Sábado, 8 de Setembro.

Era sábado, depois do almoço, e eu não poderia tirar a minha sonequinha básica de sempre, droga! Ontem, a Bianca me convidou para ir na casa dela estudar no fim de semana. Ela disse que o Cheren estará de folga e que poderá nos ajudar. Isso será ótimo, já que sem a ajuda deles eu provavelmente zeraria todas as provas! O Cheren se formou na Unova Special Schoolano passado, e foi o aluno com o maior número de pontos e maior classificação no vestibular de medicina. Ou seja, já deu pra perceber que o cara é um gênio!

Sobre o resto da semana? Bom, digamos que eu não passei por mais nenhum episódio estranho. O professor N até que se comportou bem nos outros tempos de aula que tive com ele: não chamou a minha atenção, não me abraçou por trás e muito menos me salvou de um afongamento. Mas confesso que... todos esses acontecimentos não saíram mais da minha cabeça.

Sacudi o rosto para os lados na tentativa de não ser dominada pelas lembranças esverdadeadas de novo. Fitei o meu guarda roupa e abri as gavetas. Como eu estava com pressa, decidi pegar a primeira combinação que vi: uma camisa regata preta e uma saia de tecido fino azul escuro que ia desde a cintura até os joelhos. Reparti meus cabelos com as mãos, envolvendo-os nas mesmas e levando-os ao alto da cabeça, onde foram amarrados por duas fitas da mesma cor da saia, compondo um par de marias chiquinhas. Por fim, coloquei um par de botas pretas de cano médio, peguei a minha bolsa e saí.

O dia lá fora estava lindo, o céu fora preenchido de azul, sem vestígios de nuvens, um total desperdício para uma tarde de estudos. A casa da Bianca era logo no próximo quarteirão, não teria que andar muito. No curto caminho até lá, pude apreciar a cerca branquinha que protegia todas as casas da rua, e os diversos tipos de jardins que as enfeitavam. Até que me deparei com o jardim de rosas brancas, da casa da Bianca. A mãe dela sempre fora fascinada por rosas brancas, e por ser italiana foi exatamanete daí que surgiu o nome da minha loira favorita. Bonito não é?

A casa dela era linda também! Um dia, ela me contou que o seu pai que projetou toda a estrutura da casa. O pai da Bianca é um dos arquitetos mais famosos de Unova e tem um escritório super badalado lá no centro da cidade! Bianca se dá super bem com os pais e com o irmão gêmeo dela também. Falando nisso, não é ele chegando ali de bicicleta?

– E aí, Pearl! Tudo bem com você? – sorri enquanto acenava para o loiro que se aproximava.

– Ah, olá Touko! Vindo visitar a B? – perguntou enquanto parava com a bicicleta na minha frente.

– Bom, ela na verdade vai me fazer um favor, vamos estudar juntas. Ela, eu e o Cheren, que vai nos dar uma mãozinha.

Pude perceber que o rosto de Pearl ficou um pouco sério ao ouvir o nome do Cheren. Pearl, sempre foi um irmão super protetor, sempre se deu muito bem com a irmã e para ele ter que conviver com um namorado dela e ainda por cima um ano mais velho não era tão simples assim. Ele e a B também sempre estudaram em escolar difenrentes. A B me disse um dia, que isso era uma estratégia que os pais dela bolaram para eles sempre terem novidades diferentes para contar na hora do jantar, e acabou que isso nunca mudou. O Pearl estuda em uma escola masculina, voltada para a área tecnológica, já que desde pequeno se divertia muito com robôs de controle remoto.

– É para isso que servem os amigos, afinal, não é? – ele tentou disfarçar o ciúme com um sorriso - Bom, vamos entrando, então. Vou só colocar a bicicleta na garagem.

– Certo! – sorri de volta.

Quando Pearl, abriu a porta de casa, a residência parecia estar vazia. Porém alguns segundos depois pude ouvir passos vindo da cozinha até a porta. Era a mãe da Bianca, que me recebeu com um sorriso:

– Touko, querida! Você já chegou! Pode subir as escadas, Bianca e Cheren já estão lá em cima esperando por você!

