Te amar não estava nos meus planos escrita por Ana Bobbio


Capítulo 34
Casa comigo?


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que ngm lê aqui em cima, mas quero mostrar a vcs uma música que, além de eu amar, a letra é belíssima, tipo, acho a mensagem perfeita e pra mim é como se fosse a trilha sonora desta história '' One day you will - Lady Antebellum '' quem quiser o link da música já traduzida: https://www.youtube.com/watch?v=W0xIYN_QSvw



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(...)

— Eu pensei que você ia esperar mais um pouco para se mudar. — Comentei, pondo meus livros no meu armário. Bianca se aproximou para pôr os livros dela em seu armário e acabou deixando uma foto cair, por conta do excesso de materiais didáticos — A grossura de cada um é assustadora, realmente.

— Pra ser sincera, eu acho que até demorei. — Bianca murmurou, sem olhar pra mim por conta do seu afazer. — Na verdade, acho que fui até muito paciente. Esperei um tempo por conta dos exames que ela estava fazendo e porque queria prepará-la para minha partida. É claro que minha mãe não gostou muito da ideia quando soube, mas no final percebeu que eu estava enlouquecendo. Disse a ela que não iria abandoná-la de jeito nenhum.

— Acho bom você ter mantido a lucidez. Apesar de tudo, ela não deixa de ser a sua mãe. E precisa de você para apoiá-la, você é a única coisa que ela tem. — Disse assim que fechei meu armário, trancando-o logo em seguida. Agachei-me para pegar a foto que ela derrubou e sorri imediatamente ao olhá-la.

Reparo imediatamente no sorriso que mantenho nos lábios. E durante muito tempo, eu sempre dava um sorriso fingido na hora do ''xxxxsss '', apenas para não parecer tão rabugenta. Mas nesta foto as coisas mudaram. Eu não sorri por esse motivo ou qualquer outro tão supérfluo quanto, sorri porque eu estava realmente feliz. Realizada. São tantas palavras que podem traduzir ou chegar perto da essência que carrego e transmito em atos tão mínimos que muitas vezes podem passar despercebidos.

Porém, nesse caso, não passou.

Porque eu estava ao lado das pessoas que me faziam a garota mais feliz e realizada do mundo. Sei que quando comparamos algo com o mundo inteiro soa um pouco exagerado, mas não vejo outra expressão que capitalize o que sinto em relação a tudo em minha volta. Na foto, Gabriel, Bianca, eu e Eduardo estávamos tão unidos, tão conectados que é praticamente impossível não perceber a essência de nossos sorrisos. Estamos juntos, com gorros e usando diversas roupas de frio, na viagem que fizemos rapidamente a Londres. Gabriel abraçava minha amiga, enquanto Eduardo praticamente me agarrava. Minhas mãos escapuliram na hora para pegar as mãos da Bia, que foi exatamente o momento em que a foto foi tirada pela Lili.

— Minha ficha ainda não caiu que hoje é nosso último dia nesta escola. — Bianca relembrou, assim que eu preguei nossa foto em seu caderno. Olhamos uma para outra e sorrimos juntas, sentindo a sensação de dever cumprido.

Sabe, é difícil ter que se despedir de praticamente uma vida pela metade. Pois ainda não me lembro de todos os momentos que tive no ensino médio por ainda viver como Maggie, mas o que eu lembrava — memórias da Antônia, que sou eu, aliás. Nem precisei me esforçar para perceber isso, porque tudo o que eu sabia era que eu poderia ser quem eu quisesse. — era que, embora as coisas tenham sido conturbadas, eu alcancei meus objetivos.

E por mais que as coisas não tenham saído do jeito que eu pensava, as surpresas e inovações foram tão agradáveis e importantes que se eu tivesse a chance de voltar no tempo para mudar alguma coisa, eu não voltaria. Não mudaria nada, e escolheria o caminho que tomei até aqui.

Porque isso é tudo o que eu tenho, é tudo o que eu preciso.

Mas é claro que eu ainda tenho muito chão pela frente, e não estou nem no começo da caminhada.

Rapidamente puxei Bianca para mim, a fim de abraçá-la com toda força que eu conseguisse reunir. Acostumei a tê-la comigo todas as manhãs, e a maioria das tardes e noites também. É tão difícil essa parte da vida, onde você é separada abruptamente da pessoa que se tornou por pouco tempo sua melhor amiga. A sua irmã.

