Profuso e ignoto. escrita por mending4


Capítulo 1
Capítulo 1 - INCÊNDIO.


Notas iniciais do capítulo

Laura Garcia Aguiar: Nova delegada da 146° DP de Paraty, formada em direito na UFRJ, tem 32 anos, e estudou também na academia de policia no Rio de Janeiro. Morou durante muitos anos com a tia Cintia no bairro de Realengo, após o trágico incêndio na casa onde morava quando criança em que seus pais morreram. Laura tem uma personalidade muito forte, e não se deixa abalar por nada desde a morte de seus pais. Cabelos longos e pretos, olhos profundos e misteriosos totalmente pretos como seu cabelo, alta e muito bonita. Seu passado ainda tem muitas coisas a serem relevadas e descobriremos ao longo dos capítulos.

Ricardo Borges Sampaio: O Ricardo é mais de mim do que qualquer outro. Ele é o tipo de pessoa que não enxerga beleza em nada e que sempre espera pelo pior. O amor, em sua opinião, é algo inventado para suprir as necessidades irrelevantes da humanidade. Tem uma alma sofrida, amarga, desiludida, desacreditada. A melancolia encarnada. Seu interior é mais arcádico do que deveria ser. Vê o mundo em tons de cinza e não há quem o faça colorir. É indiferente perante as dores alheias e frente ao espelho da vida só enxerga a si. Acaba por se refugiar na bebida e em vícios alheios. Não depende do amor para sobreviver, mas talvez, quem sabe, sua grande salvação seria tropeçar com um coração que estivesse disposto a ser seu.

Leonardo Carvalho: O Leonardo é totalmente o oposto. A alma é tão jovem quanto sua bela face. Vê o mundo com todas as cores. Tem uma fé inabalável na bondade humana e no amor que a vida possui. É apaixonado por sexo e pelo corpo humano. Tem tendência a se deixar levar, age por impulsos. Teu coração é imenso e cabe sempre mais alguém. Amar, o seu verbo favorito. É romântico, mas sabe ser um cafajeste quando quer. É um misto de amor e vaidade. Cuidará de ti com todo amor do mundo, mas estará tentado a ser de mais alguém.



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A rua não era tão pequena nem tão grande, mas qualquer um percebia que ela não era preparada para a quantidade de pessoas que ali estavam. Enquanto isso a alguns quarteirões uma garotinha de 8 anos esperava ansiosa , sentada no ônibus, chegar em casa para contar para mãe como havia sido seu dia na escola.

Ela já planejara as falas na mente, para não se esquecer de cada detalhe. Em primeiro lugar contaria a sua mãe sobre o trabalho de ciências que havia apresentado e de como tinha sido fácil apresentar na frente de todos os colegas, apesar do nervosismo do dia anterior. E fora a única da sala a não ficar com vergonha na hora da apresentação; mal sabia ela que a mãe já imaginara tudo, seu nervosismo seria apenas passageiro e que na hora a filha se sairia muito bem, pois era muito esperta. Juliana conhecia sua filha muito bem, e sabia que a vergonha nunca fora um problema, sempre desinibida e confiante como a mãe, mesmo sendo ainda pequena; ainda mais ansiosa para contar o quanto a professora havia lhe elogiado pelo trabalho. E que o garoto que ela gostava Marcos, havia lhe dado um beijo no rosto e escrito uma cartinha a ela. Laura estava muito feliz, sua alegria transparecia pelo brilho de seus olhos, e o seu lindo sorriso de criança inocente. Mas o que a deixara mais ansiosa era o passeio do fim de semana que a turma faria para o aquário de Ubatuba, aonde poderia ver as tartarugas e peixes que tanto gostava; espera conseguir a permissão dos pais sendo obediente e arrumando a cama de manhã.

No meio de tanto pensamento e planos que menina fazia, o ônibus parou na esquina de sua casa como de costume, Laura estava tão distraída que nem percebera que havia chegado, só quando o motorista a chamou se dera conta de que já estava perto de casa. Agradeceu e se despediu ela gostava muito de seu João, pois era um senhor de quase 60 anos, mas ainda sim muito atencioso e prestativo, e desde que ela começou a ir para a escola na cidade ele era o motorista.