– Obrigada, e com licensa! – retruquei ao comprimentá-la abaixando a cabeça.

O quarto da Bianca ficava no segundo andar de casa, assim como o meu. A porta do seu quarto era linda: toda branquinha com uma maçaneta de ouro e além disso, tinha uma plaquinha com o seu nome também escrito em ouro e em volta haviam várias rosas brancas feitas com tecido, para decoração.

Quando eu já estava tocando na massaneta dourada, eu hesitei. Será que eu deveria entrar de surpresa assim no quarto dela? Será que eu deveria bater antes de entrar? Ah Touko, deixe de formalidades, vai, ela sabe que você vai chegar a qualquer instante! Afinal, ela mesma te convidou para vir aqui! Você está na casa da sua melhor amiga, não precisa ser formal desse jeito!

– Bibibibiaaaaaaaanca! – entrei cantarolando com o sorriso mais idiota do mundo estampado na cara.

...Acho que eu deveria ter seguido as leis da etiqueta e ter batido antes de entrar.

Bianca e Cheren estavam deitados lado a lado em sua cama olhando um para o outro enquanto trocavam carícias e risinhos bobos. Algo acabava de me dizer que eu tinha invadido completamente a privacidade da minha amiga. Mas agora, já era tarde demais, hehe.

– To-to-to-to-to-tou! – exclamou ela ao se levantar velozmente e ficar a uns 2 metros de distância do Cheren, pelo menos.

Seu rosto branquelo estava completamente vermelho, e ela não parava de sacudir as suas mãos de tanta vergonha. Cheren também estava um pouco corado, sem conseguir fazer contato visual comigo, apenas olhando para uma das paredes do quarto sem dizer nenhuma palavra.

Bianca sempre foi muito tímida e envergonhada quanto a esse tipo de coisa. Ela adora me provocar com olhares e sorrisos maliciosos quando algo do tipo acontece comigo, mas quando era com ela... se eu a provocasse era capaz dela chorar de tanta vergonha! Então eu resolvi quebrar o silêncio, agindo como se nada tivesse acontecido:

– Então... eu cheguei para começarmos com a merda dos estudos, vamos nessa?

– A-a-ah! Claro! – disse Bianca ao ajeitar seus óculos – Bom... vamos começar pelos pontos mais importantes de cada matéria, desde a que você tem mais facilidade para a que tem mais dificuldade, e por fim vamos resolver algumas questões. Está bom assim pra você, Tou?

– Bom não tá porque é estudar, né, mas como eu preciso fazer isso, vamos em frente! – brinquei um pouco para fazer o clima voltar ainda mais ao normal.

Sentamos os três em volta da mesa redonda no centro do quarto da loira e começamos a abrir as apostilas do nosso material. O Cheren começou com algumas explicações enquanto apontava para exemplos nas apostilas. Ele era muito bom com as palavras, era como se tudo fizesse sentido. Realmente ele é muito inteligente. Mas que desperdício ele estar fazendo medicina! Quantas pessoas dariam de tudo para aprender com alguém que explica tão bem? Ele deveria se tornar professor!

Durante toda a explicação, Cheren fica com seu braço direito envolvendo Bianca pela cintura. Ela tem mesmo muita sorte de ter ele: um cara lindo, inteligente, e que está sempre disposto a ajudá-la no que for preciso. Deve ser muito bom ter alguém que faz o seu rosto esquentar e o coração bater mais forte, que consegue fazer os seus dias ficaram mais coloridos e que acima de tudo te ama do jeito que você é com todos os seus defeitos e qualidades. Ser amada e amar também... Essa deve ser a melhor sensação do mundo... Pena que eu nunca descobri o que é isso.

x-x-x

Após 6 horas frenéticas de estudo, já eram 7 horas da noite! Eu não tinha a menor ideia de como eu tinha aguentado todo esse pique até agora! Mas de certa forma, até que eu achava que tinha aprendido alguma coisa. Estudar com esses dois realmente valia a pena!