Tantas lições que as porradas que você toma no seu dia a dia trazem, e só as enxergam quem de fato quer se erguer.

Nós duas iríamos passar o fim de ano separadas, porque ela faria uma viagem com Gabriel e sua família. Enquanto eu continuaria aqui, com meus pais e Eduardo. Fui andando sozinha para casa, sentindo a brisa leve e suave desfazer meu coque mal feito. Segurava em uma das mãos meu fichário, e minha bolsa estava pendurada em apenas um dos meus ombros.

Quando cheguei em casa, joguei todas as minhas coisas para escanteio quando vi a imagem de Eduardo na sala, sentado no sofá ao lado do meu pai. Pareciam estar tendo uma conversa um pouco exaltada, e eu descobri o motivo quando olhei para a TV: O cruzeiro havia ganhado, e ambos torciam para esse time. É claro que fiquei imediatamente alegre pelos dois, e por vê-los tão entrosados. Parecia que meu pai tinha o aceitado de vez em nossa vida, e isso só fazia meu coração se aquecer ainda mais. Saber que ele tinha a aprovação dos meus pais era mais do que sensacional, e tudo o que eu fiz para demonstrar isso foi me jogar de surpresa em seu colo.

Quando me sentei, observei atentamente sua expressão de surpresa dar lugar a um sorriso que, mesmo sem vê-lo apenas por algumas horas, fazia muita falta. Joguei meus pés em cima do sofá, e passei meus braços pelo seu pescoço. Retribui seu sorriso, como forma de dizer ''morri de saudades'' e, felizmente, ele pareceu entender. Silenciosamente, deslizei meus dedos pelo seu rosto capturando com intensidade sua tentativa de dizer para mim o quanto me amava. Apenas pelo olhar.

— Mensagem recebida com sucesso. — Sussurrei. — Eu queria tanto... mas tanto dar a você ao menos um por cento da felicidade que você me dá. — Abaixei a cabeça, sentindo seus lábios estalarem em minha testa. Afundei-me mais em seus braços, meu corpo aqueceu graças a sua pele em contato com a minha, consequentemente, o frio foi totalmente esquecido por nós. E tudo o que víamos era o que estava a nossa frente, nada mais.

— Antônia... Antônia — Murmurou contra a minha pele, mordendo a ponta do meu queixo de forma provocativa, fazendo-me levantar aos poucos meu rosto para fitá-lo. Uma mecha do meu cabelo caiu, rapidamente ele tratou de levá-la de volta para atrás da minha orelha. — É tão difícil você perceber que já me faz feliz por simplesmente estar comigo? E essa felicidade que você sente, não chega nem perto da que eu tenho reservada para gente. — Falou lentamente, como se quisesse que eu ouvisse cada sílaba tão perfeitamente que seria impossível eu não entender. Mas eu entendi. Entendi perfeitamente até as coisas que não estavam tão claras. Passei meus dedos pelo seu rosto, e depois de alguns segundos, eu sorri.

— Só de pensar que algum tempo atrás eu estava tão perdida, tão... Sem rumo. Tão... Só. E foi só você chegar para que as coisas começassem a ter um norte. Você mudou a minha vida, Eduardo. Graças a você, eu conheci o amor. Graças a você, eu entendi o significado e a intensidade de uma paixão que parece aumentar a cada dia que passa, e a cada vez que eu simplesmente te vejo sorrindo para mim... Olhando para mim. Eu acho que agora eu consigo me olhar com os seus olhos, e percebo que eu sou sim digna do que você sente. Porque é mútuo. Porque é real. — Assim que eu falei isso, Eduardo me beijou com tanta volúpia que eu tive que me segurar nele para não cair. O que não adiantou muito, porque nós dois chegamos ao chão.

Mas o baque foi abafado pelos seus lábios de novo nos meus, e a única coisa que eu sentia além da minha perna esquerda dormente, era o meu coração se agitar num ritmo conhecido. E embora isso acontecesse toda vez que ele beijasse, me tocasse, ou simplesmente me olhasse, eu não conseguia me acostumar.

