Give us the Wonderland escrita por Krieger


Capítulo 6
A gata Cheshire.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Primeiramente, um feliz 2015 para todos! Que nós, escritores, conseguimos realizar todos aqueles projetos que acabaram não sendo finalizado e que vocês, leitores, não tenham suas fanfics favoritas abandonadas ou excluídas!
Bem, só queria avisar que eu estarei viajando por duas semanas, vou tentar me esforçar para postar mais um capítulo antes de partir, desculpem :c
Espero que gostem desse!



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Havia sentido dores em sua cabeça, como se estivesse recebendo pancadas violentas, antes de piscar seus olhos ou abri-los. De fato, seu corpo estava totalmente dormente, como se não houvesse mais seus movimentos, apenas a mente que não parava de pensar e lutar, lançando palavras confusas em sua cabeça, para acorda-la. Aos poucos conseguira sentir o ar entrando em seus pulmões e o movimento dos olhos em baixo das pálpebras fechadas. Isso foi a pior sensação que já havia experimentado. Mexeu os dedos de sua mão e balançou os pés, sentindo suas pernas. Sua cabeça tombava para o lado direito como se quisesse deitar-se em seu próprio ombro. Seus olhos foram se abrindo aos poucos, contudo sua visão foi ficando embasada e uma forte tontura afetou-a. O que poderia fazer é ficar alguns minutos a mais sentada até sentir-se com total disponibilidade de levantar-se, mesmo não fazendo nenhuma ideia de onde se encontrava nesse exato momento, nem sequer sabia qual ar estaria respirando.

Quando percebera sua visão se recuperando a curiosidade lhe veio junto, querendo saber que lugar era este em que estava. Piscou os olhos algumas vezes, tendo certeza que estava consciente. O que aparentava, estava em um minúsculo quarto, bastante pequeno mesmo. Encontrava-se encostada na parede, sentada em um de seus cantos, porém nada fazia diferença já que o quarto era pequeno e não ficara longe do centro do cômodo. Percebendo, bem no meio deste quarto, havia uma mesa com duas cadeiras por perto. Pensava que era apenas sua impressão ou que ainda estava tonta (afinal, não descobrira o porquê de se sentir assim também), mas estava bastante óbvio para a garota; a mesa era pequena, como se fosse de boneca, assim como as duas cadeiras.

Antes de se preparar para levantar-se percebeu uma porta neste quarto. A porta era branca ou talvez cinza, poderia estar suja também, era entalhada com buracos preenchidos com uma tinta preta bastante forte, como se naqueles detalhes não houvesse luz. As cores escuras faziam voltas, não formavam uma imagem especifica, mas era algo de agradar os olhos, como aqueles quadros sem sentindo que vira de pintores famosos e mais antigos. Era bem simples, não havia mais nenhum detalhe, era apenas preta e branca. Sua maçaneta parecia ser marrom, talvez fosse de madeira. Não queria tirar conclusões por estar um pouco afastada da porta, mas de vista parecia ser pequena também, mas não extremamente, se a garota curvar-se para passar poderia conseguir.

O quarto não possuía mais nada, apenas essa mesa e cadeiras parecia ser suficiente para não tornar o lugar apertado. Miller colocou suas mãos no chão, tendo um pouco de apoio e impulso para ter forças enquanto se levantava, contanto também suas pernas que iriam mantê-la de pé, todavia certa insegurança passava em sua mente. Nesses pensamentos ela imaginara que poderia cair, se desequilibrando ou sendo afetada por aquela tontura. Porém nada disso aconteceu, conseguira ficar perfeitamente em pé e sua cabeça parecia não incomoda-la, se sentia bem novamente. Ajeitou seu vestido rodado e puxou suas meias brancas um pouco mais para cima, sempre gostava que elas fossem até seu joelho, se possível tampa-los. Antes de dar seus primeiros passos voltara a pensar em que se tratava esse lugar. Onde poderia estar? Não se lembra de nada, apenas de um local escuro onde pudera correr para uma luz, enfim havia acordado aqui. Antes disso, estaria dormindo em sua cama no mesmo quarto de sua irmã. Provavelmente, isso seria um sonho.

Como poderia, em pleno sonho estando inconsciente, pensar normalmente e também agir como bem quisesse? Isso era estranho para a garota, tudo parecia real. Apenas pensara em acordar e poder sentir-se confortável em seu quarto novamente e também tirar suas dúvidas. Sonhando ou acordada, ela se sentia a mesma.