– E aí, aprendeu alguma coisa, Tou? – perguntou a loira.

– Eu espero que sim, né? Hehe. – me viro para Cheren – Muito obrigada por ser um professor tão bom e paciente! – me curvo aos seus pés brincando.

– De-de nada! – Cheren responde sem jeito, deixando escapar uma gota. – Mas bom... – se vira para a amada – Está na hora de eu ir.

– Aaaaaah! Mas já?! Nem vai ficar para o jantar que a mamãe está preparando?! – a loira faz um pouco de charme com uma carinha de choro.

– Desculpa, linda, mas não dá, vou dormir na casa de um amigo da faculdade hoje. Fiquei de ajudá-lo com algumas questões de fisiologia. – responde sorrindo um pouco abobado ao fazer um cafuné na loira.

– Buuubuuu! Tá bom então, mô. Vai lá. – dizia a loira fazendo um biquinho.

Cheren abriu o seu sorriso e a abraçou com força, sussurrou algumas palavras em seu ouvido, que estamparam um leve sorriso em seu rosto, corando ao mesmo tempo as suas bochechas. Após o abraço, o casal iniciou o beijo fofo e lento, esquecendo completamente da minha presença. Me senti tão constrangida que decidi me virar, dando maior privacidade a eles. Quando ouvi o barulho da porta do quarto se fechando, Bianca já lançou um convite:

– Então, já que o Cheren vai dormir fora hoje, que tal você dormir também? Eu adoraria ter a sua presença aqui a noite toda! – sorriu a loira, encostando as mãos umas nas outras perto do rosto.

– Ah! Eu adoraria B! Eu vou ficar sim! – sorri de felicidade pelo convite recebido.

Eu e a Bianca não dormíamos na casa uma da outra a muito tempo. Era tanta a agitação na nossa vida escolar desde que entramos no colegial, que a última vez que eu me lembre, tinha sido no ginásio. Era tão bom passar um tempo assim com ela... sempre começávamos a conversar sobre coisas inusitadas e ficávamos rindo a noite toda!

– Eu vou descer para pegar o jantar e já volto! Pelo cheirinho, parece que a mamãe fez a sua especialidade: spaghetti com molho a bolonhesa e almôndegas! – só dela falar, já me dava água na boca. O spaghetti da mãe da Bianca era o melhor!

Quando Bianca voltou com o spaghetti: ai, que delícia! Com a primeira garfada já me sentia no paraíso! A fome de qualquer um poderia multiplicar com uma prova desse macarrão! Aproveitando o ótimo clima entre amigas e com um jantar delicioso, decidi lançar uma pergunta no ar, algo que curiosamente nunca havia perguntado pra Bianca por vergonha, mas ao mesmo tempo por saber da sua timidez quanto ao assunto, mas já que o clima estava dos melhores, arrisquei:

– Hey, B! Eu sempre me perguntei, como foi o dia que você e o Cheren começaram a namorar?

A loira ficou extremamente corada quando finalizei a pergunta. Parecia que ela realmente não esperava por essa, tanto que se babou toda com o spaghetti. Tive até que segurar um rizinho com a cena. Porém, continuei olhando fixamente para ela com um sorriso um pouquinho malicioso, constrangendo-a ainda mais, que ficou me olhando um tanto tímida, com uma das mãos cobrindo o rosto, até que decidiu falar:

– Você ainda se lembra de como nos conhecemos, não é?

– Sim. Você, estabanada como sempre, estava andando pelo corredor e deixou todos os seus livros caírem no chão e ele foi o único que te ajudou! – finalizei com um sorriso provocador fazendo a loira me encarar com raiva.

– É-é! Quando ele foi me ajudar naquele dia, ao se aproximar de mim, devolvendo-me todos os livros recolhidos, ele mandou um sorriso gentil ao olhar nos meus olhos... De certa forma, aquilo me cativou, e obviamente me passou a impressão dele ser um cara superlegal por ter me ajudado de pronto.