Acho que eu nunca me acostumarei, na verdade.

— Casa comigo. — Pediu em meio aos beijos. Arregalei os olhos, sentindo minha garganta secar e minha outra perna começar a ficar dormente também.

A agitação do meu coração cessou na mesma hora, tão descontrolavelmente que formular alguma frase com sentido ou grande estava completamente fora de questão.

— Eu me casaria com você até amarrada. — Disse, vencendo pela primeira vez minha mania de falar palavras curtas e objetivas como ''sim'', ''não'' ou ''claro''.

— Isso me deu uma boa ideia. — proferiu com malícia, voltando a me beijar posteriormente.

(...)

Nós nos casamos alguns meses depois, meus pais ficaram meio desconfiados de começo, mas depois conseguimos amansá-los. Nós vivemos juntos por alguns anos, e posso dizer que ele cumpriu sua promessa de me fazer mais feliz do que eu já era. Como se isso fosse possível, né. Todavia, inexplicavelmente, ele mostrou ser possível.

A cada dia que se passou, sentia-me realizada e satisfeita com a vida que eu tinha escolhido para mim. Satisfeita em saber que nada me faria voltar atrás. Porque aqui é onde eu queria estar, mesmo que nem tudo esteja em nossas mãos.

'' Estou a um passo de realizar todos os meus sonhos. É assim que me sinto, é isso o que eu penso, quando movo sutilmente minha perna trêmula para frente, sentindo-me absurdamente envergonhada e feliz ao perceber que os olhos de Eduardo estão direcionados apenas a mim. E apesar de me sentir assim, não consigo desviar meus olhos. É como um imã, um elo. Criamos uma bolha imaginária, onde nossa conexão é tão eficaz e direta, que mesmo tendo vários convidados a nossa volta, não conseguimos romper essa bolha. Porque, aliás, não queremos rompê-la.

Só quero vê-lo, admirá-lo fervorosamente em seu belo smoking, e argumentar contra todos os meus medos que não estou fantasiando esse momento, e que, apesar de haver várias mulheres belíssimas ao meu redor como a Lauren, eu sou a garota vestida de branco. Aquela que segura um buquê de rosas brancas mescladas com lilás, cujo aroma é tão bom e confortante que é impossível duvidar que, sim, sou eu quem Eduardo está esperando.

E seu sorriso denuncia a sua felicidade, que é tão absurdamente reveladora quanto a minha, e naquele momento sinto que posso alcançar os céus, se seus dedos não se separarem dos meus.

— Pronta para uma nova vida ao meu lado? — Ele sussurra enquanto ergue a mão em minha direção, sem desviar seus olhos verdes dos meus, eu paro imediatamente. Deixo que o buquê seja retirado das minhas mãos mesmo sem saber quem está o tirando, porque não me interesso pelo meio em que estou. Não respondo nada, apenas entrego minha mão a ele, como se dissesse '' Eu estou pronta. ''

(...)

— Eduardo, se você jogar de novo essa comida em mim, não serei responsável pelos meus atos! — Ameaço assim que ele joga um pouco da macarronada em mim, na primeira vez havia sido um acidente, mas agora é meio óbvio que dessa vez não foi tão acidental assim. Sinto a tira do macarrão escorrer pelo meu rosto lambuzado de molho, cerro os olhos como se estivesse a ponto de perder o controle e me irrito mais ainda ao perceber que isso não o faz temer das coisas que posso ser capaz de fazer.

— Então, pra não rolar estresse, deixe que o responsável pelos seus atos seja eu. — Sugere assim que se aproxima de mim, minha boca entreabre-se imediatamente, e embora eu não diga nada, totalmente abobada pelo tom de malícia e audácia em sua voz, Eduardo mantém os olhos profundos e desafiadores direcionados a mim. Sem pedir autorização, suas mãos contornam minha cintura, e sinto meu corpo ser puxado com brutalidade para frente, batendo contra outro corpo quente. Meu cabelo solto é agarrado, e apesar de Eduardo ser um pouco mais prestativo para não me machucar ao segurá-lo, ainda sinto uma pequena dor pelo puxão. Mas sou anestesiada assim que olho de novo para aquele par de olhos vivos e intensos, tenho que me esforçar para manter o controle e a sanidade por pelos menos alguns segundos. Entretanto, sei que não conseguirei.