Finalmente deu alguns passos no quarto, o qual havia piso de madeira bem tratada, não ouvira nenhum barulho enquanto caminhava. Não tinha para onde ir, o quarto era pequeno então só lhe restara a mesa. Em poucos passos já estaria perto do móvel. Chegando perto conseguira afirmar que aquilo realmente parecia uma mesa e cadeira de bonecas, era muito pequeno. Teve a curiosidade sobre o tamanho dos objetos então puxou a cadeira perto da mesa, arrumando seu vestido para sentar-se. Não coube perfeitamente na cadeira e se sentia desconfortável, mas conseguiu sentar-se. Sentia-se um gigante perto disso tudo, como se estivesse em uma casa de anões ou bonecas. Essa situação parecia-lhe engraçada, mesmo sendo esquisita.

Enquanto olhava em volta e abaixava sua cabeça para a mesa, percebeu algo em cima da mesma. Era algo parecido como... Um bolo. Não, uma fatia de bolo. Era rosa e enfeitado com glacê. De primeira imaginava o doce menor que a palma de sua mão, mas não tinha um tamanho tão pequeno, por isso ficara desproporcional em cima da mesa. Seu tamanho era... Médio. Não diria que seria o tamanho de um bolo normal, talvez fosse de uma fatia bem pequena. Daria alguns centímetros de largura a mais que sua mão, porém sua mão também não era grande.

Não enxergara um garfo perto do prato em que o doce estava. Deu uma olhada melhor por cima da mesa, mas não havia nada. Observou melhor e conseguiu notar que, em baixo do prato onde havia o doce, estava um bilhete. Em uma tira de papel e em letras escuras, estava escrito “Destrua-me.”.

– Olá? Tem alguém aqui? – sua pergunta foi desnecessária, se tivesse alguém no pequeno lugar seria a primeira coisa que conseguiria ver, porém sentia uma estranha sensação. Não entendera o recado do papel, mas sabia que não poderia comer.

Ignorou o pequeno doce, levantando da cadeira onde estava sentada com cuidado para não derruba-la, ou talvez tombar a mesa também. Deu alguns passos até conseguir se aproximar daquela porta preta e branca. Estando bem perto dela neste momento, conseguiu definir seu tamanho. De certo, não era uma porta grande, mas Miller poderia se curvar um pouco para conseguir passar. Com mais esse detalhe, tudo lhe fazia pensar nesse quarto ser uma possível casa de boneca. Agora voltando a pensar nesse detalhe, percebeu que o telhado do local não era muito alto também, porém mesmo se a garota ficasse nas pontas dos pés não iria conseguir toca-lo.

Voltou a observar a porta mais uma vez, prestando atenção na maçaneta. Algo chamou sua atenção, parecia ter um ou dois pequenos espinhos na porta. A garota relou seu dedo de leve no espinho, era bastante afiado. Isso seria um problema para abrir a porta, mas até agora não vira nenhuma chave. Estava com medo de checar se estava realmente trancada, mas queria ter certeza que não tinha nenhuma chave no quarto. Pensando um pouco mais sobre isso, aquele bolo voltou a invadir sua mente sobre a ideia do que significaria aquele bilhete. Talvez, devesse obedecer.

Caminhou até a mesa novamente, mas não se sentou em nenhuma das duas cadeiras. Parou ao seu lado, pegando o doce delicadamente com seu pequeno prato em baixo. Deixou aquela fita de papel escrita em cima da mesa, deu mais uma olhada e virou seus olhos de volta para o que realmente importava. Sem nem pensar em uma segunda opção, jogou de ponta cabeça violentamente o doce, fazendo-o se esparramar pelo chão, deformando-o e quebrando aquele delicado prato de porcelana. Quando o doce foi tacado não só ouviu o barulho de o prato quebrar-se em pedaços, mas também ouviu algum tipo de metal caindo no chão ao mesmo tempo.

Agachou ao lado do despedaçado bolo, era como se tivesse levado um tiro. Quando o fitou percebeu que um tipo de chave acabara de sair de dentro. Pegou com dois dedos delicadamente, como se fosse uma pinça, não queria sujar sua mão. Mesmo com todo o cuidado, ao segurar a chave, acabou sujando-a com os restos de bolo e glacê que restaram na chave. Tudo o que pensara era que a chave estava escondida no bolo e aquele bilhete realmente serviu para alguma coisa, mas ainda não entendera o significado disso tudo. Bem, era um sonho afinal, tudo devia ser esquisito.