– Sim, sim, e depois, sempre que vocês se encontravam pela escola os dois sorriam e acenavam abobadamente um pro outro, não é? – provoquei a loira mais uma vez, fazendo-a se babar novamente com o spaghetti. Eu adorava fazer isso!

– Sim... – ela prosseguiu após limpar a boca com um guardanapo – Depois de tantas vezes sorrir e acenar um pro outro, um dia ele me chamou para sair. Nós fomos numa lanchonete do lado da escola, o Wc Donald’s, onde pudemos conhecer melhor sobre a vida um do outro. Após esse encontro, toda sexta depois da aula nós saíamos para fazer alguma coisa, fliperama, cinema, restaurantes mais sofisticados, um passeio no shopping... e foi indo, até que um dia ele me chamou para irmos no parque de diversões da cidade.

– Aaaaaaaaaaaah então foi por isso que no final do ano passado as suas notas caíram? Agora tudo faz sentido, hohoho! – continuei com as minhas provocações, colocando uma das mãos próximas da boca, simulando um riso de Papai Noel.

– To-to-touko! Cale a boca e preste atenção no final da história! – se enfezava a loira com o rosto completamente vermelho. Por mais que ela estivesse constrangida ela não queria parar de continuar a história. Isso de certa forma era gratificante pra mim, pois para ela deveria ser importante que eu soubesse do que aconteceu.

– Continuando... lá no parque de diversões, nós nos divertimos muito, fomos em vários brinquedos, passamos o dia todo juntos, visto que isso foi num sábado. No final da tarde, comemos alguns hambúrgers e tomamos milkshakes, e um fotógrafo do parque pediu para tirar uma foto nossa. Essa foi a nossa primeira foto juntos. – disse a loira ao apontar para um porta retrato em cima da sua cômoda.

Ambos estavam muito engraçados naquela foto. Parece que o fotógrafo tinha mesmo os pego de surpresa. Cheren estava mastigando, com uma das bochechas bem gordas, e ao mesmo tempo estava com as bochechas vermelhas pela situação. Bianca não estava em vantagem, um pouco de milkshake escorria pela sua boca enquanto estava vermelha que nem um pimentão e com a cadeira inclinada, fora do lugar. Por mais que essa foto estivesse cômica, ainda sim dava para sentir um tom romântico e especial nela. Deve ser por isso que Bianca a guarda com tanto carinho.

– E quando anoiteceu, nesse dia... – continuou a loira – Ele me levou para uma volta na roda gigante. A paisagem era realmente linda lá de cima, principalmente à noite, com todas as luzes da cidade piscando sem parar! Quando nossa cabine chegou no ponto mais alto, ainda me lembro das suas palavras “Ei, B...”, eu me virei para ele e indaguei “O que foi?”. Ele se levantou, ficando em pé na minha frente, seu rosto estava completamente vermelho e ele parecia estar muito nervoso, logo eu fiquei da mesma forma. Em seguida, ele se agachou um pouco, ficando cara a cara comigo e colocando as mãos nos meus ombros disse “Quer namorar comigo?” balbuciando, obviamente, hihi.

– Fica aí zombando do Cheren, mas e a sua reação a pergunta dele, qual foi, hein, B? – continuei implicando com ela, de forma que ela me contasse todos os detalhes.

– B-b-bom...! Eu lembro do meu coração ter acelerado, eu definitivamente fui pega de surpresa. Meu rosto começou a esquentar muito, eu fiquei tão envergonhada que quase chorei, pode acreditar!

– Eu acredito. – impliquei.

–E-ei! Continuando... – envergonhou-se a loira – Fiquei algum tempo assim, parada, olhando pra ele... ele olhando pra mim... e, e-e-eu a-aceitei.

– Hmmmmmmmm, e depois? Vocês se beijaraaaam? – continuei com as minhas constantes provocações maliciosas.