E tudo o que eu desejo, assim que sinto seus lábios deslizarem pela minha bochecha removendo todo o molho da macarronada, é que ele me tome em seus braços mais uma vez e me leve para o quarto. Para o nosso quarto.

(...)

— Não, já disse, Edu! Eu quero que o meu filho tenha os seus olhos. O filho é meu, eu que vou pari-lo, então se conforme! — Resmungo sentada num banco de uma praça, ao lado do meu marido, enquanto olhamos para algumas crianças brincando no parquinho, discutindo arduamente como será nosso futuro filho.

É claro que eu quero que nasça com os olhos dele, seria um pecado a criança vir com os meus olhos tão comuns e sem graça!

— É minha culpa se eu quero que a minha filha seja tão linda quanto a mãe? — Ele retrucou inconformado, sem olhar para mim, mirando as crianças brincando nos brinquedos espalhados pelo parque, e embora eu tenha me esforçado para continuar a manter minha persistência, não consigo. Relaxo os ombros de maneira grosseira, e como uma forma de manter minha única faísca de dignidade, meu orgulho ferido, não olho para ele.

Porém, sinto olhos me mirarem agora. E a cada segundo que se passa, percebo que essa impressão não muda, pelo contrário, só aumenta. E descubro quem é o dono desses olhos quando mãos grandes acariciam minha coxa protegida apenas por um short, e mesmo havendo um tecido entre nossas peles, o arrepio é instantâneo. Merda de short vagabundo; deveriam fabricar alguma coisa que preste hoje em dia!

Mas sei que nem se houvesse centenas de obstáculos separando nossas peles, isso não mudaria o fato de meu corpo sempre corresponder ao dele. Como um Déjà vu, que depois da primeira experiência, do primeiro toque, irá querer sempre sentir de novo. Uma necessidade, um prazer, um oitavo pecado capital que meu corpo precisa sempre ser suprido, ser saciado. É isso é tão certo como errado, porque não é normal sentirmos algo assim por alguém. Mas o que há de errado amar com todo o coração o seu marido? Se for errado, que me condenem então.

Porque jamais conseguiria deixar de amá-lo.

— Então o nosso filho terá meus olhos mesmo, Antônia. — Eduardo se rende, sabendo que eu já estou completamente amolecida. Mesmo que eu não tenha demonstrado. Ou ache que não.

Viro o rosto para encará-lo e encosto minha testa na sua, respirando fundo e rindo da minha falta de amor próprio. Neste momento, estou a ponto de crucificar a primeira briga nossa que eu provavelmente ganharia, dando-lhe mais uma a vitória.

— Ele pode ter meus olhos, eu não me importo com isso. Eu só me importo com o fato de você ser o pai, só isso. — Sussurro, pressionando meus lábios nos dele logo em seguida.

— Felizmente, nisso estamos em total acordo. — Diz antes de me beijar. ''

São nas memórias que encontro a minha força de sobrevivência, são elas que regam os meus dias, como uma espécie de remédio que permite que eu sobreviva um pouco mais. Talvez seja errado ter isso como uma sustentação.

Mas não me importo.

Até hoje não contei aos meus pais ou para outras pessoas sobre a minha verdadeira identidade, porque isso não tem mais importância. Desde aquele dia, eu deixei de ser aquela mulher sem valor e escrúpulos. Transformei-me a ponto de merecer ter em minha nova vida um casal que não tinha um porquê de me sustentar e me amar, mas fizeram isso sem pedir nada em troca. E receber, conhecer um amor desses, foi uma das maiores lições que eu já tive.

Foi num dia de domingo, estava chovendo muito, e eu estava em nossa casa esperando-o para um jantar especial. Era nosso aniversário de casamento, e eu o esperava mais ansiosamente ainda porque nesse jantar eu contaria a ele que estava grávida. Esperando um filho fruto de uma das várias noites que tivemos juntos. Das noites que eu esquecia o meu próprio nome, que ele tomava posse do que já era seu, onde eu sentia meu coração se agitar de maneira descontrolada assim como a primeira vez que nos beijamos ou que fomos para a cama.

Um filho que daria sentido as nossas pequenas brigas sobre com quem ele pareceria e como seria.