Saiu correndo pela rua, mas nos primeiros três passos já havia esbarrado em alguém. Foi quando ela finalmente chegou à frente de sua casa, olhou em volta e percebeu a multidão que se instalara ali em seu jardim, nunca vira tanta gente.

Sem saber o que estava acontecendo ela ficava imaginando o porquê de tanta gente estar ali, e por que tantas luzes piscando, tanta gente falando ao mesmo tempo, quantos rostos assustados tinham ali e por que não conseguia nem enxergar a sua casa e onde estavam seus pais.

Em meio a multidão encontrou alguns conhecidos da vizinhança como dona Maria que sempre levava seus deliciosos bolos para ela. O vizinho Pedro que conversava com seu pai no portão de casa nos domingos sobre o jogo de futebol da tarde e suas apostas para qual time sairia vencedor, enquanto pegava o jornal, que era entregue semanalmente em sua casa. E até mesmo o pai de Carlos, o garotinho da rua que ia de vez quando na casa dela jogar videogame.

O que mais a intrigara era o fato de todos estarem chorando, com olhos tristes e cansados. Ela logo pensou que os pais poderiam estar dando uma festa e não falaram nada para ela para que fosse surpresa. Mas porque todos estariam chorando? Seria de felicidade? Não parecia, pensou Laura. Será que Barney,seu cachorro havia fugido de casa e não o encontraram? Mas por que um caminhão tão grande e vermelho estaria ali?

Laura apesar de muito esperta, era muito inocente como todo a criança, mal sabia ela o que estava por vir. Antes que ela se aproximasse mais , os pais de Carlos a pegaram no colo e a colocaram dentro do carro, um corolla preto, perguntara o que estava acontecendo , se Barney havia mesmo fugido ou se era uma festa surpresa dos pais; eles nada falaram. De dentro do carro ela viu o casal conversando com dona Maria e mais dois homens vestindo roupas pretas e com armas na cintura, ela logo lembrou dos filmes que assistira com o pai nos sábados a noite. O que a fez pensar no que acontecia para que aqueles policiais estarem ali, como nos filmes. Começou a ficar preocupada e nervosa. Os adultos que ali conversaram na sua frente, mas não entendia nada do que estavam dizendo pois os vidros do carro estavam quase fechados começaram a olhar para dentro do carro e viram uma menina de pele clara, contrastando com seus cabelos negros brilhantes que estão escorrendo pelo rosto até os ombros. A boca pequena que parecia ter sido desenhada , bochechas rosadas e que facilmente ficavam vermelhas devido a pele tão clara. Olhos castanhos tão escuros que pareciam pretos; Olhar misterioso, mas mesmo assim não deixara de ser puro como de criança ,e como quem não estava entendo nada do que acontecera. Dona Maria logo cai em choro profundo ao olhar para a menina, logo ela se afasta. Laura fica ainda mais assustada com aquela atitude, pois ela sempre levara os bolos com tanta alegria, por que agora estaria chorando? Ela se perguntou. E agora esses mesmos olhos estavam assustados, temerosos, preocupados.

Ao olhar para fora novamente vê mais dois homens vestidos de vermelho, uma cor forte, pareciam chateados com alguma coisa, deve ser porque estavam sujos. Pensou Laura. Eles chegaram próximo aos pais de Carlos e os policias. Conversaram por um bom tempo.

Olhando pela janela o movimento dos carros e das pessoas, viu claramente uma ambulância escrito Corpo de Bombeiros bem grande na lateral, isso a assustou de tal forma que ela tinha que descobrir o que estava acontecendo, agora ela sabia que algo serio havia acontecido e não era nenhuma brincadeira. Cansou tanto de esperar. Sem que ninguém percebesse ela saiu do carro.