Miller caminhou de volta para frente da porta, nem teve o trabalho de se certificar que estava realmente fechada, já havia achado a chave e já a colocava na fechadura. Após destranca-la sabia que devia girar a maçaneta, mas aqueles espinhos davam certo medo na garota. Depois de pensar por um tempo, estava tentando encorajar a si mesma. Os espinhos eram pequenos e aparentemente só havia dois, no máximo ela iria receber dois pequenos furos em sua mão, poderiam ou não perfura-la até sangrar. Depois disso, lembrara que tudo era um sonho, logicamente ela não iria sentir dor, ou se sentir iria acordar. De certo, isso realmente a acalmou.

Tocou na maçaneta de madeira, fechando sua mão e fazendo certa força para gira-la. Fechou seus olhos e os apertou, mordendo o lábio como uma expressão de dor. Conseguira sentir aqueles dois espinhos a perfurando e não pareciam ser tão pequenos como esperava. Era como... Espinhos de rosas. Já havia se furado enquanto pegava uma rosa em seu jardim certo dia, mas fazia tempo. Isso a fez lembrar perfeitamente de como era a dor. Os espinhos a perfuravam como duas perfeitas agulhas, provavelmente iria sangrar. Mas, enquanto coletara a rosa aquele dia e foi espetada, tudo valeu a pena quando via a rosa exposta em cima daquele piano em que sua mãe podia tocar para ela, a flor só embelezava ainda mais o local. No fim, ela murchou. Ambas se foram. Agora estava sentindo a mesma dor, mas não sabia se iria valer a pena, apenas se machucava por não ter outra opção. Afinal, era o que sempre fazia.

Após girar um pouco a maçaneta, deu uma empurrada de leve na porta, por fim abrindo-a. Nem sequer deu algum passo à frente para ver onde estaria no momento, apenas abaixou sua cabeça enquanto olhava para sua mão, segurando seu pulso para aliviar a dor. Como esperado tinha se furado, um furo estava no meio da palma de sua mão e o outro perto de seu pulso. O sangue escorria pela sua outra mão que agarrava seu pulso, enquanto se juntava com as gotas que caiam logo de cima. Tampou pelo menos um furo com sua mão.

Mordeu seu lábio mais uma vez, suspirando. Por que conseguia sentir dor? Isso não se tratava de um sonho? No fim, Miller não tinha acordado, permanecia nesse estranho... Sonho. Tudo estava ficando cada vez mais confuso, pelo o que sabia não poderia sentir a dor real em sonhos, pois estaria inconsciente.

Enquanto dava passos para frente levantava a cabeça aos poucos para por fim observar o local. Estava em um lugar escuro, o gramado era verde até certo ponto, logo ele desaparecera e o chão apenas continuava com a terra. Não havia flores, não havia cores. As árvores eram tão grandes que pareciam bloquear a luz neste lugar, mas conseguia ver, isso indicava que estava de dia, os galhos das árvores talvez não impedissem todos os raios de sol. O máximo de detalhe do local era os pequenos e mortos arbustos entre as árvores, o que deixava a imagem muito feia. Talvez se passasse pelos arbustos conseguiria sair do meio dessa escura floresta, encontrando a luz do sol. Porém eles estavam mortos, devia haver alguns galhos espetados e não queria se machucar mais uma vez.

Enquanto caminhava na grama verde que lentamente sumia e deixava a terra seca dominar o chão, conseguira achar um caminho. Parecia uma trilha que poderia lhe indicar um bom caminho, era feita de uma cor mais escura, não sabia o que exatamente era. Resolveu andar sobre ela e apenas segui-la, mas a cada passo que dava parecia que o local ficava mais escuro e as árvores mais fechadas.

Olhava as árvores com um pouco de medo, mas foi parada quando o caminho acabou. Não acabou, literalmente, mas se dividiu em dois caminhos. Havia uma placa de madeira logo ao seu lado apontando para os dois caminhos, mas não havia nada escrito. Devia haver algo indicando em que lugar cada caminho a levaria, não estava certo! Qual a utilidade disso, afinal? Isso a irritava. Tudo o que havia perto dela era aquela inútil placa e uma árvore que surpreendentemente tinha um tronco mais grosso comparado às outras. Ela parecia mais forte, maior e com mais galhos.

– Oh, você chegou, está bem aí! – uma estranha voz surgiu naquele lugar escuro e vazio, dominado pelas árvores macabras. Aparentava ser uma voz feminina. Não só ouviu certas palavras, mas logo em seguida conseguira escutar uma risada baixa.

Tudo isso pareceu ecoar, por mais que olhava para os lados não conseguira achar ninguém.

– Quem está aí!? – já estava irritada por se perder, qualquer pessoa poderia ser sua salvação. Seu medo não a acompanhava mais.