Mas, naquela noite, ele não chegou.

Eu o esperei muito, cheguei a me deitar no sofá apenas para vê-lo abrir a porta e pedir desculpas pela demora. E para receber seu beijo de boa noite, que sempre trazia paz aos meus sonhos.

Só que, naquela noite, eu não recebi meu beijo de boa noite, e nem nas noites seguintes.

Havia sido um acidente de carro que o matara.

'' Eu quero que você continue se olhando com os meus olhos, Tônia. E tudo o que eu vejo, desde o dia em que te conheci, é uma mulher linda e forte. Obrigada por... Por ter permitido e por ter me dado a chance de ser alguém melhor por você, por ter tirado o vazio de mim, por me fazer alguém melhor e bom o suficiente para te merecer. Porque tudo o que eu fiz até hoje, foi por você. Eu escolhi passar o resto dos meus dias ao seu lado, e agora que te vejo aqui, me olhando com os mesmos olhos da garota por quem me apaixonei, a mesma garota revoltadinha por causa de uma blusa manchada, sei que fiz a escolha certa. Eu sei que agora você vai se sentir fora do eixo, só não desista de si mesma. E não se esqueça, não sei como farei isso ainda, mas sempre estarei por perto. Você sempre estará nos meus sonhos, Tônia. Sempre.

— Edu... Pelo amor de...

— Me deixe te confessar uma coisa, talvez me odeie eternamente por isso, mas não posso mais esconder de você.

— O quê?

— No dia em que nos conhecemos... Você pediu pra eu virar e não te olhar trocando a blusa, mas enquanto você se trocava eu infringi sua ordem e te vi apenas de sutiã... Talvez esse seja outro motivo de eu ter me apaixonado por você.

— Meu sutiã?

— Não. O que tinha dentro dele, Antônia! — Riu fraco, passando quase despercebido.

... Pi Pi Pi ''

Depois disso, a ficha caiu.

É claro que apesar de amanhã fazer três anos que ele partiu, e estar extremamente mexida com isso, fico um pouco melhor ao saber que Eduardo passou o resto de sua vida ao meu lado.

E quando olho para Miguel, o nosso filho de apenas dois anos, o grande motivo de eu ter unido as poucas forças que tinha para sobreviver e seguir em frente, penso em como Eduardo se sentiria ao saber que tem um filho. Um garotinho muito pirracento e esperto para o seu tamanho, porém tão lindo e encantador que não importa o quanto a pessoa seja insensível, irá sempre sentir na pele a paz que o meu filho transmite. Não só a paz, como a alegria.

Seu sorriso é tão perfeitamente desenhado que tenho certeza que não foi de mim que o herdou.

Ele é como uma rosa lilás, um sinal perfeito de calma em meio a gritarias, uma amostra perfeita que é sim possível encontrar um porto seguro, um auxílio, uma saída quando você perde todas as estribeiras. Porque vê-lo alegre, correndo por toda a casa e até desenhando nas paredes, prova que a vida continua, apesar de tudo.

E mais uma vez, eu vejo que Eduardo cumpriu mais uma promessa sua a mim: De arrumar um jeito de não me deixar sozinha. E eu noto isso ao ver Miguel, ao sentir seus olhões verdes me fitarem com tanto brilho e amor que, a única coisa que eu consigo fazer, é sorrir que nem uma idiota e deixar meu coração ser inundado mais uma vez de sentimentos de pura nostalgia, tão puros quanto a inocência do meu pequeno.

Porque apesar de Eduardo ter ido embora, eu o sinto cada dia mais perto da gente. Ao sentir os braços pequenos e gordinhos de Miguel contornar meu pescoço me abraçando, e ao brincar com os cabelos escuros deste menininho, sinto a presença de seu pai com tanta intensidade que algumas vezes tenho que erguer a cabeça e me concentrar para entender que eu não estou sozinha. Eduardo deixou para mim uma herança valiosa, uma joia que preciso cuidar, preservar com toda a minha alma. Pois tenho certeza que, de certa forma, ele está sim perto da gente.

E nunca deixará de estar.