Não seria difícil ser imperceptível no meio de tanta gente. Atravessando a multidão, estava a procura de sua casa, acreditava que seus pais estariam ali e podiam lhe esclarecer o que estaria acontecendo . Quando chega à frente da casa, ela fica imóvel. Sem saber o que fazer, estava em choque. Não havia mais casa, estava tudo preto, tudo destruído, não tinha mais parede, não tinha mobília, apenas destroços não restara nada. Só restaram cinzas daquilo que um dia fora um lar.

Não esboçou nenhuma reação, parecia que ela não acreditara no que estava vendo ali. Ficou alguns minutos parada ; tudo ao seu redor some, desaparece. Ela não via mais nada , não ouvia nada.

Foi então que ela entrou na casa, como se nada estivesse acontecido, fingiu abrir a porta que não existira mais. Deixou a mochila aonde costumava deixar, em cima de uma sofá, que também não estava mais ali. Tirou o tênis e o casaco, deixou-os no chão e seguiu até aonde era a cozinha para falar com os pais, naquela hora eles estariam tomando café da tarde. Ao lado dos corpos carbonizados de seus pais ela sentou ao lado deles no chão e começou a contar para a mãe como havia sido o seu dia na escola e as novidades.

Laura estava sorridente e contara tudo com detalhes, ela criara a fantasia de que seus pais estavam ali presentes, conversando com ela, ouvindo-a. Seus olhos brilhavam, ela realmente acreditara que estava conversando com eles.

Quando os bombeiros notaram aquilo, imaginaram que ela morasse ali. Nelson , um dos bombeiros, saiu correndo em direção a menina, extremamente assustado e perplexo com aquela cena , como ele deixara a menina entrar ali , como ela estava sentado aos lados dos pais mortos sem que ninguém notasse ele perguntou para si mesmo. Pegou a menina pelo colo e saiu correndo com ela. Laura começa a gritar desesperadamente.

“Não me tira daqui! Me larga, porque vocês estão fazendo isso comigo, me solta, isso é tudo culpa sua. Eu quero ficar com a mamãe. Pai! Me ajuda por favor, ele ta me levando , ta me levando embora para longe de vocês..”
Laura gritara tão alto e chorava tanto que todos ali ouviram e ficaram chocados com a cena, a garota acreditava realmente que os pais ainda estavam vivos e que Nelson a havia tirado de perto deles.

Não dava pra saber quem estava mais com o olhar mais assustado a menina passando por toda essa cena ou Nelson que não sabia o que fazer com a menina, para onde levar, para quem levar, e mais ainda perplexo com o que acabara de presenciar.

Não podia deixar a menina nem por um segundo, pois sabia que a menina iria fugir, o sol desse momento já havia ido embora dando espaço ao azul escuro quase preto que tomou conta do céu por completo, iluminado por raios que cortavam o céu de um extremo ao outro, o clima havia mudado radicalmente, e o céu mostrava que logo , logo a chuva iria cair.

Nelson a levou para longe da cena, correndo carregando a em colo, fez um sinal de negação com a cabeça olhando para os policiais ali presentes. Dona Maria sugeria que a levassem para casa dela ali ao lado até que a assistência social chegasse.

Foram então até lá. Dona Maria estava completamente desesperada e confusa em relação ao comportamento da menina, que realmente não parecia acreditar no que havia acontecido. Chegando a casa Laura parou de chorar e se sentou em uma cadeira perto da mesa e começou a comer o bolo que estava ali em cima. Dona Maria ofereceu uma água para Nelson e para menina. O bombeiro aceitou Laura não respondeu continuo comendo, ela insistiu e então a ignorou novamente. Foi então que ela se levantou e falou com sua voz doce e delicada: ‘’Dono Maria obrigado pelo bolo, mas quando o papai vem me buscar? Estou cansada. ’’

Ela não respondeu a menina e não se conteve caiu em profundo choro novamente, e subiu para seu quarto para que Laura não visse.

