e trinta e cinco minutos dos seus, em uma viagem inesquecível.

— Já fiz uma viagem inesquecível!

— Neste momento estamos do lado oposto do Brasil, na região que vocês chamam de países asiáticos.

— Por quê?

— Pra que você se deslumbre com o nascer do Sol. Já que tem pressa, em quarenta e cinco minutos te deixaremos em casa.

— Por que perto da Terra, a viagem demora tanto?

— É um passeio!

E assim, viajando em sentido oposto ao da órbita da Terra, era como se viajássemos com o relógio em anti-horário, podendo aos poucos perceber uma faixa de terra mais escura e outra mais clara, indicando que neste trecho, estaríamos nos escondendo do Sol que nascia naquela região, por volta de cinco horas da manhã.

Mais alguns minutos e já podíamos perceber a Terra totalmente escura, ao que seriam quatro horas.

Se continuássemos viajando assim, a cada quarenta e cinco minutos, nos depararíamos com uma fase diferente do Sol, alternando entre Sol nascente e Sol poente, fazendo nos vislumbrar com esta grande maravilha da natureza, trinta e duas vezes ao dia.

A beleza de tal espetáculo era tanta, que faria quaisquer dos mais incrédulos ateus do mundo, levantar seus olhos aos céus e bendizer: “Obrigado meu Deus, por me conceder um mundo maravilhoso, onde eu possa existir”.

Já que eu recusei uma viagem completa, sem assistir a outra parte desse espetáculo (o por do Sol), quase onze horas da noite, descia em um campo de futebol infantil, tamanho quase oficial, construído por mim mesmo, meus irmãos e amigos de aventuras em terreno baldio, praticamente em frente minha casa, centenas de metros do local onde, há quase um ano atrás, fôra sequestrado.

Após desembarcar, a porta do tal disco se fechou rapidamente e ele desapareceu em poucos segundos, talvez, para sempre.

Dali, em passos rápidos, ainda assustado e sem acreditar, segui para casa. Meu coração batia forte, ansioso e feliz.

Um minuto depois, bati na porta de casa. Demorou um pouco, pois todos já dormiam, mas ela se abriu...

...Pensando ser um sonho bonito, MAMÃE ME ABRAÇOU, CHORANDO DE FELICIDADE.

FIM

Click para ser direcionado à segunda aventura de Regis


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Notas finais do capítulo

O drama do menino Regis terminou.
Agora ele está de volta à sua querida Terra e seus familiares.
Que tal acompanharmos sua vida simples ao lado de quem ele ama?
Convido-o a embarcar nesta nova aventura ao lado do pequeno Regis...
"Um menino no espaço - 2ª parte"
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