Eu me casei de novo, e posso dizer que eu amo sim o meu marido. Patrick é um cara gentil, carinhoso e atencioso. Ama tanto Miguel a ponto de sempre dar um jeito de fazer suas vontades, que culminam a maioria das nossas discussões. Só que, mesmo não confessando, eu entendo como é difícil resistir ao bico e ao olhar que Miguel faz quando quer alguma coisa.

O problema de seguir em frente no meu caso, é que sempre algo me leva de volta ao passado, e mesmo que eu devesse me sentir péssima com isso, não me sinto. É uma prova que eu não o esqueci, e que ainda o guardo na memória. E que mesmo que a velhice esteja ai, quase batendo na minha porta, me lembrar dele faz com que eu me sinta jovem e sadia.

Eduardo com certeza foi o meu primeiro amor, e a cada batida do meu coração, eu o sinto. E não importa o que aconteça, ou o tempo que passe, ele sempre estará aqui dentro de mim. O que sentia por ele continua aqui, intacto, irremovível, como uma parte de mim impossível de ser reconstruída.

Uma parte que, apesar de vazia, não dói.

Porque eu sei que nossa história não mudou, mesmo que o tempo tenha passado.

Deitei-me com dificuldade na cama, deixando que minhas costas se acostumassem mais uma vez com a maciez do meu colchão. Meus ossos não eram mais tão indestrutíveis como quando eu era mais jovem, e eu sabia disso. Minha pele manchada e cheia de linhas não era mais tão bonita quanto antes, porém meus olhos continuavam os mesmos. E nada os mudava, mesmo que estivessem mais pesados. Havia cortado há pouco tempo o meu cabelo porque estava caindo muito, e apesar de já possuir um tom grisalho, insisto em não mexer na sua cor.

Assim que mirei o teto, senti a brisa gelada da janela aberta vir contra meu rosto e balançar sutilmente os fios do meu cabelo, como se estivessem dançando uma suave melodia. A cadeira de balanço situada na varandinha, também acompanhou, em total sintonia.

Essa brisa soou e tocou-me tão profundamente, que pela primeira em vez em anos, meu coração se aqueceu completamente outra vez e me arrepiei mesmo estando coberta por um tecido.

Mas havia esquecido que tecidos não mudam nada.

E então eu fechei meus olhos, sabendo que no dia seguinte eu não os abriria.

Narrador:

De longe dava para ver a silhueta de duas pessoas, lado a lado. Um homem alto com o braço direito sendo contornado pelas mãos quentes e pequenas de uma mulher mais baixa. Cujos cabelos castanhos e lisos, voavam por causa da pequena ventania, assim como seu vestido solto. As mãos do rapaz subiram pelos braços da garota e seus lábios beijaram o topo de sua cabeça, enquanto a mesma escorava sua testa em seus ombros a fim de descansar e se sentir em paz, feliz por perceber que estava errada. Afinal, a parte impossível de ser reconstruída, aos poucos, estava sendo.

É difícil definir o lugar que estavam, principalmente se tratando de um lugar tão diferente do que vemos habitualmente. Mas, o que importa de verdade, é que estavam juntos novamente. E isso bastava.

Sempre bastou para os dois.


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Notas finais do capítulo

Desculpem mesmo pela demora, juro que não foi por mal D:
Tantas coisas acontecendo, provas, trabalhos, passei mal...
Enfim, muitas coisas mesmo.
Mas, como eu havia prometido, não abandonaria esta fanfic! (:
Esse é o último capítulo, sim )))))):
Espero que tenham gostado da minha história, sério!
Queria agradecer pelos elogios, pelas críticas positivas e negativas que recebi, mesmo! Porque me incentivaram a continuar e melhorar, me incentivaram a ponto de me fazer postar um capitulo às 3 da manhã!! Sério, isso é demais, pena que meu pai não achou :(
Enfim, um obrigada pelo carinho que recebi e pelas pessoas incríveis que tive o prazer de conhecer e me identificar. Sério, não foi fácil, mas nada que vale a pena vem fácil, não é? Por isso sei que vocês valeram a pena! (:
Quero que saibam que dei o meu máximo, com todo o amor e carinho, com todo detalhismo e doçura que gosto de expor em minhas histórias fantasiosas, que espero que eu tenha conseguido passar a vocês.
Bjão k,
Ana
♥♥♥



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