Nelson estava tentando se comunicar com os policias dizendo que a menina estava, e saber se a assistência social já estava a caminho. Laura caminhou até a sala, ligou a televisão e deitou no sofá, deu risada dos desenhos normalmente às vezes ia até a janela e observava a rua pra ver se os pais haviam chegado, e nada. Havia uma confusão enorme em toda a rua, muitos carros ambulâncias e viaturas, mas parecia que ela não via nada daquilo, em seu pensamento a rua estava vazia como de costume. Foi então que acabou cochilando no sofá.

A assistente social Carla Soares chegou ao local ficou a par da situação, fez perguntas aos policiais e aos bombeiros e quis saber aonde estava a menina. O policial Alberto entrou em contato com Nelson e a encaminhou até ele.

Carla os levou para seu escritório e a primeira pessoa com quem iria falar era Carla

-Laura poderia vir até aqui por favor – disse Carla
Carla tinha uma estatura média, era ruiva, olhos castanhos e um olhar meigo e gentil, mas era mulher de poucas palavras
-Bem Laura, apesar das devidas circunstancias, acho que você já está a par da situação. – ela olhava para Laura como se esperasse alguma resposta, mas ela continuava calada.
-Bom, você realmente não precisa se manifestar, o que aconteceu ontem posso afirmar que foi um trágico acidente, porém, foi isso o que aconteceu, um acidente com um vazamento de gás, e infelizmente não houve sobreviventes, e nas reais circunstancias, seu parente mais próximo é como você sabe sua tia Marta, que mora no Rio de Janeiro, ela já está a caminho e levará você com ela, tudo bem?

Carla terminou de falar de maneira tão rápida, que parecia algo simples, o modo como ela falava, parecia simplesmente que Laura iria passar umas férias na casa de sua tia, isso uma simples férias de verão, mas não ela estava falando da morte de seus pais, ela estava falando de duas vidas que não existem mais, de uma vida completamente destruída e traumatizada, e isso incomodou Laura, Carla com certeza não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo e pela primeira vez Laura falou:

-Um acidente de gás? Aquilo não foi um acidente o senhor sabe, eu não vou embora com a minha tia, eu quero meus pais – Laura já estava a ponto de começar a chorar novamente quando ouviu uma batida na porta Carla se levantou e abriu, era sua tia Marta.

-Laura você poderia esperar lá fora enquanto converso com sua tia? – disse o delegado

Laura se retirou da sala sem dizer uma palavra e sem ao menos olhar para sua tia, sentou no banco de espero e esperou, cinco, dez, quinze, vinte, trinta minutos e então o barulho da porta se abrindo.
A porta de abriu e de lá saiu sua tia, era incrível como ela e a mãe de Laura se pareciam o mesmo cabelo, os mesmos olhos, o mesmo jeito de andar e falar.
Mas apesar dos olhos serem iguais o olhar era diferente, o olhar de sua tia era frio, duro, e o de sua mãe era meigo, calmo, demonstrava amor.

Quando Laura olhou nos olhos de Marta, uma nuvem de dor invadiu seu coração, os olhos de sua tia estavam vermelhos de tanto chorar, mas algo no olhar dela machuca Laura, era como se Marta a olhasse com olhares de culpa sobre a pequena Laura e ela não suportava.A tia de Laura pegou pelo braço e a levou embora, sem nenhuma palavra, sem nenhuma abraço, sem nenhuma demonstração de afeto.

A vida de Laura então mudou da água para o vinho, ela agora tinha uma vida dentro de casa, extremamente silenciosa, ela e sua tia não se comunicavam, não falavam mais que o necessário e apesar de Marta nunca ter tocado no assunto Laura sentia em seu olhar que ela a culpava, apenas não entendia o porquê já que ela nem em casa estava naquele momento. Laura passou a estudar numa escola publica do subúrbio do Rio de Janeiro, Santa Cruz para ser mais exata, foi uma mudança total para uma menina que tinha uma vida de puro luxo e conforto. Mas apesar de tudo o que mais perturbava Laura era o fato dela não acreditar no que o delegado afirmara, de que a morte dos seus pais era apenas um acidente e prometeu a si mesmo que não importava o que acontece no seu futuro ela iria descobrir a verdade sobre a morte de seus pais.


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