Não obteve mais nenhuma resposta e continuava não enxergando nem sequer um vulto humano. Não demorou muito para sentir uma mão gélida agarrar seu pulso. Tinha sido agarrada fortemente, imaginava que podia ser puxada para algum lugar sem poder se soltar. Sentiu seu braço ser levantado lentamente e puxado para perto deste alguém, a respiração com o ar gelado saindo de seu nariz tocava sua mão. Aquele corpo, aquele ar... Era tudo gelado. Era bobagem dizer que o medo não havia a capturado nesse exato momento, estava praticamente paralisada. Sentiu sua mão ser aberta e, por fim, uma língua passando pela palma de sua mão. Foi algo que a fez arrepiar.

– Solte-me, você! – Miller se soltou daquelas mãos gélidas, virando de uma vez para o lado, mas não conseguiu ver ninguém. Isso a deixou ainda mais amedrontada, pensava que estava enlouquecendo ou que este sonho pregava peças cada vez mais cruéis na inocente. Mas, podia ter certeza que agora sua mão estava molhada.

– Oh, sangue. Delicioso. Perfeitamente açucarado. – a voz ecoou mais uma vez. Não parecia estar tão longe.

– Não quer se mostrar... Apenas me diga quem é você... Estou ficando cansada. – Miller suspirou mais uma vez, parecia estar prestes a surtar.

– Alice, não tema. Quer me ver, não é? Ah, apenas seja direta da próxima vez!

Miller estava pronta para dizer mais alguma coisa, mas foi surpreendida com a figura que formava em sua frente. Era realmente uma garota e sua imagem se formava como se estivesse aparecendo do nada, com mágica. Possuía uma blusa de mangas compridas listradas de preto e de roxo escuro, também havia um capuz jogado para trás sem ser utilizado. Em seu pescoço havia uma gravata com um roxo um pouco mais claro, parecia ser um acessório usado por homens. A calça era preta e folgada, ia até os joelhos. O resto de sua perna era preenchida por uma meia-calça preta e transparente. Nos pés, usava um salto-alto preto. Não conseguira deixar passar despercebidas suas mãos, a qual havia grandes unhas, igual a de um gato. Seu cabelo parecia ser grande e bastante volumoso, mas o principal detalhe é que estava preso nos dois lados de sua cabeça. Era bastante repicado, deixando assim fios de cabelos espetados por toda a parte com o se fosse bagunçado. O que chamava atenção era sua cor roxa escura com algumas mechas pretas disfarçadas. Do lado esquerdo sua franja era cortada reta, mas já do seu lado direito havia fios que caiam em cima de seus olhos, mas não o tampava. Seus olhos eram vermelhos e muito chamativos, não deixara de olhar para eles. A pele era extremamente branca, como se nunca tivesse tomado sol em sua vida. Um sorriso com um tom sarcástico dominava seu rosto.

Por fim, percebera que também possuía duas orelhas de gatos espetadas da mesma cor de seu cabelo, a esquerda possuía um piercing. A cauda parecia ser do mesmo estilo de sua blusa, listrado. A cor roxa escura realmente dominada o estilo da garota. Mas, por que possuía características de gato?

– Saudade, Alice? – a gata sorria para a garota em sua frente.

– Quem é você, afinal?

– Perdão! Esqueci-me que você não sabe quem sou eu. Oh, estou fazendo uma confusão! – ela riu. Seu sorriso, sua risada e seu jeito pareciam ser tão sarcásticos. – Sou Cheshire.

– Uma... Gata?

– Sim! Mas, por favor, não fique me chamando assim, é irritante. – ela balançou as orelhas. – Alice, estou surpresa com sua chegada. Devo lhe dizer que suas gotas de sangue me guiaram até você. Sinto seu cheiro.

– Não sou Alice, sou Miller. Não fique me chamando de Alice, não me agrada.

– Hm, coincidências, não? Por que lhe chamaria de Miller se você é Alice? Que confusão.

– Você se confundiria exatamente por isso. Minha irmã e eu temos o mesmo nome, por isso chamar pelo sobrenome facilita.

– Alice irmã de... Alice? Santos, parece que vou explodir!

Cheshire colocou a mão em sua testa, desaparecendo. Rapidamente ela reapareceu em cima de um dos galhos da árvore, deitada praticamente na posição de um gato, balançando sua cauda para cima.

– Escuta, eu não sei do que se trata esse sonho, mas se você faz parte da minha mente apenas me diga... Onde leva esses caminhos?

– Sonho? O que é um sonho? Do que fala, menina? – a gata sorriu um tanto irritante. – Não vê a placa? Está tudo tão claro.

