Etérea escrita por Maya Poltergeist


Capítulo 2
Capítulo 2 - Dons


Notas iniciais do capítulo

Então, tenho a pretensão de escrever um capítulo por semana mas como comecei a escrever agora vou lançar dois, um hoje e outros sexta.



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Selene levou Luana com dificuldade até a cama, a telepata se contorcia de dor numa espécie de sono alucinógeno devido a sua alta temperatura. A fera ligava desesperadamente para Alice uma médium com poder de cura de quem são amigas de longa data.

– Alice, pelo amor de tudo que é mais sagrado onde você tá? – Ela perguntou atropeladamente.

– Estou no apartamento da Asa Norte, ô que aconteceu? Você parece nervosa. – A voz da garota saiu um pouco falha.

– Tá, pelo menos você não está no retiro. A Luana tá muito mal, corre para cá que eu não sei o que fazer. É urgente! Ela foi enforcada por um gênio, as marcas na garganta aonde ele tocou estão brilhando como se fossem brasas! – A mão da menina estava na própria testa enquanto andava de um lado para o outro do quarto.

– Calma, eu vou dar um jeito de ir nem que eu vá de taxi. Faz compressa de água fria no pescoço dela até eu chegar. Tchau. – Ela desligou sem esperar resposta. Agora ela também estava nervosa. Não seria a primeira vez que Luana a fazia passar por esse tipo de situação.

Enquanto Selene pegava os gelos para colocar na compressa da amiga um sentimento de culpa bateu por não ter insistido em cuidar das feridas antes. Ela ficou uns 20 minutos sentada ao lado da amiga se martirizando antes que Alice chegasse. Ela veio de táxi e tremia de angustia por conta da situação. Alice era maior que Selene mas ainda era mais baixa que Luana, tinha 1,63 metro de altura, era magríssima e tinha um cabelo cacheado preto até a cintura.

– Eu juro que ela ainda me mata de susto. – Alice falava enquanto examinava as marcas no pescoço de Luana.

– E ai? É muito séria a situação? – A jovem mais baixa estava com o coração na mão.

– Já a vi em situações piores. Ela vai ficar bem. Sel, pega na minha bolsa os cristais energéticos e traz sal grosso e tilenol porque eu não faço milagre. – Ela ajeitou os cristais em volta da cabeça da amiga, fez uma corrente de sal no pescoço em cima dos ferimentos e depois esfregou as mãos energizando-as. Levantou as mãos juntas no topo da cabeça, respirou e depois baixou as mesmas em cima dos ferimentos. Ela estava séria e saiu uma energia de suas mãos contra a pele da amiga. Ela ficou em estado de transe enquanto fazia aquilo. Durou quinze minutos para que ela se soltasse, exausta.

Quando acabou, as marcas no pescoço de Luana haviam desaparecido mas a garota ainda estava com febre. Porém conseguiu recobrar a consciência dando de cara com dois rostos a encarando apreensivos.

– Deixa eu adivinhar, subestimei meus ferimentos de novo? – Ela sorriu torto.

– Eu não sei por que a gente ainda se preocupa. – Selene a repreendeu.

– Desculpa. – Ela falou agora cobrindo o rosto com as mãos. – Eu não queria dar trabalho.

– É que nem quando você tenta não quebrar algo e inevitavelmente cai, rala o joelho e quebra em mil pedacinhos o que você carregava com tanto cuidado. Não se esforça mulher que você só piora. – A Fera continuou com a bronca.

Alice ficou calada. Ela a conhecia de muito cedo e sabia o porquê a garota ser assim. Luana nasceu de uma situação incomum e foi praticamente abandonada pelos parentes aos cuidados de anciões do ministério que conseguiam lidar com os poderes da menina ao contrario de seus familiares. Ela sempre se sentiu um fardo para todos e sempre tentou não atrapalhar a vida alheia guardando tudo para si.

. . .

As duas meninas tinha sete ano quando se conhecerem e foi no mesmo dia em que os poderes de Luana foram lacrados, o que era um segredo que poucos sabiam.

Na época Alice tinha sido levada a um ritual sem receber muitas informações. Sabia apenas que ia observar como um estudo. Mas o que viu foi aterrorizante, o ritual era algo grotesco capaz de fazer pessoas de estomago forte desviarem o olhar.

Os anciões seguraram Luana no meio de um circulo energético em que havia uma fogueira e cravaram com uma faca em brasa um escrito antigo simbolizando o fogo no braço da criança. O tempo todo a telepata urrava de dor e parecia que quanto mais se contorcia ossos quebravam e o barulho era agonizante de se ouvir. Alice tampara os ouvidos apesar de em momento algum ter desviado o olhar. Quando finalmente a marca tinha sido feito o cerimonialista se afastou e o braço da jovem entrou em combustão criando um fogo roxo. Então uma equipe de dois anciões médiuns de cura quebraram o circulo, apagaram o fogo e correram para começar o tratamento no braço da menina.