– S-sim... de língua e tudo... – a loira ficou cabisbaixa de tanta vergonha.

Eu definitivamente não conseguia imaginar a Bianca tendo o seu primeiro beijo, muito menos de língua e talz! Bom, mas é como dizem... o amor transforma as pessoas... Hoje em dia, beijar o Cheren é algo completamente normal para ela, tanto que eles conseguem fazer isso em público. Mas mesmo assim, ficar tímida desse jeito ao contar a história do seu primeiro amor, me lembra muito a Bianca daquela época, que na verdade foi só há alguns meses atrás!

– E você, Tou? Eu sei que nunca teve um namorado, mas... já parou pra pensar onde gostaria que fosse o seu encontro perfeito? – indagou a loira, me pegando de surpresa.

– Eu... na verdade... nunca parei para pensar nisso. Mas... acho que depois dessa sua história toda fofa... admito que senti uma pontinha de ciúmes com o parque de diversões, em especial pela roda gigante.

Isso mesmo, desde pequena eu fui apaixonada por parque de diversões. A roda gigante sempre foi o meu brinquedo favorito. Lá, é como se todos os problemas não existissem, como se todo o ambiente fosse tomado por uma aura mágica, de felicidade e tranquilidade. No alto da roda gigante tudo era possível. Era como se nós fizéssemos uma viagem para outro mundo, um mundo onde tudo era perfeito. Pelo menos era isso que eu sempre acreditei, e continuava acreditando até hoje.

– Eu espero que você possa... – começou a loira – ter um encontro um dia em um parque de diversões... é realmente algo maravilhoso! E eu torço todos os dias para que você encontre alguém capaz de te fazer tão feliz quanto o Cheren me faz, ou até mais. – Bianca ficava realmente uma graça quando falava coisas fofas para mim desse jeito. Esse tipo de coisa só me deixava mais feliz por ser amiga há tantos anos de uma pessoa como ela.

– Você... ama mesmo o Cheren, não é? – perguntei e ela assentiu com o rosto avermelhado e um pequeno sorriso.

– Ele me faz mais feliz do que qualquer coisa... – ela afirmou – Quando estou com ele é como se o mundo parasse, e não existisse mais nada além de nós dois.

– Aaah, que inveja! Eu realmente queria saber o que é amor. Com você fazendo esse tipo de descrição... me deixa só com mais vontade de viver um romance... – admitia ao comer o último fio de macarrão.

– Você já tem 17 anos, Tou. Tem certeza que nunca se apaixonou por ninguém?

– O máximo que eu me lembre, foram tudo quedinhas bobas pela aparência da pessoa ou sua personalidade. Não me lembro de ter me sentido da forma como você descreveu. – suspirava ao botar pra fora a desgraça da minha adolescência.

– Mas... se você tivesse que pensar em alguém agora! Alguém com quem você gostaria de ter um encontro e... até mesmo beijar?! – exclamou a loira com toda a sua curiosidade, me pegando em cheio.

Cabelos verdes presos em um rabo de cavalo, olhos da mesma cor. Um sorriso provocante e um olhar sedutor. A primeira pessoa que vinha na minha mente era o professor N, de biologia, fazendo o meu coração acelerar e o meu rosto esquentar só de pensar nessa possibilidade. Mas eu obviamente não poderia falar isso para a Bianca. Por mais que ela fosse a minha melhor amiga de anos... se um professor da escola foi a primeira pessoa que pensei para a pergunta dela, isso significa que eu o amo?! Não! Não! Isso é insano! Onde já se viu uma aluna se apaixonar por um professor e ainda por cima... vê-lo como uma possibilidade de namorado?! Não... sem chance!

Bianca me fitava confusa, percebendo que eu estava tendo uma crise interna, logo cortou os meus pensamentos e perguntou:

– E, aí? Em quem você pensou? – sua pergunta fez meu coração acelerar, mais e mais. Não sabia o que responder pra ela. A única coisa que tinha certeza era que a imagem do professor N estava cada vez mais clara na minha mente.