– Não, não está! Elas não dizem nada, afinal.

– É disso que se trata.

Miller olhou mais uma vez para a placa e depois para a gata. Então, ambos os caminhos não levavam a lugar algum?

– Talvez, futuramente, eles possam te levar para algum lugar. Porém, Alic... Digo, Miller. Um sonho é sua mente, sabe. Sua mente transforma esse lugar em algo real... Nós os transformamos em um lugar real.

– Que lugar é esse, Cheshire? E quem exatamente são vocês? Até agora eu só vi você, estava presa em uma casa de bonecas! Não entendo nada. Se for minha mente, por que não entendo?

– Não é apenas sua, sabe. Ainda não. Oh, quem é Cheshire, você pergunta? Sou um vulto! Que aparece e desaparece... Você vai me ver várias e várias vezes. Quem sabe mais tarde eu te leve para passear. Ou talvez apareça apenas por interesse nesse doce que escorria em sua mão.

– Não se atreva! – Miller encarou-a. – Eu não sou doce... Você realmente não sabe... Deve estar louca.

– Eu sou louca, Miller! Mas, minhas loucuras ditas neste lugar são consideradas as verdades! Assim como eu, você é louca, mas as verdades são consideradas sua loucura.

– Isso não faz sentido. Apenas quero acordar, ir embora... Se essas loucuras pudessem explicar alguma coisa, seria um bom avanço.

Cheshire riu como se debochasse da garota já cansada e irritada. Ela deixou seu largo sorriso dominar seu rosto enquanto os olhos vermelhos brilhavam na escuridão. Foi sumindo aos poucos, deixando apenas seus olhos e seu sorriso a vista, um tanto assustador. Por fim, depois dos olhos desaparecerem, o sorriso se foi soltando algumas palavras:

– Somos todos loucos aqui.

Miller queria impedir Cheshire de sumir, embora tivesse esperanças da mesma aparecer em outro lugar a qualquer instante, parecia que isso não iria se repetir. Mesmo esperando pela gata, estava irritada e impaciente, queria gritar ou apenas acordar. Continuava sem nenhuma resposta, apenas mais e mais confusão em sua cabeça e o problema de não saber qual caminho seguir apenas piorava a situação.

Não sabendo mais para onde ir resolveu entrar no meio daqueles arbustos mortos e cortar o caminho para chegar a algum local. Erguera seu vestido para passar pelos arbustos, por sorte eles nem sequer arranharam sua perna. Continuou caminhando naquela grama mal cuidada e entre as árvores, embora tudo estava estreito conseguia achar atalhos. Sua direção mudou-se completamente quando começou a ouvir gritos, talvez estivesse chamando seu nome, não conseguia entender. Enxergou, não tão longe, a luz do sol. Parecia um lugar iluminado e vivo. Acompanhado com a boa vista estava a silhueta de alguma pessoa.

– Miller! Miller! Está me vendo? – a voz estava perto. Podia ter certeza de quem era.

Não pensou duas vezes, apenas começou a correr desesperadamente para aquela luz que avistava. Acabou esquecendo-se de todos os galhos que podiam a arranhar, apenas acelerava seus passos, sua total confusão na mente e insegurança para saber aonde ir a deixaram completamente sem consciência, sem opções e sem arrependimento. Aos poucos, conseguiu alcançar seu destino. Quando pisou na grama verde e foi tomada pela visão de um belo jardim com amadas flores foi desacelerando seus passos. As flores a acalmavam, era como se estivesse recebendo carinho... O jardim sempre foi seu refugio.

Mesmo que quisesse procurar pela sua irmã no local não parecia precisar. Quando voltou a olhar para frente viu a loira correndo desesperadamente em sua direção. Com um ato inesperado, a mais nova pulou e tacou seu corpo em direção de Miller, abrindo os braços e deixando que caísse em cima dela, finalizando com um forte abraço em sua cintura. A mais velha, sem poder se segurar, acabou caindo para trás por ter se distraído. Não pode fechar os braços e retribuir a irmã, sua visão começou a embasar nesse exato momento, como se sua cabeça começasse a doer novamente. Sua última imagem vista não foi de sua irmã e sim de outra figura humana não tão distante, mas escondida entre árvores. Apenas conseguiu ver perfeitamente dois olhos amarelos e sua boca a mexer, chamando por Alice. Aquela voz... Lembrava alguém... Miller não queria acreditar. Impossível.

Antes que as meninas pudessem cair no chão, suas visões tornaram-se escuras. Já estavam partindo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!
Ufa, no fim as duas já fizeram sua visita e consegui apresentar dois personagens



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