Haviam 7 pessoa ali fora Luana e e todos conseguiam presenciar parte da alma da garota rachando e indo para dentro da marca no ombro esquerdo dela quando o fogo fora apagado. Em nenhum momento Luana pediu ajuda, gritou pela sua mãe ou sequer pela sua vida.

Após o ocorrido levaram Luana desacordada até um quarto para descansar e o instrutor de Alice a levou para ver. O adulto falava sobre coisas técnicas que aconteceram no processo de cura, mas a pequena garota de 7 anos não conseguia prestar atenção. Enquanto estava a observando Luana abriu os olhos e deu um leve sorriso que Alice correspondeu com outro sorriso e assim as duas viraram amigas.

. . .

Selene deu mais algumas broncas na garota e saíram deixando-a sozinha com a curandeira. Ascendeu um narguile na varanda para tentar se acalmar. Fumar era algo comum entre os paranormais por baixar a pressão e evitar que eles exaltem seus poderes. Mas faz mal como qualquer outra fumaça sendo inalada, e devida a natureza de seus poderes, Alice não suportava a idéia de fumar e não chegava nem perto.

– Luana, quantos sustos você vai me dar até finalmente você aprender a pedir ajuda? Você quer morrer antes? – Ela não estava brava, estava magoada.

– Desculpa, se eu tivesse todo o meu poder espiritual liberado não teria sido assim. . . Mesmo com ele lacrado eu consigo senti-lo. Aí é como se eu pudesse muito mais do que realmente posso. – Luana falou com uma voz manhosa.

– Mesmo depois de tanto tempo?

– Mesmo... Alice?

– O que foi?

– Se lembra quando estava me recuperando daquele ritual e você veio me ver na enfermaria?

– Eu lembro.

– Foi a primeira vez na minha vida que eu senti que alguém se importava. Hoje quando eu abri os olhos eu não estava sozinha. Desculpa te dar tanto trabalho e obrigada por sempre estar por perto. – Luana agora escondeu o rosto que escorria lagrimas incontrolavelmente.

– Sua bobinha, eu sempre vou estar aqui. – Alice deu um sorriso largo e Luana finalmente adormeceu.

. . .

No dia seguinte Luana acordou totalmente recuperada, a doença se foi tão rápido quanto chegou. Estava sozinha no quarto, trocou de roupa colocando uma saia comprida e uma camiseta folgada. Desceu as escadas descalça mesmo e foi em direção a cozinha onde encontrou suas amigas sentadas à mesa comendo.

– E a morta volta a vida. –Selene falou.

– Bom dia. E eu nem dei tanto trabalho assim. – Ela falou bocejando.

– Nossa, nada de trabalho, imagina. – Retrucou sarcasticamente.

– Pior é que você não tem noção, dessa vez realmente nem deu tanto trabalho. – Alice falou com cara de deboche.

– Quando você fala isso eu fico com pena de você. – A fera falou já rindo da situação. Se voltou para Luana. – Mas o que é seu ta guardado, recebemos uma mensagem do ministério ontem enquanto você dormia. Eles oficializaram a oposição como inimiga do governo, agora vai começar a ter confrontos diretos. Mandaram pôr a segurança da casa como prioridade. E ainda assim te mandaram um trabalho oficial.

– Nossa, nem pra esperar passar a minha dor de cabeça. Manda bala, que eles querem que eu faça dessa vez? – Respondeu preguiçosamente.

– Eles querem que você cace uma aberração. – Ao falar isso Alice não estava mais rindo, ninguém mais estava.

Aberrações é como o Ministério chama os filhos de Feras com não Feras, que podem ser outros paranormais ou até humanos, que em vez de nascerem com a capacidade de mudar de forma, nascem híbridos de humanos e feras. A lei do ministério diz que se deve matar eles assim que nascem mas tem muitos pais que os escondem enquanto podem.

– Eu sou uma Detetive Paranormal, isso é trabalho para Agentes Paranormais, pessoas de cargos superiores ao meu. – Luana falou com raiva, aquele tipo de trabalho era desprezível. – Eu não tenho cargo para isso. Não faz sentido eles me designarem isso. – Ela estava pálida e seus punhos estavam cerrados com força.

– Então, com esse trabalho você acaba de ser promovida. – Selene falou de maneira seca. – Bem vinda ao jogo.


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Notas finais do capítulo

Adoraria agradecer minha beta reader fofa e meiga que fez um trampo divino: Débora (468279) muito amorzinho ela :3



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