– Em... ninguém! – afirmei. Bianca percebeu que eu estava mentindo, soltou um pequeno suspiro e fitou o chão. Eu sei que era crueldade esconder tal coisa da minha melhor amiga, ainda mais depois dela ter respondido as minhas perguntas sobre o seu relacionamento. Mas o quê eu podia fazer? Nem eu mesma sabia ao certo o que eu sentia pelo N e eu não queria que ninguém soubesse dessa minha dúvida ao seu respeito. Até por que... como eu poderia estar interessada em alguém que nem conheço direito? A única coisa que sei é que é um professor de biologia mega gato!

– Duvido que você não tenha pensado em ninguém... – disse a loira forçando um sorriso – Mas se você não quer me contar, tudo bem, deve ter os seus motivos.

– Bianca, não é isso, eu...

– Está tudo bem! – ela me interrompeu – Eu não estou chateada... nem nada! – suas ações não correspondiam com as suas palavras. Ela parecia estar realmente magoada com a minha atitude.

– Bianca, a questão é: eu não quero mentir pra você sobre algo que não tenho certeza ainda. Alguma hora, quando eu tiver certeza de tudo que se passa na minha mente, eu provavelmente vou te contar. Mas... por agora... não me sinto preparada para isso!

– Eu já disse que está tudo bem! – ela levantou a voz - Não precisa ficar se justificando!

Olhei assustada para os seus olhos verdes. Ela nunca havia levantado a voz de um jeito tão sério para mim. Acho que era melhor encerrarmos com esse assunto por ali. Se eu não estava disposta a contar, era melhor não contar mesmo. E se agora, só porque ela ficou chateada eu contasse, seria super chato. Se ela diz que me entende e aceita isso, ou pelo menos finge, eu também vou fingir, vou fingir que acredito.

– Desculpa, Tou... – ela fitou o chão – Eu vou descer com os pratos e já volto... – finalizou a loira pegando os pratos sujos com restos de molho do spaghetti e saindo do quarto.

Bianca estava demorando voltar. Já haviam se passado 15 minutos. Me pergunto se estava acontecendo alguma coisa. Eu queria muito descer as escadas e ir procurá-la, mas ao mesmo tempo me sentia com medo de descobrir o que poderia estar acontecendo, se é que estava acontecendo alguma coisa. Já estava tarde, o relógio marcava 10:00 PM, e eu já estava começando a ficar com sono depois dessa tarde de estudos. Felizmente quando concluí os meus pensamentos, a porta se abriu. Era a Bianca que voltou um pouco mais animada, falando sem parar:

– Tou, me desculpa! Me desculpa mesmo! Eu fui uma péssima amiga agora pouco! Eu sei que eu aparentei estar chateada sobre algo que não devia, e percebi que não deveria ficar chateada com isso mesmo! Você é a minha melhor amiga, você nunca iria fazer algo para me magoar! Se você está confusa sobre alguma coisa e não quer me dizer, tudo bem! Eu sei que alguma hora você vai me contar tudo que achar que eu deva saber! Me desculpe se eu comecei a criar um clima chato em uma noite que devia ser legal com você aqui em casa! Enfim... me desculpe! – exclamou a loira em meio de soluços e prendendo o choro.

Não consegui pensar em mais nada, apenas me levantei e envolvi Bianca em um abraço. Quando a abracei percebi que consegui amenizar um pouco o seu choro. Ela continuava me abraçando cada vez mais forte, até que essa força começou a diminuir também. Quando me dei por percebida, Bianca tinha dormido entre meus braços. Coloquei ela deitada em sua cama, e a cobri. Em seguida, deitei no colchão ao lado, estrategicamente localizado para mim. Fechei os olhos, e apenas agradeci pela amiga que tenho.

Bianca é mesmo delicada, delicada como uma rosa branca, que apesar de ter seus espinhos e usá-los quando a convir, sempre acaba sendo acalmada e tranquilizada pelo o seu branco novamente.

Continua...